domingo, 31 de março de 2024

Cardeal Steiner: “A presença do Ressuscitado enche e transforma todo o universo!”


No domingo da ressurreição, o cardeal Leonardo Steiner, anunciando que “o Senhor ressurgiu, Aleluia!”, iniciou sua homilia dizendo que “São João nos mostra como Maria Madalena, João e Pedro vendo o sepulcro vazio, chegaram à fé no Ressuscitado. Os Apóstolos e as mulheres tocados e despertados pelo vazio do túmulo creram que o ‘Senhor devia ressuscitar dos mortos!’ (Jo 20,9)”, que “a vida, arrancada, destruída, aniquilada na Cruz, despertou e voltou a palpitar”, citando Romano Guardini.


Seguindo o texto do Evangelho de João, que diz: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo”, o arcebispo de Manaus enfatizou que “de madrugada, antes de ser dia, antes do amanhecer, ela vai ao túmulo. Como se fosse convidada a um novo amanhecer, a um novo dia! Como no início, no dizer do Gênesis, a vida não saiu do nada, mas do amor de Deus, assim a nova criação, surge do sepulcro vazio que Madalena e os apóstolos experimentaram como novo nascer”.


“Se despertados pela narrativa, pudéssemos chegar a crer como os Apóstolos...”, disse o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ressaltando que “para João crer é ver. Um ver que no Evangelho proclamado nos induz numa dinâmica toda própria. Maria Madalena é levada a ver: ‘vê que a pedra fora retirada do túmulo’. Também João, ‘vê as faixas deitadas ali’ (Jo 20,5). Madalena e João olham e descobrem o túmulo aberto, as faixas deitadas. Eles viram, mas não viram. Vem o vazio, mas no vazio ainda não veem a nova presença”.


Segundo Dom Leonardo Steiner, “Pedro, chega, entra no sepulcro e, num primeiro momento, vê como Madalena e João. Mas, com olhar atento, observa as faixas que envolveram o corpo de Jesus e o pano que cobrira o rosto, colocado à parte. Pedro também vê. Mas vê mais que João e Madalena. Ele vê e lê. Vê que o sepulcro vazio escondia uma realidade invisível que necessita ser apalpada, desvendada, lida. No ver ele é lido e se deixa ler”.





“Escutamos que o discípulo amado, depois também entrou no túmulo: ‘Ele viu e acreditou’. Viu, pois no ver dos olhos foi despertado para perceber, captar o aspecto essencial, uma nova presença o invisível aos olhos. Visível aos olhos da fé. Viu no visível o invisível e o invisível no visível”, disse o cardeal. Citando o místico Harada, ele lembrou que “assim, de repente, tudo se vira pelo avesso: o vazio do túmulo, o abandono é, na realidade, a plenitude da presença do amor; a profunda solidão converte-se em unidade universal e total. Quando parece desamparado, está mais do que nunca identificado com o querer divino, transparente ao Pai. Nessa fraqueza sem fim, Jesus se acha, sem reserva, “entregue” ao poder do Pai, totalmente aberto ao ato criador da Ressurreição”.


“Na verdade, esse ver é fruto da graça do encontro”, segundo o arcebispo de Manaus. Ele destacou que “nesse momento é que se dá o conhecimento, no sentido de “conascimento”, de nascer com e de novo: a conversão, a virada”. Por isso, o Evangelho a aclarar, citando Fernandes e Fassini: “Com efeito, eles ainda não tinham compreendido a Escritura segundo a qual Jesus devia ressuscitar dentre os mortos” (Jo 20,9). A dificuldade de crer na Ressurreição de Jesus, da parte dos discípulos, mostra que estamos diante de um evento extraordinário, fora do poder do homem e das leis da natureza”.


“Um ver que é um ver na fé! A fé em Jesus Ressuscitado tem um itinerário, um caminho próprio. Tudo tem início com a graça do encontro de Jesus com os discípulos e as discípulas. Ele chama, convida, a participar de sua vida. E participantes, sentem-se ligados a Jesus, discípulos”, ressaltou o presidente do Regional Norte1. Por isso, enfatizou o cardeal, “Madalena e os Apóstolos vão ao túmulo antes do nascer do sol. Com a morte crucificada, os discípulos e as discípulas desorientados, busca o Senhor na noite da dúvida e entram no vazio. Buscam consolo no estar na proximidade pelo menos de seu corpo. A morte e a sepultura faz nascer a saudade, a afeição da presença perdida, a confiança da vida nova que parecia desaparecida. E, Madalena, lembrada de como acolhida, perdoada, porque amada, restaurada na sua dignidade de mulher, vai em busca de seu Senhor. Foi a saudade que a levou até o túmulo, na madrugada da saudade”.


