terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Mons. Samuel Ferreira de Lima: “Estou indo em Manaus como irmão que quer caminhar junto, que quer aprender, estar a serviço”


No dia 25 de novembro, o Papa Francisco nomeou um novo bispo auxiliar para a arquidiocese de Manaus, frei Samuel Ferreira de Lima, que será ordenado bispo no dia 1º de fevereiro em Rodeio (SC). Ele diz estar “indo como irmão que quer caminhar junto, que quer aprender, que na experiência de vida que tenho, quero estar a serviço”, para uma missão “muito abrangente, uma nova realidade, com novas exigências, num contexto bem diferente daquele que estou vivendo”.

Ele vê a Igreja de Manaus como “uma igreja muito dinâmica, muito viva, engajada no profetismo, na vivência de fé”, onde espera vivenciar a relação com a natureza, com as criaturas, com a Casa Comum, com a diversidade de culturas presente na Amazônia, uma interculturalidade que ele já experimentou em seus dez anos como missionário em Angola.

Em uma Igreja marcada pela sinodalidade, o bispo eleito vê fundamental, “a gente perceber que nós somos parte de um todo e somos instrumentos, e que o Espírito de Deus sopra em todo batizado”, vendo no caminhar juntos algo que faz que sejamos “muito mais podemos ser efetivos na nossa missão”. Ele pede muitas orações para que a gente possa se abrir cada vez mais à ação do Espírito e se colocar realmente como instrumento de Deus naquilo que for necessário, naquilo que o povo espera e assim poder somar forças nessa caminhada junto ao povo de Deus nessa experiência de fé e vida”.

O senhor acaba de ser nomeado bispo auxiliar da arquidiocese de Manaus, como está vivenciando este serviço que o Papa Francisco lhe pediu recentemente?

É um processo de assimilação, pois a gente não espera na nossa vida como frade tamanha responsabilidade e missão. Então, como mestre de noviços, a gente está muito focado no trabalho formativo, na dinâmica própria de uma casa de formação. E com essa nova missão, tudo se amplia de uma forma muito abrangente, uma nova realidade, com novas exigências, num contexto bem diferente daquele que estou vivendo. Então tudo isso leva a gente a ter um turbilhão de ideias, sentimentos, e ao mesmo tempo se abandonar em Deus, porque só Ele que pode nos qualificar e dar condições de responder ao chamado que nos é feito.



O senhor fala de uma nova realidade, o que espera encontrar em Manaus, o que espera encontrar na igreja da Amazônia?

Pelo pouco que já vi, já li, é uma igreja muito dinâmica, muito viva, engajada no profetismo, na vivência de fé, creio que vou me enriquecer muito com essa experiência. Uma Igreja de uma caminhada longa, principalmente com os povos originários. É o Brasil raiz.

O senhor é franciscano e São Francisco inspirou o Papa Francisco em sua vida e em seu Magistério, especialmente no cuidado da casa comum, como mostra a Laudato si. O que representa para um franciscano chegar na Amazônia e o que essa casa comum, ainda preservada na região de Manaus, representa em sua vida como frade e em seu futuro serviço como bispo auxiliar?

Francisco sempre tem essa percepção do Cântico das Criaturas, da Casa Comum, como essa vivência e experiência do amor de Deus que tudo criou e tudo dispôs para nós. Viver agora na Amazônia vai ser encarnar concretamente essa busca de celebrar esse grande dom que é a natureza, os animais, toda a realidade que está ali presente e ao mesmo tempo tomar consciência dessa relação que não é apenas uma relação apenas antropológica, social, política, cultural, mas é uma relação de fé porque é relação com o próprio Deus.

Todas as criaturas são parte de nós. Então, o cuidado com a natureza é cuidado conosco mesmo. É perceber que fazemos parte de um todo e que isso deve ser motivado não só pela preservação nossa, mas no respeito e numa reverência à dimensão da grandeza de Deus que tudo criou e tudo que fez é bom. Então nós devemos trabalhar para salvaguardar esse bom que nos é dado e que dignifica o ser humano nessa relação.



