sábado, 11 de fevereiro de 2023

Assembleia CIMI Regional Norte1: Celebrar, fazer memória, buscar ser um sinal de presença da Igreja


O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Regional Norte1 realiza de 11 a 13 de fevereiro no Xare (Manaus) sua assembleia, a primeira que acontece de modo presencial após a pandemia, segundo lembra Jussara Góes, Coordenadora do CIMI Regional Norte1, algo que considera muito significativo. A missionária do CIMI vê este momento como “fortalecedor depois de 4 anos de governo genocida anti indígena e agora com o novo governo”.

Uma assembleia que busca discutir temas “que vão nos proporcionar encontrar caminhos para os próximos anos, principalmente na questão do fortalecimento da luta indígena, de esperança para os missionários do CIMI, fortaleza na luta e também na garantia e efetivação dos povos indígenas”.

Ao longo da assembleia será apresentada a Conjuntura Política Indigenista e os desafios depois de 50 anos de caminhada do CIMI. Junto com isso a articulação e avanço do movimento indígena em âmbito regional. O encontro abordará as mudanças climáticas, a mercantilização da natureza e sua relação com os povos indígenas. A Coordenação Regional apresentará seu relatório que servirá como base para elaborar as prioridades e estratégias para a atuação do CIMI diante do cenário de desafios atual, elaborando a agenda a seguir.



Na Assembleia do CIMI se fizeram presentes alguns dos Bispos do Regional Norte1. Dom Leonardo Steiner insistiu na importância de “uma assembleia celebrativa como memória, recordação do passado, mas também dos gestos importantes da missão que o CIMI exerceu e com isso também pensar no futuro do CIMI”. O Cardeal lembrou da situação dos tão difícil dos Yanomami, a quem ele visitou recentemente, “que fez o CIMI pensar em aprofundar a sua missão, serem missionários e missionárias junto aos povos originários levando sempre esperança, ajudando o povo a se organizar, buscado sempre de novo ser um sinal de presença da Igreja, sinal da presença do Evangelho, uma presença de ânimo”.

O Arcebispo de Manaus lembrou da questão do Marco Temporal e de “buscar junto ao Supremo Tribunal Federal uma maneira de chegar ao julgamento final que terá repercussão na questão do Marco Temporal”, uma partilha muito rica “porque nós temos missionários e missionárias de todo o Regional Norte1”. Segundo Dom Leonardo, “essa partilha de experiências, momento celebrativo, momento de ação de graças sempre traz ânimo, sempre traz encorajamento para nunca perder de vista que estamos para servir”. O cardeal destacou que “mais uma vez foi repetida a palavra avancemos, avançar sempre, porque Jesus nos convida no Evangelho a buscar a profundidade de servir sempre”.

“A Assembleia do CIMI ela tem uma importância muito grande porque Amazonas é o Estado que concentra maior população indígena do país, inclusive a maior diversidade cultural”, segundo Dom Edson Damian. Ele lembrou de sua Diocese, São Gabriel da Cachoeira que 90% são indígenas e pertencem a 23 povos diferentes e são faladas 18 línguas. Algo que o Presidente do Regional disse que “trata-se de um patrimônio étnico, linguístico, cultural e antropológico de primeira grandeza”.

Segundo Dom Edson, “nossa Igreja está de mãos dadas com esses povos para preservar sua cultura, suas línguas e principalmente os territórios aos que eles têm direito porque vivem aqui desde tempos imemoriais”. Logo após a celebração dos 50 anos do Cimi, o Bispo insistiu em que “se não fosse o CIMI muitos povos indígenas teriam desaparecido literalmente do nosso país”. Ele destacou a importância do Ministério dos Povos Indígenas, a FUNAI e a SESAI totalmente administradas por eles. Ele chamou a “nos manter unidos e organizados, porque nossa democracia é muito fraca”, destacando que “os povos indígenas são para nós um testemunho de organização fantástica. Temos muito a aprender dos povos indígenas e caminhar com eles para que continuem nas suas lutas”.



Um momento de “fazer memória, de celebração, de resistência, mas também de desafio”, segundo Gilmara Fernandes. A missionária do CIMI recordou a importância de “avaliar a caminhada de 50 anos e daí tirar os desafios para os próximos anos, o que a gente está vivenciando na atual conjuntura da política indigenista”, o que deve levar, depois de fazer uma análise da realidade e partilhar o trabalho das equipes, a tirar as prioridades para os próximos 3 anos no Regional Norte1.

“Depois de 4 anos de retrocesso nós temos o desafio da reconstrução da política indigenista oficial, especialmente no que se refere a destravar todo o processo de demarcação dos territórios indígenas que foram travados nos últimos 4 anos”, afirmou Antônio Eduardo Oliveira. Segundo o Secretário Executivo do CIMI, “temos muitas pendências, represamentos das demarcações e isso faz com que aumente os conflitos nos territórios indígenas”. Desde o contato permanente com o movimento indígena, o CIMI quer “dar continuidade ao processo de mobilização, mesmo agora tendo essa recepção do Governo Federal com relação a uma maior participação deles no âmbito do executivo”. Segundo ele, “é necessário a continuidade do processo de mobilização para destravar toda uma legislação que foi construída contra os direitos dos povos indígenas no Brasil”.

Ele lembrou da situação dos Yanomami, a invasão de territórios no Sul da Bahia, nos Munduruku e também em relação aos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Por isso, ele destacou que “são questões que são urgentes para poder ser tomadas providências e aí vamos fazer essa carga no Governo Federal a partir da mobilização dos povos indígenas e recuperar o julgamento de repercussão geral que discute duas teses fundamentais para os povos indígenas, a tese do Marco Temporal, que é uma articulação da Bancada Ruralistas, dos setores ruralistas, para poder retirar direitos dos povos indígenas e a tese do Indigenato que a Constituição Federal já contempla”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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