segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Cultura e espiritualidade marcam encontro transfronteiriço do Povo Magüta


Um encontro para refletir sobre os quatro pilares da nação Magüta: Maü (origem), Naé (território), porá (cultura), fá (espiritualidade). Este foi o objetivo do encontro realizado na reserva indígena de Nazaré (Colômbia), de 25 a 27 de agosto de 2023, baseado na reflexão ancestral sobre a cultura, espiritualidade e identidade Magüta.

Conforme relatado pelo Padre Ferney Pereira Augusto, sacerdote diocesano do Vicariato Apostólico de Letícia, indígena Ticuna, pároco da Sagrada Família de Nazaré (Colômbia), membro da coordenação do Projeto Igreja Sinodal com rosto Magüta, projeto implementado por um grupo de missionários da Tríplice Fronteira Brasil-Colômbia-Peru, o projeto contou com a participação de avós sábios (xamãs), médicos tradicionais, jovens, avôs, catequistas e agentes de pastoral das reservas indígenas de El Progreso, Arara, Nazaré, na Colômbia e de Umariaçu e dos Lassalistas de Tabatinga, na diocese de Alto Solimões.

Grimaldo Ramos Bautista, autoridade Magüta e sábio da comunidade de Nazaré, refletiu sobre a importância da cultura da nação Magüta, especialmente a tradicional festa da puberdade (pelazón), sua importância na harmonia que os membros do povo Magüta devem ter com a natureza, com Deus e consigo mesmos.



Outro membro da comunidade de Nazaré, Celestino Careca, médico tradicional (xamã), ajudou a aprofundar o território da nação Magüta, os lugares sagrados, as estradas, a cartografia Magüta e o grande território Magüta que atravessa a Tríplice Fronteira Brasil - Colômbia - Peru, mostrando que o povo Magüta não tem limites, que a terra é de todos e por isso deve ser cuidada como uma única casa comum.

A origem do povo Magüta foi o ponto central da reflexão do xamã Javier Ramos, professor da reserva indígena de Arara, que enfocou a criação do mundo, a origem do homem Magüta, os clãs, refletindo sobre a importância de conhecer e praticar as tradições ancestrais para uma boa convivência na comunidade e sua relação com o mundo ocidental.

O nascimento e o batismo tradicional, o rito da puberdade, a origem dos médicos tradicionais e a medicina ancestral como alternativa de cura espiritual e corporal do povo Magüta, foram elementos presentes na reflexão de Robinson Ríos, um jovem aprendiz de xamã, que destacou a importância dos xamãs na sobrevivência espiritual do povo Magüta e no cuidado com o meio ambiente.




O encontro cultural e espiritual foi desenvolvido em torno do diálogo ancestral e da prática espiritual, destacando a importância da vida espiritual para o povo Magüta. São espaços onde o povo Magüta se encontra para a cura física e espiritual, um espaço para os avós e médicos tradicionais, onde curam e protegem o povo das suas doenças corporais e problemas espirituais. O encontro foi uma oportunidade para o xamã Magüta Sixto Ramos, da reserva indígena de Progreso, tratar pacientes com dores no corpo, especialmente as causadas por uma maldição de bruxaria.

Humberto Pascual, xamã do povo Magüta da reserva indígena de Nazaré, especialista em tratamento de maldições de feitiçaria, proteção e cuidado do mundo espiritual, recomendou aos participantes a preservação da cultura, da espiritualidade ancestral, através da prática cultural e da conservação da casa do saber (maloca), que é o lugar sagrado mais próximo que a nação Magüta tem para cuidar do povo Ticuna ou Magüta.

Um encontro em que os participantes foram nutridos espiritual, corporal e cognitivamente pelas reflexões e diálogos com os pajés, que lhes deram recomendações sobre o cuidado com o mundo natural, o mundo sobrenatural, o mundo espiritual e o mundo terreno. Foi sublinhado que estes mundos estão hoje quebrados devido à não prática e à não transmissão dos conhecimentos ancestrais à nova geração do povo Magüta, que está impregnada pela contaminação do mundo exterior (Korí, ocidental), o que tem enfraquecido a força espiritual, cultural e social do povo Magüta atual.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Nenhum comentário:

Postar um comentário