No 33º Domingo do Tempo Comum, dia em que se celebra
a Jornada Mundial dos Pobres, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional
Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), cardeal
Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua reflexão afirmando que “o
Evangelho da liturgia de hoje desperta o sentimento de desastre, de tragédia,
de fim”. Questionando se “Nada mais?”, ele respondeu com o texto bíblico: “Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol ficará
escuro, a lua não refletirá o seu esplendor; cairão os astros do céu”. Segundo
o cardeal, “a percepção de que os contornos da realidade, as estruturas, os
arranjos, chegaram a fim; sim o fim de um mundo, mesmo de um céu e de uma
terra. As forças do céu são abaladas. O que permanece?”
“O sol, a lua, os astros, as estrelas, nos remetem para a criação.
O sol, a lua, os astros, que desde os primórdios do tempo brilham na sua ordem
e transmitem luz, sinal de vida. A luz, sinal de vida que agora parece descer à
decadência, à escuridão, à perda do esplendor, o decair das belezas celestes.
Da beleza, do esplendor ao caos, à escuridão, à perda de vida. Como se
entrássemos na decadência e na escuridão e o caos se precipitasse sobre a face
da terra. O sinal do fim. O sinal de um fim?”, disse o arcebispo de Manaus.
O cardeal Steiner sublinhou que “nesse cair e quase destruir,
podemos ter a percepção de um abandono da parte de Deus, a
experiência da ausência de Jesus no meio nós, diante dos tormentos, violências
que se abatem. É aquela ausência percebida pelos primeiros cristãos quando
enfrentaram as perseguições, as dores, a morte. Tudo parecia caminhar para o
fim. Era um fim! Como se Jesus estivesse ausente, ou pelo menos quase
imperceptível. Esse mistério de abandono que às vezes toma conta de muitos
cristãos quando o sol se põe na violência, a lua se esconde e se faz escuridão,
as estrelas-ideias começam a cair. No entanto, o Evangelho a nos animar: Deus não
está ausente, não se escondeu, não se subtraiu, apenas retração do Mistério de
um amor que resgatou o universo.”
“No caos, no decair das estrelas, na escuridão do sol e da luz, o
fim, o Evangelho a nos indicar o caminho de um novo céu e uma nova terra”,
disse o presidente do Regional Norte1, citando o texto evangélico: “vereis
o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória”. Segundo ele, “novo
sol, nova lua, novos astros, novas estrelas, pois nova luz, novo horizonte, a
iluminar a e incandescer os nossos dias”. O cardeal lembrou as palavras de Papa
Francisco: “A luz que há de resplandecer naquele
último dia será única e nova: será a do Senhor Jesus, que virá na glória com
todos os santos. Naquele encontro veremos finalmente o seu Rosto na plena luz
da Trindade; um Rosto resplandecente de amor, diante do qual também cada ser
humano aparecerá na verdade total”.
“E
a vida nova que surge vem de modo novo, na suavidade de um renascer, sem
destruir”, disse o arcebispo, citando o texto de Marcos: “aprendei da figueira
esta parábola: quando os seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar,
sabeis que o verão está perto”. Segundo ele, “a seiva da vida nova nascida da
cruz e da ressurreição tem seu modo próprio, como a seiva da figueira: os ramos
começam a lançar brotos, os brotos crescem produzem flores e flores, o fruto.
Tudo num tempo próprio, não mais da força bruta, da obrigação, da violência,
mas na suavidade de vida, como uma brisa suave de uma manhã que desperta a vida
após a noite, a escuridão. Tudo numa harmonia de graça e beleza do
Crucificado-ressuscitado.”
“Talvez,
o Evangelho esteja a nos dizer que é o tempo novo que está por chegar, por ser.
O tempo em que os discípulos e discípulas de Jesus são despertados para o
crescimento dos ramos novos e frutos novos. Crescer na força da fé, da
esperança e do amor, seiva a fecunda os ramos e fazer crescer brotos novos, mas
também frutificar”, disse o arcebispo. Citando o texto: “Então vereis o Filho
do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória”, o cardeal ressaltou: “Sim,
Ele o Filho do Homem, o vindouro, o esperado e o desejado, em cujo Advento
germinará a justiça, a verdade, a liberdade: novo céu e nova terra.”
Novo
céu e nova terra, pois “Ele enviará os anjos dos quatro cantos da terra e
reunirá os eleitos de Deus de uma extremidade à outra da terra”, disse, lembrando
o texto de Marcos. Segundo o cardeal, “esse dito do Evangelho enche de
consolação as discípulas e os discípulos de Jesus em todos os tempos,
levando-os a viver não só de temor e de tremor, face ao retorno de Cristo, mas
também de esperança, pois do Amor. Nosso encontro definitivo com Cristo será
não só como com o Juiz, mas, acima de tudo, como com o Mestre, o Amigo, o
Esposo. Eis nossa esperança!”
Com
as palavras de Fernandes e Fassini, o arcebispo lembrou que “O Evangelho,
portanto, em vez de um julgamento ou condenação, por parte de Jesus, quer
revelar, antes, e acima de tudo, o final, a consumação de toda história. Essa
consumação não será outro senão a aparição de Jesus Cristo Crucificado, o homem
novo, o novo Adão, o homem verdadeiramente humano, o homem de todos os homens,
o homem universal, que inaugurará um novo céu e uma nova terra. Ele, o
Crucificado de Deus, eis a justiça divina! (Cf. 2 Pd 3,13; Ap. 21,1). Esse será
seu “poder e seu esplendor”. Nesse poder e esplendor todos poderão se espelhar
e se julgar, ver sua verdade e sua mentira. Então, estará implantada a verdade
e a justiça acerca do homem e de sua história, o juízo, o julgamento de Deus.”
