“O
Evangelho nos aponta a esmola, a oração e o jejum como caminho para o encontro
com Deus, com a vida do Evangelho”, lembrou o Cardeal Leonardo Steiner no início
da sua homilia nesta Quarta-feira de Cinzas. Segundo o Arcebispo de Manaus, “os
exercícios quaresmais que nos possibilitam uma vida autenticamente cristã, uma
vida que visibiliza o Reino de Deus, uma vida de conversão e transformação”.
Dom
Leonardo disse reconhecer no Evangelho do dia que “os sinais da verdadeira
conversão e transformação são apontados por Jesus no Evangelho que acabamos de
ouvir. Aquele modo de entrar na dinamicidade da liberdade e da libertação, na
dinâmica de Deus”. Segundo ele, “a esmola, a oração e o jejum são os exercícios
de conversão e penitência que o tempo da quaresma nos possibilitam”.
Isso o
levou a questionar: “Mas como nos exercitamos?”, lembrando que “Jesus a nos
dizer que a respeito da esmola, que ela necessita ser gratuita, livre, amorosa”.
Em relação à oração, Dom Leonardo destacou que em seu exercício, “acontece no
recolhimento, na atenção de uma relação gratuita, no encontro tu-a-tu, uma escuta,
uma palavra”. Em relação com o exercício do jejum, o Cardeal disse que “está na
animação de quem está na alegria da espera, do encontro, da manifestação de
Deus. Jejum como se não jejuasse, pois à espera da plenificação que o Evangelho
possibilita. Uma manifestação amorosa de Deus”.
Segundo o
Arcebispo de Manaus, “jejum é abrir-se, esvaziar-se e, mesmo, abster-se. No vazio
de nós mesmos, somos fecundados pela suavidade da gratuidade do amor que nos
atraiu e encantou. Jesus crucificado, vazio de si, é entrega suave-sofrida ao
Pai: “em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). No jejum, acontece uma
integração e percepção de nós mesmos!”
Refletindo
sobre a oração, Dom Leonardo destacou que ela “é aproximação, exposição,
relação. Busca de deixar-se atingir pela amorosidade de Pai. Como a súplica de afeto
e de amor de Jesus: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” (Mt 27,46).
Quanta intimidade!, a busca de coração pelo Pai com a força do Espírito”.
Já a esmola
é vista pelo Cardeal como “a liberdade de entrega, partilha de vida, cuidado amoroso,
serviço generoso!”, como “um envio para o próximo, como “encontro com aqueles
que são desprezados, esquecidos da sociedade”. Por isso a insistência na “esmola,
exercício de crescimento e de fidelidade: sermos bons e generosos como Deus o é”.
Seguindo as
palavras do Evangelho do dia, Dom Leonardo chamou a assumir “nada de
ostentação, nada de mostração, nada exibição, nada de aparência, mas tudo na graça
e gratuidade de quem deseja experimentar a presença de Deus e continuar o
processo da conversão, da transformação”.
Ele fez ver
que “a quaresma nos lembra a necessidade da conversão pessoal, uma
identificação sempre maior e mais nítida com Jesus. Uma conversão comunitária,
pois nossas comunidades devem ser o espaço do encontro, da acolhida, do perdão,
da reconciliação, da fraternidade”. Junto com isso, “uma conversão ecológica!”,
lembrando o pedido do Papa Francisco na Laudato Sì a uma conversão para com o
meio ambiente, que chama a “sermos cuidadores, cuidadoras da nossa casa, da casa
de todos os seres”.
Na primeira
leitura, o Arcebispo destacou que “nos incentiva a trilhar o caminho indicado
por Jesus”, e junto com isso a “centrar a vida na conversão na volta, para a
fonte”, movidos pela compaixão e paciência, misericórdia e perdão de Deus, que
nos impele “à conversão, á mudança de vida”.
Seguindo as
palavras de São Paulo, o Cardeal destacou que “a quaresma que nos envia ao
encontro do doador de todas as graças, o reconciliador e o salvador de toda a humanidade”,
o que leva se questionar: “Como não buscarmos a reconciliação, a salvação? Como
não nos colocarmos a caminho nesses 40 dias que nos são oferecidos como
possibilidade de recebermos a plenitude da vida pela cruz e ressurreição?”
Dom
Leonardo relatou diferentes citas bíblicas que fazem referência ao número 40,
pedindo que nos 40 dias da quaresma, “Deus nos conceda a graça da vida nova, da
renovação, da experimentação de sua presença amorosa e salvífica”. Um tempo que
inicia com as Cinzas, “o tempo de rasgar o coração e não as vestes e voltar ao
Senhor. Tempo de retomar o caminho, de abrir-se à graça do Senhor, que nos ama
e nos socorre”.
Em relação
à Campanha da Fraternidade, que o Cardeal Steiner definiu como “itinerário de libertação
e reconciliação”, lembrou o tema deste ano: Fraternidade e fome, e o lema “Dai-lhes
vós mesmo de comer”. Também o objetivo que chama a “sensibilizar a sociedade e
a Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de
irmãos, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do
Evangelho de Jesus Cristo".
Dom
Leonardo citou as palavras do Papa Francisco à FAO, onde definiu a fome como uma
tragédia e uma vergonha, provocada por uma distribuição desigual dos frutos da
terra, pelas consequências das mudanças climáticas e o aumento dos conflitos, o
descarte de alimentos. Uma realidade diante da qual, “não podemos permanecer
insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis”.
O Cardeal
questionou “como viver a fraternidade se temos irmãos e irmãs passando fome?”.
Ele respondeu que “a fome está a nos dizer que não vivemos em fraternidade. Nós
seguidores e seguidoras de Jesus estamos a dever para nossos irmãos e irmãs. A
fome existe não por falta de alimentos. São descartados todos os dias toneladas
de alimentos. Se desejamos ser como Jesus ensinou, não podemos ficar
paralisados”. Ele destacou os tantos sinais de fraternidade para que as pessoas
não passem fome presentes na Arquidiocese, fazendo um chamado a “crescer na
fraternidade, na acolhida”.
Fome que
constitui um verdadeiro escândalo, citando as palavras do Papa Francisco, que
mostrando a existência de alimentos para toda a humanidade chama “extirpar esta
injustiça através de ações concretas e boas práticas, e através de políticas
locais e internacionais ousadas”. Algo que Jesus nos lembra em Mateus 25.
Finalmente,
Dom Leonardo fez um chamado a que “o tempo da quaresma nos anime e nos deixe experimentar
o sentido da cruz de Jesus. E na cruz de Jesus lermos as nossas cruzes e as
cruzes dos irmãos e irmãs. A cruz sempre é salvífica”. Junto com isso, que “as
cinzas que hoje recebemos com devoção, sejam o sinal externo de nossa adesão
sincera e ardorosa ao Evangelho, segundo o que nos propõe a Campanha da Fraternidade:
Dai-lhes vós mesmo de comer”.
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