O senhor iniciou sua vida presbiteral como missionário na África, em Angola. A interculturalidade é uma dimensão muito presente no magistério do Papa Francisco. Chega numa região muito marcada pela interculturalidade, onde a igreja tenta tenta levar essa diversidade cultural para sua vida pastoral, para a sua vida celebrativa. Por que é importante a convivência com culturas diferentes, e o que o senhor, ao longo do seu ministério presbiteral, foi descobrindo nessas culturas diversas?

A interculturalidade é uma grande riqueza, é uma possibilidade de a gente ampliar a percepção da vida, das pessoas, das relações, dos valores, e aprender cada dia com a vivência e a partilha dos conhecimentos, das vivências de fé. É uma experiência muito rica, porque Deus está em todos os lugares, a gente não vai levar Deus, a gente vai buscar Deus aonde a gente está indo, aonde a gente está sendo enviado. Cada povo, cada cultura, por sermos seres humanos, que tem na sua raiz esse desejo da transcendência, cada povo, cada grupo humano está, de alguma forma, fazendo essa busca, confrontando e partilhando suas vivências.

Em Angola, a gente vivia um tempo de guerra e foi muito importante conhecer o diálogo interreligioso, a interculturalidade, a compreensão da vida a través das várias etnias. Tudo isso vai mostrando, na diversidade a beleza e a grandeza de Deus se revelando. Muitas vezes, a gente quer reduzir muito a apenas uma cultura, uma visão religiosa e não percebe que é na diversidade que as coisas se complementam e se enriquecem e se tornam belas. Então eu vejo que vai ser uma experiência muito rica, da qual eu vou poder aprender muito e também poder partilhar um pouco que já vivi e experienciei no tempo de missão.

A sinodalidade é uma dinâmica muito presente na Igreja da Amazônia, na Igreja daqui de Manaus. A Arquidiocese de Manaus realizou o Sínodo arquidiocesano, atualmente está realizando o Sínodo com a juventude e também a Igreja, especialmente através do seu arcebispo, o cardeal Leonardo Steiner, participou da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade. Como essa dinâmica. que não é nova na vida da igreja, mas que o Papa Francisco tem se empenhado em impulsionar, pensa que pode condicionar, dinamizar seu ministério episcopal na Igreja de Manaus?

Vai ser fundamental, a gente perceber que nós somos parte de um todo e somos instrumentos, e que o Espírito de Deus sopra em todo batizado. Então, quanto mais a gente partilhar, refletir, buscar juntos caminhos, soluções, respostas para, de forma mais autêntica, viver a nossa fé, anunciar a boa nova do Evangelho, muito mais poderemos atingir, muito mais podemos ser efetivos na nossa missão.

Eu fico muito feliz que a Igreja Particular da Arquidiocese esteja de uma forma bem avançada nessa dinâmica da sinodalidade, porque isso abre muitas perspectivas e caminhos para incluir e valorizar o dom de cada um, as possibilidades que cada um tem, como Igreja, como Povo de Deus, como povo que está caminho. Nós não temos resposta para tudo, mas estamos num caminho de busca, de reflexão, de caminhada entre erros e acertos. Estamos caminhando e se ajudando mutuamente. Eu me sinto feliz e esperançoso de partilhar e caminhar junto com essa experiência que a Igreja da Arquidiocese já está fazendo.

A pouco menos de dois meses para sua chegada em Manaus, o senhor será acolhido no dia 9 de fevereiro numa celebração na catedral, o que o senhor gostaria de dizer à Igreja e ao povo de Arquidiocese de Manaus?

Que eu estou indo como irmão que quer caminhar junto, que quer aprender, que na experiência de vida que tenho, quero estar a serviço. Essa é a nossa vocação, servir, é o ministério do serviço, da doação, da entrega, do lava-pés. Vou com esse espírito e desejo, anseio, poder corresponder àquilo que o povo espera de um pastor que quer ter o cheiro das ovelhas, que quer caminhar junto com a caminhada que o povo já está fazendo. Eu tenho que me inserir nessa caminhada que o povo já está fazendo há muito mais tempo do que eu. Então eu vou com esse espírito e com essa perspectiva e com essa disposição.

