terça-feira, 22 de junho de 2021

Economia de Francisco e Clara Regional Norte 1: necessária releitura histórica dos impactos coloniais nos territórios



O Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se reunia neste último sábado para refletir sobre a Economia de Francisco e Clara. Trata-se de uma proposta do Papa Francisco, que surgiu para provocar a reflexão de jovens até 35 Anos que sonham, desejam dar alma a economia. 

Estamos diante da possibilidade de uma “economia encarnada nas mais diversas sociedades, que inclui e não descarta, que integra e possibilita vivências de comunhão fraterna entre os povos”, segundo a irmã Elis Alberta Santos, uma das assessoras do encontro. “Essa economia trata de horizontalizar as lutas pelo direito da natureza e dos empobrecidos, articulando essas lutas num só grito, por novas economias”, segundo a religiosa. 

A base da proposta está na Laudato Si, e ao longo de mais de dois anos se vem refletindo nesse caminho. Na Amazônia, a Economia de Francisco e Clara nos remete, segundo a Ir. Elis, para uma leitura crítica da realidade. Segundo a religiosa, nascida em Manaus, “é importante decolonizar mentes e corpos, a partir de uma releitura histórica de como os impactos coloniais afetaram e ainda afetam cruelmente nossos territórios, desde pequenos lugares, aldeias para a construção das grandes cidades”. Segundo a religiosa da Divina Providência, “o capitalismo embasa todo o processo colonial e continua hoje invadindo e saqueando os territórios indígenas”. 

Tudo isso provocou fortes consequências, levando muita gente da Amazônia a negar “a nossa própria identidade”, consequência de “políticas assimilacionistas do estado nacional brasileio que criou estratégias legais para que deixássemos de existir”, segundo a Ir. Elis. Manaus é um claro exemplo disso, algo que tem provocado a reflexão da Articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara. Daí surgem questionamentos no campo ambiental, vítima de uma economia que mata.



A religiosa interligava a experiência mística de São Francisco de Assis com “a nossa experiência enquanto povo amazônico, do cuidado com a Mãe Terra, com o cosmo, com tudo que nos compõe e com o que propõe o Papa Francsico a partir desse chamado de ‘realmar a economia’ e no documento da Laudato Si que se entrelaça com Fratelli tutti”.

Segundo a assessora do encontro, se faz necessário, recolhendo as palavras do Papa Francisco, “dar voz aos pobres e vulneráveis na criação de novas políticas econômicas para que se tornem protagonistas de suas vidas e de todo contexto social”. A reflexão vai se concretizando nas vilas temáticas, nas casas de Francisco e Clara, como espaços de comunhão fraterna, de vivência e imersão, que ajudem a reconstruir novas interações ecológicas e econômicas, a partir de outras lógicas, dialógicas e inclusivas, afirma a Ir. Elis. Também foi destacada a Aliança Mulher Mãe Terra, relatando diferentes experiências em que isso vai se concretizando na Amazônia e no Brasil.

As Vilas Temáticas foram apresentadas pela Ir. Michele da Silva, quem mostrava que são subdivisões em grupos temáticos, que podem ser considerados como “laboratórios de diálogo, escuta e partilha de vida, com o propósito de encontrar soluções conjuntas e caminhos alternativos para uma nova economia”. Trata-se de uma construção conjunta entre os jovens e economistas experientes, “para pensar de forma crítica e sustentável, soluções para os problemas do mundo contemporâneo”, segundo a religiosa do Imaculado Coração de Maria.

Em cada realidade local estão sendo construídas cada uma das vilas temáticas. A religiosa foi apresentando-as, mostrando os elementos mais importantes de cada uma das vilas. São 12 as vilas que fazem parte da Economia de Francisco e Clara: Finanças e humanidade, buscando o bem-estar das pessoas, investimentos que trabalhem pelo bem comum; Agricultura e Justiça, atenta às mudanças climáticas, direitos trabalhistas e direito à água, o papel das mulheres; Energia e pobreza, transitando para uma economia de baixo carbono; Lucro e vocação, um trabalho que ajude a desenvolver os dons que cada pessoa tem.

 


Entre as vilas temáticas também está Negócios em transição, buscando respostas diante da crise ambiental, e provocando transições que não excluam os mais pobres e vulneráveis; Gestão e dom, promovendo a gratuidade nos negócios e uma gestão sustentável; Trabalho e cuidado, com novas perspectivas culturais da atividade do trabalho, sustentadas na “ecologia humana integral”; Políticas e felicidade, com novas dinâmicas, não sustentadas no individualismo; CO2 das desigualdades, buscando semear uma nova economia, construir uma cultura de paz e bem, fomentar o trabalho como atividade humana digna.

As vilas temáticas também abordam as questões de Vida e estilo de vida, que não seja distante da vida, que promova o não desperdiço e a equidade; Negócios e paz, um objetivo a ser ativamente promovido; Mulheres pela economia, mais inclusiva, equitativa e centrada nas pessoas, reconhecendo as capacidades das mulheres e criando novos modelos organizacionais, novas ferramentas de inclusão e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Na Amazônia, a Ir. Michele da Silva, buscando uma terminologia mais inculturada, falava de construir “Malocas”. Para isso se faz necessário identificar as iniciativas existentes, escuta das pessoas que dinamizam essa economia, subsidiar essas iniciativas e ampliar o trabalho, para que Economias alternativas, tenham espaço e fomentem um consumo consciente. Junto com isso, construir as Malocas ou Aldeias com as temáticas (grupos de estudo) ligadas a nossa realidade local. Também criar uma Casa ou mais Casas de Francisco, como referencial da ECOFRAN Norte 1. 

Do encontro participaram representantes das pastorais, do conselho de leigos, da vida religiosa, mas também representantes do mundo político e académico. Nas reflexões oferecidas pelos presentes foi enfatizado a necessidade de abrir os encontros e reflexões sobre a Economia de Francisco e Clara a espaços extra eclesiais, o que deve ajudar a espalhar suas propostas e se enriquecer com ideias de outros coletivos que não participam ativamente da vida da Igreja.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Nenhum comentário:

Postar um comentário