domingo, 7 de julho de 2024

Dom Leonardo: “Filho de Maria, Deus que não quis mais que ser humano”


Lembrando as perguntas que o povo de Nazaré fazia com relação a Jesus, iniciou o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), cardeal Leonardo Steiner, sua homilia no 14º Domingo do Tempo Comum:De onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria?” Segundo o arcebispo, “todos estavam tão admirados que diziam não é este o filho de Maria? O filho de Maria! A admiração de quem o conheceu, o viu criança, viu crescer. O filho do nosso vizinho, o filho do nosso parente, o filho do carpinteiro, aquele com quem conversamos, aquele com que brincamos, aquele que fez parte de nossa vida, viveu na nossa vila, esteve aqui e andou pelos nossos caminhos, foi conosco à Sinagoga, rezava conosco, fomos com ele a Jerusalém; sim, o filho de Maria”.

O Filho de Maria, aquele que até a pouco estava no nosso meio, que ajudava o pai, que trabalhava com o pai. Aquele que é como o filho nosso, identificado como o filho de alguém, pertencente a uma família: o filho de Maria e José! Aquele que tem uma referência social, aquele que pertence a uma tribo, tem uma referência de um povo. Entre tantos e tantos, todos sabem pelos documentos, pelos documentos da convivência que ele é Jesus, o filho de Maria”, enfatizou dom Leonardo.

“Mas o que aconteceu com o filho de Maria?”, disse, querendo mostrar o que poderia passar pela mente do povo. “Esteve longe da sua terra e agora, quando volta, as suas palavras causam um certo encanto: ‘De onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos?’. Como é admirável, como é possível? como pode? Como causa orgulho, como suscita suspiros o filho de Maria. O filho de Maria tão preparado, tão culto, tão sabido, tão entendedor da palavra de Deus. O filho de Maria capaz de despertar admiração, espanto, encanto”, refletiu o cardeal.



Segundo ele, “era tão filho de José e Maria que tinha os traços do pai, apesar de se dizer pelas esquinas de que não era realmente filho de José. Mas tinha todos os traços e modos do pai: justo; sim, justo: sempre uma boa medida, generosa, nunca mesquinha, nunca tacanha. Tinha os traços de José no seu modo no seu jeito, justo: todo ouvido, meio sonhador, acolhedor, mesmo acolhendo aquele que não era filho seu. O filho de Maria e José era como ele um verdadeiro israelita, fiel, devoto, trabalhador, suave. Todos o olham e ficavam encantados como se semelhava do pai José. E não passou de filho de Maria que causa admiração e respeito”.

“Mas o filho de Maria sempre foi um pouco diferente, crescia em idade sabedoria e graça. Contam algumas histórias de seu nascimento, da fuga para o Egito, de ter discutido com os doutores em Jerusalém. Tinha um que de tão não sei o que, de tão não sei dizer, de tão não sei explicar; de tão humano, que nem humano às vezes parecia, pois era humano demais o filho de Maria”, destacou o presidente do Regional Norte1.

Qual a dificuldade dos habitantes de Nazaré?”, questionou dom Leonardo. Ele respondeu que “o filho de Maria! Jesus ser o filho de Maria, esse era o problema. Ele assim grudado, encarnado, pele-a-pele, de corpo e alma da nossa humanidade e fragilidade. O filho de Maria, como ela, nada de mais singelo e frágil, nada de mais dado, doado, livre; nada de mais límpido, puro, nada de mais pobre. Nada mais ex-posto e dis-posto, que o filho de Maria. Nada de mais próximo, nada de mais palpável, nada de mais visível, nada de mais identificável que o filho de Maria. Carne da nossa carne, osso de nossos ossos, alma de nossa alma; nada de mais normal que o filho de José. Impossível que o filho de Maria seja o Ungido!”



O cardeal Steiner ressaltou que “realmente causava admiração, suspiros, encanto as palavras que saiam da boca do filho de Maria. Mas, não viram nele o Filho de Deus. As palavras de encanto, de admiração não abriu os olhos para que no filho de Maria, vissem o Filho de Deus. O encanto, a admiração que o filho de Maria despertou, não despertou para a realização do cumprimento das palavras ouvidas, esperadas, ansiadas, acalentadas, sonhadas e rezadas séculos e séculos, geração e geração. Não o filho de Maria, ele não, não ele não pode ser; era apenas o filho de Maria. E Jesus não pôde ali realizar nenhum milagre”.

