domingo, 8 de setembro de 2024

No final do Encontro Regional Norte1, as CEBs assumem compromissos para vivenciar nas comunidades


Foi encerrado neste domingo 8 de setembro, o Encontro das Comunidades Eclesiais de Base do Regional Norte1, que desde sexta-feira dia 6 reuniu quase 200 pessoas das 9 igrejas locais do Regional na diocese de Roraima, que teve como tema “CEBs, Igreja da Amazônia – Casa do Encontro, da Acolhida e da Ministerialidade”, e como lema: “Acolhei a todos no Senhor, de maneira digna, como convém aos santos” (Rom 16, 20).

Na Eucaristia final, presidida pelo bispo diocesano de Roraima, dom Evaristo Spengler, o bispo auxiliar de Manaus e referencial das CEBs no Regional Norte1, dom Zenildo Lima ressaltou na homilia a alegria do encontro da vida comunitária cuja principal expressão é o encontro ao redor da Palavra e da mesa da partilha eucarística para fazer memória de Jesus. Segundo dom Zenildo, “esta é a verdadeira alegria a qual se refere a oração da Coleta. Alegria de um Deus que inverte lógicas como nos anuncia o profeta Isaías, de um Deus que rompe com os silêncios como realiza Jesus no Evangelho”.

“Jesus inaugura um caminho novo que não vai simplesmente proporcionando as pessoas algum alívio num sistema que esmaga, mas inaugura um modo novo de viver que rompe com estes sistemas”, sublinhou o bispo. É por isso que “a comunidade dos seguidores de Jesus é exortada por São Tiago a não reproduzir estas lógicas que privilegiam e discriminam, mas que seguem o caminho novo de Jesus”. Levando isso para a vida das CEBs, ele enfatizou que “nossas comunidades eclesiais de base são chamadas a este grito que irrompe e rompe com esquemas que silenciam e sufocam: Abre-te!



As CEBs do Regional fizeram propostas de compromissos para serem vivenciadas nas comunidades do Regional Norte1. As propostas têm a ver com círculos bíblicos, vida comunitária-ministerialidade, casa comum, fé e política e juventude.

Nos círculos bíblicos foi proposto que sejam permanentes e que sejam um modo de visitar as casas, com subsídios locais, inserindo a vida da juventude, ecologia integral, política, casa comum, mulher, saúde pública, povo de rua, trabalhando em rede e sob a inspiração do CEBI. Na dimensão da vida comunitária-ministerialidade foi destacada a necessidade da animação das comunidades, as visitas com momentos de espiritualidade, formação para desconstruir relações clericais existentes nas comunidades, reconhecer a diaconia da mulher e assumir novos ministérios, dentre eles casa comum, mulher, formadores políticos e coordenação.

Com relação à casa comum, foi proposto promover a espiritualidade ambiental nas comunidades, e ações para eliminar descartáveis plásticos nas comunidades, também ações de sensibilização para o cuidado da casa comum em todos os âmbitos da comunidade, a criação da Pastoral da ecologia integral nas comunidades e a conscientização e sensibilização para a Ecologia Integral, criação de hortas comunitárias, plantar árvores, não uso de agrotóxicos, cuidado da água, rodas de conversa com as mulheres ribeirinhas, ações de incidência sobre as políticas públicas e legislações ambientais.

No âmbito da fé e política, foi colocado a promoção da espiritualidade política na vida das comunidades, participar e integrar os conselhos estaduais de políticas públicas, assumir o Projeto “Encantar a política”, participação nos conselhos paritários, formação fé e política desde a educação popular, elaboração de cartilhas. Sobre a juventude, as propostas apresentadas foram reforçar o compromisso com a juventude nos círculos bíblicos e construir processos formativos a partir do lugar das juventudes. Finalmente, foi proposto fortalecer pastoral da criança.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: “Existe de fato uma surdez interior, que hoje podemos pedir a Jesus para tocar e curar”


No 23º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua reflexão dizendo que “Jesus, no Evangelho proclamado, a tocar os ouvidos e a língua e ordenar: abre-te!”, uma imploração já presente na primeira leitura, citando o texto de Isaías.

