terça-feira, 5 de julho de 2022

Comissão Episcopal para a Amazônia: a missão que marcou a vida do “Prefeito do Clero Emérito”


A partida física das pessoas faz com que as reações apareçam, ainda mais quando estamos diante de alguém que marcou a vida da sociedade e da Igreja. Sobre Dom Cláudio tem se falado muitas coisas após sua morte, mas a gente quer lembrar daquilo que marcou sua vida nos últimos anos.

Em 2010, o Cardeal Hummes deixou a Congregação do Clero, onde era prefeito desde 2006, e voltou para o Brasil. Aos 76 anos de idade, a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o “cardeal aposentado” assumiu a Comissão Episcopal para a Amazônia em 2011, e começou visitar as igrejas da Amazônia.

Mesmo idoso, ele não hesitou em se deslocar até os lugares mais distantes para escutar, para conhecer a vida dos povos e assumir como próprias as causas da Amazônia, das gentes que a habitam. Lembro o relato de Dom Edson Damian sobre uma vista de Dom Cláudio à comunidade indígena de Iauraté, no Rio Uaupés, na fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Segundo o Bispo de São Gabriel da Cachoeira, o cardeal embarcou na voadeira, navegou durante horas, e sentou-se com paciência para escutar o povo, para descobrir a riqueza de sua vida, mas também os clamores nascidos das ameaças que atingem os povos da Amazônia.



Dom Cláudio será lembrado por ter sido presidente da Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), relator geral do Sínodo para a Amazônia, mas tudo isso foi consequência da missão assumida como presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, uma missão que fez com ele pudesse fazer realidade um sonho que ele sempre teve: ser missionário na Amazônia.

Em Dom Cláudio podemos dizer que se tornaram realidade as palavras de alguém que pode ser considerado uma referência para a vida da Igreja na Amazônia no pós Concílio Vaticano, Dom Pedro Casaldáliga. Que foi Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, disse que “minhas causas valem mais do que minha vida”. Mesmo com a saúde debilitada, o Cardeal Hummes continuou doando sua vida pela Amazônia até o fim.

Aos poucos, as águas da Amazônia foram inundando sua vida, alimentando sua existência, até fazer transbordar ao mundo aquilo que aos poucos ia descobrindo. Sempre pensando na vida em plenitude, dos povos e de um bioma cada vez mais ameaçado. A voz profética de Dom Cláudio foi chegando mais longe e foi ficando mais forte, mais firme, ajudando muitas pessoas, na Igreja e na sociedade, a não ficar indiferentes diante do necessário cuidado de uma região e dos povos cada dia mais ameaçados.



Uma voz que denunciou o avanço do garimpo, do desmatamento, do agronegócio, e de tantas realidades que foram degradando o bioma amazônico. Uma voz que sempre chamou a estar atentos à destruição da Amazônia, para daí “nos engajar na luta pela preservação e no cuidado com a Amazônia e com a Casa Comum”, segundo lembrou na comemoração do Dia da Amazônia, em 5 de setembro de 2021.

Podemos dizer que o legado de Dom Cláudio deve nos levar a olhar o futuro desde aquilo que ele falou naquele 5 de setembro de 2021: “há que se ter esperança, e há também que se enveredar na construção de modelos sustentáveis de produção, consumo e economia”. Isso vai se tornar realidade concreta na medida em que consigamos realizar “pequenos gestos simbólicos, como plantar uma árvore, revitalizar o jardim de casa ou buscar informações sobre como e onde são produzidos os alimentos que compartilhamos nas mesas de nossas casas”.

Ainda na Capela Sistina, no momento em que o Cardeal Bergoglio passou a ser o Papa Francisco, Dom Cláudio lhe disse uma frase lembrada muitas vezes desde aquele momento: “Não esqueça dos pobres”. Francisco nunca esqueceu dos pobres, mas também não esqueceu da Amazônia, duas causas partilhadas por dois grandes amigos.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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