Enfrentar o
fenómeno da violência na Região do Alto Rio Negro foi o objetivo do Seminário
realizado na Diocese de São Gabriel da Cachoeira pela Rede um Grito pela Vida.
Segundo Dom Edson Damian, “Tecendo redes de esperança” foi o fio condutor das
várias atividades, coordenadas pela diocese local e pela Coordenadoria Regional
de Educação.
Com o
objetivo de “refletir sobre o fenómeno da violência em nossa região, buscamos
um pacto coletivo no cuidado da vida para garantir os direitos e políticas
públicas, priorizando as populações em situação de vulnerabilidade”. Foram
realizados encontros com todos os professores e servidores das escolas
estaduais e municipais da cidade de São Gabriel da Cachoeira, discutindo sobre
as diversas formas de violência presentes na região; com os jovens para abordar
o tema do protagonismo juvenil; com os muitos migrantes, sobretudo indígenas
venezuelanos que diante da necessidade foram acolhidos pelos parentes
brasileiros, que são acompanhados pela Pastoral do Migrante da Diocese de São
Gabriel; encontro com os jovens que participam das pastorais da Igreja católica.
Durante a
semana foi realizado um seminário sobre os múltiplos olhares sobre a realidade,
com a presença dos jovens, das Pastorais Sociais e outras instituições da
sociedade local envolvidas com políticas públicas e direitos indígenas e
ambientais, com mais ou menos 15 entidades envolvidas, abordando questões
relacionadas com a Rede de Proteção à Criança e Adolescente, mas também a Rede
de Proteção à Vida, segundo informou a Ir. Cidinha Fernandes, uma das organizadoras do Seminário. Finalmente, uma roda de conversa com as autoridades locais
e representantes das instituições, donde também foram abordadas as diferentes
formas de violência que existem na região do Alto Rio Negro, e as proposta de
solução.
Dom Edson
Damian dá um destaque especial para os jovens, a presença, a atuação e a
palavra. Os jovens, segundo o bispo, “mostraram sua alegria por encontrar um
espaço para serem ouvidos e ficaram surpresos diante das múltiplas atividades
que são realizadas, principalmente pelas pastorais sociais da nossa Igreja, que
muitos deles não conheciam”. O Presidente do Regional Norte1 da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), insistiu em que “os jovens gritam para
serem escutados, pelos pais, pelos professores, e reivindicam um diálogo
recíproco, em que possam ser escutados em nível de igualdade”.
Diante da
falta de escuta, os jovens, Lembrou Dom Edson, “os jovens buscam saída onde não
existem saídas: o alcoolismo, as drogas, a prostituição, alguns desesperados
até se suicidam, algo que acontece com muito frequência aqui na nossa região”.
Ele colocou que “os jovens nos impressionaram pela consciência que tem dos
problemas e também pela clareza na busca de soluções”. Entre os problemas
destacados pelos jovens, segundo o bispo local, estão “o desemprego, a fome, a
exploração e abuso sexual, o alcoolismo, as drogas”.
O Bispo da
Diocese de São Gabriel da Cachoeira destacou que “foram muito oportunas estas
atividades que acontecem no momento em que nos preparamos para segundo turno
das eleições”. Ele afirmou que “as diversas formas de violência destacadas
estão se tornando ainda mais alarmantes e dramáticas no atual governo, que está
realizando um verdadeiro desmonte dos direitos sociais, que foram conquistados
após a promulgação da Constituição Cidadã de 1988”.
Segundo Dom
Edson Damian, “lutar pela preservação e plena atuação das políticas públicas é
um dever moral, cívico e patriótico de todos nós. Só assim será possível
enfrentar os grandes problemas sociais, econômicos e políticos que geram tantas
formas de violência contra os direitos fundamentais da maioria da população
brasileira, e principalmente dos povos indígenas, que são 90 por cento aqui
nesta região do Alto Rio Negro”. O bispo agradece a assessoria da Ir. Rose
Bertoldo e de Sandar Loyo, assessoras dos diversos encontros, “de forma
participativa, envolvente e motivadora para que o diálogo e a partilha
realmente acontecessem”.
Uma das
jovens participantes foi Silvani Farias Gonçalves. Ela destacou que “a gente
teve voz, a gente pode relatar tudo o que está acontecendo em São Gabriel,
trazer um pouco a nossa realidade”, para o que não tem oportunidade na escola,
nem nos diferentes lugares aonde os jovens vão. A jovem indígena do povo Baré,
que falou sobre o esquecimento que sofrem os jovens, destacou o fato de se
sentirem livres para falar, para mostrar suas dificuldades e ser voz dos
jovens.
Segundo a
aluna do primeiro ano do segundo grau, “os jovens temos problemas, nós
precisamos de ajuda, de apoio”, sendo importante para ela o fato de ter
instituições dispostas a ajudar os jovens. Ela denunciou o assédio que sofrem
as jovens e adolescentes, inclusive nas escolas, também o envolvimento com
drogas, a falta de atenção.
Cristian
Cordovil enfatizou a importância do encontro, uma oportunidade para os jovens
descobrir o que precisam para melhorar. O jovem de 18 anos relatou alguns
problemas que fazem parte da vida dos jovens, o que muitas vezes tem como causa
a falta de atenção familiar. Ele destacou como maior aprendizado, “poder ouvir
que eu não sou o único que passa por esses problemas”.
Josiele
Nunes de Braga destacou do encontro o fato de descobrir a importância de
escutar e ter uma experiência de se mesmo, se conhecer melhor”. A indígena do
Povo Baré, de 17 anos, que é aspirante na Congregação das Catequistas
Franciscanas ressaltou o fato dos jovens poder saber que eles podem contar com
outras pessoas, para não ficar só em silêncio, e aprender a escutar os gritos
de outras pessoas.
Um encontro
intenso, produtivo, segundo a Ir. Rose Bertoldo, que segundo a Secretária
Executiva do Regional Norte1 é um pôr em prática as causas permanentes do
Regional, onde aparece a questão do enfrentamento ao tráfico de pessoas e
exploração sexual de crianças e adolescentes.
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