Analisar a
conjuntura sempre tem sido um elemento importante para a Igreja do Brasil.
Seguindo esse costume, depois da celebração presidida por Dom Leonardo Steiner,
em que foi acolhido como Cardeal da Amazônia pelo Regional Norte1, foi
analisada a conjuntura social e eclesial.
O Brasil, tem
sido historicamente uma sociedade marcada sistematicamente por desigualdades em
que poucos tem acesso a muito e muitos têm acesso a pouco, segundo Marcelo
Seráfico. Uma realidade atual, que se faz visível na insegurança alimentar, que
atingem 60% por cento da população, mesmo com o aumento da exportação de
alimentos, no trabalho informal, na falta de moradia, com uma parte significativa
da população, no Amazonas 50%, que vive em favelas, a perda de direitos trabalhistas.
Segundo o
professor da Universidade Federal da Amazônia (UFAM), a Constituição de 1988
surgiu para reparar as desigualdades, algo que não se conseguiu. Hoje a
sociedade brasileira está marcada pelo autoritarismo, a violência como algo
normalizado, que se tornou entretenimento nos meios de comunicação e nas
conversas entre as pessoas, afirmou Seráfico, que falou da “normalização do
absurdo”, de uma sociedade que expulsou aqueles que mais precisam através de mecanismos
econômicos.
Uma população
desencantada com a política, que foi aproveitado por políticos sem escrúpulo,
que tem conduzido à criminalização, à agressão do diferente, à suspensão do
diálogo, à educação para a competição. Isso demanda, segundo o professor resolver
os problemas históricos, a autoritarismo histórico nas relações. Mas também,
olhando para a sociedade atual, diante da tentativa de liquidação do país, que
na Amazônia se faz visível na medida em que é vista como lugar de expansão da
fronteira de exploração, que se dá de forma violenta, de maneira brutal, voltar
a um projeto de país onde existe a coisa pública, onde se fale de distribuição,
de novas estratégias e políticas, que superem as fronteiras.
Isso numa
Igreja onde o grande protagonista é o Papa Francisco, segundo Dom Adolfo Zon,
que analisou a conjuntura eclesial. Um Papa, considerado como exemplo para a
Igreja, que aposta numa “Igreja despojada, em saída, dialogal, evangelizadora,
todos caminhando juntos, a serviço da paz e do cuidado da criação”. Um Papa que
insiste na sinodalidade como caminho e na importância do povo de Deus e da
missão, querendo combater “a auto referencialidade, o clericalismo, o
mundanismo espiritual e litúrgico, o pelagianismo pastoral, o gnosticismo
doutrinário”, o que segundo o bispo, “tem deixado uma porção de clérigos e
seminaristas aborrecidos com o Papa”.
Dom Adolfo
foi relatando diferentes experiencias de sinodalidade vividas na Igreja do
Brasil nas últimas décadas, uma sinodalidade que “exige mudanças no Direito
Canônico”, uma sinodalidade que, mesmo aos poucos, vai se fazendo presente no
maior protagonismo das mulheres, dos leigos, em espaços de decisão, inclusive
na Cúria Vaticana. Também mostrou a maior presença no Colégio Cardinalício de
purpurados chegados das periferias, destacando que em um conclave os europeus
já não seriam europeus.
O Bispo da
Diocese de Alto Solimões falou sobre posturas contrárias ao Magistério do Papa
Francisco, sobre influencers que “agradam o ouvido popular com aspectos
devocionais e catequese tradicional”, que “apresentam rigidez, agressividade,
acusações a inimigos, com juízos inadequados e injustos”. Dom Adolfo também
relatou “o índice crescente e preocupante de depressão e de suicídios de
clérigos”, as contradições presentes na Igreja, as consequências da pandemia, que
também é vista como ajuda para “sensibilizar e refletir sobre a
vulnerabilidade, a finitude, a necessidade de amparo e de elaboração de perdas
no luto, de escuta e de acompanhamento pastoral”.
O Regional
Norte1 tem como fundamento da sua caminhada eclesial as Diretrizes, que nos
ajudam a perceber que nossos processos pastorais, mesmo com as dificuldades,
continuam avançando. Isso apareceu na partilha da caminhada das dioceses e prelazias
do Regional no último ano, mostrando as ricas experiencias que fazem parte da
vida das igrejas particulares do Regional Norte1 da CNBB.
Diretrizes
que tem elementos comuns com o Documento nascido do IV Encontro da Igreja Católica
na Amazônia Legal, realizado com motivo dos 50 anos do Encontro de Santarém, “certidão
de batismo da Igreja da Amazônia”. Documentos que tem como base a encarnação na
realidade e a evangelização libertadora, “um chamado para que todo processo de evangelização
não se distancie do anúncio kerigmático”, segundo o padre Zenildo Lima.
Buscar uma
evangelização que interfira na vida das pessoas, uma Igreja que não tem
atitudes em torno de si mesma e sim da vida das pessoas. Isso em profunda
comunhão com a caminhada da Igreja do Brasil. Umas Diretrizes que a 49ª Assembleia
do Regional Norte1 quer fazer avançar segundo as interpelações do Encontro de
Santarém do passado mês de junho.
Elementos
que incidem em múltiplos elementos presentes na vida das igrejas particulares, das
paroquias e comunidades, das pastorais e movimentos, marcadas pela missionariedade,
“carteira de identidade da Igreja da Amazônia”, como a definiu o reito do Seminário São José, pela sinodalidade, assumida mesmo
nas dificuldades provocadas pelas grandes distâncias que fazem parte das
igrejas do Regional Norte1, pela ministerialidade, e tantos outros elementos
que enriquecem uma caminhada que anima a continuar avançando.
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