“Em
Jesus encontramos o sentido de toda história pessoal, da humanidade, do
universo. Como nos aponta o Apocalipse, Ele é ‘o Primeiro e o Último’ (Ap 1,17), disse o cardeal
Seteiner. Ele sublinhou que “Jesus deu à criação e à história um sentido
definitivo e o evangelho a nos dizer que veremos o Filho vindo. Sim Ele está
vindo sempre. É que viveremos no Reino definitivo, que nos foi oferecido por
Jesus. Não do sol, da lua e das estrelas, mas do Filho unigênito do Pai, cheio
de graça e verdade.”
Na primeira leitura,
ele disse que “vem confirmar as palavras do Evangelho quando afirma o novo
brilho, nova luminosidade”, citando o texto: “Os que tiverem sido sábios,
brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens os
caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade.” Segundo
o arcebispo, “os que seguem na disponibilidade e com alegria o Filho do Homem tornar-se-ão estrelas,
iluminarão e conduzirão os que estão nas trevas e nas sombras da morte. Haverão
de indicar sempre o novo sol, as novas estrelas da vida nova que o Filho do
Homem anunciou, indicou, e tornou realidade”. Por isso, “quanto àquele dia e
hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”,
lembrou.
O arcebispo
agradeceu a Deus os 70 anos da Radio RioMar, Ele disse que “a missão, o encargo
que recebeu desde a sua fundação é anúncio de um novo céu e uma nova terra. Indica
o sol que aquece e ilumina, é a lua que na escuridão
sinaliza a vida, a luz, é cintilação de estrelas que guiam e remetem para o cuidado
da criação. Levando a Boa Nova, desperta para a cidadania, indica a justiça
como caminho da fraternidade e da paz. Gratidão a todos os que nesses 70 anos
nos ajudaram, apoiaram, construíram. Gratidão a todos os contribuintes da Rádio
e Fundação RioMar.”
No
dia Mundial dos Pobres, o arcebispo enfatizou que “os
pobres a nos provocar na busca do sol e das estrelas que aquecem e iluminam.
Sim um novo céu e uma nova terra, onde realmente somos todos irmãos e irmãs.” Ele
lembrou a mensagem de Papa Francisco: “Neste ano dedicado à oração, precisamos de fazer
nossa a oração dos pobres e rezar com eles. É um desafio que temos de
aceitar e uma ação pastoral que precisa de ser alimentada. Com efeito, «a pior
discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa
maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e
não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra,
a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento
na fé. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa
solicitude religiosa privilegiada e prioritária”. Segundo o
arcebispo “o Dia Mundial dos Pobres deveria ser um compromisso de
cada uma das nossas comunidades com os pobres. Somos todos desafiados a escutar
a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas
necessidades. Termos iniciativas que ajudem os pobres, dando dignidade social e
eclesial aos pobres.”
Igualmente,
ele disse que “no dia Mundial dos pobres desejamos agradecer às pessoas que
escutam e apoiam, cuidam dos mais pobres. Os pobres nos ensinam, porque numa
cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que sacrifica muitas vezes a
dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, eles remam contra a
corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa”, lembrando as
palavras da Mensagem de Papa Francisco.
Com palavras
do Papa, o cardeal Steiner disse que “Faz-nos bem recordar as palavras de São João Crisóstomo: “O Pai
não poupou o seu próprio Filho (Rom 8,32); e tu não dás sequer um bocado de pão
Àquele que foi entregue e imolado por ti. Por ti, o Pai não O poupou; e tu
passas com desprezo ao lado de Cristo que tem fome, enquanto vives dos
benefícios que Ele te conquistou. […] Ele foi entregue por ti, imolado por ti,
vive em necessidade por ti e quer que a tua generosidade seja vantajosa para
ti; mesmo assim, tu não dás. Haverá pedras tão duras como o vosso coração
quando tantas razões o interpelam? Não bastou a Cristo sofrer a morte e a cruz;
Ele quis ainda tornar-Se pobre, mendigo e nu, ser metido na prisão (Mt 25,36),
a fim de que ao menos isso te tocasse: «Se nada me dás pelas minhas dores»,
diz-nos, «tem piedade de Mim por causa da minha pobreza. Se não queres ter
piedade de mim por casa da minha pobreza, que seja a minha doença a vergar-te,
que sejam as minhas correntes a enternecer-te. E, se isso não te toca, consente
ao menos por causa da pequenez do pedido. Não te peço coisas difíceis; peço-te
pão, um teto e umas palavras de amizade. […] Estive preso por ti e continuo a
estar, a fim de que, comovido com as minhas cadeias do passado ou com as do
presente, tu queiras ser misericordioso para comigo. Passei fome por ti, e
continuo a passar. Tive sede quando estava suspenso da cruz e continuo a ter
sede pelos pobres, a fim de te atrair a Mim dessa maneira, e te salvar”. Ele
concluiu dizendo que “participantes da terra nova, novo céu, vida nova, em
Jesus Crucificado-Ressuscitado.”
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1