domingo, 5 de março de 2023

Cardeal Steiner: Transfiguração, “um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração”


Lembrando que “no primeiro domingo da quaresma fomos impelidos a meditar as tentações de Jesus, o seu jejum, a nitidez de seguir fazendo a vontade do Pai, a anunciar o Reino da salvação. Fomos despertados para o jejum que nos esvazia de nós mesmos e, por isso, somos convocados a tomarmos sempre a decisão de seguir a Jesus, sua vida, morte e participarmos da ressurreição”, iniciou o Cardeal Leonardo Steiner sua homilia no segundo domingo da quaresma. Ele fez ver que “como Jesus, podemos ser, nas tentações, fortificados no caminho do seguimento de Jesus”.

 

Se referindo à primeira leitura e o convite a Abrão a sair da sua terra, Dom Leonardo disse que “somos hoje convidados a sair como Abraão, pois nos conduz pelo caminho da transfiguração”. O Arcebispo de Manaus ressaltou que “ao sair com Jesus os discípulos viram o seu rosto verdadeiro. Saindo, subindo que puderam dar-se conta da benção que haveria de cair sobre eles. A benção da morte e ressurreição que alcançará a cada um de nós, na medida em que nos colocarmos a caminho, seguirmos a Jesus”.

 

Na Carta de Paulo a Timóteo, “nos recordava justamente que em Jesus a graça nos revela pela sua manifestação”, segundo o Cardeal. Ele fez ver que “como comunidade vivermos da manifestação, da graça que é Jesus. Certos de que não fomos abandonados, mas elevados. Sabemos o caminho e o tempo da quaresma a elucidar sempre mais a transfiguração a que somos destinados em Jesus”.





Seguindo os discípulos, conduzidos por Jesus ao alto, Dom Leonardo disse que “com os discípulos todos nós convidados a subir”. Ele lembrou a escolha de três discípulos “para serem testemunhas dum acontecimento singular”, insistindo em que Jesus “deseja que a experiência de graça não seja vivida solitariamente, mas de forma compartilhada, como é a nossa vida de fé. Vivemos o seguimento de Jesus em comunidade, em família”. Somos chamados a descobrir que recebemos “a graça da antevisão do Reino definitivo”.

 

O Cardeal Steiner, tendo como referência a Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma deste ano, afirmou que “a Jesus, seguimos juntos; e juntos, como comunidade de fé que peregrina no tempo, vivemos a Quaresma, caminhando com aqueles que Jesus colocou ao nosso lado como companheiros de viagem. A subida de Jesus com os discípulos ao Monte Tabor, nos indica o caminho quaresmal. Como comunidade percorremos juntos o mesmo caminho, discípulas e discípulos com Jesus, o Mestre”.

 

“Para seguir a Jesus no deserto, nas contrariedades, na dor, na cruz, ele nos leva ao monte onde é transfigurado. Ele nos propõe subirmos com Ele ao monte da oração, para contemplar no seu rosto humano iluminado, transformado” destacou o Arcebispo de Manaus. Ele disse que “o Evangelho nos indica a luz transfigurativa e a voz iluminativa. A luz divina que resplandece no rosto e vestes de Jesus e presencializam a Mosés e Elias. A luz que se manifesta em Jesus a indicar o sentido da história da salvação nas figuras de Elias e Moisés. A voz do Pai celeste que que provém da nuvem a proteger aqueles discípulos amedrontados. Dá testemunho dele e pede que escutemos o Filho. Jesus lhes revela a essência de sua vida e a vida do Reino de Deus, o novo horizonte que se delineia no alto da cruz”.



 

O medo dos discípulos é “a nuvem que os cobriu e a voz que dela emanou”, a mesma nuvem “que acompanhara o povo no tempo do deserto, da travessia, da intempérie, da luta, da fome. A nuvem que nunca os abandonara”. Essa nuvem agora fala e faz ver aos três discípulos, “agora estou no meio de vós como um de vós. Mas em ouvindo, em seguindo, sereis como ele: transfigurados. Nele compreendeis a Moisés e a Elias, a todos os profetas. Nele agora entrevedes, antevedes a plena realização das promessas; nada mais oculto. Grudai os vossos ouvidos em Jesus. Ouvi-o; transfiguração!”.

