domingo, 30 de junho de 2024

Dom Leonardo: “A graça da confissão de fé transforma Pedro por dentro, na raiz”


Com as perguntas de Jesus aos discípulos, iniciou sua reflexão sobre a Solenidade de São Pedro e São Paulo o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” “E vós, quem dizeis que eu sou?”, que ele vê como “duas perguntas que nos são envidas na solenidade de São Pedro e São Paulo. Duas perguntas que nos são dadas para responder”. O cardeal lembrou de Jó, que depois de seus tormentos e sofreres responde confessando: “Eu te conhecia por ouvir dizer, mas agora, vejo-te como meus próprios olhos” (Jó 42,5). Uma frase que ele comenta dizendo: “eu tinha um conhecimento de ti, um ouvi dizer, uma transmissão, uma herança que me foi passada. Agora, vejo-te como meus próprios olhos; Como se confessasse és o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, o Deus que vi, porque me tocaste”.

“Quem é Jesus? O que é que dizem de Jesus? O que dizemos nós de Jesus? Quem é Jesus para nós que fomos encontrados por Ele?”, perguntou. Segundo o arcebispo, “muitas pessoas vêm em Jesus uma pessoa boa, generosa, cheio de misericórdia, especialmente para com os pobres e doentes. Se encantam com seus ensinamentos, com os seus gestos. Outros o veem com quem esteve contra a situação em que vivia o povo sob leis rigorosas. Admiram a sua proximidade com os necessitados, os órfãos se as viúvas. Deixam-se iluminar pela esperança que levou aos pobres e como despertou a sensibilidade para com o próximo, que era preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre. Deixam-se tocar pela fraternidade e a justiça esparramada. Um homem excepcional, carismático. Mas não conseguem dar o passo da cruz e da morte”.

Novamente, dom Leonardo questionou: “Quem é Jesus para os discípulos? E vós quem dizeis que eu sou?”, respondendo com as palavras de Simão Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Ele insistiu em que “a pergunta aos discípulos era quem sou eu para vocês. Não mais o que os outros dizem, mas quem sou eu para cada um de vocês? ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ Conviviam com Jesus, ouviam as suas pregações, viam seus milagres; Jesus se fez um mestre para cada um deles. Vislumbravam e pressentiam uma relação especial com Jesus diferente dos profetas. Uma confissão de fé ainda não podia emergir e, com ela, o conhecimento, o encontro com a verdade, de quem Jesus era. A resposta nasce nas palavras de Simão Pedro: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’. Como o evangelho provoca a termos a precisão da confissão de Pedro: ‘Bem-aventurado és tu Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne e sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus’. Sim queridos irmãos e irmãs o perceber a presença do Filho de Deus não advém de nós mesmos, mas nos é revelado pelo Pai. O Filho de Deus, o Cristo, o Filho do Deus vivo nos é dado pelo Pai. Ele a nos dar essa preciosa revelação”.



Entre as afirmações, as traições, entre as entregas e recuos, entre afirmação da fé e a descrença, entre os caminhos e descaminhos, o Senhor fez de Simão pedra, Pedro”, enfatizou o cardeal. Ele lembrou as palavras de Santo Agostinho numa de suas homilias: “São Pedro, o primeiro dos apóstolos, que amou ardentemente a Cristo, e que chegou a ouvir dele as palavras: ‘por isso eu digo: Tu és Pedro’. Pois ele havia dito antes: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’. E Cristo respondeu: ‘Por isso eu digo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.’ Sobre esta pedra edificarei a esta mesma fé que professa. Sobre esta declaração você fez: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo, edificarei a minha Igreja. Porque tu és Pedro’. ‘Pedro’ é uma palavra derivada de ‘pedra’, e não vice-versa. ‘Pedro’ vem de ‘pedra’, assim como ‘cristão’ vem de ‘Cristo’.” Nesse sentido, segundo dom Leonardo, “Santo Agostinho comenta que o Senhor não disse ‘tu és pedra’, mas, ‘tu és Pedro’. Não a Pedra vem de Pedro, mas Pedro vem da Pedra. Isto é: Simão torna-se Pedro, pétreo, graças à Pedra, que é Jesus, a ‘Pedra angular’, a quem ele confessou, reconheceu, como sendo o Cristo, o Filho do Deus vivo”.

A graça da confissão de fé transforma Pedro por dentro, na raiz. Por isso, Jesus troca o nome que Pedro recebera dos homens, de seus pais e concede um novo nome, como que dizendo: ‘Agora, Pedro você não é mais dos homens, mas é meu’. Se o velho nome – ‘Shimon’ (Simão) – que significa ‘o que ouve’, o ‘ouvinte’, enfim, o ‘obediente’ é belo para um israelita, muito mais será o novo: ‘E eu te digo: ‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja’”, enfatizou o cardeal;