Peço muitas orações para que a gente possa se abrir cada vez mais à ação do Espírito e se colocar realmente como instrumento de Deus naquilo que for necessário, naquilo que o povo espera e assim poder somar forças nessa caminhada junto ao povo de Deus nessa experiência de fé e vida.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Conferido o ministério de Leitor ao seminarista de Manaus Luiz Fernando Levati: “Em atenção à Tua Palavra”


Um passo a mais no processo formativo no Seminário Arquidiocesano São José de Manaus foi dado no dia 8 de dezembro de 2024 pelo seminarista Luiz Fernando Levati, que foi instituído no ministério de leitor, em celebração presidida por dom Joaquim Hudson Ribeiro, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Manaus, na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, Área Missionária São Francisco das Chagas. “Essa data marcou não apenas um passo importante na minha caminhada vocacional, mas também reafirmou a centralidade da Palavra de Deus em minha vida”, disse o novo leitor.

Durante a homilia, dom Hudson ressaltou a profundidade desse ministério, exortando a Luiz Fernando a permitir que a Palavra rumine dentro dele, para que não apenas a ouça, mas a escute com o coração. O bispo auxiliar comparou a missão de cada fiel à caixa de um violão, que ecoa as vibrações das cordas. Assim também devemos ser aqueles que fazem ressoar a Palavra de Deus de forma autêntica e vibrante, para que ao nos verem, as pessoas possam lembrar-se de um versículo bíblico e pensar na própria Palavra.

Com a mesma ternura e firmeza, Dom Hudson pediu a Luiz Fernando que ele fosse grande devoto de Nossa Senhora, acolhendo a Palavra como ela acolheu o Verbo, e transmitisse essa devoção àqueles que encontrar no caminho. Durante a celebração, realizada em sua comunidade de origem, o seminarista escutou daquela que foi sua catequista de Crisma, Kathllen Prestes, que relembrou sua trajetória na comunidade, um pouco de sua história de vida na comunidade: um jovem agitado, mas igualmente prestativo e zeloso, enquanto catequizando, coroinha e catequista. As palavras da catequista “emocionaram a todos e me fizeram refletir sobre como a comunidade moldou a minha vocação”, disse Luiz Fernando.



O seminarista reforçou a importância de sempre rezar pelas vocações e pediu que todos continuem confiando suas preces ao Senhor por meio da oração vocacional. Ele agradeceu especialmente a dom Hudson por ter aceitado o convite de conferir-lhe o ministério, e compartilhou com os presentes a frase de força que lhe guia no ministério que lhe foi conferido: “Em atenção à tua Palavra” (Lc. 5,5), explicando que “mesmo nos momentos mais desafiadores, quando minha vontade parece gritar mais forte, é essa Palavra que me sustenta, impulsiona e me faz lançar novamente as redes”.

A celebração foi encerrada com um café partilhado, símbolo da comunhão e da alegria que vivida juntos como comunidade. Luiz Fernando agradeceu a Deus por cada pessoa que fez parte desse momento especial e pediu que continuem rezando por ele, para que seja fiel à missão de fazer ressoar a Palavra de Deus em todos os lugares onde ele estiver. Finalmente, ele pediu “que Maria, a Mãe do Verbo, interceda para que eu acolha e transmita a Palavra com o mesmo amor e zelo com que ela o fez. Amém!”



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

domingo, 8 de dezembro de 2024

A Igreja de Manaus celebra e caminha com a Imaculada, “que cuida de nós e sempre está próxima de nós”


A religiosidade popular na Amazônia é uma clara expressão da fé do povo, que ao longo dos séculos, especialmente nas comunidades do interior, participava da Eucaristia nas festas dos padroeiros. Muitos daqueles que tiveram essas vivências hoje moram na capital do Amazonas, que neste dia 8 de dezembro celebrava sua padroeira.

Milhares desses manauaras, amazonenses, acompanharam a Maria nas ruas de Manaus e depois celebraram a Eucaristia campal nas proximidades da Catedral da Imaculada Conceição, a Matriz, como é conhecida pelo povo. Maria caminhou acompanhada pelo povo de Deus para se fazer presença de Deus na vida daqueles que a seguiam ou simplesmente a viam passar.

