sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Dom Walmor: “O Brasil está sendo contaminado por um sentimento de raiva e de intolerância”


É possível sonhar com um Brasil diferente, com um país onde somos todos irmãos? Esse pode ser considerado o grande desafio que coloca na frente da sociedade brasileira o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Para isso, Dom Walmor Oliveira de Azevedo parte da ideia de que “somos irmãos inclusive daqueles com quem não concordamos”, uma afirmação que deve “reconfigurar a nossa interioridade”. Isso se torna uma grande urgência, “pois o Brasil está sendo contaminado por um sentimento de raiva e de intolerância”. Uma realidade que se faz visível no fato de que “muitos em nomes de ideologias dedicam-se a agressões, ofensas, chegando ao absurdo de defender o armamento da população”.

O cristão “deve ser agente da paz, e a paz não se constrói com armas”, insiste Dom Walmor. O arcebispo de Belo Horizonte cita as palavras do Papa Francisco em Fratelli tutti, uma fonte de inspiração para “o nosso cuidado com os que sofrem”. Esse sofrimento está presente nos quase 20 milhões de brasileiros que passam fome, pais e mães de família sem alimento a oferecer para seus filhos, marcados por uma miséria que fere, vítimas do desemprego e da alta inflação, “acentuando gravemente exclusões sociais”.



O presidente da CNBB urge por políticas públicas, que ajudem “para a retomada da economia e a inclusão dos mais pobres no mercado de trabalho”. Ele lembra dos povos originários, insistindo em que “a nossa pátria não começa com a colonização europeia”, destacando a urgência de que “a relação com o Planeta deve ser pautada pela harmonia”.

Dom Walmor denuncia que “os povos indígenas, historicamente perseguidos, dizimados, enfrentam grave ameaça”. A causa disso é a “pressão de um poder econômico extrativista, ganancioso, que tudo faz para exaurir nossos recursos naturais. Esse poder tenta manipular instâncias de decisão, alterar marcos legais, para avançar sobre terras indígenas, dizimando a natureza, os povos originários e a sua cultura”. Por isso, insiste em que “é dever cristão estar ao lado dos pequeninos, dos que sofrem, defender os índios e as suas culturas”.

O arcebispo de Belo Horizonte chama a mudar hábitos, a reconhecer as ameaças das mudanças climáticas, a ver que “o consumo desmedido alavanca um modelo econômico devastador, que leva ao aquecimento global”. Isso, segundo os cientistas, provoca “a gradativa queda do volume de água nos mananciais de nosso país”, consequência da exploração desmedida e irracional do solo, com a derrubada de florestas. Ele faz um apelo a não deixar que o Brasil, “seja devastado e torne-se terra arrasada”. Além de modos mais conscientes de consumo, exige a fiscalização das autoridades.


O exercício qualificado da cidadania deve inspirar o Dia 7 de setembro, segundo o arcebispo, que afirma que “a participação cidadã na política, reivindicando direitos, com liberdade, está diretamente relacionada com o fortalecimento das instituições que sustentam a democracia”. Por isso, apela a não se deixar “convencer por quem agride os poderes legislativo e judiciário”, atitude cada vez mais presente no poder executivo.

Pedindo não aceitar agressões às instituições democráticas, mostra que “agredir, eliminar, hostilizar, ignorar o excluir”, não combinam com democracia. A mesma atitude solicita diante das manifestações anunciadas para o Dia da Pátria, pedindo respeitar a vida e a liberdade dos semelhantes, que devem ser vistos como parte de nossa grande família humana. Para o arcebispo de Belo Horizonte, “as desavenças não podem justificar a violência, a intolerância nos distancia da justiça e da paz, afasta-nos de Deus, somos todos irmãos!”.

Dom Walmor, diante do Dia da Pátria chama a “rezar juntos para que o Brasil encontre um caminho novo para superar as suas crises, e junto com o mundo vença esta pandemia”. Ele apela a “que cada pessoa procure se vacinar e respeitar as medidas de segurança, fundamentais para se evitar a propagação da doença”, como modo de “cuidar de si e do outro”, o que é definido como “um compromisso ético, uma tarefa cristã”.

Finalmente pede “construir o país que sonhamos”, como uma tarefa a ser realizada cada dia, uma reflexão do Papa Francisco. Para isso pede a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e a bênção de Deus. Não esqueçamos as palavras de Dom Hélder, sonhemos juntos, pois "um sonho sonhado sozinho é apenas um sonho. Um sonho sonhado juntos é o princípio de uma nova realidade".


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

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