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representantes dos regionais, pastorais, movimentos sociais, estão reunidos em Brasília
de 20 a 22 de março de 2024 para o Encontro Nacional da 6ª Semana Social
Brasileira, um momento para “continuarmos este mutirão pela vida, por terra, teto
e trabalho”, segundo Dom Valdeci Santos Mendes, presidente da Comissão
Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), por “democracia, soberania e economia”.
Um Mutirão
que recolhe os frutos dos mais de 200 mutirões no Brasil todo, construindo a
partir das experiencias com tantos irmãos e irmãs. “Grande mutirão que nos fortalece
em vista do Brasil que queremos e o bem viver dos povos”, segundo o bispo de
Brejo, que ressaltou que “os povos nos ensinam o caminho do bem viver”, chamando
a um compromisso com a vida humana, a criação, a inclusão, “que acabe com
o descarte das pessoas”, a quem “precisamos
dar-lhes uma resposta”, a impulsionar a solidariedade
de caridade política, em palavras de Dom Pedro Casaldáliga, que promove a política
que transforma e inclui, que promove a vida e a justiça, uma caridade que
transforma a realidade e nos compromete com os empobrecidos, fortalecermos a
vida dos povos, insistiu o bispo. Diante de tantas realidades presentes no
Brasil, disse que “precisamos promover a vida e a vida com dignidade”.
Um trabalho
das pastorais sociais da Igreja católica reconhecido pelo governo brasileiro,
segundo disse Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência
Social, Família e Combate à Fome, que disse ter participado de diversas pastorais
e movimentos na Igreja. Ele denunciou que um dos maiores produtores de
alimentos do mundo, não tem como justificar a fome e pobreza. Diante disso fez
um chamado a de mãos dadas ajudar a tirar o Brasil do Mapa da Fome, a realizar
um caminho para trabalhar juntos, a dar a mão às pessoas para poder sair da
pobreza.
No encontro
se faz presente o padre Avelino Chico SJ, representante do Dicastério do
Desenvolvimento Humano e Integral do Vaticano, que trouxe a saudação do
Dicastério presidido pelo Cardeal Czerny e fez a leitura de uma carta enviada
pelo Papa Francisco, que reconhece a Semana Social Brasileira como um
"caminho para uma ‘Igreja em Saída’, comprometida em derrubar os muros do
descarte e da indiferença, acompanhando os mais pobres e carentes dos direitos
básicos em sua luta por terra, moradia e trabalho”, destacando a importância de
uma nova economia e de “ver naqueles que são forçados a viver na miséria pelas
injustiças sociais o rosto de Jesus que nos instiga a não permanecermos
indiferentes”.
Desde o
início a 6ª Semana Social Brasileira insistiu no foco e na metodologia como elementos
em que não podia errar, segundo frei Olavo Dotto, chamando a fazer memória do
caminho percorrido e realizar um diagnóstico que permita construir juntos,
sonhar o Brasil que nós queremos. O assessor da Comissão Episcopal para Ação
Sociotransformadora da CNBB insistiu em ver a Semana Social não como eventos e
sim como processo, um caminho que deve nos ajudar a fortalecer a ação das pastorais
sociais e os diversos organismos em vista de transformar as estruturas da
sociedade.
José Ricardo,
representante do MST afirmou que “é tempo de combater fome com pão, violência com
afeto, exploração com revolução”. Daí a importância do Mutirão e de tudo o que
ele representa, um chamado a participar da ação, pisar no barro e sentir com o
povo, uma expressão da nossa solidariedade, um semear os princípios da nossa
humanidade. Ele relatou diversos elementos e situações que não cabem no Brasil
que queremos, insistindo em que todos somos sujeitos de direitos.
O Secretário
Nacional da Economia Popular Solidária, do Ministério do Trabalho, Gilberto
Carvalho destacou a importância do trabalho realizado pelas pastorais sociais
dentro do atual momento que o Brasil vive, um país onde grande parte da
militância popular surgiu da Igreja católica, carregando um método que trouxe
uma riqueza imensa. A articulação dessas pastorais sociais tem sido de grande
importância diante das dificuldades, especialmente no tempo da pandemia da
COVID-19, destacou Cátia Cardoso, assessora da Cáritas Brasileira no Regional
Nordeste 3 da CNBB. Diante disso, a 6ª Semana Social Brasileira quer ser uma mobilização
estrutural, destacou sua secretária executiva, Alessandra Miranda, que num país historicamente
marcado pela escravidão, a discriminação e desigualdade, disse ter descoberto resistência
popular nos mutirões realizados neste processo.
Para dar
passos se faz necessário analisar a realidade, buscando encontrar um retrato
que leve em conta acontecimentos, cenários e relações das forças políticas e das
estruturas. Desde diferentes perspectivas José Antônio Moroni, do Instituto de
Estudos Socioeconômico e da plataforma dos movimentos sociais pela reforma do
sistema político, Rud Rafael, coordenação nacional do MTST e integrante da
Frente Povo Sem Medo, e Sandra Quintela, da coordenação da rede Jubileu Sul,
foram elencando alguns elementos presentes na sociedade brasileira e global,
como o avance da extrema direita, o aumento das guerras, a xenofobia, a
concentração da riqueza. Sinais de uma democracia insuficiente, que mostra a
necessidade de lutar pela democracia que é promovida pelo Mutirão.
Um Mutirão que
segundo Dom Jaime Spengler deve nos levar a “encontrar indicações viáveis para
que todos, todos, todos, como diz o Papa, possam ter acesso digno ao trabalho,
ao necessário teto, para uma convivência sadia, e à terra que nos acolhe”.
Diante dos desafios do tempo atual, o presidente da CNBB fez um chamado a “caminharmos
sempre mais em comunhão, participando da realidade dos nossos povos e ao mesmo
tempo abertos à missão evangelizadora, razão de ser da Igreja”.
O Bem Viver
dos Povos se concretiza na resistência do Povo de Deus, nascida de experiências
concretas. Um Bem Viver presente nos povos originários, mas também na Bíblia, o
que nos leva a nos questionarmos sobre o retrato de Bem Viver, desafiados a
pensar a partir de nossos lugares e de nossa experiência de fé, segundo o
teólogo Hudson Rodrigues. Resistências que se concretizam na ação com mulheres
em busca da reparação das dívidas sociais, que acontece em Manaus (AM), segundo
relatou a educadora popular Marcela Vieira, mas também na vida dos povos e
comunidades tradicionais, como acontece no Maranhão, onde são tecidos processos
que melhoram a vida em diferentes perspectivas, tendo como fundamento suas
raízes, em vista de um processo de descolonização.
Essa
dinâmica do Bem Viver se concretiza no Projeto de Vida da Juventude das
comunidades pesqueiras no Norte de Minas Gerais, abordando problemáticas como o
suicídio, a luta por território, por políticas públicas. Essas políticas
públicas às vezes nascem de iniciativas populares, algo que aconteceu com as 15
Cozinhas Comunitárias na cidade de São Leopoldo (RS), uma experiência que serve
umas cinco mil refeições semanais e ajuda a entender o sofrimento das pessoas
que não tem o que comer, levando-as alimento e direito, uma experiência
partilhada pelo padre Edson André Cunha Thomassim. Uma luta por preservar
espaços que fazem com que o Bem Viver avance na periferia de Brasília, onde o
Movimento de Educação de Base (MEB), onde a educação vai fazendo com que as
pessoas se tornem críticos e questionem a realidade social onde eles estão
inseridos.
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