domingo, 5 de setembro de 2021

Dom Leonardo: “Não tratamos a Amazônia como criação, como criatura de Deus”


Viver na Amazônia nos ajuda a entender quanto ela serve o mundo, mas também a defendê-la, a dizer claramente que ela não pode ser explorada. Ao celebrar o Dia da Amazônia, Dom Leonardo Steiner, na Eucaristia celebrada na beira do Rio Negro, convidava a trazer para a celebração todos os elementos que fazem parte da Amazônia.

O arcebispo de Manaus, que denunciou que “não tratamos a Amazônia como terra de Deus, como criação, como criatura de Deus”, convidou os presentes no Porto de São Raimundo de Manaus e aqueles que acompanhavam a celebração através das redes sociais a se questionar, sendo muitas as perguntas daquele que pastoreia a arquidiocese com maior população de toda a Pan-Amazônia.

Dom Leonardo convidava a se perguntar: “Como estamos escutando a realidade da Amazônia? Que palavras, atitudes, temos em relação à nossa Amazônia?”. Ele se questionava sobre a capacidade dos seres humanos para respeitar, para escutar a beleza da Amazônia, mas também o sofrimento, a delapidação, a destruição, a dominação cada vez maiores em relação a nossa Amazônia.



São situações diante das quais somos chamados a ter uma palavra, a não ficar mudos, a dizer aquilo que “realmente desperta as pessoas para um cuidado maior, para que a nossa Amazônia não seja apenas preservada, mas se torne a moradia, o lugar”, insistia o arcebispo de Manaus. Ele também chamava a escutar a realidade ecológica, algo que pede o Papa Francisco, a “ouvir a beleza que existe na natureza”, seus sons e beleza. Mas também as culturas, a diversidade cultural, sem querer impor outras culturas.

Essa escuta também deve ser direcionada às aflições dos povos da Amazônia, dos povos indígenas, também “aqueles povos que não desejam contato conosco ou que desejam preservar a sua identidade e a sua própria cultura”. Uma escuta que nos faça dar importância “à diversidade social, às dificuldades sociais, à diversidade ecológica, à diversidade das culturas”.

Essa escuta também deve estar presente na Igreja, segundo dava a entender Dom Leonardo Steiner, se questionando se “ouvimos a realidade da nossa Igreja que está na Amazônia, somos capazes de ouvir a diversidade das culturas e tentar inserir dentro da vida da Igreja esses ministérios, esta verdadeira espiritualidade e cultura?”. O arcebispo pedia escutar “para poder integrar, para ter palavra de integração, palavra de esperança, palavra de comunhão, palavra de fraternidade”, e evitar fazer parte daquelas pessoas “que ajudam a cada vez mais destruir a Amazônia e desfraternizar a Amazônia”.



Nas suas palavras, o arcebispo de Manaus fez um convite a “ser pessoas que a través da palavra e da ação realmente cuidam da Amazônia, sabem falar da Amazônia, sabem poetar na Amazônia, e porque poetam, usam a palavra, defendem a Amazônia, e cada vez mais moram melhor na Amazônia”.

Após “agradecer a Deus pela nossa Amazônia”, e pela sua diversidade, Dom Leonardo pediu “a graça de realizarmos os sonhos do Papa Francisco para com nossa Amazônia”. Ao falar do sonho social, lamentava “quanta pobreza, quanta injustiça, quanta matança, quanta destruição, tudo por causa do dinheiro, do lucro”. O arcebispo de Manaus agradecia no sonho cultural, pelas culturas, gestos, danças, cantos, poesias, realidades sempre presentes numa Amazônia com grande diversidade e riqueza cultural.

“Admirar nossa natureza, louvar com nossa natureza, que as criaturas todas sejam tratadas como irmãos, como irmãs, e não como posse e dominação”, ajuda a fazer realidade o sonho ecológico, refletia Dom Leonardo Steiner. Ele também concretizava a realização do sonho eclesial, no chamado a “ser uma Igreja testemunhal, profética, misericordiosa, consoladora, presente, sinal do Reino de Deus”. Sonhos que aos poucos somos chamados a tornar realidade, mas para isso precisamos remar juntos. Será que a gente está disposto a isso?


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1



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