Um dos
participantes da I Experiência Vocacional Missionária Nacional, realizada de 5
a 17 de janeiro, foi Dom Maurício da Silva Jardim. O Bispo da Diocese de
Rondonópolis-Guiratinga, partilha o vivido nesses dias em que acompanhado de
outros missionários e missionárias visitou as comunidades da Área Missionária
do Cacau Pirera, na Arquidiocese de Manaus, “uma experiência de estar muito
próximo das pessoas”.
Dom Maurício, que foi Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias por 6 anos analisa a realidade da missão na Igreja do Brasil, os desafios que devem ser enfrentados. Mas também reconhece que participar dessa experiência coloca desafios na sua missão como Bispo recentemente iniciada.
A missão
sempre foi fundamental em sua vida, foi missionário na África, durante 6 anos
foi Diretor da Pontifícias Obras Missionárias no Brasil antes de ser nomeado
Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga. Como o senhor vê a realidade
missionária na Igreja do Brasil?
Na minha
experiência pessoal foi crescendo a própria compreensão de missão, que não se
reduz apenas em atividades, em um projeto ou outro, mas percebendo e entendendo
que missão é a própria natureza, a própria identidade da Igreja. A Igreja
existe para a missão, para ser uma Igreja em saída, missionária.
Sendo
seminarista participei no Congresso Missionário Latino-americano em Belo
Horizonte, e ali foi despertando cada vez mais que eu como eu como batizado
devia assumir ser missionário, estar próximo do povo. E fui entendendo que
missão é proximidade, é criar aquilo que o Papa diz uma cultura do encontro,
sair de nós mesmos, ir às periferias, se aproximar do povo. E isso eu estou
vivenciando aqui na Arquidiocese de Manaus, uma experiência de estar muito
próximo das pessoas, entrar nas casas, sentar-se com as pessoas sem pressa,
ouvir o que o povo aqui sofre muito, tem muitas dificuldades sociais, uma
realidade muito violenta nas periferias.
Isso vai
nos ajudando a não ficar só na reflexão, mas para a prática. Senti isso na
minha vida, na minha vocação, tanto na minha diocese de origem, que é Porto
Alegre, depois enviado pelo Sul 3 da CNBB para uma experiência de três anos e
meio em Moçambique, na África, e voltando de Moçambique assumi uma paróquia,
depois na direção das Pontifícias Obras Missionárias. Tudo isso é uma graça de
Deus, Deus vai dando essa força da gente não ficar parado, acomodado.
Essa é a
tendência nossa, pessoal, e da própria Igreja, ir-se acomodando, numa zona de
conforto, achando que tudo está bem. Mas a missão nos provoca ver que não está
bem, que as comunidades foram diminuindo, que a realidade da Igreja do Brasil,
em momentos da história foi perdendo esse ardor, esse coração missionário. Eu
vejo uma retomada, vejo que está crescendo essa consciência missionária.
O senhor diz
que está crescendo essa consciência missionária. O Brasil foi um país que
durante muitos anos foi evangelizado por missionários chegados sobretudo da
Europa. A realidade foi mudando e o Brasil é um país que começa a enviar
missionários para outros países e também para a Amazônia. Até que ponto a I
Experiência Vocacional Missionária pode ajudar a que os futuros padres possam
incentivar em sua vida e na vida de suas Igrejas locais essa consciência
missionária?
Eu tenho
essa consciência de que o Brasil já recebeu muito, em toda sua história de
evangelização muitos missionários ad gentes. E a gente respira, tanto na
Amazônia, no Nordeste, e em outras regiões do Brasil, que teve muita
contribuição de missionários que vieram de fora. Eu vendo isso, me senti
interpelado a colocar-me a disposição para também sair, por isso eu fui a
Moçambique.
E nas
Pontifícias Obras Missionárias, que tem como objetivo promover o espírito
missionário universal, eu foquei muito nessa questão da missão ad gentes, que nisso
eu penso que a Igreja do Brasil pode crescer muito ainda. Ela que recebeu, ela
pode dar da sua pobreza, como diz o Documento de Puebla, não esperar a que aqui
no Brasil tenha um número suficiente de missionários, mas enviar, não tem
missão sem envio, sem saída. Tem uma expressão interessante de um padre que
trabalho nas Pontifícias Obras Missionárias, que dizia que inventaram
refrigerante light, os doces diet, cigarros sem nicotina, café descafeinado, e
agora inventaram uma missão sem saída.
