Na Amazônia, as fronteiras é um elemento próprio de quem
chegou de fora, mas que não é assumido pelos povos originários. Uma das
propostas do Sínodo para a Amazônia é que as Igrejas de fronteira possam dar
passos para uma caminhada em comum.
Na Tríplice fronteira entre o Brasil, o Peru e a Colômbia,
as igrejas da diocese de Alto Solimões e os Vicariatos de São José do Amazonas
e Letícia, vão dando passos nesse sentido, acompanhando a vida das comunidades
dos dois lados dos rios, que nunca foram vistos como algo que separa e sim como
águas que unem.
Nessa região o povo predominante são os tikuna, espalhados
secularmente num território que hoje faz parte de três países. A Igreja vem
fazendo um trabalho de inculturação com esses povos, tentando anunciar o
Evangelho em categorias que fazem parte da cultura e cosmovisões assumidas
tradicionalmente. Nessa tentativa, o irmão Rodrigo Castells, realizava
recentemente um retiro inaciano juntamente com 22 jovens e adultos, na sua
maioria do povo tikuna, agentes pastorais da Paróquia da Sagrada Família de
Nazaré e habitantes de várias reservas indígenas.
O jesuíta, que mora em Letícia (Colômbia), faz parte do Serviço Jesuíta Pan-Amazônico (SJPAM). Sua proposta, segundo ele relata, pretendia ser mais uma experiência que ajude a descobrir “Cristo, com um rosto amazónico”. Ao longo de três dias, foi partilhando a espiritualidade inaciana com um grupo “muito variado e numeroso”. Segundo ele, “muitos jovens participaram. Havia também um sábio avô e catequista, homens e mulheres adultos que colaboram na paróquia e, surpreendentemente, uma mãe e a sua filha também chegaram”.
Para muitos era algo novo, “eles estavam muito incertos
sobre a proposta: o que seria um ‘Retiro Inaciano, Retiro de Silêncio ou
Exercícios Espirituais’?”, relata o jesuíta. “Apenas alguns jovens tinham feito
um retiro um par de vezes. O desejo de rezar era grande. Muitos quiseram participar.
Sentiram que encontrar Jesus era dar a si próprios um tempo para assentar ou
aliviar a carga e encontrar um sentido para o que estava para vir”. De fato,
não teve espaço para acolher todos os que queriam participar, o que será
resolvido com propostas similares mais adiante.
Mas nessas situações tão presentes na Amazônia, aconteceram
fatos que segundo o irmão Rodrigo mostram que “Deus manda, nós acolhemos e
seguimos a sua voz”. Ele mesmo conta que “enquanto os barcos saíam das
comunidades com os participantes em direção ao local do retiro, chegaram as
informações: ‘Irmão, tínhamos 4 lugares, mas vamos a 8, os rapazes queriam ir e
entraram no barco, não havia maneira de lhes dizer que não. Não havia maneira
de lhes dizer que não. Eles querem, precisam de rezar’. De outra comunidade: ‘Irmão,
5 pessoas iam, mas havia 10 no barco, veja o que pode fazer’”.
Diante dessa realidade, o jesuíta não duvida em afirmar que “tivemos
de tomar conta do caos que Deus e os seus filhos nos trouxeram. Era tão belo e
profundo, tão rico e abundante! Penso que Jesus e Santo Inácio estavam a
regozijar-se com a situação”.
“O coração religioso dos amazónicos, e especialmente o
Tikuna, procura e deseja o encontro com Jesus, ‘O Abundante’ (pode-se muito bem
chamá-lo assim nestes lugares)”, afirma o religioso. Diante disso pede a Deus que
“nos conceda que podemos sustentar este e outros espaços de encontro”. Ele
insiste em que “para nós jesuítas, a espiritualidade inaciana é o nosso
principal tesouro. É o eixo, a base, da nossa PAU (Prioridades Apostólicas
Universais). Os Exercícios Espirituais são um presente para a Igreja em cada
tempo, cultura e lugar. Sonhamos em fazer com eles uma viagem eclesial de
encontro com Jesus, a fim de construir a vida sobre a rocha”. Por isso, ele
conclui pedindo que “do encontro com o ‘Abundante’, possa emergir a Igreja com
que sonhamos, com um rosto amazônico, com um rosto Tikuna”.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 - Com informações e fotos de jesuítas.lat
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