domingo, 10 de dezembro de 2023

Dom Leonardo: “Ao caminharmos para Belém somos despertados para a proximidade de Deus”


“Devagar se faz luminosidade na coroa do Advento”, disse Dom Leonardo Steiner no início da homilia do II Domingo do Advento, recordando que “as velas acessas, nossos desejos, nossos propósitos, a nossa disponibilidade, crescem na medida do caminhar para o lugar do nascer de Deus: Belém! Palavra de Deus, iluminando o caminho para chegar a Belém”.


Segundo o Arcebispo de Manaus, “no II Domingo do Advento, Isaías e João Batista anunciam que Deus, o Salvador e Consolador, está para chegar! Por isso, sinalizam, alertam, despertam: Preparai o caminho e endireitai as estradas! Confessai vossos pecados e convertei-vos!”. Assim na leitura de Isaías destacou que “no livro da Consolação, anuncia esperança aos israelitas, reacende nos exilados o mistério da eleição divina. É anúncio, recordação, de que Deus continua amar seu povo, apesar das infidelidades e dos pecados”. 


Lembrando o texto, “Consolai, consolai, meu povo!”, o cardeal destacou que “a desolação havia assaltado o coração do Povo de Israel. O coração tornara-se árido e seco como o deserto. Não temem a destruição e, por isso, não percebem a ameaça da aniquilação. A aniquilação traz a desertificação das fontes criativas da vida, espalha o deserto nos corações, acaba com o alento da esperança. As fontes da esperança haviam secado, minguara o viço e o vigor de ser o povo eleito. O povo eleito estava abatido, aniquilado, tornaram-se escravos novamente”.


Segundo Dom Leonardo, “o profeta a nos conduzir pelo caminho do consolo e da esperança, pois Deus oferece a salvação, o perdão. Ao caminharmos para Belém somos despertados para a proximidade de Deus. Deus envia a palavra da consolação, por meio do profeta para nosso coração às vezes desolado e atormentado, esquecido e afastado”, segundo aparece no texto. “É a consolação dita ao coração, ao âmago do ser humano, onde pulsa a cadência do existir. O profeta em nome de Deus fala ao Povo como o amado fala à amada, a mãe ao filho”, prosseguiu.





Com relação a Deus, ele afirmou que “é Pai misericordioso e Pastor magnânimo, disposto a livrar o Povo mais uma vez da escravidão. Mais uma vez deseja conduzi-lo à terra da promessa. Deus deseja perdoar, Deus quer redimir seu povo amado. A primeira leitura nos convoca a sair da depressão e encoraja a erguer o ânimo e nos dispormos a trilhar o novo caminho: todo o vale será elevado! Convoca à humildade, à minoridade, à pobreza, à cruz: toda colina será rebaixada. Promete, ao mesmo tempo, que a graça do Senhor tornará fácil aquilo que parece difícil aos olhos humanos: ‘A sinuosidade será endireitada e as sendas escarpadas, suavizadas’. E o Senhor promete revelar-se em seu esplendor: A glória do Senhor se descobrirá. O homem fraco será revigorado, toda carne, todos os mortais, frágeis, verão o Senhor”, inspirando no Comentário ao Evangelho de Fernandes, M.A., e Fassini, D.


O cardeal ressaltou que “a Primeira Leitura nos desperta para a vida nova, para a libertação, a salvação, nos envia ao Evangelho: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!”. Palavras que ele define como “um convite à conversão, a uma vida nova: os caminhos do Senhor, as estradas de Deus. O nome João significa ‘graça de Deus’. A graça de Deus que se faz pregação no deserto e oferece o batismo de conversão. A graça de Deus se manifesta no deserto anunciando a graça de Deus. Deserto foi o lugar do nascimento do Povo de Deus pela Aliança. Foi no deserto que Deus se manifestou e fez nascer um Povo. O deserto lugar da purificação, da escuta no silêncio e na solidão. E o rio Jordão a memorar o ingresso na terra da promessa, especialmente a passagem da libertação definitiva da escravidão egípcia. A passagem para o lugar dos eleitos e protegidos de Deus”.


De João, o Batista, o cardeal disse que “é mensageiro, o anjo enviado, que hoje nos provoca a nos prepararmos para o batismo não mais da conversão, mas do Espírito. A conversão, a mudança de vida, abertura para o Espírito que transforma todas as realidades. O anjo, o mensageiro a nos colocar a caminho de Belém pelo caminho da Criança, da inocência, da purificação, da elevação: caminho do Senhor. A Graça de Deus que se faz ouvir a ‘voz’. É a Voz que clama, voz potente, que rompe a nossa surdez e chega aos que estão longe de Deus. A voz que clama no deserto, pois convoca à travessia, à liberdade, à libertação, à Terra nova, o Reino de Deus inaugurado com o nascer da Criança de Belém. Então, endireitar as estradas: da escassez de fraternidade, da penúria do amor, da indigência do perdão, da desolação da esperança”.

