Nomeado Bispo da
Diocese de Roraima num momento em que “estava pronto para continuar essa missão
por muito tempo aqui no Marajó”. Mas em obediência à Igreja e com alegria, Dom
Evaristo Spengler se dispõe para assumir sua nova missão.
Essa nova
caminhada, ele quer fazer de modo sinodal, enfrentando os desafios que fazem
parte da realidade local, migrantes, indígenas, mas sabendo que “são desafios
muito grandes, que não se podem enfrentar apenas a nível de Igreja, mas em
comunhão com todos”.
Em Roraima, Dom
Evaristo chega “com grande espírito de escuta, com os olhos abertos, com os
ouvidos atentos”, querendo se integrar numa Igreja marcada por um “espírito de
descoberta do que Deus quer de nós a cada momento”. Sempre caminhando juntos,
em unidade, buscando “o fortalecimento das nossas comunidades”.
O senhor acaba de
ser nomeado Bispo da Diocese de Roraima. Em sua primeira mensagem ao povo de Deus
da sua nova Diocese o senhor mostra sua surpresa diante dessa nomeação. Como
está vivenciando este momento em sua vida pessoal, mas também em sua vida como
Bispo?
Eu estou apenas
seis anos aqui no Marajó e quando fui nomeado para a Amazônia vim com muita
alegria. Nós iniciamos um processo sinodal na Prelazia no início do ano 2020
para preparar uma assembleia do povo de Deus que acontece a cada quatro anos, e
fomos interrompidos pela pandemia, e só conseguimos após uma longa escuta nas
comunidades fazer a assembleia agora em julho de 2022, e aí começamos a fazer o
Plano de Pastoral, que foi aprovado em janeiro de 2023, há poucos dias.
Haviam sido feitas
novas nomeações para coordenações pastorais e estava pronto para continuar essa
missão por muito tempo aqui no Marajó. Mas Deus apresenta suas surpresas, e
quando o Núncio disse que o Papa Francisco havia me nomeado para a Diocese de
Roraima, eu acolhi com muita disponibilidade e apertura de coração e com
atitude de serviço. Eu sou franciscano e sempre quero ter essa obediência à
Igreja, e vou com alegria a acolher esses novos irmãos que Deus me dá na
Diocese de Roraima.
Uma diocese que
tem uma história, da qual o senhor é consciente. Como o senhor valoriza o que
já foi vivido na Igreja de Roraima ao longo de mais de um século de prelazia e
diocese e de mais de três séculos de evangelização?
Eu sou muito grato
a todo o trabalho realizado por todos os bispos, padres, religiosas, lideranças
das comunidades e vou agora a me integrar nessa caminhada. Não vamos começar
uma nova história, mas vamos continuar a história que já tem mais de cem anos e
eu quero aprender com o povo, com os padres, aprender da realidade, estar
atento ao que Deus quer para essa missão na Diocese de Roraima.
É a soma dos dons,
a soma dos valores, sempre na escuta dos sinais que Deus nos dá é que nós vamos
fazer uma caminhada sinodal, caminhar juntos como povo de Deus.
Uma diocese
marcada por uma realidade social às vezes conflituosa, às vezes complicada,
garimpo, povos indígenas, migrantes, desafios grandes para alguém que está
chegando. Como o senhor pensa que podem ser enfrentados esses desafios?
Eu já teria feito
uma visita a Roraima, juntamente com a Comissão de Enfrentamento ao Tráfico
Humano, em 2018. Infelizmente não pude estar lá, porque naquele período faleceu
uma irmã minha e fui para o funeral. Mas sempre tive um acompanhamento próximo
de toda a migração venezuelana que chega até Roraima, o trabalho feito na
diocese, um trabalho grandioso, um trabalho competente, um trabalho que merece
todo o nosso respeito e a nossa consideração.
Também tenho
acompanhado de muitos anos a questão dos indígenas yanomami. Eu lembro que a
primeira vez que me chamou a atenção, estava fazendo um curso de seis messes no
Chile e lá a gente ouvia muito poucas notícias do Brasil. Naquele tempo ainda
não tinha a facilidade da internet e dos meios de comunicação como temos hoje.
Eu assistia o principal jornal do país e durante seis messes só teve três
notícias do Brasil, uma delas foi o massacre dos indígenas yanomami. A partir
daquilo começou a me chamar a atenção a história desse povo, comecei a estudar
mais, comecei a conhecer melhor. Agora recentemente essa tragédia humanitária
que se desenvolve em relação a esse povo yanomami, pelo qual tenho grande
respeito.
A Igreja sempre
esteve ao lado desse povo, e também eu chegando quero me colocar ao lado deles
para estar resgatando cada vez mais junto com todos a dignidade, o respeito, ao
nosso povo yanomami. A própria CNBB me fez uma comunicação de que está fazendo
uma doação de cestas básicas, alimentação para o povo yanomami através da
Diocese de Roraima. A Igreja está muito atenta, são desafios muito grandes, que
não se podem enfrentar apenas a nível de Igreja, mas em comunhão com todos os
homens e mulheres de boa vontade e também com todos os organismos
institucionais poderemos ajudar o nosso povo a ter mais vida e vida em
abundância.
Pastoralmente, a
Diocese de Roraima sempre foi uma Igreja viva, comprometida, com grande
presença missionária. Dentro da dinâmica da sinodalidade que a Igreja está
vivendo hoje, como o senhor pensa que pode ser continuado esse trabalho
evangelizador?
