sexta-feira, 28 de abril de 2023

Voto feminino no Sínodo: Papa Francisco cumpre a promessa feita no Sínodo para a Amazônia


Francisco é um Papa de processos e sua decisão de que todos os participantes, inclusive as mulheres, votem na Assembleia Sinodal que será realizada no mês de outubro tem sido manchete em diferentes âmbitos. No Sínodo para a Amazônia, as 35 mulheres presentes na Assembleia Sinodal fizeram um pedido formal ao Papa para votar naquela assembleia, algo que Francisco não levou adiante naquele momento, mas que claramente não esqueceu.

Duas daquelas mulheres eram a Ir. Maria Irene Lopes, secretária executiva da Rede Eclesial Pan-Amazônica no Brasil (REPAM-Brasil) e da Comissão para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ir. Rose Bertoldo, secretária executiva do Regional Norte1 da CNBB. “Eu quando vi essa notícia pela primeira vez, eu me reportei logo ao Sínodo de 2019, mas eu acredito que não foi só ali que começou essa instigação”, afirma a Ir. Irene, que não duvida em ver o Sínodo para a Amazônia como esse divisor de águas.

A religiosa destaca “o grande número de mulheres naquele Sínodo, tanto indígenas como leigas, religiosas”, que ao longo da assembleia sinodal se aproximaram do Papa Francisco para mostrar que estavam lá, insistindo em que não era simplesmente uma presença, “nós também pedimos ter voz, pedimos poder falar, quem sabe até votar, foi um sentimento que a gente foi tendo e que o Papa foi tendo naquele Sínodo”.



Em que é fruto de um processo insiste a Ir. Rose Bertoldo, lembrando que estamos no décimo ano do pontificado do Papa Francisco, “e ele sempre teve esse olhar”. Segundo a religiosa, “não teve muitos avanços, mas é um Papa que é de processos. O voto das mulheres nesse Sínodo é fruto desse processo, que ele vem fazendo na Igreja, que a gente sabe que não é fácil”. Segundo a secretária executiva do Regional Norte1, o gesto de entregar ao Papa a carta assinada por todas as mulheres presentes na assembleia sinodal, “isso foi muito significativo”.

Junto com isso, a religiosa destaca que “o Papa reconhece o trabalho que as mulheres fazem”, citando como exemplo que no Sínodo para a Amazônia as mulheres foram a maioria das participantes no processo de escuta, destacando sua contribuição, “então nada mais justo do que reconhecer essa contribuição, que é a realidade da Igreja. O rosto hoje da Igreja é feminino, esse reconhecimento é fruto desse processo, com que o Papa aos poucos vai abrindo espaço para que isso se consolide na Igreja”. A Ir. Rose diz que “o próximo Papa não tem como retroceder nesses processos”.

A Ir. Irene Lopes lembra a última fala do Papa naquela assembleia sinodal, “o Papa olhou para nós e disse: ‘não foi desta vez ainda, mas vocês vão ter esse espaço’, algo que para mim ficou muito marcante. Em momento algum o Papa esqueceu das mulheres que estavam presentes”. Nesse processo, a Ir. Rose Bertoldo destaca como elemento importante que “a gente não foi para o confronto, mas essa consciência de que o diálogo é a ponte”. Ela vê como algo importante que “a gente não foi brigar, mas a gente fez que isso ficasse para a história”.

Seu serviço como secretária executiva do Regional Norte1, “ele ajuda gestar processos muito grandes”, insistindo em que “tem muitos bispos que nos escutam, não é a gente que vai fazer a decisão, mas eles nos escutam, e isso leva a uma decisão”, o que ela considera muito importante. Um exemplo disso é a Mensagem ao Povo Brasileiro da 60ª Assembleia Geral da CNBB realizada em Aparecida de 19 a 28 de abril de 2023, “tem muito da voz feminina”. Por isso, a religiosa destaca que “muitos processos, muitas decisões, elas partem da sugestão de nós mulheres”.



Como secretária executiva do Regional Norte1, ela fala das sugestões que faz, mas não de forma impositiva, o que acaba sendo acatado pelos bispos. A Ir. Rose mostra que nas comunidades e nos espaços que as mulheres estão, “elas são ouvidas e os processos avançam por conta das sugestões que nós mulheres fazemos”. A Ir. Irene Lopes, que está na CNBB desde 2009, lembrando os bispos que presidiram a REPAM-Brasil e a Comissão para a Amazônia, ela disse perceber “muito respeito deles pela presença nossa enquanto mulheres”. Na equipe da REPAM-Brasil, hoje todas são mulheres, “e eu vejo que existe esse respeito pela nossa presença e pelo nosso trabalho, confiam, valorizam”, algo muito importante, pois “a gente está ali para fazer junto, pensar junto, não só para prestar um serviço, e sim para fazer propostas, sugerir”, destacando o acolhimento de todo o episcopado.

Tudo isso, “passa por essa dimensão da escuta, há um processo mais aguçado de escuta por parte dos bispos, e desse processo de escuta surge a confiabilidade e essa valorização e reconhecimento da nossa participação”, insiste a Ir. Rose Bertoldo.

Uma presença das mulheres que na Igreja da Amazônia é decisiva, “não temos como mais pensar na Igreja da Amazônia sem a presença das mulheres”, afirma a Ir. Irene Lopes, que insiste em que muitos bispos estão dando “uma grande valorização para questão das mulheres nas comunidades”, uma atitude que “se deve à preparação do Sínodo, às escutas que foram feitas e os espaços que as próprias mulheres estão conquistando nas comunidades”. A secretária executiva da REPAM-Brasil diz ter percebido nos últimos anos “uma maior valorização da presença feminina, inclusive em falas públicas”. A religiosa cita exemplos de bispos encantadíssimos com o trabalho que as mulheres estão fazendo, e é um trabalho de incidência, um trabalho que está sendo apoiado.

A dimensão da circularidade nas comunidades é apontada pela Ir. Rose Bertoldo como um elemento importante, insistindo em que “nossas comunidades têm o serviço não como poder, essa dimensão de troca que acontece de uma forma circular e não piramidal”. Junto com isso, a secretária executiva do Regional Norte1 destaca “toda essa discussão que a gente vem fazendo que é a ministerialidade. A gente tem avançado no sentido de fazer processos de discussão em relação aos ministérios e os ministérios das mulheres. A CEAMA tem trazido isso muito presente, a REPAM também, e isso vai incorporando na Igreja. E agora a gente começa fazer processos com diálogo mais tranquilo com relação a isso, não é a mulher tirar o espaço do homem, é a contribuição que nós mulheres de fato damos com legitimidade na Igreja”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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