Ela que sempre se colocou ao serviço de Deus e de seu filho, quer ser exemplo para o povo, para “cada uma das nossas comunidades que servem a Jesus, que veio do seio de Maria”, segundo disse o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, em sua homilia. Em uma celebração onde o povo estava “para podermos louvar, bendizer e agradecer a Nossa Senhora, que tem acompanhado a nossa arquidiocese durante tanto tempo”, disse o arcebispo, que mostrou sua gratidão “por termos uma tão grande mãe, que cuida de nós e sempre está próxima de nós e a todos nos leva a Jesus.”



Uma celebração onde estavam presentes bispos, padres, diáconos, seminaristas, vida consagrada, ministros, ministras, seja da Palavra, da Eucaristia, “todos os ministérios que nós estamos distribuindo para o bem da nossa querida Arquidiocese de Manaus, para o bem das nossas comunidades”, enfatizou o cardeal Steiner. Ele destacou a atitude de Deus que se aproxima, que está através dos tempos, a buscar, até que ele mesmo procurou a mulher, a filha da graça do Senhor. Na saudação do anjo “havia uma busca de Deus, havia uma procura de Deus, havia uma proximidade de Deus”, destacou o arcebispo.

O cardeal Steiner enfatizou que “Deus nos amou tanto, Deus nos quis tanto, que escolheu Maria para se fazer presente no meio de nós. Ser um de nós, como nós, ou como dizia o grande pensador da igreja, não outro de nós, só nós, Deus nos fez”, ressaltando que “Ele nos procura, nos deseja sempre”. Ele destacou na figura de Maria o fato de ser cheia de graça, preservada do pecado, lembrando as palavras de Santo Agostinho, que fala de Maria dizendo: “Se forma em teu seio, enche o teu espírito, enche o teu ventre”.

Segundo o arcebispo de Manaus, “a bem-aventurada Virgem Mãe de Deus, a qual nunca foi inimiga de Deus, nem em ato, em razão do pecado atual, nem em razão do pecado original. Deus a preservou, Deus a preparou, porque quer, quis através dela nos buscar”, o que nos leva “a louvar e bendizer aquela que foi preservada”, aquela que “nos presenteou Jesus”. O cardeal lembrou duas palavras do Papa Francisco com relação a Nossa Senhora: admiração e fidelidade. Isso porque “Nossa Senhora ficou perturbada, diz Papa Francisco, interrogava-se sobre o significado. O significado dessas palavras, ela foi surpreendida, ela ficou impressionada, perturbada, ficou espantada”.



Nossa Senhora, lembrando as palavras de Papa Francisco, é cheia do amor de Deus. Nesse sentido, “é uma atitude nobre saber maravilhar-se com a presença de Deus. É uma atitude nobre perceber que Deus nos enche de graças. É uma atitude nobre, é uma admiração poder dizer, Deus está no meio de nós”. Por isso, “ao celebrarmos a Imaculada Conceição, queridos irmãos, queridas irmãs, tenhamos uma atitude na vida de admiração”, sublinhou o arcebispo.

Ele fez um chamado para que “admiremos as belezas, os dons que recebemos, as graças que recebemos, mas tenhamos também admiração pela beleza da natureza”. Junto com isso ter fidelidade às coisas mais simples, lembrando que “Nossa Senhora era uma mulher de aldeia, era uma mulher extremamente simples. Era uma daquelas meninas que viviam lá longe, no interior. E ela cuidava das coisas mais simples da casa. É por isso que ela se tornou cheia de graça”, reafirmando a necessidade de que “sejamos fiéis nas coisas pequenas, nas coisas simples, lá em casa, na comunidade”, sê-lo “nas pequenas coisas da nossa vida, as coisas mais simples da nossa vida, é porque é ali que acontece a vida e a graça de Deus”.

Finalmente, o cardeal Steiner pediu que nossa proximidade com Nossa Senhora, “nos leve especialmente a termos um grande amor pelos irmãos mais necessitados. Termos um grande amor a Deus para servir melhor os nossos irmãos e irmãs”, encerrando suas palavras com uma oração de São Francisco, que fala de Maria como a virgem feita Igreja.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: “Deus sai a procura. Ele sempre procura, principalmente quando seus filhos e filhas se afastam”


Na Solenidade da Imaculada Conceição, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia lembrando que “a Palavra de Deus a nos indicar o cuidado de Deus para conosco”. Segundo ele, “com o anúncio do anjo se cumprem as promessas antigas, as rogações das gerações são ouvidas, a esperança se acende entre a humanidade, se anuncia o nascer do Principe da Paz.”

