terça-feira, 11 de julho de 2023

Paulo Suess: Fomentar o protagonismo dos povos da Amazônia e com seu exemplo contribuir no futuro da humanidade


A Amazônia é o foco da reflexão do 35º Congresso da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER) que acontece em Belo Horizonte de 11 a 14 de julho, com mais de 600 participantes, entre os presentes na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), e aqueles que participam on-line. O tema em discussão é: “A Amazônia e o futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais”.

Uma reflexão que teve como ponto de partida o Sínodo para a Amazônia, diante do qual Paulo Suess questionou se tem sido uma oportunidade perdida. Ele, que foi perito na assembleia sinodal refletiu sobre como o Sínodo para a Amazônia pode contribuir para o futuro da humanidade, advogando pela descolonização das práticas e exigências pastorais e teológicas da Igreja, e o fomento do protagonismo dos povos da Amazônia e com seu exemplo contribuir no futuro da humanidade.

Analisando a realidade, o teólogo afirmou que os povos da Amazônia ainda são tutelados pela Igreja, defendendo a necessidade de tirar essa tutela para fortalecer seu protagonismo numa nova civilização. O que deve se procurar, defendeu Suess, é junto com os habitantes da Amazônia contribuir para o futuro da humanidade a partir das reflexões durante o Congresso. Ele definiu a Amazônia como uma região multicultural e multirreligiosa, cobiçada pela sua beleza e riqueza, insistindo em que a defesa da vida na Amazônia exige proteção política e novos caminhos eclesiais onde seus destinatários sejam acolhidos como protagonistas.



Afirmando a necessidade de na Amazônia passar do evento ao processo, Suess vê o Sínodo para a Amazônia como tentativa de repensar a presença da Igreja na Amazônia, uma Igreja que segundo o professor ainda não renunciou a seu centralismo. O Sínodo para a Amazônia é visto como um processo de reflexão sobre o passado, presente e futuro da Igreja católica na Amazônia e no mundo, retomando o que foi refletido nos encontros dos bispos da Amazônia, iniciados em 1952, se centrando nos dois encontros de Santarém, em 1972 e 2022.

O primeiro incorporou na Amazônia as reflexões do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín, com propostas retomadas 50 anos depois, insistindo na encarnação e libertação, para assim reforçar os caminhos traçados em 1972 e pelo Documento Final do Sínodo para a Amazônia: encarnação e libertação, protagonismo das lideranças leigas na Igreja da Amazônia, ampliar os espaços para uma presença feminina, que a voz das mulheres seja ouvida e participem na toma de decisões. Os dois encontros de Santarém fazem parte, segundo Paulo Suess, da gradualidade de uma reflexão eclesial e da prática sinodal que atravessa um país e um continente até envolver a Igreja universal.

Ele analisou brevemente quatro documentos presentes nesse processo sinodal: Documento preparatório, Instrumentum Laboris, Documento Final e Querida Amazônia, vendo a essência do Sínodo nos novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, algo definido pelo Papa Francisco na convocatória do Sínodo em outubro de 2017. Isso numa realidade determinada pelos desafios das distancias geográficas e a diversidade cultural, fazendo um chamado a evitar generalizações injustas, discursos simplistas e conclusões a partir das nossas mentes.

Se faz necessário assumir as perspectivas dos direitos dos povos e das culturas, algo que está no Concílio e não aconteceu ainda, segundo Suess. Ele vê uma clara diferença entre os três primeiros sonhos da Querida Amazônia e o sonho eclesial, afirmando que a exortação pós-sinodal é uma carta de amor, que não propõe conversões como o Documento Final, e sim sonhos, e que no sonho eclesial não encontram repercussão os encaminhamentos do Documento Final do Sínodo para a Amazônia, que criou uma nova modalidade com um ministério compartilhado entre o Papa e os delegados no Sínodo.



Com relação aos resultados do Sínodo, Paulo Suess abordou a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e o Rito amazônico. A CEAMA foi uma proposta do Papa Francisco diante do pedido da assembleia sinodal no Documento Final de criar um organismo episcopal permanente para dar continuidade ao Sínodo, sendo fundada para transformar desafios pastorais em respostas práticas, segundo o professor. Ele insistiu na necessidade de envolver as comunidades e refletiu sobre a lentidão para tomar decisões o que faz com que tudo fica em sonhos.

Com relação ao Rito amazônico, buscando uma pastoral menos colonial, ele vê uma dificuldade, dada a não homogeneidade de culturas e ritos na Amazônia. Para isso defendeu a presença e protagonismo de ministros locais, e fez ver a falta de ampla participação dos povos. Daí a necessidade de ritos amazônicos que respondam à diversidade cultural, questionando se um Rito amazônico não significa repetir um novo colonialismo, uma espécie de nova língua geral, que foi criada para facilitar a catequese.

Igualmente refletiu sobre a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, uma proposta do Papa diante do pedido de uma VI Conferência Geral do Episcopado, com ampla participação do povo de Deus de toda América Latina y Caribe, querendo retomar propostas não realizadas de Aparecida, com uma maior participação do conjunto do povo de Deus. Algo que não se concretizou segundo Paulo Suess, pois não teve participação substancial do povo de Deus, questionando a ausência de um Documento Final, uma marca registrada na Igreja da América Latina y Caribe.

Concluindo, o assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário defendeu não ter sido em vão os desafios experimentados por ocasião do Sínodo para a Amazônia e da Primeira Assembleia Eclesial de América Latina e do Caribe. Mesmo com as dificuldades que surgem do Direito Canônico para a recepção da eclesiologia do Vaticano II, a sinodalidade vai além do exercício da colegialidade episcopal, questionando as reservas episcopais que faz “do sensus fidei fidelium um processo de consultações sobre consultações”, afirmando fazer “do Espírito Santo um placebo (paliativo) sem consequências pastorais palpáveis”. É por isso, que “as discussões, nestes dias, podem mostrar que o Sínodo para a Amazônia não foi oportunidade perdida”, respondendo assim à pergunta planteada por ele mesmo.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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