“Nas palavras do Evangelho, darmos conta que a pergunta é dirigida a cada um de nós: e você quem diz ser? E eu?”, disse dom Leonardo. Segundo ele, “quem é Jesus para mim a tal ponto que também a cruz tem sentido e justamente na cruz posso entrever o extraordinário mistério da presença de Deus no meio de nós. Não se trata de uma inspiração, mas de uma revelação. Na nossa confissão percebemos que nos foi dado, nos foi revelado. E porque revelado somos também parte da Igreja, pedra que visibiliza a Igreja”. Novamente, citou Santo Agostinho no Sermão 26: “Distingamos, vendo-nos a nós próprios neste membro da Igreja, o que é de Deus e o que é nosso. Pois então não vacilaremos, então estaremos fundados sobre a Pedra, então estaremos fixos e firmes contra os ventos, e tormentas, e correntes, as tentações, quero dizer, deste mundo presente. No entanto vede este Pedro, que era então nossa figura; ora confia, ora vacila; ora confessa o Imortal, ora teme que Ele morra. Por quê? Porque a Igreja de Cristo tem tanto fracos como fortes ... Quando Pedro disse "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo" representa os fortes; mas quando vacila, e não admite que Cristo possa sofrer, ao temer a morte d`Ele, e não reconhece a vida, ele representa os fracos da Igreja. Naquele único Apóstolo então, ou seja, Pedro, na ordem dos Apóstolos primeiro e principal, em quem a Igreja estava figurada, ambos os tipos estavam representados, ou seja, tanto os fortes como os fracos; porque a Igreja não existe sem ambos.”

Analisando a leitura da segunda carta a Timóteo, ele destacou que temos o testemunho de Paulo. “O seu testemunho é do homem tomado pelo Evangelho, pelo ardor do anúncio, pela fé em Jesus Cristo. O caminho da fé de Paulo é bem diverso do caminho da fé de Pedro. Pedro nasceu para a fé no encontro pessoal com o Cristo; Paulo nasceu do encontro com o Cristo da Fé. Pedro nasce do encontro e do ensinamento pessoal com o Senhor. Paulo nasce do encontro com as escrituras e da iluminação da presença do Ressuscitado no caminho de Damasco para exterminar os cristãos daquela comunidade”, ressaltou.



Encontrado por Jesus, purificado por Jesus faz de tudo para viver e anunciar o Crucificado-ressuscitado. A tal ponto que ouvimos na leitura a Timóteo ‘quanto a mim, já estou sendo oferecido em libação, pois chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé’. Sente herança de Jesus, pois isso sabe que a sua vida vem marcada pelo combate, da luta, até o sacrifício, uma verdadeira oferenda. Com Cristo e como Cristo, Paulo foi fiel seguidor e anunciador em todas as vicissitudes, as dificuldades, as alegrias, as realizações e a morte. Indica o caminho daqueles que seguem a Jesus: uma luta com fidelidade”, disse o cardeal.

Ele sublinhou que “a leitura ainda a nos visibilizar Paulo tomado de emoção e de arrebatamento, diante da presença de Jesus, desde sua conversão até a aproximação da morte, o fim, exclama como que saboreando: ‘Senhor’: ‘O Senhor, justo juiz’; ‘Senhor veio em meu auxílio e me deu forças’; ‘O Senhor me salvará’; ‘a ele a glória, pelos séculos dos séculos!’ (2Tm 4,8.17.18). Paulo o fariseu convicto e erudito, feito fiel seguidor de Jesus. E porque tomado pela vida e morte de Jesus foi o anunciador terrivelmente entusiasmado e profundo”. “Paulo que que nos indica as razões da fé, Paulo a nos dizer que seguir Jesus é participar da salvação”, segundo Paulo nos ensina na carta aos Efésios.

No Evangelho, disse o arcebispo, “celebramos o princípio do chamado e da resposta de Pedro para ser em Cristo a ‘pedra angular’ na edificação da Igreja. Na leitura a Timóteo, celebramos Paulo com o seu fim: “Quanto a mim, já estou para ser derramado em sacrifício, e o momento da minha morte está iminente. Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé...”. (2Tm 4, 6-8). Com Pedro e com Paulo celebramos o dia do Papa. O nome grego “Pétros” é uma tradução do aramaico “Kephá” (rocha, pedra) e significa pétreo. Pedro torna-se pétreo para a Igreja, não por si mesmo, mas por estar firmado no fundamento da graça de sua confissão de fé. É essa que funda a Igreja, ou melhor, Pedro é pétreo por estar fundado na Pedra, Naquele que é o confessado dessa confissão: Jesus, o Cristo, o Filho do Deus Vivo”.

Finalmente, o cardeal enfatizou que “esse pertencimento a Cristo, essa unidade com Cristo, unifica a Igreja e o papa é sinal dessa unidade dessa comunhão. O ministério petrino, a missão que o Papa tem na Igreja é o da comunhão, da unidade dos seguem de Jesus. Pedro e Paulo, cada um a seu modo, testemunham o fogo do mesmo Espírito que nos faz crer e crescer em Jesus Cristo e na Igreja apostólica; é do testemunho deles que ressoa sempre o primeiro anúncio: “Jesus Cristo te ama, deu a sua vida para te salvar e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer e libertar”, citando a Evangelii Gaudium de Papa Francisco.


 Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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