O arcebispo ressaltou que “na Solenidade da Imaculada Conceição no tempo do Advento, fazemos memória das maravilhas que Deus operou na humanidade e, por isso, em Nossa Senhora. Entre as admiráveis ações de Deus está a sua Imaculada Conceição que a Igreja ao iniciar os preparativos do Santo Natal, celebra e bendiz.”

Analisando a primeira leitura, o cardeal disse que “ouvíamos e víamos como Deus sai a procura. Ele sempre procura, principalmente quando seus filhos e filhas se afastam. Logo que Adão comeu da fruta da árvore e se afastou, se escondeu, Deus o procura e chama: ‘Onde estás?’ (Gn 3,9). O distanciamento, o escondimento de Adão, é motivo da busca: Onde estás? É a busca, o apelo de um Pai, para que seu filho perdido retorne à casa paterna. Ele que o gerou, deseja que permaneça ao alcance de seu amor.”

Deus, fiel a si mesmo corre atrás daquele que Ele gerara para ser seu filho predileto. Ao homem que lhe dá as costas, Deus oferece o seu semblante, para que ele volte e permaneça face a face com Ele, para gozar da afeição de sua intimidade. A história do pecado não acaba com a relação do homem com Deus. Deus não se afasta, mas se aproxima sempre: Onde estás? Sempre que nos afastamos Ele nos busca: Onde estás?”, disse o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.



Segundo ele, “a procura de Deus, o desejo de permanecer junto a seus filhos e filhas, se manifesta no Evangelho com a saudação do anjo Gabriel: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’ Alegra-te, agraciada, o Senhor está contigo (Lc 1,28). Procura, Deus se faz nova presença! Uma presença na nossa humanidade e fragilidade. Se faz um de nós em Maria”.

“Maria é saudada pelo Arcanjo como a ‘cheia de graça’. ‘Cheia de graça’, significa: ‘Deus é contigo!’”, disse o cardeal. Ele lembrou que “Santo Agostinho acrescenta à saudação angélica: ‘Mais que contigo, Ele está em teu coração, se forma em teu seio, enche o teu espírito, enche o teu ventre’. Mais próximo Deus não poderia ser que fazer-se presença no ventre de Maria: no coração, no ventre. Aquele que tudo criara, de tudo cuidava, tudo harmonizava, agora feito humanidade, sendo gerado no ventre da Mulher.”

O cardeal enfatizou que “a Solenidade hoje celebrada está profundamente ligada a essa procura de Deus por cada um de nós. E para que pudesse permanecer na proximidade e melhor encontrar-nos, faz-se um de nós, como nós, buscando uma mulher na qual pudesse revestir-se de nossa humanidade. Uma mulher que recebesse Aquele que é sem pecado”. Citando João Duns Scotus, ele disse: “Há no céu santos que nunca foram inimigos de Deus em ato, por um pecado atual, como aconteceu com os santos inocentes; e muitos outros que, às vezes, foram inimigos de Deus, como os que pecaram mortalmente, e depois fizeram penitência. Há também ali a Bem-aventurada Virgem Mãe de Deus, a qual nunca foi inimiga de Deus, nem em ato em razão de um pecado atual, nem em razão do pecado original.” Ele enfatizou: “Sim, a Imaculada. Aquela que foi concebida sem pecado, para que pudesse conceber a Deus que resgata e liberta no seu amor.”

“Se Jesus, o Filho de Deus, que se tornou Filho do Homem, o Verbo que se fez carne, foi o primeiro a ser pensado e querido por Deus em sua intenção criadora, Maria, em virtude de ou com sua união com Cristo, foi a primeira a ser pensada por Deus entre os redimidos por Cristo. Em virtude de sua destinação à maternidade divina ela foi concebida sem a mácula do pecado: daí o título ‘i-maculada concepção’. O privilégio da pureza original, é em vista de sua nobre e divina missão: ‘Eis que conceberás no ventre e darás à luz um filho...’”, disse o cardeal.



