Lembrando
as perguntas que o povo de Nazaré fazia com relação a Jesus, iniciou o arcebispo
de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB Norte1), cardeal Leonardo Steiner, sua homilia no 14º Domingo do
Tempo Comum: “De onde
recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres
que são realizados por suas mãos? Este homem não é o carpinteiro, filho de
Maria?” Segundo o arcebispo, “todos estavam tão
admirados que diziam não é este o filho de Maria? O filho
de Maria! A admiração de quem o conheceu, o viu criança,
viu crescer. O filho
do nosso vizinho,
o filho do nosso
parente, o filho
do carpinteiro, aquele com quem
conversamos, aquele com
que brincamos, aquele
que fez parte
de nossa vida,
viveu na nossa vila,
esteve aqui e andou pelos
nossos caminhos,
foi conosco à Sinagoga,
rezava conosco, fomos com ele a
Jerusalém; sim, o filho
de Maria”.
“O
Filho de Maria, aquele
que até
a pouco estava no nosso
meio, que
ajudava o pai, que
trabalhava com o pai. Aquele que é como o filho nosso, identificado como
o filho de alguém,
pertencente a uma família: o filho de Maria e José! Aquele
que tem uma referência
social, aquele
que pertence
a uma tribo, tem uma referência
de um povo.
Entre tantos
e tantos, todos
sabem pelos documentos,
pelos documentos
da convivência que
ele é Jesus, o filho
de Maria”, enfatizou dom Leonardo.
“Mas
o que aconteceu com
o filho de Maria?”, disse, querendo
mostrar o que poderia passar pela mente do povo. “Esteve longe
da sua terra e agora,
quando volta,
as suas palavras
causam um certo
encanto: ‘De onde recebeu ele tudo isto?
Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por
suas mãos?’.
Como é admirável,
como é possível?
como pode? Como
causa orgulho,
como suscita suspiros
o filho de Maria. O filho
de Maria tão preparado,
tão culto,
tão sabido, tão
entendedor da palavra
de Deus. O filho
de Maria capaz de despertar admiração, espanto,
encanto”, refletiu o cardeal.
Segundo
ele, “era tão filho
de José e Maria que tinha
os traços do pai, apesar de se dizer pelas esquinas
de que não
era realmente
filho de José. Mas
tinha todos
os traços e modos
do pai: justo;
sim, justo:
sempre uma boa medida,
generosa, nunca
mesquinha, nunca
tacanha. Tinha
os traços de José no seu modo no seu jeito, justo: todo ouvido, meio sonhador, acolhedor,
mesmo acolhendo aquele
que não
era filho
seu. O filho
de Maria e José era como
ele um
verdadeiro israelita,
fiel, devoto,
trabalhador, suave.
Todos o olham e ficavam encantados como se semelhava do pai
José. E não passou de filho de Maria que
causa admiração
e respeito”.
“Mas
o filho de Maria sempre
foi um pouco
diferente, crescia em
idade sabedoria
e graça. Contam algumas histórias de seu
nascimento, da fuga para
o Egito, de ter discutido com
os doutores em
Jerusalém. Tinha um
que de tão
não sei o que,
de tão não
sei dizer, de tão
não sei explicar;
de tão humano,
que nem
humano às vezes
parecia, pois era humano demais o filho
de Maria”, destacou o presidente do Regional Norte1.
“Qual
a dificuldade dos habitantes
de Nazaré?”, questionou dom Leonardo. Ele respondeu que “o filho
de Maria! Jesus ser o filho de Maria, esse era o problema.
Ele assim grudado, encarnado,
pele-a-pele, de corpo e alma da nossa humanidade e fragilidade.
O filho de Maria, como ela, nada de mais singelo e frágil,
nada de mais
dado, doado, livre; nada de mais límpido, puro, nada de mais pobre. Nada mais
ex-posto e dis-posto, que o filho de Maria. Nada
de mais próximo,
nada de mais
palpável, nada
de mais visível,
nada de mais
identificável que o filho
de Maria. Carne da nossa carne, osso de nossos ossos, alma de nossa alma; nada de mais normal que o filho de
José. Impossível que o filho de Maria
seja o Ungido!”
O
cardeal Steiner ressaltou que “realmente causava admiração,
suspiros, encanto
as palavras que
saiam da boca do filho
de Maria. Mas, não
viram nele o Filho de Deus. As palavras
de encanto, de admiração
não abriu os olhos para que no filho de Maria,
vissem o Filho de Deus.
O encanto, a admiração que o filho de Maria despertou, não despertou para a
realização do cumprimento das palavras
ouvidas, esperadas, ansiadas, acalentadas, sonhadas e rezadas séculos e séculos,
geração e geração.