Segundo o arcebispo, “somos convidados a trilhar novos caminhos pela conversão, o perdão dos pecados”, lembrando que “Papa Francisco nos diz que conversão significa buscar a Deus e o seu reino. Desapego das coisas mundanas e busca de Deus e do seu reino. O abandono das comodidades e da mentalidade mundana não é um fim em si mesmo, não é uma ascese somente para fazer penitência. O desapego não é um fim em si mesmo, mas visa a busca do reino de Deus, a comunhão com Deus, a amizade com Deus. A conversão é uma graça: ninguém se converte com as próprias forças. É uma graça que Deus nos dá, e, portanto, devemos pedi-la a Deus; pedir a Deus que nos converta e nos abramos à sua beleza, à sua bondade e ternura. Ele é terno, nos ama intensamente, como o bom Pastor, que procura a ovelha perdida e carrega nos ombros a machucada”, inspirado nas palavras do Papa no mesmo domingo em 2020. Daí ele fez um convite: “deixemo-nos tomar pela conversão, pela mudança de vida e a graça de Deus nos reconcilia, irmana ao chegarmos a Belém. Tudo ali na admiração da presença inefável de Deus”.




O cardeal Steiner disse que “o convite de João, o Batista, ‘preparai’, ‘endireitai’ é um caminhar com os outros. Não é um caminho solitário, mas um estar com os outros, em família em comunidade. A Criança de Belém deseja nascer nas nossas famílias, nas nossas comunidades. Estar a caminho com os outros, despertamos para as lágrimas, as dores, as necessidades corporais e espirituais dos irmãos e irmãs, mas também para as alegrias, as realizações, os amores, os anseios. E nessa caminhada ao encontro do Príncipe da paz vamos acordando para as indiferenças, as violências, a crueldade, as mortes, a depredação, destruição, o desconvívio com a natureza. Nesse caminhar juntos, ao aceitarmos o convite de conversão, resgatamos nossa humanidade e nos alegramos com a beleza encantadora da nossa Amazônia que deve ser preservada. A conversão que nos concede olhos para ver as misérias e as pobrezas dos indivíduos e da sociedade, mas também a riqueza da nossa vida amorosa materno-materna que fecunda e transforma nossas vidas”.

Lembrando o texto do Evangelho: “Depois de mim, virá alguém mais forte que eu... Eu vos batizei com água, mas Ele vos batizará com o Espírito Santo”, ele destacou que “João anuncia que, depois dele, virá um mais forte do que ele. Não era apenas humildade, mas indicação de um caminho novo, vida nova, com o nascer de Deus: o batismo do Espírito Santo. João a anunciar um mais forte: a Criança de Belém. A grandeza estupenda da pequenez de Deus, o faz gemer: “Eu nem sou digno, de me abaixar para desamarrar suas sandálias”. É a admiração, elevação! Como não preparar os caminhos e endireitar as estradas, mudar de vida, nos voltarmos para Belém? João o mensageiro; Jesus, o Messias. João a voz; Jesus, a Palavra. João o amigo do esposo; Jesus, o Esposo”.

Ao elo das palavras da Segunda Carta de Pedro, disse que “Deus não demora, não espera. Ele sai ao encontro, Ele busca, se oferece. O tempo de Deus não é o nosso tempo. Ele oferece a aliança, a libertação, a remissão, a fidelidade, o seu amor inaudito e gratuito. Tudo faz para que cada um de nós participe de sua vida abundante e misericordiosa”. De novo citando o texto, o cardeal insistiu em que São Pedro “nos exorta em nosso caminhar para Belém”, pedindo que “o Natal nos encontre livres, receptivos, disponíveis, generosos, esperançados”.

Livres e esperançados como o Batista: ‘João se vestia com uma pele de camelo e comia gafanhotos e mel do campo’”, pedindo que despertemos com ele para a essencialidade de nossa vida e missão como seguidores e seguidoras do Deus humanado. Estar na receptividade da riqueza que transforma nossa humanidade. Alimentemo-nos da vinda do Filho do Homem, do Menino, de sua missão e vistamo-nos de sua divindade humilde”.

Finalmente, ele destacou que “somos nesse segundo domingo do Advento convocados à conversão. Já não purificados-banhados por nós mesmos, mas por Aquele que, em nome de Deus, nos mergulha por inteiros nas águas do amor de quem está sempre por vir”.




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