Segundo o arcebispo, “ao abrir os ouvidos se recebe a graça da palavra; palavras inteiras e sedutoras. As palavras nascidas da escuta, desatam a língua. Desata porque recuperamos a escuta, os ouvidos.” Citando o texto do Evangelho, ele disse que “a alma humana no meio da multidão perde o ouvido e a fala, e por isso morre. No meio de tantos rumores, contradições, tormentos, dissabores, notícias falsas, calúnias, perde-se o ouvido, a escuta. Perde-se não só as palavras, mas o rumo, a direção, o horizonte, o sentido do existir. Ao perdermos a escuta, vamos tateando, vagando entre tantos ditos e não ditos, que acabamos perdendo a morada, perdemos as relações, definhamos, morremos”.

Em palavras do cardeal Steiner, “razão tinham os habitantes da Decápole de apresentar a Jesus o surdo-mudo para que impusesse as mãos. Estava como que perdido no meio da multidão dos conflitos e dessabores da vida. Jesus em vez de impor as mãos o leva para fora da multidão e, num tu-a-tu, coloca o dedo nos ouvidos, cuspiu e, com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: ‘Efetá, que quer dizer abre-te!’” Ele lembrou que escutávamos no Evangelho: “Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”.

O cardeal recordou que “Papa Francisco ensina que a condição daquele homem tem um valor simbólico. Ser surdo-mudo é também um símbolo. E este símbolo tem algo a dizer a todos nós. Trata-se da surdez. E Jesus, para curar a causa do seu mal-estar, “coloca primeiro os dedos nos ouvidos, depois na boca; mas antes nos ouvidos! Salienta Papa: “Todos nós temos ouvidos, mas muitas vezes não conseguimos ouvir. Por quê? Irmãos e irmãs, existe de fato uma surdez interior, que hoje podemos pedir a Jesus para tocar e curar. A surdez interior é pior do que aquela física, porque é a surdez do coração. Tomados pela pressa, por mil coisas a dizer e fazer, não encontramos tempo para parar e ouvir quem fala conosco. Corremos o risco de nos tornar impermeáveis ​​a tudo e de não dar espaço a quem tem necessidade de ser ouvido: penso nos filhos, nos jovens, nos idosos, em muitos que não têm tanta necessidade de palavras e de pregações, mas de serem ouvidos”.



Escutar não é a capacidade de ouvir sons, ruídos. Quantos não ouvem e ouvem melhor que nós; quantos não falam e falam melhor que nós”, enfatizou o arcebispo. Segundo ele, “ouvir é próprio do ser humano, é a sua grandeza de percepção de todas as coisas. No ouvir se estabelecem relacionamentos com as pessoas, toda a realidade, com Deus. Ao escutarmos a palavra do outro, escutamos o seu coração, a sua vida, não os seus sons. Por detrás da palavra está a busca de uma vida, de uma existência. Na palavra está cada pessoa com seus anseios, esperanças, dificuldades, sonhos, amores. E no meio do burburinho da multidão escutamos apenas sons e compreendemos apenas sons e não compreendemos e não escutamos o tu, a alma do outro. Temos dificuldades de escutar a Deus!”

“Abre-Te! Somos necessitados e pedintes de novos ouvidos e novas palavras! Somos necessitados, necessitadas, de ouvidos que saibam distinguir no meio da multidão das aflições, das acusações, do silêncio, do vagar das palavras, a presença do outro que vem ao nosso encontro com busca de compreensão, de diálogo. Na desatenção, às vezes, apenas ouvimos as acusações, o desabafo e entramos no jogo das palavras, não percebendo o quanto há de necessidade e acolhida naquelas palavras, ou melhor, o outro que se manifesta na palavra. E nós fechados na multidão de nós mesmos, incapazes de sair com alma aberta para escutar o outro que nesse momento vem ao encontro de modo inesperado e inusitado: desabafando”, ressaltou o arcebispo de Manaus. 