Lembrando as palavras de Fernandes e Fassini, o cardeal disse que “ela já tinha concebido o Messias no seu espírito, pensamento e desejo, principalmente através da meditação das grandes promessas messiânicas. Agora, o conceberia no corpo, no seu ventre. Ela já o gerava na alma; agora o geraria no seu útero. Ela já estava disposta a dá-lo à luz, espiritualmente; agora lhe cabia a incumbência de dá-lo à luz, corporalmente. Ela, que estava sempre de prontidão na espera do Deus que vem, agora o traria em seu corpo e o mostraria ao mundo unido à carne de nossa humanidade. Nela, o Filho de Deus se faz carne, a carne de nosso ser.”

Nas palavras de Paulo aos Efésios, o cardeal enxerga “a procura de Deus, o cuidado de Deus, o amor de Deus”, afirmando que “esse hino das ‘Bênçãos espirituais em Cristo’, nos recorda de que em Jesus somos filhos e filhas adotivos. É nesse hino que encontramos a mais claro e precioso sentido do que é ser Igreja, o sentido da maternidade Maria e o sentido de sermos cristãos.”

Acrescentando, o cardeal Steiner destacou que “Paulo nos ensina a perceber a eleição e a consagração como fonte comum para todos os homens, toda Igreja. Nesse sentido a Igreja, as nossas comunidades, será sempre santa, imaculada, por causa de seu fundamento, Jesus, mas, pecadora por causa de nós, seus membros. Podemos e devemos dizer que a Igreja é a nova Maria da humanidade. Assim como o seio da Virgem Maria serviu para gerar o novo humano, na Pessoa do Filho de Deus, Jesus, agora, a Igreja - através dos seus fiéis - é eleita, chamada e enviada para ser o grande útero da nova humanidade; aquela que deve gerar os novos filhos de Deus e para Deus. Assim, Aquele era Filho ‘natural’, esses filhos ‘adotivos’ de Deus (Ef 1,5). Mas, sempre filhos como Aquele, com os mesmos direitos, dignidade, honra, privilégios, vocação, missão e deveres.”

“Por isso, o texto de hoje, fazendo eco a tudo o que vimos na primeira leitura e no Evangelho, termina nos assegurando que ‘Nele também nós recebemos a nossa parte. Segundo o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados a ser, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram sua esperança em Cristo’”, citando de novo Fernandes e Fassini.



Nas palavras de Papa Francisco, o cardeal afirmou que “ao meditar o Evangelho de hoje nos indica dois modos de participarmos de nos aproximarmos de Maria e por isso de nos reaproximarmos de Deus que sempre está à nossa procura: a admiração e a fidelidade. O evangelista Lucas nos dizia que Nossa Senhora ‘ficou muito perturbada e interrogava-se sobre o significado dessas palavras’ (v. 29). Ele nos ensina que ela ficou surpreendida, impressionada, perturbada: ficou espantada quando lhe chamam ‘cheia de graça’. Nossa Senhora é humilde, é cheia do amor de Deus. É uma atitude nobre: saber maravilhar-se com os dons de Deus, sem nunca os dar por certos, apreciando o seu valor, alegrando-nos com a confiança e a ternura que eles trazem. E é também importante testemunhar essa admiração perante os outros, falando humildemente dos dons de Deus, do bem recebido. Somos capazes de admirar as obras de Deus? No maravilhar-se e partilhamos com os outros as belezas dos dons?”

O segundo modo, lembrou o arcebispo de Manaus: “a fidelidade! Fidelidade nas coisas simples. No Evangelho, Nossa Senhora é encontrada como uma jovem simples, aparentemente igual a tantas outras que viviam na sua aldeia. Uma jovem que, precisamente graças à sua simplicidade, conservou puro aquele Coração Imaculado com o qual, pela graça de Deus, foi concebida. Para acolher a procura que Deus faz em seu amor, acolher os dons que Ele nos oferece, é melhor perceber o simples, pequeno. Nesses modos nos deixamos alcançar por Deus e viver da palavra e da vida de Jesus”.

“Alegremo-nos por celebrarmos a Imaculada Conceição, a cheia de graça, a Mãe de Deus! Alegremo-nos e agradeçamos por Deus, em Nossa Senhora, continuar a nos buscar para permanecermos nas cercanias de seu amor”, pediu o presidente do Regional Norte1.

