Os processos de escuta têm sido um elemento importante no caminho da Igreja nos últimos anos. Na América Latina e no Caribe, isso foi levado em conta, especialmente desde o Sínodo para a Amazônia, algo que posteriormente foi aprofundado com a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe e o atual processo sinodal. A irmã Liliana Franco, presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina (CLAR), participou dos dois sínodos e da assembleia eclesial.
A escuta é transversal
De acordo
com a religiosa colombiana, presente na Sala Stampa do Vaticano, “esses dois
últimos sínodos, incluindo o Sínodo sobre a Juventude, e essas experiências que
estamos tendo nos diferentes continentes nos mostram a importância da escuta
como parte transversal de qualquer processo de humanização”. Em relação ao
Sínodo da Amazônia, a presidenta da CLAR lembrou que “o Sínodo da Amazônia já
afirmava com muita força que a escuta leva à conversão, que realmente o que tem
o poder de gerar transformação, de modificar atitudes e estruturas é a escuta,
a escuta de Deus e a escuta dos territórios, da realidade”.
Algo em que
“estamos nos capacitando, que todas essas experiências sinodais acabam sendo
como laboratórios que nos capacitam para um melhor serviço”, afirmou Liliana
Franco. A religiosa insistiu que “temos muito a aprender, na Igreja e na
sociedade, porque muitas vezes todos os seres humanos vamos com nossos próprios
monólogos, ideias, paradigmas das coisas”. Diante dessas situações, a religiosa
acredita que “a escuta está se posicionando como o caminho, como a maneira de
entender a narrativa do que Deus tem a dizer a nós, seres humanos”.
Escutar para se aproximar de Deus
A escuta,
reforçou a presidenta da CLAR, “é a possibilidade de se aproximar e de se
aproximar com mais serenidade, com mais sinceridade e com mais reverência da
vontade de Deus”. Escutar porque “realmente nos transforma, nos converte”, algo
que ela considera um processo de aprendizagem. Uma realidade sobre a qual
algumas igrejas locais ou continentais têm maior experiência, lembrando que “se
exercitaram mais repetidamente nesses processos de escuta e fizeram da escuta
uma atitude vital”.
Diante
dessa dinâmica de escuta, afirmou que “como toda a Igreja, temos o grande
desafio de entender que esse é o caminho da conversão para nós, e até mesmo o
caminho da credibilidade em tempos complexos como os que vivemos, tanto como
Igreja quanto como sociedade”.
Cultura do cuidado
Em resposta
a uma pergunta sobre o abuso a religiosas, a presidente da CLAR afirmou que “na
Igreja nos acostumamos a viver em meio a relações rígidas, a estilos que
excluem, a nacionalismos que excluem”. Diante dessa situação, Liliana Franco vê
como um grande desafio “purificar as relações para tornar possível essa cultura
do cuidado”. Esta é uma questão que a Vida Consagrada em todo o mundo está
levando a sério, afirmou. Neste sentido, falando sobre o continente
latino-americano e caribenho, assinalou que “temos realizado processos muito
claros com os 150.000 religiosos da América Latina e do Caribe que nos permitem
revisar nossos modos relacionais, que o que somos e o que fazemos é abusivo,
porque não abre espaço para a diferença, porque não é inclusivo”.
“Todos nós,
na Igreja, estamos em um processo de revisão de nossos modos relacionais, que
claramente não são coerentes com o modo de Jesus e que requerem conversão”,
afirmou. A partir daí, ela continuou dizendo que “a vida religiosa feminina não
está à margem disso, tanto para revisar suas próprias formas de se relacionar,
porque às vezes dentro das comunidades e congregações pode haver formas que não
são vividas e assumidas a partir de uma cultura saudável de cuidado, como
também para reconhecer formas que vêm de fora e que violam as possibilidades,
os direitos ou a dignidade das mulheres consagradas”.
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