Segundo ele, “no contínuo escutar, no aprimoramento da escuta, na sensibilidade do ouvido que o tempo concede, que o tempo gratuito propõe, ressoam as realidades, as palavras, os anseios, desejos e amores e, assim, a palavra se torna concatenada e flui. No exercício da escuta e da fala, não mais a fala vazia e a imitação, mas palavras que expressam sentimentos, preocupações e frustrações, alegrias e realizações, sempre iluminados pela esperança e a transformação. E na vivacidade do dizer, nos é dado pintar o mundo das realizações e meditações. E em ouvindo e deixando de ouvir, na fala e deixando tantas vezes de falar: silenciamos. Mas mesmo no silêncio continuamos a escutar e a falar. Não os sons das palavras, mas as palavras elas mesmas a circular na interioridade”.

O cardeal Steiner perguntou: “Nesse sentido, entramos em sintonia com os outros? Pai e mãe, pais e filhos, filhos e pais? Nos dispomos à escutar? Mas escutar o coração do outro. Conseguimos permanecer juntos sem palavras, nos escutando? Deixamo-nos tocar pela vida do outro, das pessoas em necessidade, dando tempo a elas, especialmente as que estão próximas de nós?”, fazendo um chamado a “ajudar, depois de escutar. E todos nós, antes escutar e depois responder”.



Na segunda leitura, ele destacou que “a nos acordar para a escuta e a fala justa, apropriada, sem acepção de pessoas. Naquele Efetá, no abre-te tem a força e a graça da escuta daqueles que ninguém quer e que a sociedade rejeita. No ensina o apóstolo Tiago: “Meus queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o ama?” (Tg 2,5) Sim irmãos e irmãs, o Senhor nos concede ouvidos para escutar as necessidades mais prementes, mais sofridas. Essa escuta exige de nós os ouvidos da fé, da Palavra de Deus. Mas também as palavras melhores e mais consoladoras: palavra-palavra, palavra gestos, palavra pão, palavra prato”.

“No escutar e dizer entramos em comunhão com os outros, e podemos na grandeza de ser, dizer ao outro e receber do outro. A palavra se torna expressão da vida, porque encarnação de amor do Amor”, ressaltou. Segundo o presidente do Regional Norte1, “ouvir e pronunciar a palavra expressa a relação com Aquele que é invisível aos olhos. O encontro amoroso entre Deus e cada ser humano acontece no ouvir e dizer. A oração que nasce da escuta e se torna prece. A oração como o dizer da alma humana que busca, cada vez, encontrar Aquele que na expressão de Santo Agostinho vem dito como: inquieto está meu coração até que não repouse em vós. O dizer que expressa a grandeza de quem tem sede de Deus. E todo dizer, toda oração, nasce da escuta da fala de Deus. E quando a oração se torna silenciosa, sem sons, sem exteriorização, a oração se faz escuta-palavra, palavra-escuta. Esse momento único e vivificador não separa a palavra da escuta, e nem a escuta da palavra. Na oração somos de joelhos ou sentados ou de , todo-ouvidos-balbuciando! Mas, como nos ensinava o Evangelho, começamos a falar sem dificuldade”.

Ele lembrou que “no mês de Bíblia somos despertados para escutar a Palavra de Deus. Deixar ressoar em nós o Evangelho. Jesus é a Palavra: se não paramos para ouvi-lo, Ele passa. Santo Agostinho dizia: ‘Tenho medo do Senhor quando Ele passa”. E o medo era de deixá-lo passar sem ouvi-lo’. A Palavra de Deus que Cristo nos transmite precisa de silêncio para ser acolhida como Palavra que cura, reconcilia e restabelece a comunicação”.

São Francisco tinha verdadeira reverência para com a Palavra Deus”, disse o cardeal, citando as palavras do santo de Assis: “Admoesto todos os meus irmãos e os conforto em Cristo, a que, onde encontrarem as divinas palavras escritas, as venerem como podem. E quanto couber a eles, se elas não estão bem guardadas ou indignamente por ali dispersas, recolham-nas e as resguardem, honrando o Senhor nas palavras que pronunciou. Pois muitas coisas são santificadas pelas palavras de Deus. E, em virtude das palavras de Cristo se realiza o sacramento do altar”. 

