quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Combate ao Tráfico de Pessoas, uma prioridade na Igreja da Amazônia e do Regional Norte1


O tráfico de pessoas é uma realidade presente no mundo todo, mas que na Amazônia tem “características próprias, consequências das tantas vulnerabilidades das pessoas, principalmente das crianças, adolescentes e mulheres”, segundo a Ir. Rose Bertoldo. Estamos falando de “um território de mais difícil fiscalização, com maiores dificuldades de o serviço público chegar. Muita coisa ainda na Amazônia é mais invisível”, afirma Dom Evaristo Spengler.

O Presidente da Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), coloca o exemplo do trabalho escravo no Brasil. As estadísticas são maiores nos Estados onde a fiscalização é mais eficaz, enquanto que “na Amazônia, nós temos regiões de fazenda, de garimpo, temos regiões de plantação extensiva, de pecuária, onde o trabalho escravo é muito presente, mas ainda de uma forma invisível, com dificuldades de fiscalização e denúncia”.

Em relação ao tráfico de pessoas na Amazônia, o Bispo eleito da Diocese de Roraima destaca que a Amazônia é “um lugar propício para isso, porque de um lado nós temos a vulnerabilidade das pessoas que são muito pobres, que vivem em regiões do interior, mas que fazem fronteiras com outros países”, rotas frequentes de tráfico de pessoas para a Europa ou outras regiões. Também relata a realidade da migração, de pessoas que entram no Brasil, nos últimos anos chegados de Venezuela.



Dom Evaristo Spengler cita a recente visita da Comissão que preside ao Ministério dos Direitos Humanos, onde “colocamos esse quadro do Brasil, mas também o quadro da Amazônia como um quadro que merece um olhar mais atencioso, seja para a fiscalização, seja para também para a repressão do tráfico onde ele existe”.

A Ir. Rose, com uma ampla experiência no trabalho de combate ao tráfico humano, sobretudo através da Rede um Grito pela Vida, denuncia uma situação que vem de longe, mas que tem se incrementado nos últimos tempos, como é a realidade do garimpo, que é muito presente na Amazônia, principalmente para fins de exploração sexual de crianças, adolescentes e mulheres.

Um crime que está sendo combatido pela Igreja da Amazônia. O Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, onde a religiosa é secretária executiva, assume como prioridade o combate da exploração sexual de crianças e adolescentes e o tráfico de pessoas, e “a partir dessa prioridade tem reforçado a presença dos núcleos da Rede um Grito pela Vida na Amazônia”.



A Ir. Rose Bertoldo também destaca o trabalho da Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano, da qual ela faz parte, que “tem contribuído ao trabalho das diversas instituições que atuam no enfrentamento ao tráfico de pessoas, numa maior atenção à realidade do tráfico de pessoas nos espaços eclesiais e como fortalecer o trabalho de prevenção ao abuso e exploração sexual, e sobretudo ao tráfico de pessoas, a partir dos espações eclesiais, que até então se tinha muita dificuldade de abordar esse tema”.

A religiosa do Imaculado Coração de Maria vê importante que essa realidade seja conhecida pela sociedade e por quem faz parte da Igreja. “A gente só enfrenta, só trabalha a partir daquilo que se conhece”, o que tem levado à Rede um Grito pela Vida e à Igreja da Amazônia a “dar visibilidade, a sensibilizar às lideranças que atuam nas diversas pastorais e organismos da Igreja”. A religiosa destaca o “maior envolvimento a partir dessa sensibilização, desse trabalho que vem sendo realizado”, o que faz com que “aos poucos as pessoas vão assumindo esse compromisso de enfrentar esse crime que acontece nas mais diversas formas”.

Dom Evaristo lembra que “o Papa Francisco, ele instituiu este dia de hoje, 8 de fevereiro, como dia de oração pelas vítimas e também pelo fim do tráfico de pessoas”. Tendo isso em conta, o Bispo afirma que “o primeiro passo é nós termos a consciência de que esse crime diante da Lei, esse pecada diante de Deus, ele persiste e é grave, movimenta milhões de dólares a nível de mundo e também de Brasil”. No Brasil, a escravidão existiu até finais do século XIX, “mas a mentalidade ainda persiste, muitas pessoas não percebem como as pessoas estão sendo traficadas e a pessoa não se identifica que naquele momento está sendo traficada", o que demanda uma tomada de consciência.



Junto com isso, o Bispo eleito da Diocese de Roraima reclama “um olhar mais sensível a essa realidade, e o engajamento, seja nas comissões que existem nos municípios, nos estados, e também a incidência política para que o Estado assuma o seu papel diante do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, para a finalidade de trabalho forçado ou trabalho escravo, ou para tráfico de órgãos que também existe nos nossos dias”.

Na Igreja do Regional Norte1 da CNBB, o dia 8 de fevereiro tem sido “momento de oração nos mais diversos espaços, nas igrejas locais, nas 9 dioceses e prelazias”. Também os Bispos reunidos em Tefé tiveram muito presente na celebração da Eucaristia o tráfico de pessoas, e os meios de comunicação da Igreja abordaram essa temática. Igualmente o roteiro de oração preparado pela Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano, ou a participação da live organizada pela Rede Talitha Kum com a participação de todos os continentes.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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