Articulação é a palavra forte no
planejamento da Comissão Especial Pastoral para o Enfrentamento ao
Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Reunidos na Casa de Retiros Assunção, em Brasília (DF), nestes dias 24 e
25 de setembro, os membros partilharam sobre o trabalho desenvolvido
pelos grupos representados, pensaram em sugestões para levar ao Sínodo
para a Amazônia, elaboraram contribuições para a continuidade do
trabalho e indicaram pistas para fortalecer a relação com redes que
atuam na realidade do tráfico de pessoas e da migração.
“A comissão agora está em processo de
rearticulação para ter uma incidência maior em nível nacional e também
nos regionais da CNBB, nas Pastorais Sociais, nas fronteiras, com alguns
enfoques específicos, como as crianças, adolescentes, jovens, as
mulheres”, resumiu o bispo da prelazia de Marajó (PA), dom Evaristo
Spengler, que a partir de novembro assumirá a presidência da Comissão.
A busca de maior incidência está no
horizonte de atuação do grupo que atua na prevenção ao tráfico humano,
na incidência política e na denúncia e responsabilização dos culpados.
De acordo com a irmã Eurides Alves de Oliveira, representante da Rede Um
Grito Pela Vida, o contexto atual apresenta aumento na mobilidade
humana com fluxos intensos, “a miséria bate à porta com muita força” e
as crianças são as maiores vítimas.
Neste “cenário desolador”, o papel da
Comissão é dar visibilidade às realidades, sobretudo nos processos de
evangelização da Igreja, “que muitas vezes são doutrinários,
catequéticos, mas não abordam essas questões”, aponta a religiosa. A
ideia é fazer uma sensibilização eclesial para os diversos organismos e
pastorais pautarem essas problemáticas, para que alertem a sociedade e
deem visibilidade.
O grupo deve se empenhar para descobrir
iniciativas que existem nos regionais e tentar agregar força para uma
atuação mais efetiva em rede, além de buscar ter uma palavra profética
diante dos desmontes das políticas públicas e também incentivando as
denúncias.
Na dinâmica da “chuva de ideias”,
facilitada pela consultora Rogenir Costa, os membros da Comissão
indicaram as realidades que devem ser tocadas pelas ações do grupo (veja
abaixo), com reforço à questão da articulação e fortalecimento de
iniciativas.
Para irmã Marie Henriqueta Cavalcante, da
Comissão Justiça e Paz do Regional Norte 2 da CNBB, estas proposições
consideram que o tráfico de pessoas “é um crime extremamente organizado,
silencioso, invisível”. “Então nós pensamos que nos regionais a gente
ainda precisa falar muito mais desse tema em outros espaços e articular e
fortalecer a Comissão nos outros regionais”. Irmã Marie também pontua
para a necessidade de incidir politicamente e integrar os trabalhos que
já existem nas áreas de fronteira.
Sínodo para a Amazônia
A Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB tem entre seus membros três participantes do Sínodo para a Amazônia convocados pelo Papa Francisco. Eles terão a oportunidade de reforçar a importância da temática na assembleia sinodal.
A Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB tem entre seus membros três participantes do Sínodo para a Amazônia convocados pelo Papa Francisco. Eles terão a oportunidade de reforçar a importância da temática na assembleia sinodal.
Dom Evaristo reforça que o tema já está
posto para o debate, uma vez que já está presente no documento de
trabalho. “Nós queremos agora que haja algum compromisso formal no
documento sinodal em relação a esta chaga humana que tem sido denunciada
em todo o mundo”, afirma o bispo.
Para o prelado, é importante dar relevo à
questão do tráfico humano, da exploração sexual, do abuso sexual, “que é
uma prática encontrada no Brasil inteiro, mas de modo especial a
Amazônia sofre muito com isso”.
“São corpos de crianças, adolescentes, meninas e meninos que são degradados, não são vistos como um ser humano, mas como um objeto de lucro, como objeto de prazer. E a pessoa humana tem que ser valorizada. E o sínodo vai dar uma palavra importante na defesa das crianças, adolescentes, na defesa da vida dos mais fragilizados”.
Articulação com redes
Para ao planejamento de 2020, a Comissão deverá aprimorar a relação com redes que já atuam no enfrentamento ao tráfico. “O grande desafio é esta articulação da Comissão com essas outras redes que já tem um trabalho de enfrentamento ao tráfico de pessoas em nível de Brasil. A gente tem fortalecido essas articulações com as redes que tem nas regiões de fronteira que já fazem um trabalho tanto de prevenção, de incidência política e relação com as redes que trabalham com os migrantes”, conta a irmã Rose Bertoldo, que atua na Rede Um Grito pela Vida e no Eixo de Fronteiras da REPAM.
Para ao planejamento de 2020, a Comissão deverá aprimorar a relação com redes que já atuam no enfrentamento ao tráfico. “O grande desafio é esta articulação da Comissão com essas outras redes que já tem um trabalho de enfrentamento ao tráfico de pessoas em nível de Brasil. A gente tem fortalecido essas articulações com as redes que tem nas regiões de fronteira que já fazem um trabalho tanto de prevenção, de incidência política e relação com as redes que trabalham com os migrantes”, conta a irmã Rose Bertoldo, que atua na Rede Um Grito pela Vida e no Eixo de Fronteiras da REPAM.
Entre as ações na parceria com as redes o
grupo colabora na formulação de políticas públicas voltadas para a
realidade da migração e do tráfico de pessoas, na formação de lideranças
nos regionais e na articulação destes regionais com as redes locais que
existem. Tudo isso tem sido promovido até o momento por meio de
Seminário de formação e capacitação de lideranças.
São algumas das redes que já atuam neste
campo: Rede Clamor, do Conselho Episcopal Latino Americano; a REDEMIR,
articulada pelo Instituto Migrações e Direitos Humanos para a realidade
de Migrantes e Refugiados, o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados, a
rede da Tríplice Fronteira (Brasil, Peru e Colômbia), a rede
internacional Thalita Kum, articulada pelas Superioras Gerais de
congregações religiosas, além da REPAM entre outras.
As prioridades da Comissão para os próximos anos:
- Incidência nos Regionais e nas pastorais sociais para uma agenda comum para enfrentamento ao tráfico de pessoas
- Inclusão da temática nas prioridades das Pastorais Sociais no plano 2019-2023
- Articulação com as organizações que estão atuando com educação para sensibilização e prevenção
- Fortalecimento do papel de articulação da Comissão em todo o país
- Incidência política e profética na temática do enfrentamento ao tráfico de pessoas
- Aproximação das iniciativas nas fronteiras
- Dar ênfase ao tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas na Semana Social Brasileira
- Ampliação da articulação entre organizações nacionais que atuam nos temas afetos à comissão em plano nacional e internacional
- Aproveitar o ambiente do Sínodo para incidência da temática
- Ampliação do olhar e do conceito de fronteiras para além da terrestre
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