Finalmente, o cardeal fez um chamado a pedir a Jesus “que toque os nossos ouvidos e a nossa língua para podermos bem escutar e, bem escutando, pronunciar a palavra quevida. Aquela vida que transforma a terra árida de nosso ser em um lago e as regiões sedentas de nossas relações, em fontes de água viva”.


                                                                   Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

sábado, 7 de setembro de 2024

Ministerialidade, uma realidade presente nas CEBs do Regional Norte1


O Encontro Regional das CEBs, que acontece na diocese de Roraima de 6 a 8 de setembro de 2024, com a presença de quase 200 representantes das 9 igrejas locais do Regional Norte1, continuou seus trabalhos refletindo sobre a ministerialidade, um elemento presente no tema do encontro: “CEBs, Igreja da Amazônia – Casa do Encontro, da Acolhida e da Ministerialidade”, que tem como lema: “Acolhei a todos no Senhor, de maneira digna, como convém aos santos” (Rom 16, 20).

Falar de Ministerialidade nas Comunidades Eclesiais de Base na Amazônia é falar de uma realidade presente na Igreja da Amazônia, segundo a Ir. Sônia Matos, assessora do encontro. A religiosa destacou que “não pode pensar em ministérios por causa da falta de ministros ordenados, seria desviá-los de seu significado e fundamento”, insistindo na importância do sacerdócio comum que deriva do batismo.

A assessora sublinhou que “para uma Igreja com rosto amazônico é necessário uma ministerialidade amazônida de fato, através de uma vivência eclesial que siga a capilaridade-sinodalidade dos rios”. Nessa perspectiva se faz necessário destacar que “as mulheres são sujeitos nas paróquias e nas dioceses, com múltiplas formas de serviço pastoral e ricas experiências de ministerialidade”, uma realidade muito presente nas CEBs, especialmente no interior e na periferia das cidades, onde a ministerialidade aparece como serviço da vida da comunidade.

Isso demanda um reconhecimento explícito que faça com que as mulheres possam sair do papel de suplência pastoral e de exclusão nas instâncias de decisão, para assumir um ministério a partir de sua dignidade ministerial. Para isso é preciso respostas criativas aos desafios que hoje coloca a missão evangelizadora e a necessária transformação social, elementos que historicamente acompanham a vida das CEBs. Uma ministerialidade marcada pela sinodalidade, em que as comunidades possam se tornar comunidades ministeriais, como jeito de viver e testemunhar o Reino.



Essa reflexão motivou um trabalho em grupos sobre a ministerialidade na Amazônia, buscando abrir novos caminhos para as CEBs, espaço de evangelização da Igreja que peregrina na região amazônica, que precisa do compromisso de todos os batizados e batizadas para que o Evangelho possa chegar nas comunidades mais distantes e mais carentes.

A Juventude presente no encontro, a partir da caminhada dos jovens no Regional Norte1, refletiram sobre a ministerialidade entre os jovens, mostrando algumas experiências nas dioceses. Igualmente, eles apresentaram o trabalho que estão realizando em vista do Jubileu da Esperança do próximo ano.

No encontro participa Marilza Schuina, assessora do setor Comunidades Eclesiais de Base na Comissão Episcopal para o Laicato da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que partilhou a estrutura das CEBs nos diversos níveis, falando sobre os encontros de CEBs que estão acontecendo nos regionais da CNBB.

Os participantes do encontro se fizeram presentes, junto com o povo da diocese de Roraima, no Grito dos Excluídos Excluídas, realizado em Boa Vista, onde foram colocadas diversas questões, como é a hidroelétrica projetada no Rio Branco, a questão da Saúde, a defesa da vida e dos direitos da pessoa idosa, LGBTQIA+, dos povos indígenas, das juventudes e da necessidade de políticas públicas voltadas para a sociedade.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Encontro das CEBs Regional Norte1 em Roraima: dar passos para o trabalho evangelizador da Igreja


A diocese de Roraima acolhe de 6 a 8 de setembro de 2024 o Encontro Regional das Comunidades Eclesiais de Base do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), com o tema “CEBs, Igreja da Amazônia – Casa do Encontro, da Acolhida e da Ministerialidade”, e o lema: “Acolhei a todos no Senhor, de maneira digna, como convém aos santos” (Rom 16, 20).

