sábado, 22 de outubro de 2022

Padre Zenildo Lima: “Recuperar elementos da sinodalidade que não somente considerem o caminhar, mas também o Caminho”


A Igreja de Manaus está acostumada com “uma caminhada de comunhão, e por conseguinte, expressão de sinodalidade”, segundo o Padre Zenildo Lima, lembrando uma história marcada pelas Assembleias Arquidiocesanas de Pastoral, realizadas há quase 40 anos.

Assembleias determinadas pela “elaboração de um Plano de Evangelização com indicação de atividades pastorais bem específicas”, um elemento que faz com que “tem nos custado engrenar numa perspectiva que tem em vista muito mais horizontes, caminhos, processos”, insistiu o Reitor do Seminário São José. Nessa perspectiva, ele ressaltou a necessidade de “recuperar elementos da sinodalidade que não somente considerem o caminhar, mas também o Caminho”.

Um caminho identificado com uma pessoa: “Jesus é o caminho, a verdade e a vida”. Tendo como fundamento o Caminho de Emaús, o Padre Zenildo retomou o caminho percorrido pela assembleia sinodal, reinterpretando-o à luz do caminho de Emaús. Trata-se de descobrir “as dimensões nas quais e às quais nossa presença de Igreja deve se intensificar, sinalizando o Reino de Deus mediante processos de ousadia missionária que se constroem em dinâmicas de solidariedade”.

Discípulos que desiludidos, decepcionados, eles estão indo na direção errada, fugindo da comunidade dos apóstolos em Jerusalém. Segundo o Padre Zenildo Lima “Jesus não bloqueia o caminho deles, nem lhes diz para voltarem atrás. Eles farão isso livremente quando os tempos estiverem maduros. Em vez disso, ele caminha com eles”. Um desafio a ir para as periferias, segundo lembra o Papa Francisco, lembrando que no processo sinodal “nossas comunidades se reconhecem como comunidades missionárias, muitas delas nasceram de experiências missionárias e com espírito missionário”. 



Um apelo missionário que desafia a chegar naqueles que se afastaram, “as famílias e particularmente a juventude despontaram novamente como um apelo missionário para nossas comunidades”, lembrou o padre. E fazê-lo do jeito de Jesus, que “não fala antes de escutar”. Ele vai descobrindo as magoas dos discípulos, magoas também presentes hoje naqueles que não se sentem entendidos pela Igreja, algo agravado durante a pandemia. 

Corresponsabilidade na missão numa Igreja em estado permanente de missão, numa Igreja em saída, que no Documento Final do Sínodo para a Amazônia “apresenta-se como samaritana, misericordiosa e solidária, que serve e acompanha os povos amazônicos e se constitui um Igreja com rosto destes mesmos povos”, um chamado à inculturação.

Uma escuta que mostrou o quanto as comunidades são fundamentais no alcance das pessoas, em seu processo de conversão e sustentação da fé”, ressaltando que “as comunidades estão no centro da dinâmica evangelizadora e do caminho do discípulo missionário”. Nessa perspectiva foi ressaltado que “a fragilidade das comunidades compromete o trabalho da evangelização”.

Daí a necessidade de desenvolver a “arte de conversar”, de entrar em contato com os argumentos de quem pensa diferente. Tendo como fundamento a Palavra, pela qual as comunidades sentem sede. “Ela é sustento das comunidades por meio dos círculos bíblicos, leitura orante e vida litúrgica; embasa o discurso profético da Igreja e possibilita o diálogo com as outras Igrejas”, afirmou o Padre Zenildo. Comunidades que reclamam processos de formação mais consistentes, sustentados em acompanhamentos diferenciados e inculturados.

 


Um chamado a refletir sobre “a vida litúrgica da comunidade, com a qualidade das celebrações e das homilias, a polarização dos discursos ou ausência de algumas questões latentes na vida do povo quando se celebra o mistério”. Isso desde a oscilação na compreensão da espiritualidade presente nas comunidades, desde os diferentes modos de desenvolver a liderança.

Um processo sinodal que desafia a Igreja de Manaus a “ousarmos abraçar os sofrimentos das pessoas, os seus momentos de desespero”, segundo o Reitor do Seminário São José. Ele insistiu em que “não saberemos explicar por que sofrem. Nenhuma teoria resolverá o problema do sofrimento. Mas podemos abraçá-las na história daquele homem cujos sofrimentos foram necessários para que ele pudesse entrar na sua glória”. Um desafio a ir aos lugares da miséria, “a nos fazer hóspedes dos que caminham desesperançados”, para estar com eles.

Diante da presença de ameaças estruturais, surge o desafio para a Igreja da Amazônia, de ser “profética, servidora e defensora da vida, assume esta defesa dos mais pobres como um imperativo”. Também no campo da ecologia e da promoção de uma vida social, econômica e política sob o signo da justiça, da solidariedade e da paz.

O Padre Zenildo Lima destacou que “Deus na Amazônia tem rosto indígena e a Igreja deve ter rosto amazônico”. Isso o levou a refletir sobre os povos indígenas, violentados no mundo urbano, sobre a questão ambiental, destacando que “o cuidado da casa comum deve perpassar todas as ações da evangelização”.

Uma Assembleia que deve ajudar a perceber que “a tentação de respostas imediatas é muito grande, comprometendo inclusive a dinâmica sinodal”. Daí a necessidade de reflexões mais aprofundadas. Uma sinodalidade que deve atingir a comunhão de bens, a solidariedade nos recursos humanos, financeiros e estruturais, chamadas a “uma dinâmica mais ousada de partilha que assegure esta qualidade de presença eclesial”. Sinodalidade que também deve atingir a comunicação.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

2 comentários:

  1. Precisamos ir, urgentemente, além das palavras, além dos templos.. ter coragem para entender o nisso próprio caminhar, por que parece-me que não sabemos o caminho ou mesmo para onde estamos indo. Hora do reencontro!!

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  2. ..." uma igreja em saída, e que Também permaneça, como uma árvore que lança suas raízes para sustentar o caule e os galhos."

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