terça-feira, 15 de junho de 2021

Retiro Inaciano em território Tikuna



Na Amazônia, as fronteiras é um elemento próprio de quem chegou de fora, mas que não é assumido pelos povos originários. Uma das propostas do Sínodo para a Amazônia é que as Igrejas de fronteira possam dar passos para uma caminhada em comum.

Na Tríplice fronteira entre o Brasil, o Peru e a Colômbia, as igrejas da diocese de Alto Solimões e os Vicariatos de São José do Amazonas e Letícia, vão dando passos nesse sentido, acompanhando a vida das comunidades dos dois lados dos rios, que nunca foram vistos como algo que separa e sim como águas que unem.

Nessa região o povo predominante são os tikuna, espalhados secularmente num território que hoje faz parte de três países. A Igreja vem fazendo um trabalho de inculturação com esses povos, tentando anunciar o Evangelho em categorias que fazem parte da cultura e cosmovisões assumidas tradicionalmente. Nessa tentativa, o irmão Rodrigo Castells, realizava recentemente um retiro inaciano juntamente com 22 jovens e adultos, na sua maioria do povo tikuna, agentes pastorais da Paróquia da Sagrada Família de Nazaré e habitantes de várias reservas indígenas.

O jesuíta, que mora em Letícia (Colômbia), faz parte do Serviço Jesuíta Pan-Amazônico (SJPAM). Sua proposta, segundo ele relata, pretendia ser mais uma experiência que ajude a descobrir “Cristo, com um rosto amazónico”. Ao longo de três dias, foi partilhando a espiritualidade inaciana com um grupo “muito variado e numeroso”. Segundo ele, “muitos jovens participaram. Havia também um sábio avô e catequista, homens e mulheres adultos que colaboram na paróquia e, surpreendentemente, uma mãe e a sua filha também chegaram”.



Para muitos era algo novo, “eles estavam muito incertos sobre a proposta: o que seria um ‘Retiro Inaciano, Retiro de Silêncio ou Exercícios Espirituais’?”, relata o jesuíta. “Apenas alguns jovens tinham feito um retiro um par de vezes. O desejo de rezar era grande. Muitos quiseram participar. Sentiram que encontrar Jesus era dar a si próprios um tempo para assentar ou aliviar a carga e encontrar um sentido para o que estava para vir”. De fato, não teve espaço para acolher todos os que queriam participar, o que será resolvido com propostas similares mais adiante.

Mas nessas situações tão presentes na Amazônia, aconteceram fatos que segundo o irmão Rodrigo mostram que “Deus manda, nós acolhemos e seguimos a sua voz”. Ele mesmo conta que “enquanto os barcos saíam das comunidades com os participantes em direção ao local do retiro, chegaram as informações: ‘Irmão, tínhamos 4 lugares, mas vamos a 8, os rapazes queriam ir e entraram no barco, não havia maneira de lhes dizer que não. Não havia maneira de lhes dizer que não. Eles querem, precisam de rezar’. De outra comunidade: ‘Irmão, 5 pessoas iam, mas havia 10 no barco, veja o que pode fazer’”.

Diante dessa realidade, o jesuíta não duvida em afirmar que “tivemos de tomar conta do caos que Deus e os seus filhos nos trouxeram. Era tão belo e profundo, tão rico e abundante! Penso que Jesus e Santo Inácio estavam a regozijar-se com a situação”.

O coração religioso dos amazónicos, e especialmente o Tikuna, procura e deseja o encontro com Jesus, ‘O Abundante’ (pode-se muito bem chamá-lo assim nestes lugares)”, afirma o religioso. Diante disso pede a Deus que “nos conceda que podemos sustentar este e outros espaços de encontro”. Ele insiste em que “para nós jesuítas, a espiritualidade inaciana é o nosso principal tesouro. É o eixo, a base, da nossa PAU (Prioridades Apostólicas Universais). Os Exercícios Espirituais são um presente para a Igreja em cada tempo, cultura e lugar. Sonhamos em fazer com eles uma viagem eclesial de encontro com Jesus, a fim de construir a vida sobre a rocha”. Por isso, ele conclui pedindo que “do encontro com o ‘Abundante’, possa emergir a Igreja com que sonhamos, com um rosto amazônico, com um rosto Tikuna”.


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 - Com informações e fotos de jesuítas.lat

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