Se fala
muito de missão, também na Igreja do Brasil, mas precisamos crescer nas
práticas, nos envios missionários. Por isso que nesses últimos anos se está
insistindo muito no tema da missão ad gentes. O tema do Congresso Missionário
Nacional aqui em Manaus vai ser esse: “Ide da Igreja local aos confins do
mundo”. O sujeito da missão é a Igreja local, é a diocese, e abrir-se à
universalidade da missão.
Nisso
estamos dando alguns passos e os futuros padres, nessa experiência missionária
também, eles que saíram de todas as partes do Brasil, a Amazônia é considerada
também um tipo de missão ad gentes. Ela é um território universal da missão,
que reúne várias culturas, vários povos, e os seminaristas vindo aqui, eu
acredito que vai despertar neles também essa consciência missionária. E eles
voltando para suas dioceses, na Universidade, na academia, na formação, levando
tudo o que eles experimentaram aqui na Arquidiocese de Manaus.
Essas
experiências missionárias, quando uma Igreja local envia missionários para
outras regiões, outros países, sem dúvida enriquece a vida da própria Igreja.
Em que podem enriquecer essas experiências missionárias a realidade das Igrejas
locais, daquelas que enviaram seminaristas para esta experiência, daquelas que
enviam missionários para a Amazônia ou para outros países?
A Igreja
que envia alguém é uma Igreja que se enriquece, porque o envio, eu o vejo como
a expressão de uma Igreja missionária. Se a diocese não envia ninguém, se não
tem projetos de igrejas irmãs, se não tem nenhum projeto ad gentes, ela vai
perdendo seu ardor, seu fervor missionário. A Igreja se enriquece na medida que
envia, que dá da sua pobreza. No Brasil são mais de 60 projetos que tem de
igrejas irmãs e é uma contribuição muito grande.
Eu vejo que
missão é dar e receber, a Igreja oferece alguém e essa pessoa quando retorna,
eu acho que é importante retornar depois de um certo tempo, para dizer aquilo
que viveu na experiência missionária e contagiar as pessoas daquela Igreja
local que enviou. Ela ganha em vocações missionárias, ela ganha em espírito
missionário, ela ganha em uma consciência missionária de uma Igreja que não só
fala de missão, mas vive a missão como sua própria natureza.
O que o
senhor está levando de volta depois destes dias de experiência missionária, de
visitar as comunidades, as famílias, aqui na Arquidiocese de Manaus, na Área
Missionária do Cacau Pirera?
O principal
dessa experiência são as visitas, o contato com o povo. Essa proximidade é
muito real, de ficar o dia inteiro de casa em casa, no sol, na chuva,
atravessando rios, vendo igrejas flutuantes. Mas para mim o que fica é aquilo
que ouvi do povo, o povo sentou conosco e falou daquilo que está enfrentando na
família, muito surpreso de ver que a Igreja católica está indo ao encontro,
está se tornando próxima.
Eu levo
mais uma vez que a Igreja que tem que fazer essa opção. Aquilo que vivemos aqui
no âmbito nacional, eu espero também no âmbito local, lá na minha Diocese de
Rondonópolis-Guiratinga, primeiro começando por mim, Bispo da Diocese, visitar
o povo, reduzir os tempos que a gente tem da burocracia, das agendas lotadas,
da parte administrativa, muitas reuniões. Mas também a gente conseguir, no meio
de tudo isso, ter contato direto com as pessoas, sobretudo as que mais
precisam, os mais pobres.
Aqui eu
vivi uma semana que eu não tinha reuniões, que eu não tinha problemas com a
administração, eu estava com o tempo totalmente disponível para as pessoas. Eu
vou levar isso, que é o fundamental, a Igreja existe para evangelizar, a missão
da Igreja é evangelizar, e aqui a gente viveu isso, a evangelização. Não é nós
que comunicamos, mas sobretudo nós recebemos o Evangelho do povo, o povo nos
anunciou, é um povo muito resistente, que transforma o sofrimento em alegria,
que transforma o sofrimento deles numa força, sobretudo as mulheres que
coordenam as comunidades.
A gente viu
de onde essas mulheres tiram tanta energia, tanta força para lidar com a casa,
com a família, com a comunidade, com o trabalho. Eu vou levar o testemunho de
muitos cristãos aqui comprometidos e que são para nós um testemunho
missionário.
O Desperta Missionario nos deu um renovo Missionario.( Gerusa /COMIPA Paroquia Nossa Senhora de Nazaré)
ResponderExcluirSou nordestina e desde criança aprendi. com meus avós a viver a serviço da missão .
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