A
Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), iniciada
no dia 19 de abril, prosseguiu nesta quinta-feira seus trabalhos. A oração dos
Laudes, primeiro momento de cada jornada, deu passo a uma pauta que começou com
uma reflexão em torno à nova edição do Missal, uma tradução da 3ª edição, que,
segundo Dom Edmar Peron, bispo da diocese de Paranaguá (PR), e presidente da
Comissão Episcopal de Liturgia da CNBB, responde ao dinamismo da Igreja.
“Mais
importante do que a aprovação do Missal é como ele será recebido em nossas
comunidades”, insistiu Dom Edmar Peron, que chamou a entender a liturgia não
como rubricas e sim como evento de salvação, não caindo no rubricismo, passando
do rito a ser observado para o rito a ser celebrado. O bispo falou de algumas
atitudes fundamentais: estupor, formação e silêncio, questionando aos
presentes, seguindo a pergunta do Papa em Desiderio Desideravi sobre “como
recuperar a capacidade de viver plenamente a ação litúrgica?”. O Missal, que
foi promulgado no dia 25 de março deste ano, por decisão do Conselho Permanente
da CNBB será de uso facultativo até o primeiro domingo do Advento e depois se
tornará obrigatório.
A Comissão
de Doutrina da Fé da CNBB refletiu sobre o papel da Igreja na transmissão da fé
e dos bispos como “pais da fé”. Dom Pedro Cipolini, bispo de Santo André (SP), e
presidente da Comissão destacou o interesse pastoral da comissão, relatando as
atribuições que o Estatuto da CNBB lhe confere. O bispo mostrou algumas luzes e
sombras da vivência da fé na Igreja do Brasil, destacando que a Igreja do
Brasil foi uma das que melhor acatou o Concilio Vaticano II, assim como a
sinodalidade.
Em relação ao Estatuto Canônico e o Regimento da CNBB, o primeiro deles foi aprovado em 2022 e nesta 60ª Assembleia Geral os bispos têm que aprovar o Regimento, que tem a mesma estrutura do Estatuto. Segundo Dom Moacir Silva, arcebispo de Ribeirão Preto, muita coisa mudou nos últimos 20 anos em que tem regido o atual regimento, se tornando necessário incorporar essas mudanças. Ao longo da Assembleia os bispos irão estudando o novo Regulamento com o fim dele ser aprovado. Um trabalho que já está sendo realizado nos encontros por regionais, que começaram nesta quinta-feira e nas reuniões privativas, que também começaram neste dia 20.
Algumas
dessas questões foram abordadas na coletiva de imprensa, que contou com a
participação de Dom Edmar Peron, Dom Pedro Cipolini e Dom Leomar Brustolin,
arcebispo de Santa Maria (RS), que refletiu sobre o processo das novas
Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que deveriam ser
renovadas nesta assembleia, mas que em função do Sínodo 2021-2024 só serão
publicadas em 2025, que estão sendo elaboradas com muita escuta, “para saber
onde estamos e para onde vamos”, destacou o arcebispo de Santa Maria.
Tendo como ponto
de partida a fé, Dom Leomar refletiu sobre como falar às novas gerações diante
da atual conjuntura e as novas tecnologias, que aproximam e distanciam, e junto
com isso a preocupação exclusiva no presente por parte das novas gerações, o individualismo,
a religião privatizada, a falta de comunidade, elementos que demandam uma conversão
pastoral. O arcebispo vê as novas diretrizes como oportunidade para se
questionar em torno a como transmitir a fé às novas gerações, e junto com isso
como refletir em torno ao senso de pertença eclesial, a comunhão, a sinodalidade
e a diocesaneidade.
Isso numa
sociedade em que mais do que acolhida, se dá uma escolha da fé. Dom Leomar Brustolin
fez uma relação entre as 3 palavras chave do Sínodo e as novas diretrizes: comunhão
como formar comunidades integradas na pluralidade de experiencias, fazer das
paróquias casa de irmãos; participação como senso de pertença, insistindo na
questão dos ministérios ordenados e ministérios leigos; missão na perspectiva
de colocar a dimensão missionária como transversalidade de todas as Diretrizes.
O arcebispo de Santa Maria insistiu em não pensar só em questões religiosas e
sim na diversidade de realidades, em trabalhar a fraternidade e amizade social,
insistindo em que na elaboração das Diretrizes, estamos ainda num processo de
escuta.
Tanto Dom
Edmar Peron como Dom Pedro Cipolini insistiram em questões apresentadas aos
bispos na plenária da 60ª Assembleia Geral da CNBB. Na questão da Liturgia o
bispo de Paranaguá insistiu em que “é para a Liturgia que converge a vida da
Igreja e da Liturgia a Igreja recebe uma graça para entender sua missão”, tendo
como fundamento a Sacrosanctum Concilium. Na dimensão da Doutrina da Fé, Dom Pedro
Cipolini destacou que “não podemos compreender a Igreja sem a fé”, considerando
que a questão da fé é de primeira importância em tudo o que a Igreja faz.
Resgatar a
unidade diante da fragmentação é um elemento fundamental nas novas diretrizes,
segundo dom Leomar Brustolin, que insistiu em que “ser católico é aceitar formas
diferentes de pensar, a unidade não se faz sem um esforço de superar essa
fragmentação”. Ele afirmou, seguindo Evangelii Gaudium que a Igreja existe para
evangelizar, formar discípulos missionários a partir do encontro com Jesus
Cristo que sempre é comunitário.
Seguindo a
dinâmica do Sínodo, que implementou o Sínodo Digital como um instrumento que
tem ampliado a escuta, Dom Leomar afirmou que “pode ser que a gente fique
escutando sempre os mesmos, os que já estão em casa, pelo que essa proposta de
ampliar a escuta é indispensável”. Junto com isso, “escutar aquilo que a gente
não gosta de ouvir”, vendo como fundamental para a Igreja do Brasil “escutar os
que se afastaram da Igreja” e quem vem em função dos sacramentos, buscando
conhecer “qual é a percepção da presença pública da Igreja, a relevância da
Igreja numa sociedade como a nossa”. Uma escuta digital “para que possamos ir
ao encontro daqueles que estão em outros areópagos que não são necessariamente
aqueles que estamos habituados a frequentar”.
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