Um encontro para refletir sobre os quatro pilares da
nação Magüta: Maü (origem), Naé (território), porá (cultura), fá
(espiritualidade). Este foi o objetivo do encontro realizado na reserva
indígena de Nazaré (Colômbia), de 25 a 27 de agosto de 2023, baseado na
reflexão ancestral sobre a cultura, espiritualidade e identidade Magüta.
Conforme relatado pelo Padre Ferney Pereira Augusto,
sacerdote diocesano do Vicariato Apostólico de Letícia, indígena Ticuna, pároco
da Sagrada Família de Nazaré (Colômbia), membro da coordenação do Projeto
Igreja Sinodal com rosto Magüta, projeto implementado por um grupo de
missionários da Tríplice Fronteira Brasil-Colômbia-Peru, o projeto contou com a
participação de avós sábios (xamãs), médicos tradicionais, jovens, avôs,
catequistas e agentes de pastoral das reservas indígenas de El Progreso, Arara,
Nazaré, na Colômbia e de Umariaçu e dos Lassalistas de
Tabatinga, na diocese de Alto Solimões.
Grimaldo Ramos Bautista, autoridade Magüta e sábio da
comunidade de Nazaré, refletiu sobre a importância da cultura da nação Magüta,
especialmente a tradicional festa da puberdade (pelazón), sua importância na
harmonia que os membros do povo Magüta devem ter com a natureza, com Deus e
consigo mesmos.
Outro membro da comunidade de Nazaré, Celestino
Careca, médico tradicional (xamã), ajudou a aprofundar o território da nação
Magüta, os lugares sagrados, as estradas, a cartografia Magüta e o grande
território Magüta que atravessa a Tríplice Fronteira Brasil - Colômbia - Peru,
mostrando que o povo Magüta não tem limites, que a terra é de todos e por isso
deve ser cuidada como uma única casa comum.
A origem do povo Magüta foi o ponto central da
reflexão do xamã Javier Ramos, professor da reserva indígena de Arara, que
enfocou a criação do mundo, a origem do homem Magüta, os clãs, refletindo sobre
a importância de conhecer e praticar as tradições ancestrais para uma boa
convivência na comunidade e sua relação com o mundo ocidental.
O nascimento e o batismo tradicional, o rito da
puberdade, a origem dos médicos tradicionais e a medicina ancestral como
alternativa de cura espiritual e corporal do povo Magüta, foram elementos
presentes na reflexão de Robinson Ríos, um jovem aprendiz de xamã, que destacou
a importância dos xamãs na sobrevivência espiritual do povo Magüta e no cuidado
com o meio ambiente.
O encontro cultural e espiritual foi desenvolvido em
torno do diálogo ancestral e da prática espiritual, destacando a importância da
vida espiritual para o povo Magüta. São espaços onde o povo Magüta se encontra
para a cura física e espiritual, um espaço para os avós e médicos tradicionais,
onde curam e protegem o povo das suas doenças corporais e problemas
espirituais. O encontro foi uma oportunidade para o xamã Magüta Sixto Ramos, da
reserva indígena de Progreso, tratar pacientes com dores no corpo, especialmente
as causadas por uma maldição de bruxaria.
Humberto Pascual, xamã do povo Magüta da reserva
indígena de Nazaré, especialista em tratamento de maldições de feitiçaria,
proteção e cuidado do mundo espiritual, recomendou aos participantes a preservação
da cultura, da espiritualidade ancestral, através da prática cultural e da
conservação da casa do saber (maloca), que é o lugar sagrado mais próximo que a
nação Magüta tem para cuidar do povo Ticuna ou Magüta.
Um encontro em que os participantes foram nutridos
espiritual, corporal e cognitivamente pelas reflexões e diálogos com os pajés,
que lhes deram recomendações sobre o cuidado com o mundo natural, o mundo
sobrenatural, o mundo espiritual e o mundo terreno. Foi sublinhado que estes
mundos estão hoje quebrados devido à não prática e à não transmissão dos
conhecimentos ancestrais à nova geração do povo Magüta, que está impregnada
pela contaminação do mundo exterior (Korí, ocidental), o que tem enfraquecido a
força espiritual, cultural e social do povo Magüta atual.
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