domingo, 27 de agosto de 2023

Cardeal Steiner: “A confissão de Pedro é a nossa confissão”


Uma resposta que “nasce espontânea, pois recolhe as conversas, as opiniões que circulam entre o povo”, afirmou dom Leonardo Steiner no início de sua homilia do 21º domingo do Tempo Comum. A resposta: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”, vem da pergunta de Jesus: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”.

Segundo o arcebispo de Manaus, “é o dizer, o opinar, o avaliar em geral; a percepção, a intuição de uma pessoa ligada à tradição, à história do povo. Diante das palavras, gestos, proximidade, milagres, as pessoas ligam Jesus à presença de João Batista, de Elias, de algum dos profetas. Pensar que fosse João Batista, Elias, Jeremias tinha um alto significado”.

“Um profeta em Israel era chamado, o escolhido de Deus, o recordador da Aliança, o despertador do Povo para voltar à beleza do primeiro amor”, lembrou o cardeal Steiner. Segundo ele, “os discípulos eram bons ouvintes, sabiam o que o povo pensava, percebia e sentia. Jesus é visto como uma pessoa enviada e a sua pregação leva a despertar para a conversão, a volta às fontes, à fidelidade de Deus”.

“Jesus se dirige diretamente aos discípulos e lhes pergunta: E vós, quem dizeis que eu sou?’. Não mais o que dizem, o que se diz, a opinião das multidões”, fez ver o cardeal. Ele insiste no “e vós!”, o que se concretiza no “vós que andais comigo, vós que participais da minha vida, vós que a cada dia me ouvis, me conheceis de perto: quem, sou eu para vós? Já não uma resposta da opinião pública, da opinião corrente, do WhatsApp. Quem sou eu para você? Para cada um de vocês o que eu significo, quem eu sou para cada um de vocês? Não se trata mais dos outros, trata-se de cada um dos discípulos; Jesus busca uma resposta pessoal”.



“E Simão na sua espontaneidade e prontidão, olhando para Jesus confessa: ‘Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo’”, lembrou dom Leonardo. Ele destacou que “Simeão vem do hebraico Shim'on, de shamá, que significa ‘ele ouviu’; ele é bom ‘ouvinte’. O bom ouvinte sonoriza, verbaliza o ouvido, aquilo que ouviu e viu. Não um profeta, um Batista reencarnado, mas o Messias, o Filho de Deus”.

“Na confissão de Pedro está a nossa confissão. A confissão de Pedro é a nossa confissão. Nós que ouvimos a Jesus e buscamos conviver com Ele, vamos despertando para a confissão: ‘Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo’”, insistiu o cardeal, que afirmou que “Ele a nossa referência, o sentido da nossa vida e das nossas cruzes. A nossa confissão na confissão de Pedro, está confissão da nossa comunidade de fé. A comunidade, a Igreja, que confessa sua fé no Filho de Deus: Jesus é o Messias, o Filho de Deus, o Salvador, o Redentor. A comunidade que confessa a sua fé em Jesus, quando se reúne para a celebração, quando serve os necessitados, quando busca transformar as estruturas injustas. A comunidade que confessa como Pedro, pois lugar de encontro onde Cristo é a pedra, o fundamento”.


“Na confissão ouvida, proclamada, Jesus muda o nome do discípulo: ‘Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja’. Simão, passa a Pedro; Pedro-pedra; pedra-Pedro!”, destacou o cardeal. Ele lembrou as palavras de São Gregório Magno no Sermão 4, onde insiste na dignidade de Pedro. Do mesmo modo citou as palavras do Papa Francisco do Angelus do último 29 de junho, onde destaca a figura de Pedro como rocha e pedra.


O arcebispo de Manaus ressaltou que “Pedro é pedra, é rocha, e por ser pedra também é pedrisco. Pedrisco, pois também é um homem fraco e frágil; trai a Jesus. Às vezes não compreende o que Jesus faz. Diante da prisão deixa-se dominar pelo medo e nega a Jesus. Na sua fraqueza se arrepende e chora amargamente (cf. Lc 22,54-62). Não tem a coragem de estar aos pés da cruz. Esconde-se com os outros no cenáculo, com medo de ser preso (cf. Jo 20,19). Tem vergonha de estar com os pagãos convertidos (cf. Gl 2,11-14)”.

“Ao confessarmos a nossa fé no Filho de Deus temos uma pedra firme, e nos tornamos pedra. Somos pedra, pois alicerçados em Cristo, temos como fundamento Cristo, temos como razão da nossa vida Cristo. Nele pedra, somos pedra que forma a Igreja. Somos como Pedro fracos, duvidamos, nos escondemos, deixamos a vida da comunidade, por isso também somos pedriscos. Em Pedro nos vemos e percebemos que Jesus constrói a sua Igreja com as nossas fragilidades e pecados. Jesus vai edificando a sua Igreja com as nossas contradições e nosso seguimento. Mesmo sendo contratestemunhas, Cristo se torna visível. Possamos na admiração que Jesus suscita em nós dizer ‘Tu és o Filho de Deus’, para que o Pai do céu possa revelar aos corações distraídos e endurecidos a sua presença inefável”, segundo dom Leonardo Steiner.



Dentro do Mês Vocacional, o cardeal lembrou que “neste domingo a Igreja no Brasil convida a contemplar a vocação dos leigos e leigas na Igreja, especialmente, do/a catequista. Nos Atos dos Apóstolos lemos como a comunidade de Antioquia nasceu da pregação dos que foram dispersados. Mulheres e os homens que, encantados com o Reino de Deus, anunciam, mostram e espalham a vida de Jesus Cristo”.

O cardeal insistiu em que “os leigos e as leigas como povo de Deus, são chamados a confessar que Jesus é o Filho de Deus, sendo pedra que constrói, anunciando o bem, a paz, a justiça, a fraternidade, o amor; chamados à missão de denunciar o descarte, o pecado, a morte”. Isso significa, “todos os batizados e confirmados pelo Espírito Santo colocam-se a caminho!”, afirmou lembrando as palavras do Papa Francisco em Evangelii Gaudium 49, onde animando a sair, diz que “prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”.

Cristãos leigos e leigas, que em palavras de dom Leonardo, “chamados a ser ‘Sal da Terra e Luz do Mundo’ (5,13-14). Ativos na política, nos meios de comunicação social, na vida econômica, na educação, na saúde, nas associações, na cultura, no lazer, iluminando a vida social e temperando as relações. Gratidão aos irmãos e irmãs leigos, pelo testemunho de fé, pelo amor e dedicação à Igreja e pela doação às comunidades, às suas famílias, às suas atividades profissionais. O laicato é um ‘verdadeiro sujeito eclesial’. Uma Igreja sinodal: todos a caminho, juntos no caminhar!”.

Ele pediu que “iluminados pela confissão de Pedro e levados a perceber que somos pedras vivas em Cristo Jesus os catequistas e as catequistas despertemos as irmãs e os irmãos para a admiração”, citando o texto de Romanos 11,33-36. Por isso seu chamado a que “com todos os discípulos e discípulas confessamos: ‘Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo’”, pedindo que “Jesus nos ajude a sermos, verdadeiras testemunhas da glória que deve manifestar-se (1Pd 5,1)”.


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

 

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