Seguindo o método ver-julgar-agir, os quase 200 representantes das 9 igrejas locais que fazem parte do Regional Norte1, iniciaram os trabalhos na comunidade São Bento, paróquia São Jerônimo, em Boa Vista (RR), depois da acolhida do bispo local, dom Evaristo Pascoal Spengler, que acolheu a todos os assessores e representantes vindos das igrejas locais do Regional, e agradeceu a escolha de Roraima para acolher o encontro. O bispo desejou que este momento sirva para uma escuta sincera do Espírito que fala à nossa Igreja e fortaleça as pequenas comunidades de nosso Regional. Ele pediu que as CEBs sejam sempre mais lugares de encontro de "irmãos e irmãs", fomentando os ministérios e a missão a partir da fé e da realidade que nos interpela.



Seguindo a temática do encontro, o bispo auxiliar de Manaus e referencial das CEBs no Regional Norte1, dom Zenildo Lima, refletiu junto com os participantes sobre a Casa do Encontro e da Acolhida. Partindo das expectativas para o encontro, foi feita a memória das Comunidades Eclesiais de Base no Regional Norte1, identificando as dificuldades e possibilidades para momento, em vista de dar passos para o trabalho evangelizador da Igreja. Tudo isso, tendo em conta que as CEBs são casa de muitas gerações.

A partir da imagem da casa, os participantes lembraram momentos marcantes em sua experiência de vida, de vivência da fé, de lutas. Dom Zenildo Lima perguntou: “Quando nossa casa se transformou e perdeu sua originalidade?”, algo que deve levar as CEBs a recuperar sua identidade.

Com relação ao encontro, o bispo auxiliar de Manaus refletiu sobre os modelos de relação e os sujeitos implicados. Ele questionou: “Quem se encontra nesta casa?”, e junto com isso, “Quem está fora do encontro?”. Isso deu passo a uma abordagem da natureza do encontro e das atitudes que devem fazer parte do encontro: diálogo, interculturalidade e uma atitude decolonial. Em vista da Missão, a questão a ser resolvida é, segundo o bispo, “Para quem é esta casa?”. Na missão devem ser assumidas como tarefas a paz, a justiça e o cuidado da Casa Comum, destacou.



Não podemos esquecer que “a comunidade dos seguidores de Jesus nasce como comunidade que se constrói a partir da casa”, segundo dom Zenildo Lima. Seguindo a proposta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a paróquia deve ser entendida como comunidade de comunidades. O bispo analisou a história da primeira Igreja, que surge como Igreja doméstica, para posteriormente fazer a passagem de um cristianismo palestino itinerante para um cristianismo urbano sedentário, com comunidades que vão se estabelecendo onde existem os laços de relações, surgindo a grande comunidade urbana e a paróquia como reprodução desta em menor escala.

Trazendo sua reflexão para a realidade local, dom Zenildo Lima falou sobre o rosto amazônico das comunidades eclesiais de base, apresentando alguns elementos presentes nesse modo de vivenciar a fé. Ele insistiu em que “a grande maioria de nossas dioceses e paróquias está organizada a partir do modelo de CEBs”, mas também mostrou que “as CEBs aparecem como uma pastoral entre outras existentes na paróquia, muito mais como ‘Igreja com CEBs’ que ‘Igreja de CEBs’". O bispo refletiu sobre a diversidade das CEBs e sobre o fato de que a coordenação de CEBs se distanciou das bases, mantendo o discurso antigo e não dialogando mais.