“A fé, porém, não é uma clareza de ideias, mas uma luz que cintila no meio da escuridão da noite de muitas incertezas, interrogações, dúvidas; no meio dos muitos medos e sofrimentos, e até mesmo de infidelidades. É o que o Evangelista parece dizer quando assinala que Maria foi ao sepulcro quando ainda estava escuro. A mensagem é muito transparente: a fé em Jesus Cristo ressuscitado não é algo de espontâneo, automático, como se bastasse ouvir o relato da Ressurreição na catequese, no curso e nas pregações. Maria Madalena, procurou a Jesus na noite, somos convidados buscá-lo em meio à escuridão de dúvidas, incertezas, angústias e pecados”, disse Dom Leonardo Steiner, tendo como referência Fernandes e Fassini.





Segundo o cardeal, inspirado nas palavras de Papa Francisco, “a fé no Ressuscitado alimenta a esperança, pois vida nova, novo horizonte, novo sentido de vida, de viver. Esperança não é mero otimismo, nem uma atitude psicológica ou um convite a ter coragem. A esperança cristã é um dom que Deus concede, para sairmos de nós mesmos e nos abrirmos a Ele. Esta esperança não decepciona porque o Espírito Santo foi infundido nos nossos corações (cf. Rm 5, 5). O Consolador não faz com que tudo apareça bonito, não elimina o mal com a varinha mágica, mas infunde a verdadeira força da vida, que não é a ausência de problemas, mas a certeza de sermos sempre amados e perdoados por Jesus, que por nós venceu o pecado, venceu a morte, venceu o medo. Por isso podemos celebrar a festa da nossa esperança, a celebração desta certeza: nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor do Ressuscitado”.


“O Senhor ressurgiu, Aleluia! Ele está vivo”, enfatizou Dom Leonardo. Ele disse que “no vazio dos nossos dias, no vazio das frustrações, dos desenganos, Ele deseja ser visto, pois deseja ser encontrado. Ele suscitou em nós o desejo de buscá-lo.  Busquemos o Ressuscitado entre os vivos, mesmo que seja entre os mortos-vivos. Nesse encontro somos enviados a anunciar a Páscoa, suscitar e ressuscitar a esperança nos corações tomados pela tristeza e descrença. Como seguidores e seguidoras da esperança, somos enviados a anunciar o Ressuscitado pela presencialização fraterna através do amor entre nós. De outro modo, podemos ser uma estrutura internacional com grande número de adeptos e boas regras, mas incapaz de dar esperança num tempo de guerras, conflitos. O Ressuscitado, nossa esperança, a nos despertar de madrugada para sairmos ao encontro dos irmãos e irmãs com fome, sem casa. Ele com a Ressurreição a visibilizar que somos todos irmãos e irmãs”, lembrando a Campanha da Fraternidade de 2024.

Seguindo o texto da carta aos Colossenses, o cardeal Steiner disse que “Paulo nos revela a força da ressurreição: ‘vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória.’ (Cl 3,3-4). Vida nova! Podemos proclamar: esperança! Esperança da vida nova que recebemos do Ressuscitado. Não um otimismo, vazio, uma alegria passageira e momentânea, mas a esperança que não decepciona; de esperança em esperança!”

“A morte foi vencida, a noite fez-se dia! A esperança é transformativa; da dor, da morte, nasce a vida nova! A esperança, não porque o túmulo está vazio, mas porque Ele agora caminha à nossa frente, nas Galileias das nossas andanças e buscas. E o encontraremos e o veremos em todas as situações nas quais não esperávamos encontrá-lo e vê-lo”, ressalto o arcebispo de Manaus.


Finalmente, ele lembrou que a presença do Ressuscitado enche e transforma todo o universo! Tudo foi transformado, restaurado em Cristo. Caminhemos na esperança de nos compreendermos como irmãs e irmãos. Uma irmandade que no Ressuscitado se estende todas as criaturas, pois pela cruz e ressurreição Deus se uniu à terra e a fez sua morada. Ao Ressuscitado toda honra, glória e louvor”.




Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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