“O Filho de Maria, fosse Deus grudado, encarnado...!?; que o filho de Maria fosse Deus pele-a-pele, na nossa humanidade e fragilidade; que o filho de Maria fosse a limpidez, a pureza, a transparência de Deus; que o filho de Maria fosse na nossa pobreza, fosse a ex-posição e disposição Deus no meio da humanidade, para eles era muito pouco, pouco demais. Que o filho de Maria como Filho de Deus, Deus seria palpável demais, seria visível demais, seria identificável demais. Que o enviado, o esperado das nações, o libertador, o condutor, Deus o Filho de Deus fosse o filho de Maria, era muita pretensão da parte dele. Eles não viram a Deus no filho de Maria”, disse o arcebispo de Manaus.

“Às vezes também nós desejamos um Deus forte, onipotente, todo-poderoso, todo-onisciente, e não Deus na nossa humanidade e fragilidade como o filho de Maria”, sublinhou dom Leonardo. “Mas o nosso Deus, o Deus da encarnação, o Deus da libertação, o Deus da nossa salvação é apenas o filho de Maria. Então um Deus assim desejamos também nós fora da cidade de nossas vidas, fora da cidade de nossos anseios e sofrimentos. Jesus de Nazaré seria muito pouco. Nós estaríamos necessitados de um Deus que nos cure, um Deus que resolva os nossos problemas de saúde, os nossos conflitos familiares, um Deus que nos leve para um mundo paradisíaco sem conflitos. Um Deus que apenas caminha conosco, um Deus que apenas participa conosco em meio aos mundos da nossa cidade também para nós é muito pouco. Mas ele veio como o filho de Maria e está no meio de nós, e teimosamente continua andando no meio de nós, apesar de buscarmos um Deus curador, libertador de nossos males. Ele, graças a Deus veio no modo, como o filho de Maria, e está indicando sempre e continuamente o caminho da nossa humanidade e fragilidade como o caminho do Pai”, enfatizou o arcebispo.



“Filho de Maria, Deus que sabe do humano, Deus que sabe da alma humana, Deus que sabe do coração humano, Deus que não quis mais que ser humano. E nesse encontro com o filho de Maria, se abrem as portas da nossa humanidade: Deus se aproximou de nós, Deus se tornou um de nós. E em vendo o seu caminhar, em ouvindo as suas palavras, em experimentando o seu caminhar, em experimentando o seu falar vamos com Ele até a morte e morte de Cruz, onde nos tornamos um com o Pai, porque amamos o Pai como Jesus amou, sem porque sem para que, apenas amou”, segundo o cardeal Steiner.

Na primeira leitura, o arcebispo ressaltou que “o profeta Ezequiel a nos recordar que Deus envia o profeta para manifestar a proximidade de Deus apesar do distanciamento do povo. Poderíamos dizer do Filho de Maria: Quer te escutem, que não te escutem, ficarão sabendo que houve entre eles um profeta. Sim, o filho de Maria é o profeta que veio anunciar e ser a salvação”.

Já na segunda leitura, “São Paulo a nos recordar na carta aos Coríntios que é na fraqueza que se manifesta a graça: 'Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta. Por isso de bom grado me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim.' O Filho de Maria é a fraqueza de Deus. Deus que se fez nossa humanidade para que pudéssemos experimentar o quanto somos desejados e amados. Em Cristo se manifesta a possibilidade de sermos na fraqueza transformados, plenificados, participarmos da vida do Filho de Deus. No filho de Maria podemos repetir a experiência de Paulo: quando me sinto fraco, é então que sou forte. É que na fraqueza do Filho de Maria, participamos da vida plenificada do Filho de Deus”, sublinhou o cardeal.

Segundo ele, “somente o filho de Maria pode morrer, somente o filho de Maria, Deus, Filho de Deus, Filho do Homem, morre por amor. Nele a nossa força, a nossa identidade do nosso ser, a razão da nossa morte. Amar como Deus ama, sem porquê e sem para que. Assim somos realmente os filhos e as filhas do Pai celestial”. Finalmente, dom Leonardo pediu que “Deus nos conceda a graça de seguirmos o Homem de Nazaré, Deus, o Filho de Deus, o filho de Maria, e amemos como ele nos amou.”



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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