O encontro de Jesus com João; o encontro de João com Jesus é o ponto de partida da reflexão do Cardeal Leonardo Steiner no 2º Domingo do Tempo Comum. “João a batizar com água, Jesus a batizar com o Espírito! O preparador que reconhece o Messias e anuncia o tempo novo do Espírito. Jesus o anunciado que agora se anuncia e envia o Espírito Santo”, afirmou o Arcebispo de Manaus.
Falando sobre a conversão, ele disse que “o batismo que Jesus nos oferece, não é um banho externo parecido com as águas do rio Jordão. O batismo novo é do Espírito, um banho interior. O banho interior que comunica o Espírito que penetra, impregna e transforma o coração. Este Espírito é o Espírito da vida!”. É por isso que “Deixar-se batizar por Jesus, significa acolher o Espírito como fonte da vida nova”. Um Espírito de Jesus que “é o do amor, capaz de libertar da covardia, do egoísmo, dos nossos interesses meramente pessoais, do nosso bem-estar, do eu que nos aprisiona e reduz. Esse Espírito nos impregna do amor cordial, da partilha, da compaixão, da redenção, da floração da vida”, destacou o Arcebispo de Manaus.
Segundo o Cardeal “o Espírito de Jesus é um espírito de conversão. Significa deixar-nos transformar por essa vida nova que tudo ressignifica e transforma. Aprender a viver com a sensibilidade de quem aprendeu o sentido da solidariedade, da cordialidade, da caridade”. Um Espírito que “desperta o melhor que há em cada um de nós, em cada comunidade, na Igreja. Concede um coração novo com maior capacidade de ser fiel ao Evangelho, ser fiel ao acolhimento das fraquezas pessoais e do próximo. Supera a violência, a agressão, a destruição” ressaltou.
Citando as palavras do novelista Julien Green em relação a nossa indiferença, onde diz que “todo mundo acreditava, mas ninguém gritava de assombro, de felicidade ou espanto”, Dom Leonardo disse que “nós cristãos nem sempre nos damos conta da apatia e indiferença que vai tomando conta da nossa vida interior, vai se apagando o fogo do Espírito”. Segundo Dom Leonardo, “temos a impressão de que fomos batizados com água e ainda não fomos batizados com o Espírito Santo e fogo”.
“Às vezes continuamos a repetir o que aprendemos na catequese, o que os outros nos disseram, o que lemos na superficialidade de certos textos, mas falta a experiência de Deus. Muitas vezes, nos servimos de uma moral, nos servimos de determinadas ideologias, mesmo aquelas que afirmamos serem do espírito, mas falta uma relação de filha, de filho com Pai”, advertiu o Arcebispo de Manaus. Não podemos esquecer que “a vida do Evangelho não é um livro de determinações, mas livro da vida, livro da conversão, da transformação, da vida nova, do serviço, da dedicação aos pobres. Se o Evangelho apenas indicasse a assistência social, seria de grande valor, de sentido, mas indica um caminho extraordinariamente fecundo: uma relação de filhos e filhas de Deus entre nós. O outro não é objeto, posse, mas um irmão, uma irmã”, insistiu.
“Podemos ser pessoas boas que cumprem fielmente e de modo admirável as nossas práticas religiosas e nossas orações, mas acabamos não conhecendo ao Deus vivo e verdadeiro que alegra a nossa vida e a transforma, liberta, amadurece, transfigura”, afirmou Dom Leonardo.
O Cardeal Steiner fez ver que “pode ser que seguimos escutando e repetindo as palavras de Jesus como vindas ‘do exterior’. Quase não nos detemos a escutar sua voz interior, essa voz amistosa e estimulante que ilumina, conforta e faz crescer em nós a vida do Reino. Dizemos de Deus palavras maravilhosas, admiráveis, mas pouco nos ajudam a pressentir Deus com proximidade e assombro, como essa Realidade na qual nos sentimos vivos e seguros, nos sentindo amados sem fim e de maneira incondicional”. Por isso, ele insistiu em que “para degustar Deus não bastam as palavras, nem ritos, não bastam os conceitos, nem os discursos teológicos. É necessária a experiência de termos sido encontrados amados, amadas. Que cada um de nós se aproxime da Fonte e beba”, citando palavras de Pagola.
Refletindo
sobre o ouvir e o falar, o Arcebispo de Manaus fez ver que também “falamos com
o olhar, falamos com as mãos, falamos com o andar, com o rosto; toda a nossa
pessoa fala. Fala como estamos, fala o que somos. O Espírito não fala em
próprio nome. Fala sempre o que ouve. Ele é plena receptividade e plena doação
de vida no falar e no ouvir”.
O Espírito fala “o que ouve do Pai, mas ouve também o Filho e fala o que ouve do Filho. Ele não fala por si mesmo, mas fala o que ouve”, afirmou, questionando: “Que fala é essa que o Espírito ouve e anuncia? Que fala é essa que deixou de ser nosso modo usual de fala?”. Afirmando que Deus é amor, ele insistiu em que “a sua única fala é a fala do amor, a sua fala é amor. É o amor rege a vida da Trindade”. Daí o Cardeal insistiu em que “nossa vida nasceu e renasce na graça do amor que nos gerou e nos concede a escuta e as palavras da fraternidade, da irmandade”.
Comparando o Espírito que o Batismo de Jesus nos concede e o espírito que estamos a viver em diversas realidades da nossa pátria, o Arcebispo de Manaus destacou que “o Espírito do batismo e da pregação de Jesus não é o da agressão, da depredação, da confusão, da agressão, da deposição, da violência, da destruição que vimos e ouvimos. O Espírito que anuncia o futuro, ‘as coisas futuras’, é muito diferente daquele que anda a soprar em determinados locais e mentes”.
Olhando para a atual realidade no Brasil, Dom Leonardo denunciou que “o Espírito que ouve e diz cria a fraternidade, oferece a conciliação, observa o respeito, desperta a cordialidade, cuida a urbanidade e cultiva as diferenças. Nada de destruição do outro, nada de ideologização da convivência, nada de destruição com notícias falsas, nada de fazer valer pela força, mas a bondade, a escuta, o respeito, a diferença, a grandeza do amor! O temos visto não o ensinamento de Jesus, não é a alma do humano”.
Refletindo sobre as palavras do profeta Isaías na primeira leitura, o Cardeal insistiu em que “o batismo de Jesus, o batismo do Espírito, ilumina todas as nações, toda a humanidade no seu sentir e sentido primevo, primeiro. O verdadeiro Espírito que tudo transforma e reluz, ilumine os nossos dias, os nossos cuidados, a nossa convivência, nos conceda o dom paz, da cordialidade”.
Seguindo as palavras de Paulo à Comunidade de Corinto,
Dom Leonardo ressaltou que “o Espírito nos concede a graça e a paz”, insistindo
em “como estamos necessitados de paz, de um Espírito que refaça as nossas
relações sociais e eclesiais, nos conceda a graça da justiça, da reconciliação
e da cordialidade”, pedindo que “deixemo-nos tomar pelo mistério do amor que o
Espírito no revela!”.
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