Não o filho
de Maria, ele não,
não ele
não pode ser;
era apenas
o filho de Maria. E Jesus não pôde ali realizar nenhum milagre”.
“O
Filho de Maria, fosse Deus grudado, encarnado...!?;
que o filho
de Maria fosse Deus pele-a-pele, na nossa humanidade
e fragilidade; que
o filho de Maria fosse a limpidez, a pureza, a transparência de Deus; que o filho de Maria fosse na nossa
pobreza, fosse a ex-posição e disposição
Deus no meio
da humanidade, para eles
era muito
pouco, pouco
demais. Que
o filho de Maria como Filho de Deus, Deus seria palpável
demais, seria visível
demais, seria identificável demais. Que o enviado, o esperado das nações,
o libertador, o condutor,
Deus o Filho
de Deus fosse o filho
de Maria, era muita
pretensão da parte
dele. Eles não viram a Deus no filho
de Maria”, disse o arcebispo de Manaus.
“Às
vezes também nós desejamos um Deus forte, onipotente,
todo-poderoso, todo-onisciente, e não Deus na nossa humanidade e fragilidade
como o filho
de Maria”, sublinhou dom Leonardo. “Mas
o nosso Deus,
o Deus da encarnação,
o Deus da libertação,
o Deus da nossa
salvação é apenas o filho
de Maria. Então um
Deus assim
desejamos também nós
fora da cidade
de nossas vidas, fora
da cidade de nossos
anseios e sofrimentos. Jesus de Nazaré seria
muito pouco.
Nós estaríamos necessitados de um Deus que nos cure, um Deus que resolva os nossos
problemas de saúde,
os nossos conflitos
familiares, um
Deus que
nos leve
para um mundo paradisíaco sem conflitos. Um Deus que apenas caminha conosco, um
Deus que
apenas participa conosco
em meio
aos mundos da nossa
cidade também
para nós é muito pouco. Mas ele veio como o filho de Maria e está no meio
de nós, e teimosamente
continua andando no meio de nós, apesar de
buscarmos um Deus
curador, libertador
de nossos males.
Ele, graças
a Deus veio
no modo, como
o filho de Maria, e está indicando sempre e continuamente o caminho
da nossa humanidade
e fragilidade como
o caminho do Pai”,
enfatizou o arcebispo.
“Filho
de Maria, Deus que sabe do humano, Deus que sabe da alma
humana, Deus
que sabe do coração
humano, Deus que não quis mais que ser humano. E nesse encontro
com o filho
de Maria, se abrem as portas da nossa humanidade:
Deus se aproximou de nós, Deus se
tornou um de nós.
E em vendo o seu
caminhar, em
ouvindo as suas palavras,
em experimentando o seu
caminhar, em
experimentando o seu falar
vamos com Ele
até a morte e
morte de Cruz,
onde nos
tornamos um com
o Pai, porque
amamos o Pai como
Jesus amou, sem porque
sem para que, apenas
amou”, segundo o cardeal Steiner.
Na
primeira leitura, o arcebispo ressaltou que “o profeta Ezequiel a nos recordar
que Deus envia o profeta para manifestar a proximidade de Deus apesar do
distanciamento do povo. Poderíamos dizer do Filho de Maria: Quer te escutem,
que não te escutem, ficarão sabendo que houve entre eles um profeta. Sim, o
filho de Maria é o profeta que veio anunciar e ser a salvação”.
Já
na segunda leitura, “São Paulo a nos recordar na carta aos Coríntios que é na
fraqueza que se manifesta a graça: 'Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza
que a força se manifesta. Por isso de bom grado me gloriarei das minhas
fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim.' O Filho de Maria é a
fraqueza de Deus. Deus que se fez nossa humanidade para que pudéssemos experimentar
o quanto somos desejados e amados. Em Cristo se manifesta a possibilidade de
sermos na fraqueza transformados, plenificados, participarmos da vida do Filho
de Deus. No filho de Maria podemos repetir a experiência de Paulo: quando me sinto
fraco, é então que sou forte. É que na fraqueza do Filho de Maria, participamos
da vida plenificada do Filho de Deus”, sublinhou o cardeal.
Segundo
ele, “somente o filho de Maria pode morrer, somente o filho de Maria, Deus, Filho
de Deus, Filho do Homem, morre por amor. Nele a nossa
força, a nossa
identidade do nosso
ser, a razão da nossa
morte. Amar como Deus ama, sem porquê
e sem para que. Assim
somos realmente os filhos
e as filhas do Pai celestial”. Finalmente, dom Leonardo pediu que “Deus nos
conceda a graça de seguirmos o Homem de Nazaré, Deus,
o Filho de Deus,
o filho de Maria, e amemos como ele nos amou.”
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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