segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Cardeal Aguiar: "Tudo vai depender de colocar em prática o que estamos aqui dizendo que a Igreja deve ser"


Três cardeais, Schönborn, Aguiar e Aveline, e a Irmã Samuela Maria Rigon foram os participantes da primeira coletiva de imprensa da última semana da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que concluirá sua primeira sessão no próximo domingo com a celebração de uma Eucaristia na Basílica de São Pedro. Uma semana em que o trabalho está centrado no Documento de Síntese e na Mensagem ao Povo de Deus, cujo esboço foi apresentado à assembleia na segunda-feira e que será aprovado e publicado na quarta-feira.

Fé, esperança e caridade como frutos

O Cardeal Christoph Schönborn vê o Sínodo como o melhor de sua vida, devido à disposição dos participantes e porque está funcionando de forma muito positiva. Quanto aos frutos, ele espera que, seguindo o exemplo do Concílio Vaticano II, seja colhido um aumento na fé, na esperança e na caridade. Um Sínodo que, mais de 50 anos após a instituição do Sínodo dos Bispos, tem como objetivo como viver a comunhão na Igreja, uma comunhão com Deus que está aberta a todos os homens e mulheres.

O Arcebispo de Viena enfatizou que "a sinodalidade é a maneira pela qual podemos viver a comunhão". O ponto focal é a visão da Igreja na Lumen Gentium, onde se diz que a Igreja é Mistério, a Igreja é o povo de Deus, como anterior à hierarquia, insistindo que a base da sinodalidade é o Batismo. O Cardeal refletiu sobre como as Conferências Episcopais Europeias estão atrasadas nas estruturas de sinodalidade em relação a outros continentes, destacando a sinodalidade presente nas Igrejas Orientais, algo explícito neste Sínodo, que têm essa dimensão em seu coração, que é visível na assembleia dos fiéis.

Um percurso sinodal que o Cardeal Carlos Aguiar abordou na perspectiva da transmissão da fé, recordando a sua primeira participação num sínodo, o da Nova Evangelização em 2012, a que se seguiram o Sínodo da Juventude e o Sínodo da Amazônia.



Não se deixar abater por coisas pequenas

O Cardeal Aveline, Arcebispo de Marselha, disse que chegou ao seu primeiro Sínodo com emoções diferentes, com um sentimento de curiosidade, diante de pessoas vindas de todo o mundo, mas que depois de um mês descobriram muitas coisas juntas. Um Sínodo em um mundo em crise, que neste mês se agravou. Em vista disso, ele conclamou a Igreja a não se prender a coisas pequenas, mas a assumir a responsabilidade e levar o amor de Deus ao mundo.

O cardeal francês refletiu sobre a falta de participação no processo sinodal em seu país, sobre o método de conversação no Espírito, que mostra que temos uma responsabilidade comum no batismo, e sobre a importância de poder falar livremente. Enfatizando a importância desta última semana para chegar a um acordo sobre as questões restantes, ele pediu arregaçar as mangas e começar a trabalhar. Ele também insistiu na importância dos 11 meses entre as duas sessões da assembleia para que a semente germine, "um período em que temos que ser todos ouvidos, para escutar o que está brotando", concluiu.

A Ir. Rigon, apesar de sua resistência inicial, vê sua participação como "um chamado de Deus para servir à nossa Igreja. Fazer minha contribuição como mulher batizada e consagrada está me fazendo tocar com minhas mãos a universalidade da Igreja, a origem de situações que muitas vezes não são faladas, a experiência da universalidade". Com humildade, ela disse sentir que "posso contribuir com meu grão de areia e estamos construindo um mosaico muito bonito". De acordo com a religiosa, "estamos recebendo uma semente importante e Deus a ajudará a crescer em nós e por meio de nós". Lembrando as palavras de São Francisco de Assis: "hoje começo a ser um cristão diferente", ela disse que via isso como algo que nos ajudaria a transformar a face da Igreja e oferecer a face misericordiosa e amigável de Jesus.



Colocando isso em prática

O Cardeal Aguiar insistiu que "se colocarmos em prática o que já definimos, discutimos e vivemos aqui, há um caminho a seguir. Se não o fizermos, se apenas ouvirmos e não levarmos isso para o nosso cotidiano, para as nossas responsabilidades, nada acontecerá. Portanto, tudo dependerá de nós quando voltarmos às nossas dioceses e colocarmos em prática o que estamos dizendo aqui que a Igreja deve ser”.

Na mesma linha, o cardeal Schönborn insistiu que esse método, com diferentes variantes, "são elementos-chave que mudam de maneira fundamental a situação da Igreja hoje". Um método que ele propõe como uma maneira específica de resolver os problemas da guerra no mundo, pedindo que um método sinodal, com escuta e intercâmbio, seja adotado pelas Nações Unidas para avançar.

A escuta é o ponto chave

Um método no qual, de acordo com a religiosa italiana, "o cerne da questão é escutar", um aspecto que não podemos negligenciar em todos os níveis da vida e da Igreja. Por esse motivo, ela disse que apreciou muito "o fato de que todos pudemos falar e ser ouvidos", definindo-o como muito construtivo, sem esquecer que o primeiro mandamento da Bíblia é "Escuta Israel".

Um Sínodo no qual o Cardeal Schönborn não vê nenhum problema na participação de não-bispos, porque o Sínodo "é um exercício do Povo de Deus", em comunhão com o Papa, com os bispos e com os fiéis da Igreja. Um exercício como Povo de Deus que está "enraizado na corresponsabilidade colegial para o bem da vida da Igreja", uma experiência muito positiva. De fato, ele destacou que o sínodo sempre incluiu peritos leigos, lembrando as intervenções de peritos leigos que foram cruciais para o sínodo.

O arcebispo de Viena disse que é uma pena que os cristãos não estejam unidos, mas sabemos que se os cristãos usassem bem a unidade, seria possível encontrar mais força. Uma unidade na qual, para o Cardeal Aguiar, não devemos nos surpreender com a diversidade, as formas, os contextos são diferentes, mas todos com o mesmo critério. Uma unidade que esteve presente na oração ecumênica do dia 30 de setembro, segundo o Cardeal Aveline, afirmando que o anseio pela unidade cresce na contemplação de Cristo na Cruz, na fraqueza de Cristo como sinal de unidade. Por essa razão, ele insistiu que "o caminho para a unidade requer conversão".



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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