Ele encerrou sua meditação convidando a rezar com São Francisco: “Salve, ó Senhora santa, Rainha santíssima, Mãe de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita Igreja, eleita pelo santíssimo Pai celestial, que vos consagrou por seu santíssimo e dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito! Em vós residiu e reside toda a plenitude da graça e todo o bem! Salve, ó palácio do Senhor! Salve, ó tabernáculo do Senhor! Salve, ó morada do Senhor! Salve, ó manto do Senhor! Salve, ó serva do Senhor! Salve, ó Mãe do Senhor, e salve vós todas, ó santas virtudes derramadas, pela graça e iluminação do Espírito Santo, nos corações dos fiéis transformando-os de infiéis em servos fiéis de Deus!”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

sábado, 7 de dezembro de 2024

Inaugurado o Barco Hospital São João XXIII, que neste domingo inicia sua missão levando saúde no Amazonas


Os rios da Amazônia e as pessoas que moram nas comunidades indígenas e ribeirinhas poderão disfrutar em breve de mais um gesto de amor através do barco São João XXIII na Providência de Deus, um nome que lembra a figuro do Papa bom, o Papa do sorriso e da caridade, que agora será presente na vida do povo da região. O barco, que inicia seus trabalhos neste domingo 8 de dezembro, servirá as comunidades locais, levando saúde e caridade.

Uma missa presidida pelo arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, que contou com a presença do bispo de Óbidos (PA), dom Bernardo Baumann, do bispo auxiliar de Manaus, dom Zenildo Lima, e do bispo emérito de Primavera do Leste-Paranatinga, dom Derek Byrne, iniciou um ato que contou com a presença de diversas autoridades do Estado do Amazonas e de outras regiões do Brasil.

O barco hospital é um sinal de saúde, segundo o cardeal Steiner, que agradeceu a Deus por “todas as mãos generosas que nos ajudaram na construção deste barco, para que ele pudesse agora servir as nossas comunidades ribeirinhas”. Igualmente agradeceu os freis Franciscanos que concretizaram a ideia.



O arcebispo de Manaus destacou como Deus vai em busca de Adão e Eva, que tinham se distanciado D´Ele, “vai em busca e encontra”. Uma procura que Deus também fez com Maria, “Ele procura Maria, aquela da aldeia lá de Nazaré, aquela jovem, adolescente, Deus a procura porque quer estar junto dos seus filhos e filhas”. O cardeal lembrou que “Deus teve a delicadeza de perguntar, você aceita? E ela disse sim. Sim, porque percebe que Deus a procurou, porque a buscou, e se fez um de nós”.

Uma atitude que se faz presente com o barco, “nós não esperaremos, nós buscaremos. Nós desejamos ir ao encontro e desejamos perguntar onde você está para poder cuidar da sua saúde, seja da saúde do corpo, seja da saúde do espírito”. Algo que é feito, “porque ele se fez providente no meio de nós, em Jesus. É em nome de Jesus que nós vamos fazer, em nome de Jesus que lá vamos estar, em nome de Jesus que queremos ser também evangelizadores através da caridade”, fazendo um chamado a “seguir os passos de Deus e fazer essa procura e buscar todos os irmãos e as irmãs que têm necessidade”, destacando o grande número de pessoas envolvidas no projeto que vai ajudar a ser “essa expressão de Deus”, e chegar “até os lugares onde nós achamos que não tem ninguém, mas lá tem alguém que está necessitado”.

O cardeal Steiner insistiu em “agradecer a todos que ajudaram, colaboraram, para que este barco possa ser realmente um sinal da nossa fraternidade, possa ser um sinal da justiça, onde todos têm direito à saúde, possa ser sinal de paz, mas possa ser também sinal de salvação”, abençoando os presentes com uma relíquia de São João XXIII que acompanhará os atendimentos do barco.



Segundo lembrou dom Bernardo Baumann, os barcos hospitais, Papa Francisco, São João Paulo II e São João XXIII, foi uma ideia que surgiu em 2013, querendo dar resposta à necessidade de muitas pessoas doentes que não conseguiam chegar nas cidades para serem atendidos, por falta de dinheiro para chegar o pelas longas filas que faziam eles ter perdido a esperança, surgindo a ideia de fazer realidade um hospital que vai até o paciente. Foi assim que foi plantada “uma semente de mostarda que de repente cresceu e se tornou uma grande árvore”.

