A canonização de São José Allamano,
fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata, juntamente com a
celebração da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a
Sinodalidade, tornou possível que a voz da Amazônia e de seus povos, a voz
das periferias, estivesse presente em várias instituições italianas e vaticanas.
O apoio do Papa aos Yanomami
Uma dessas reuniões aconteceu no
Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, onde a voz da Terra
Indígena Yanomami foi levada por um de seus líderes, Julio Ye'kwana. Foi
nesse território, na Missão Catrimani, onde os Missionários e as Missionárias
da Consolata estão presentes desde 1965, que aconteceu o milagre que levou a
Igreja Católica a reconhecer a santidade de São José Allamano em 20 de outubro
de 2024, Dia Mundial das Missões.
No final das canonizações, o Papa
Francisco disse: “O testemunho de São José Allamano nos lembra da necessidade
de cuidar das populações mais frágeis e vulneráveis. Penso em particular no
povo Yanomami da floresta amazônica brasileira, entre cujos membros ocorreu o
milagre ligado à canonização de hoje. Faço um apelo às autoridades políticas e
civis para que garantam a proteção desses povos e de seus direitos
fundamentais e contra qualquer forma de exploração de sua dignidade e de
seus territórios”. Tornar conhecido o sofrimento desses e de outros povos,
dentro e fora do Brasil, é o caminho para que sua dignidade seja reconhecida e
respeitada.
Grave crise na Terra Indígena Yanomami
Os Yanomami vêm sofrendo, especialmente
desde 2019, com a precariedade de suas condições de vida, o que levou à morte
por causas evitáveis de mais de 500 crianças com menos de 4 anos de idade. Tudo
isso é consequência do garimpo ilegal, que desmatou a floresta, poluiu
os rios com mercúrio, aumentou as doenças e levou a fome ao território, o que
foi confirmado de várias maneiras. Situações que levaram o Dicastério para o
Serviço do Desenvolvimento Humano Integral a apoiar e acompanhar os povos
indígenas na defesa de sua cultura, língua e saúde, algo em que sempre contaram
com o apoio do Santo Padre.
O Dicastério para o Desenvolvimento
Humano Integral está empenhado em levar a Roma a voz dos povos indígenas, dos
migrantes, das periferias. Eles estão presentes nos territórios para escutar os
clamores do povo, algo que consideram um presente e um processo a ser
continuado. Não se pode ignorar que a Igreja Católica tem uma forte
influência na defesa dos direitos humanos em nível internacional. Isso é
fortalecido quando esse trabalho é realizado em uma rede, em conjunto, por meio
de alianças entre territórios e bispos, de forma sinodal. Por essa razão, o
dicastério se oferece aos territórios como uma presença no território para
influenciar, discernir e servir.
Realidade da Terra Indígena Yanomami
Os participantes da reunião ouviram de
Julio Ye'kwana a realidade da Terra Indígena Yanomami, demarcada em 1992, onde
vivem 33.000 indígenas em 350 comunidades. É um território que atravessa as
fronteiras entre Brasil e Venezuela, pois para os indígenas não há fronteiras. A
situação é dramática devido ao garimpo ilegal, que tem ferido a terra e os
povos indígenas, que estão sendo constantemente corrompidos. Soma-se a isso
o fato de que, no Brasil, os povos indígenas sofrem com a ameaça do Marco
Temporal, claramente inconstitucional, que os mobilizou em uma luta contra.
O Pe. Corrado Dalmonego, missionário e
antropólogo da Consolata, que viveu por muitos anos entre os Yanomami na Missão
Catrimani tem realizado um trabalho de pesquisa e desenvolvimento. Ele
reconhece a redução da presença de garimpeiros e vê a necessidade de reativar
as bases da proteção etno-ambiental. Denuncia também que a mortalidade infantil
e a desnutrição, embora reduzidas, continuam, pois falta capilaridade e
regularidade nos serviços de saúde. Ressalta ainda que, uma vez que a terra
e os rios estejam contaminados pelo mercúrio, não será possível retornar ao
território, pois a população sofrerá problemas neurológicos. O missionário
entregou material sobre os Yanomami aos membros do Dicastério, solicitando que
encontrassem canais para rastrear o ouro que sai da Terra Yanomami para vários
países.
O trabalho do CIMI
Diante da situação dos povos indígenas,
a Igreja no Brasil criou o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), como
lembrou o arcebispo de Porto Velho e ex-presidente do CIMI, Dom Roque Paloschi.
Dessa forma, ele destacou o trabalho de Dom Erwin Kräutler e de Dom Luciano
Mendes de Almeida para que a Constituição Brasileira de 1988 reconhecesse os
direitos indígenas. Da mesma forma, o Relatório de Violência contra os Povos
Indígenas que o CIMI produz todos os anos.
O bispo, que já pastoreou a Igreja de Roraima, definiu a Missão
Catrimani como resultado do Concílio Vaticano.
Do Dicastério, seu prefeito, o cardeal
Michael Czerny, insistiu que sua missão é “acompanhar e ajudar se necessário”,
questionando como podem ajudar e pedindo que sejam mantidos informados sobre o
trabalho que está sendo realizado na Amazônia e, assim, compartilhar essas boas
práticas.
Os povos indígenas estão organizados
Nesse sentido, o Arcebispo de Manaus e
Presidente do CIMI, Cardeal Leonardo Steiner, refletiu sobre a preocupação de
todos os governos com sua imagem, algo que não aconteceu com o governo
brasileiro anterior. Em seu discurso, ressaltou a importância das palavras do
Papa no Angelus em apoio aos Yanomami, como algo importante para os povos
indígenas, pois repercutem em todo o mundo. O Cardeal Steiner agradeceu ao Dicastério por
seu apoio e pediu apoio contínuo em termos de cultura, língua e saúde,
enfatizando que “sempre contamos com o apoio do Santo Padre”. Ele também
enfatizou que os povos indígenas estão bem organizados: com advogados,
enfermeiros, criando consciência de seus direitos. Um grande desafio, porque
“existe a possibilidade de que os povos desapareçam”, especialmente por causa
do mercúrio.
A Ir. Sofia Quintans Bouzada agradeceu
ao Dicastério por “levar a Roma a voz dos povos indígenas, dos migrantes, das
periferias”, convidando seus membros a irem aos territórios, escutar os clamores
e levar seus sentimentos a Roma. Ela
reafirmou as palavras sobre a influência da Igreja Católica em termos de
direitos humanos em nível internacional e a necessidade de trabalhar em redes,
de fazer alianças entre territórios e bispos. A religiosa enfatizou que “as
mulheres arriscaram suas vidas para que o milagre de Allamano acontecesse, as
mulheres rezaram”, e mostrou a disponibilidade do território para continuar
nessa defesa, para discernir, para servir.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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