sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Se o Sínodo não der passos concretos, se não aterrissar, corre o risco de morrer


A primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade está vivendo um momento decisivo nestes dias: é hora de concretizar. Desde o início, insistiu-se que este Sínodo é uma oportunidade para colocar a sinodalidade em prática, para caminharmos juntos, mas não podemos negar que um avião não pode estar sempre voando, que tem que chegar um momento em que ele aterrissa. Se demorar muito para fazer isso, o risco de cair e todo mundo morrer se torna cada vez mais evidente.

Um momento fundamental do discernimento comunitário

Enquanto se aguarda a elaboração do Documento de Síntese, que deve ser o trabalho fundamental durante a última semana, os círculos menores estão chegando ao ponto culminante do discernimento comunitário, e para isso é necessário, fundamental, decisivo, passar do eu para o outro, que é o exercício realizado na segunda rodada do processo de discernimento comunitário, e assim chegar a uma clareza absoluta do sentimento comum.

O módulo B3, o quarto e último módulo do Instrumentum Laboris, tem como tema "Participação, responsabilidade e autoridade" e busca refletir sobre os processos, as estruturas e as instituições necessárias em uma Igreja sinodal missionária. Um dos grandes desafios enfrentados pelo Sínodo sobre a Sinodalidade é a mudança de estruturas, algo que algumas pessoas não gostam muito. De fato, sentar-se em uma mesa redonda, como iguais, não é algo que todos gostem.



Conversão pastoral para uma revolução estrutural

Essa estrutura eclesial em que todos escutam, dialogam, não repreendem o outro porque ele disse algo que não me agrada, especialmente se ele ou ela está abaixo de mim na escada eclesiástica que formei em minha cabeça, é uma revolução estrutural, que exige aquela conversão pastoral que Francisco vem pedindo desde que lançou seu programa de pontificado na Evangelii Gaudium, inspirado no Documento de Aparecida, do qual o então cardeal Bergoglio coordenou o comitê de redação.

Essas estruturas de articulação em todos os níveis da Igreja são uma das grandes questões quando falamos de uma Igreja sinodal. É uma questão complexa e na qual a Igreja terá que avançar com paciência, seguindo o tempo de Deus, se quiser evitar cismas que, em vez de nos levar a uma Igreja sinodal, nos levem a uma Igreja dividida, como já aconteceu em outros momentos da longa história do cristianismo.

Concentrar-se, conectar posições e seguir em frente

Quando conseguimos pensar a partir do "nós", quando permitimos que Deus trabalhe e que o Espírito Santo esteja presente, é muito mais fácil nos concentrarmos, conectarmos posições e seguir em frente. Não se trata apenas de buscar o consenso, mas de chegar a pontos que façam com que todos se sintam em paz, pois há a certeza de ter chegado aonde Deus esteve indicando ao longo do caminho. Há um senso de pertencimento, um sentimento de que vale a pena seguir em frente.

Nas próximas horas, a Assembleia Sinodal enfrenta o desafio de reagir ao que está sendo expresso pelos vários círculos menores, de não se perder em discursos ideológicos preparados, que continuam a responder a interesses pessoais, locais e de grupos de pressão, algo que é perceptível até mesmo nas perguntas das coletivas de imprensa. Aí aumenta o risco de ruptura e é improvável que a Assembleia Sinodal consiga aterrissar.

É hora de escrever para chegar no concreto, o que é complexo, mas que será o que fará avançar em um caminho sinodal que vai e quer ir muito além de outubro de 2024. É um sonho, um sonho de outra Igreja, com espaço para todos e todas. Essa é a pista de pouso. Esperemos que a Assembleia Sinodal, onde o piloto é o “nós”, a encontre.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicção CNBB Norte1

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