É possível sonhar com um Brasil diferente, com um país onde
somos todos irmãos? Esse pode ser considerado o grande desafio que coloca na
frente da sociedade brasileira o presidente da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB).
Para isso, Dom Walmor Oliveira de Azevedo parte da ideia de
que “somos irmãos inclusive daqueles com quem não concordamos”, uma afirmação que
deve “reconfigurar a nossa interioridade”. Isso se torna uma grande urgência, “pois
o Brasil está sendo contaminado por um sentimento de raiva e de intolerância”. Uma
realidade que se faz visível no fato de que “muitos em nomes de ideologias dedicam-se
a agressões, ofensas, chegando ao absurdo de defender o armamento da população”.
O cristão “deve ser agente da paz, e a paz não se constrói com
armas”, insiste Dom Walmor. O arcebispo de Belo Horizonte cita as palavras do
Papa Francisco em Fratelli tutti, uma fonte de inspiração para “o nosso cuidado
com os que sofrem”. Esse sofrimento está presente nos quase 20 milhões de brasileiros
que passam fome, pais e mães de família sem alimento a oferecer para seus
filhos, marcados por uma miséria que fere, vítimas do desemprego e da alta
inflação, “acentuando gravemente exclusões sociais”.
O presidente da CNBB urge por políticas públicas, que ajudem
“para a retomada da economia e a inclusão dos mais pobres no mercado de trabalho”.
Ele lembra dos povos originários, insistindo em que “a nossa pátria não começa
com a colonização europeia”, destacando a urgência de que “a relação com o Planeta
deve ser pautada pela harmonia”.
Dom Walmor denuncia que “os povos indígenas, historicamente
perseguidos, dizimados, enfrentam grave ameaça”. A causa disso é a “pressão de
um poder econômico extrativista, ganancioso, que tudo faz para exaurir nossos
recursos naturais. Esse poder tenta manipular instâncias de decisão, alterar
marcos legais, para avançar sobre terras indígenas, dizimando a natureza, os
povos originários e a sua cultura”. Por isso, insiste em que “é dever cristão
estar ao lado dos pequeninos, dos que sofrem, defender os índios e as suas
culturas”.
O arcebispo de Belo Horizonte chama a mudar hábitos, a reconhecer
as ameaças das mudanças climáticas, a ver que “o consumo desmedido alavanca um
modelo econômico devastador, que leva ao aquecimento global”. Isso, segundo os
cientistas, provoca “a gradativa queda do volume de água nos mananciais de
nosso país”, consequência da exploração desmedida e irracional do solo, com a
derrubada de florestas. Ele faz um apelo a não deixar que o Brasil, “seja devastado
e torne-se terra arrasada”. Além de modos mais conscientes de consumo, exige a
fiscalização das autoridades.
O exercício qualificado da cidadania deve inspirar o Dia 7
de setembro, segundo o arcebispo, que afirma que “a participação cidadã na política,
reivindicando direitos, com liberdade, está diretamente relacionada com o
fortalecimento das instituições que sustentam a democracia”. Por isso, apela a não
se deixar “convencer por quem agride os poderes legislativo e judiciário”, atitude
cada vez mais presente no poder executivo.
Pedindo não aceitar agressões às instituições democráticas,
mostra que “agredir, eliminar, hostilizar, ignorar o excluir”, não combinam com
democracia. A mesma atitude solicita diante das manifestações anunciadas para o
Dia da Pátria, pedindo respeitar a vida e a liberdade dos semelhantes, que
devem ser vistos como parte de nossa grande família humana. Para o arcebispo de
Belo Horizonte, “as desavenças não podem justificar a violência, a intolerância
nos distancia da justiça e da paz, afasta-nos de Deus, somos todos irmãos!”.
Dom Walmor, diante do Dia da Pátria chama a “rezar juntos
para que o Brasil encontre um caminho novo para superar as suas crises, e junto
com o mundo vença esta pandemia”. Ele apela a “que cada pessoa procure se
vacinar e respeitar as medidas de segurança, fundamentais para se evitar a
propagação da doença”, como modo de “cuidar de si e do outro”, o que é definido
como “um compromisso ético, uma tarefa cristã”.
Finalmente pede “construir o país que sonhamos”, como uma
tarefa a ser realizada cada dia, uma reflexão do Papa Francisco. Para isso pede
a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e a bênção de
Deus. Não esqueçamos as palavras de Dom Hélder, sonhemos juntos, pois "um
sonho sonhado sozinho é apenas um sonho. Um sonho sonhado juntos é o princípio
de uma nova realidade".
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1
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