Querendo identificar pistas para a caminhada das CEBs, se faz necessário um novo jeito de ser CEBs, com a contribuição do rosto amazônico; recuperar a Palavra de Deus como força inspiradora para a vida da comunidade; uma nova estruturação da comunhão a partir de nova ministerialidade; relançamento missionário das comunidades; ecologia integral e bem viver; e articulação. A reflexão em torno a cada pista foi iluminada pelo Magistério da Igreja, também da Igreja da Amazônia, especialmente pelo Documento de Santarém 2022. Isso levou os participantes a debater sobre os novos caminhos, analisando os modelos de relação predominantes nas comunidades e como proporcionar experiências que favoreçam o encontro, e sobre as realidades que nas comunidades têm conseguido acolher e servir.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Dom Hudson Ribeiro: Gritamos, “porque somos cristãos que amam e defendem a vida”


O Grito dos Excluídos e das Excluídas, que está completando 30 anos, levou às ruas de Manaus um grito por melhorias urgentes na Saúde Pública no Amazonas. Um grito “porque somos cristãos que amam e defendem a vida”, segundo o bispo auxiliar de Manaus, dom Hudson Ribeiro.

Não podemos esquecer que “o Grito dos excluídos e das excluídas é um grito daqueles e daquelas que querem ser escutados, que quando gritam muitas vezes são silenciados”, enfatizou o bispo auxiliar. Um grito “em defesa da vida e da Saúde pública e pela construção de uma sociedade justa e igualitária”, destacou dom Hudson Ribeiro.

Ninguém pode esquecer que “o Grito dos excluídos e excluídas nos convoca a somar nossos esforços, a fortalecer a luta em defesa da democracia, em defesa da Saúde e de uma sociedade menos desigual, sinal do Reino de Deus que é de todos e para todos, onde a vida vem sempre em primeiro lugar”, um desafio para a Igreja de Manaus e daqueles e aquelas que se fizeram presentes para percorrer o Centro da cidade, em uma caminhada onde além das pastorais da arquidiocese de Manaus e do povo católico, também estavam presentes representantes dos movimentos sociais.



Em palavras do bispo auxiliar, “a vida vem sempre em primeiro lugar porque Jesus Cristo é o Senhor da Vida. É Jesus mesmo que grita eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Um grito que foi ecoado nas diversas falas que foram proferidas ao longo da caminhada, gritos que representam o clamor dos vulneráveis, principais vítimas de uma sociedade que não garante a Saúde e outras políticas públicas.

Nesse sentido, dom Hudson Ribeiro lembrou que “nós também gritamos em favor da saúde para todos, gritamos porque a saúde consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos”, lembrando que lá aparece como algo indissociável do direito à vida, que tem por inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. Um direito que também é recolhido no artículo 196 da Constituição brasileira de 1988, onde aparece que é direito de todos e dever do Estado, lembrou o bispo auxiliar.

Dom Hudson Ribeiro fez um chamado sobre a importância do abaixo assinado promovido com motivo do 30º Grito dos Excluídos e Excluídas, pedindo melhoras urgentes na Saúde Pública do Amazonas, insistindo em que isso é de direito da população. O bispo relatou o que o direito à saúde implica no Brasil, e disse que está associada com outros direitos básicos, como direito à educação, direito a saneamento básico, direito a segurança alimentar, direito a acesso à água, direito a atividades culturais, direito a segurança pública, a lazer, direito a ter o ambiente cuidado, direito dos povos da floresta serem respeitados e cuidados.



Finalmente, dom Hudson Ribeiro sublinhou que “nós estamos aqui para caminharmos juntos, para continuar gritando bem alto, enquanto os direitos humanos fundamentais não forem garantidos", convidando o povo a gritar o tema do 30º Grito dos Excluídos e Excluídas: “Vida em primeiro lugar. Todas as formas de vida importam, mas quem se importa?”.

Um Grito por Saúde que no Dia da Amazônia também clamou pelo cuidado da Casa Comum, da querida Amazônia, denunciando que a seca, que se prevê terá consequências ainda mais graves do que a seca histórica de 2023, e as queimadas, que cobrem de fumaça Manaus e muitas outras cidades do Brasil, é consequência dessa falta de cuidado, desse interesse pelo lucro que domina a vida daqueles que se empenham em destruir a Amazônia e a vida dos povos que a habitam.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1