Depois de
dois anos de caminho e um mês de trabalho intenso, percebe-se como é difícil
construir uma Igreja da diversidade. A votação do Documento de Síntese, mesmo
que eles tenham insistido em chamá-lo de relatório, é uma prova disso. A
diversidade range e, como resultado, podemos dizer que uma Igreja sinodal
continua a incomodar algumas pessoas.
Ela não pode e não vai retroceder
O Sínodo
está ciente disso, como o Cardeal Hollerich, Relator Geral do Sínodo sobre a
Sinodalidade, deixou claro na última coletiva de imprensa. A oposição está
presente e aproveita todas as brechas para fazer seu discurso habitual, mesmo
que não tenha nada a ver com o que foi vivido durante o caminho sinodal, e para
isso precise tirar a palavra dos outros, inclusive do Papa. É um desejo de
retroceder, uma atitude que não pode e não será permitida, por mais que alguns,
mesmo sabendo que fazem muito barulho, insistam nisso.
Quando
dizemos que as decisões devem ser fruto da diversidade, aqueles que sempre
estiveram no comando se revoltam; quando se propõe que se deve sentar na mesma
mesa redonda com todos, há aqueles que ainda querem uma mesa com cabeceira;
quando falamos em escutar os pobres, as mulheres, as pessoas LGBTI, aqueles que
decidiram tomar outra direção em seu caminho vocacional, eles são marcados com
uma cruz. Podemos nos perguntar se a conversa no Espírito tomou conta deles ou
se ainda são prisioneiros das estratégias e dos cálculos humanos dos quais
Francisco sempre fala, falou hoje e continuará a falar.
Não se assustar com a diversidade
Aqueles que
se assustam com a diversidade, aqueles que se indispõem diante de uma Igreja
sinodal, precisam pensar na solidez de seus fundamentos de vida e de fé. No
fundo, não são pessoas livres, vivem ancoradas em suas ideologias antiquadas,
são idólatras, como disse o Papa, lembrando as palavras de Martini, nas quais
ele nos lembra que Deus pode "alterar minhas expectativas", que não
pode ser controlado.
Eles não
sabem que a diversidade enriquece, abre perspectivas, nos ajuda a ver que a
vida e a Igreja não podem ser monocromáticas, que as diferentes cores nos
ajudam a descobrir que o que realmente conta é "amar a Deus com toda a
nossa vida e amar o próximo como a nós mesmos", o princípio e o fundamento
aos quais Francisco se referiu em sua homilia na missa de encerramento desta
primeira sessão da Assembleia Sinodal, com um aceno a Santo Inácio, como um bom
jesuíta. E isso não é algo abstrato, é algo que tem rosto, concreto, diverso,
cheio de vida e ensinamentos, expressões claras do amor de Deus.
Adorar, servir e amar
Quando
adoramos e servimos, quando Deus e aqueles que não contam estão presentes em
nossas vidas e na jornada de nossa Igreja, a diversidade não nos assusta.
Quando amamos, entendemos e aprendemos a viver juntos e a desfrutar da presença
ao nosso lado, em nossa mesa, daqueles que são diferentes. Mas, para isso, é
essencial ter a capacidade de se surpreender com as histórias de vida dos
outros, um assombro que nasce da verdadeira escuta, do modo de escutar de
Jesus, do amor concreto de Deus.
A
diversidade nos leva a contemplar Deus em todos e nos ajuda a não cair na
tentação de nos colocarmos no centro e não colocarmos de fato esse Deus
encarnado no outro, também no diferente, naquele a quem temos de servir, porque
"não há amor a Deus sem o compromisso de cuidar do próximo", e o
diferente também é um próximo.
Deus no centro com os pobres e os fracos
A reforma
da Igreja, que pode ser considerada um dos grandes objetivos do Sínodo, só
acontecerá na medida em que conseguirmos "adorar a Deus e amar nossos
irmãos e irmãs com o mesmo amor", aqueles que hoje seriam identificados
com os que o livro do Êxodo chama de estrangeiro, viúva e órfão. É uma questão
de colocar "Deus no centro e aqueles que Ele prefere, os pobres e os
fracos", a fim de fazer "uma Igreja que serve a todos, uma serva dos
últimos", como o Papa insistiu.
"Uma
Igreja de portas abertas que seja um porto de misericórdia" é o caminho a
ser seguido. Podemos nos perguntar se essa será a Igreja que nascerá do atual
processo sinodal. Para isso, é decisivo "experimentar a terna presença do
Senhor e descobrir a beleza da fraternidade", que está presente na
diversidade, "na rica variedade de nossas histórias e de nossas
sensibilidades", nas palavras do Papa. Não percamos o horizonte em um
caminho que continua, sejamos "uma Igreja mais sinodal e missionária, que
adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar
a todos a alegria reconfortante do Evangelho", também àqueles que são
diferentes.
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