A fome é uma realidade presente no Brasil, os números
não mentem, 33 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome e 125 milhões
sofrem algum tipo de insegurança alimentar. São números que deveriam nos
importar, mas que nós sabemos que muita gente, inclusive muitos cristãos,
muitos católicos, é indiferente diante dessa realidade.
A Igreja do Brasil faz um chamado a refletir diante
disso. A Campanha da Fraternidade 2023 tem como tema “Fraternidade e Fome”, e
como lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Jesus questiona aos seus discípulos e
a cada um de nós, discípulos e discipulas d´Ele, diante da tentação de fazer de
conta que a fome do outro é algo que não tem nada a ver conosco, que a gente
não tem por que se importar com isso.
A compaixão é algo intrínseco ao ser humano, mais
ainda àqueles que dizem crer no Deus de Jesus Cristo. Somos humanos quando nos
compadecemos com a necessidade de outro, somos de Deus quando temos
misericórdia para com aqueles que sofrem por qualquer motivo. Quando alguém não
tem compaixão é porque a animalidade domina à racionalidade.
Olhando a fome e tantas fomes que existem no Brasil,
na Amazônia, em cada uma das nossas cidades e comunidades, somos chamados a
reagir diante de uma sociedade e um sistema econômico que privilegia alguns e
descarta outras pessoas. Para isso temos que sentirmos a necessidade de sermos
mais fraternos, sermos mais solidários, sermos pessoas que sabem dividir.
Quem se diz católico tem que entender que a Quaresma é
algo que lhe transfigura, e isso acontece na relação com o outro. Uma
transfiguração que nos torna presença de Deus na vida das pessoas, que vivem
numa realidade social que precisa ser transformada como um todo, mas também
precisa transformar a vida das pessoas que são descartadas.
Quero lembrar as palavras de Dom Tadeu Canavarros
ontem na Abertura da Campanha da Fraternidade na Feira da Manaus Moderna. Ele
disse claramente que "a fome não é um dado natural. Não é fruto do acaso
ou do destino. Não é mera consequência de preguiça ou comodismo pessoal. Nem
muito menos é vontade ou castigo de Deus”. O Bispo auxiliar da Arquidiocese de
Manaus denunciou que a fome “é resultado de tremendas injustiças e
desigualdades que caracterizam nossa sociedade e fazem com que uns tenham tanto
e outros tenham tão pouco ou quase nada”.
Ver a fome do Povo Yanomami e de tantos brasileiros e
brasileiras tem que nos levar a refletir sobre o tipo de sociedade que foi
constituído no Brasil e que perdura por mais de 500 anos. Uma sociedade
desigual, que privilegia pequenos grupos e condena grandes camadas da
sociedade.
Por isso, voltando às palavras de Dom Tadeu, não
podemos ignorar que a fome é uma situação “escandalosa e criminosa se
considerarmos que não falta alimento no Brasil”, Segundo ele, “a fome no Brasil
é fruto da injustiça e da desigualdade social. É um pecado mortal que clama ao
céu! E pode ser eliminada com a solidariedade de todos e com vontade e decisões
políticas”. Superar a fome depende de você e de mim, é só se importar com o
sofrimento alheio.
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