O bispo de Óbidos destacou que muitas pessoas têm ajudado nesse sonho, “porque nós compreendemos também que a caridade nunca pode parar”, afirmando que quando “a gente coloca a caridade a funcionar, vai crescendo”. Em cinco anos, o barco hospital Papa Francisco já fez 500 mil atendimentos, resgatando muitas vidas, sobretudo na pandemia, sendo instrumento para levar esperança para as pessoas e levar paz para as pessoas”.

Um barco que é exemplo concreto de uma Igreja em saída, segundo frei Francisco Belotti, “não apenas uma igreja que só sai, mas uma Igreja que anuncia e que também proporciona assistência à cura das pessoas, como Jesus fazia”. Ele insistiu em que, com a ajuda das pessoas, nada é impossível, agradecendo às pessoas que ajudam para a construção e funcionamento dos barcos hospital, para que os milagres possam acontecer. O frei disse que “o estado do Amazonas hoje ganha uma pérola, uma preciosidade, uma preciosidade que é para toda a população, para que as pessoas possam encontrar saúde, e possam encontrar também o seu tratamento”.

O frei lembrou as palavras de São Francisco, que diz que “devemos começar fazendo o necessário, depois o possível e depois alcançar o impossível”, de São João XXIII: “o milagre acontece quando a vontade dos homens se une à vontade de Deus”, e de Gandhi: “carrego nos ombros toda a transformação que eu quero ver nesse mundo”. Palavras que inspiram o barco hospital, “um hospital que anda”, que “navega pelos rios”, ajudando as pessoas a superar as dificuldades que existem na Amazônia para chegar nos hospitais.



Um barco que “vai ao encontro das pessoas”, o que é muito importante, segundo frei Belotti, que disse que o barco “é o maior e o melhor plano de saúde que pode existir em nosso Brasil”, dado que “a gente chega, consulta, faz os exames, se necessário, interna, se necessário faz cirurgias, recebe alimentação, recebe os medicamentos e ainda com a possibilidade das ambulanchas levarem até a sua residência”. Ele agradeceu ao Ministério Público de Trabalho, ao Tribunal Regional de Trabalho, ao Governo do Estado do Amazonas, à Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, à Prefeitura de Manaus, ao Sistema Único de Saúde, e outras entidades e empresas, assim como à Arquidiocese de Manaus, que desde o primeiro momento abriu seus braços, abriu o coração. Ele não esqueceu dos colaboradores, que fazem seu trabalho de forma voluntária, fazendo que os milagres aconteçam todos os dias.

O Procurador Regional do Ministério Público do Trabalho do Amazonas, Dr. Jorsinei Dourado do Nascimento, destacou a importância de um barco, altamente equipado, que vai cuidar de milhares de ribeirinhos, comunidades indígenas e quilombolas, que estão situadas ao longo das sinuosas margens dos rios do Amazonas, e que tem uma missão de vida, ir ao encontro daqueles que mais necessitam, que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Na mesma linha, a subprocuradora geral do trabalho do Estado do Amazonas Dra. Ivana Auxiliadora Mendonça dos Santos, destacou a importância do barco como “poderosa ferramenta de inclusão e cuidado”, e “mitigando os cruéis desafios logísticos que as longas horas de navegação para obter atendimento médico representam para milhares de pessoas”.

Junto com Ministério Público do Trabalho, a empresa MARFRIG é uma das grandes parceiras do projeto. Segundo seu presidente, Marcus Molina, é uma honra fazer parte desse projeto, anunciando a construção de mais um barco. O ministro do Superior Tribunal de Justiça e Corregedor Nacional de Justiça, Mauro Campbell, destacou a figura de São João XXIII, que transformou sua fé em obras, lembrando as dificuldades de acesso à saúde na Amazônia. O barco hospital João XXIII conta com a parceria do Estado do Amazonas, que, em seu governador, Wilson Lima, agradeceu a realização do projeto, assegurando a parceria e os recursos para um barco que irá fazer parte da política pública de saúde do Estado do Amazonas.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1