Eu vou com grande
espírito de escuta, com os olhos abertos, com os ouvidos atentos, a toda a
realidade do povo, à história já construída, a todas as forças que ajudam a
esta Igreja a ser mais viva, e eu quero me integrar. Então vamos trabalhar com
certeza com um espírito de sinodalidade, e é nesse espírito de descoberta do
que Deus quer de nós a cada momento que vamos fazendo nosso caminho conjunto
para frente.
Caminhar juntos é
muito importante, caminhar na unidade, caminhar de fato na busca do projeto de
Deus. Caminhar na unidade não significa que todos pensem da mesma forma, mas
com pensamentos diferentes. Com atitudes que convivem, o Deus que nos chama nos
envia em missão para dar uma resposta de vida mais plena a todo esse nosso
povo.
Uma das coisas
mais importantes que eu penso que a Igreja do Brasil pede hoje a todos nós é o
fortalecimento das nossas comunidades, comunidades realmente vivas,
missionárias, ministeriais, comunidades que possam não apenas celebrar, mas
possam anunciar, possam testemunhar a Palavra de Deus, possam viver plenamente
a caridade de forma missionária. Ou seja, não uma Igreja que seja repetitiva do
que se fez ou se faz, mas buscar sempre novos caminhos que Deus vai nos
apresentando.
Até sua chegada no
Marajó, o senhor trabalhou sobretudo no Estado do Rio de Janeiro e durante 10
anos foi missionário em Angola. O que o senhor tem descoberto, vivenciado, assumido
na Amazônia nos quase seis anos que foi Bispo na Prelazia do Marajó e o que
espera descobrir nesta outra região da Amazônia com uma realidade, inclusive no
próprio bioma, totalmente diferente?
Eu estive
refletindo e achei que Deus levou muito as sério o meu lema presbiteral. Eu
escolhi o lema do Êxodo onde Deus chama a Moises: “Vai, eu estou contigo”. E
cada vez que eu estou um tempo em um lugar Deus me diz vai agora para outra
terra, como também disse a Abraão. Durante a minha vida de padre franciscano
trabalhei um tempo longo na Baixada Fluminense, em Duque de Caxias com Dom
Mauro Morelli, depois em Nova Iguaçu com Dom Luciano Bergamin, e depois fui
enviando para Angola.
Fiquei lá 10 anos,
foi no final da guerra civil, foi um tempo muito difícil, um povo que estava
faminto, não só de pão, mas também da Palavra de Deus, que em muitas regiões o
povo tinha ficado, dez, quinze, vinte anos sem a presença de um missionário, e
eles faziam uma catequese oral, rezavam juntos todos os dias, uma Igreja que de
fato se manteve pela presença dos leigos.
Depois que voltei
de Angola, retornei à Baixada Fluminense, fui eleito vice provincial da
Provincia dos Franciscanos de São Paulo e aí pensei que estaria lá por algum
tempo, mas logo fui nomeado como Bispo da Prelazia do Marajó. E agora, após
seis anos aqui sou enviado para a Diocese de Roraima. Sempre em espírito de
serviço e de prontidão para aquilo que Deus quer de nós.
Você dizia que vir
para o Marajó ajudou conhecer a Amazônia, e de fato foi assim. A minha vinda ao
Marajó foi a porta de entrada para conhecer a Amazônia. Quando eu cheguei aqui,
eu fiz questão de participar de todos os cursos possíveis, todos os estudos que
pudessem me ajudar a conhecer e me adentrar mais na realidade amazônica. E teve
uma grande sorte, que logo em seguida o Papa convocou o Sínodo para a Amazônia.
O Sínodo foi um processo de formação, um processo sinodal importantíssimo na
minha vida, para conhecer mais a realidade indígena, a realidade quilombola, a
realidade ribeirinha, e também conhecer na prática o nosso povo que está aqui
na região.
Eu sei que Marajó
e Roraima têm realidades bem distintas, aqui nós temos mais de 500 comunidades
na beira dos rios, no interior dos municípios. Lá em Roraima nós temos quase
todo o acesso por estradas, por terra, coisa que não acontece no Marajó, que a
gente vai só de navio, de barco, de lancha. A história com certeza é diferente,
aqui não tem mais povos indígenas organizados, aqui teve um grande massacre,
porque aqui era a entrada para a Amazônia.
Todos os povos que
aqui chegaram para conquistar foram dizimando aos poucos os povos indígenas. E
hoje, a gente percebe o povo indígena nos costumes, percebe nos rostos, na
fisionomia, na cultura, mas já não mais nenhum povo organizado aqui, enquanto
que lá em Roraima nós temos ainda uma presença bem forte dos povos indígenas.
Então, estou conhecendo, eu vou aberto a conhecer essa realidade e saber
também, junto com o povo que já está lá na prática evangelizadora, como me
colocar ao serviço dessa Igreja que tem essa história tão longa de mais de cem
anos.
Boa missão dom Evaristo! Deus abençoe sua caminhada junto só povo de Roraima!
ResponderExcluirpe. Fernando
Dom Evaristo seja sempre muito bem vindo a essa terra, que Deus abençoe sempre sua caminhada!!
ResponderExcluirDeus abençoe o senhor.
ResponderExcluirMergulhar em águas mais profundas. Que Deus lhe proteja sempre.
ResponderExcluirFrei Evaristo , apesar de ser bispo, nada mudou em sua missão de evangelizador agora sinodal.Continuas como um franciscano obedecendo o Senhor Jesus.
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