 

“Se isso era verdade, se isso poderiam conhecer, foi o motivo de temor, de medo”, segundo Dom Leonardo, que lembrou que Jesus aproximando-se deles, os tocou e os ajudou a superar o medo. O Arcebispo destacou que “Jesus manifesta ao seu rosto verdadeiro que nasceria da cruz e ressurreição. Ele a demonstrar o sentido da história o comprimento das promessas, a verdadeira presença de Deus em nosso mundo. Uma nova realidade, uma nova verdade a iluminar a vida dos que convivem com Jesus. Tudo referido à nossa finitude, ao mistério encarnatório de Deus, à cruz e ressurreição de Jesus”.

 

Citando de novo a Mensagem quaresmal do Papa Francisco, Dom Leonardo chamou a “não se refugiar numa religiosidade feita de acontecimentos extraordinários, de sugestivas experiências, levados pelo medo de encarar a realidade com as suas fadigas diárias, as suas durezas e contradições. Permanecer no caminho do seguimento de Jesus que recebe a cruz, nela dá a sua vida, e ressurge glorioso. A luz que Jesus mostra aos seus discípulos é uma antecipação da glória pascal, e é nesta direção que é necessário caminhar seguindo ‘apenas Jesus e mais ninguém’. A Quaresma orienta-se para a Páscoa: a retirada para a montanha, não é um fim em si mesmo, mas prepara-nos para viver – com fé, esperança e amor – a paixão e a cruz, a fim de chegarmos à ressurreição”.

 

A quaresma é o caminho de conversão, de mudança”, segundo o Cardeal. “O caminho da cruz, da transformação na cruz; caminho de transfiguração”, lembrando que “os discípulos perceberam o caminho transformativo do seguimento, mesmo assim, não foram fiéis até o fim”. Dom Leonardo vê nisso que “a própria fraqueza, reconhecida, misericordiada, conduz à transformação. Na caminhada quaresmal somos despertados para compreender e acolher o mistério da salvação, realizada no dom total de si mesmo por amor na cruz”. Por isso, ele fez um chamado a nos colocarmos “a caminho, um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração, como encontro na montanha. Subamos juntos como comunidade”.


 



Se referindo à Campanha da Fraternidade, Dom Leonardo a vê como “a busca de nossa conversão e a mudança de nossas estruturas injustas que levam irmãos e irmãs passar fome”. Ao elo do texto desta Campanha, ele afirmou que “como seguidores e seguidoras de Jesus somos Igreja, a fraternidade nascida da morte e ressurreição de Jesus. Numa casa, numa família, numa fraternidade ninguém é deixado de lado, ninguém é excluído. Todos participando da mesa da partilha, da solidariedade, do pão; da mesa do amor”.

 

Uma realidade que o levou a denunciar que “se irmãos e irmãs passam fome é porque nossa fraternidade é superficial, frágil. Se pessoas passam fome, é porque as nossas estruturas econômicas e sociais necessitam mudança, para podermos demonstrar com maior nitidez a fraternidade. Onde existe fome, falta fraternidade, onde há fraternidade e partilha, experimentamos cuidado, vida, maturação de vida”. Por isso, Dom Leonardo exigiu “políticas públicas que assegurem uma vida digna e justa, uma vida que tenha os espaços de lazer garantidos, onde os pobres tenham atendimento à saúde garantidos, onde a educação é uma possibilidade para todos, onde a cultura continua a ser expressão de modos de vida”.

 

Ele recordou as palavras do Papa Francisco em que alerta: “Produzimos comida suficiente para todas as pessoas, mas muitas ficam sem o pão de cada dia. Isso ‘constitui um verdadeiro escândalo’, um crime que viola direitos humanos básicos (...). É dever de todos extirpar esta injustiça através de ações concretas e boas práticas, e através de políticas locais e internacionais ousadas”. Isso porque “são descartados todos os dias toneladas de alimentos. A fome existe não por falta de alimentos”. Por isso, Dom Leonardo insistiu em que “se desejamos ser como Jesus ensinou, não podemos ficar parados”, fazendo um chamado a nos unirmos “aos irmãos e irmãs na Arquidiocese que saem ao encontro dos que passam necessidade. Vamos crescer na fraternidade, na acolhida”.

Lembrando mais uma vez a subida de Jesus com os três discípulos ao monte, Dom Leonardo lembrou que “no sair de nós mesmo, sair do nosso círculo, da nossa bolha, receberemos a benção de sermos um povo, a fraternidade, onde ninguém passa fome”. Para isso chamou a escutar a voz que nos diz “Dai-lhes vós mesmos de comer”!  Um convite a que “trilhemos o ensinar de Jesus, perseveremos no seu caminhar”, pedindo que “Deus nos conceda a graça de ouvir e testemunhar a Jesus: nenhum irmão e irmã passe fome”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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