domingo, 20 de abril de 2025

Cardeal Steiner: “Cristo ressuscitou! Esse anúncio chegue a todos, a cada casa, a cada família”


“Amados irmãos e irmãs, Feliz Páscoa, Cristo ressuscitou!” Com essas palavras iniciou o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, sua homilia no Domingo da Páscoa. Ele recordou que “a Igreja hoje canta, clama: Jesus ressuscitou! Louvemos a Deus, Aleluia! Louvemos a Deus que fez por nós maravilhas. Louvemos a Deus que nos livrou da morte e devolveu-nos a vida. Aleluia!”

Venceu a misericórdia


Junto com isso, o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), pediu que “esse anúncio chegue a todos, a cada casa, a cada família, especialmente aos que sofrem com a guerra, com os conflitos, o desemprego, a fome, onde há mais sofrimento, dor, desespero. Jesus ressuscitou, há esperança! Venceu o amor, venceu a misericórdia! A morte já não tem poder, o mal foi vencido pelo amor e pela bondade!”

No relato do evangelho do dia, ele destacou que “Maria Madalena vai na madrugada escura ao encontro de Jesus no túmulo e o encontra vazio. Pedro e João correm ao sepulcro e, no vazio, encontram os sinais da presença. Nos sinais de sua presença passada, agora a sua ausência. Ausência, maior sinal de sua presença. Nova presença, a superação da morte! Esperança!”

“Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram. Sim o tiraram do túmulo. Não permaneceu no túmulo da morte, saiu da morte para vida! A vida venceu a morte! A morte já não tem poder sobre ele, por isso o túmulo vazio. No túmulo depositamos os mortos, para dar-lhes um lugar digno, como fizeram com o descido da Cruz. Ele agora verdadeiramente transfigurado, humano-divinizado, rompe a sepultura, abre o túmulo”, disse o arcebispo.

O túmulo não guarda mais o corpo

Segundo ele, “o túmulo guardava o corpo, já não guarda mais. O túmulo era ainda uma referência de presença, já não é mais. O túmulo era última recordação da presença do mestre, já não mais. Uma alma vazia, uma alma livre (Mestre Eckhart), está pronta para o encontro com o Amor que não é amado; uma alma livre, esvaziada, despojada, onde foi removida a pedra da entrada, que não guarda mais as exterioridades, que não mais vive dos sinais aparentes de faixa e panos, se apressa, corre na espera de que o amado venha, bata à porta e entre. A alma livre desejosa, amante, corre o risco do encontro.”


O cardeal recordou que “na sua homilia da Páscoa Santo Agostinho diz a seus irmãos e irmãs: ‘amados, vamos celebrar cada dia da Páscoa e meditar assiduamente todas estas coisas. A importância que atribuímos a estes dias não deve ser tal que nos levará a negligenciar, senão a lembrança da paixão e ressurreição do Senhor, quando todos os dias sejamos nutridos com seu corpo e sangue; No entanto, nestas festividades a lembrança de Cristo é mais brilhante, mais intensa, e a renovação, mais alegre, porque a cada ano nos traz, diante dos olhos, a memória desses eventos. Celebrem, portanto, esta festa como uma transição e pensem que o reino futuro deve permanecer para sempre. Se nós, cheios de alegria nestes dias passageiros, nos lembramos com devoção da solene paixão e ressurreição de Cristo, – quão feliz nos fará o dia eterno quando vamos vê-lo e permanecer com Ele? Dia cujo desejo somente gera uma grande expectativa e nos dá alegria’


Diante da ressurreição, o cardeal questionou: “Mas se o Senhor ressuscitou, como existem essas situações deprimentes, esses desertos, essas violências, as mortes? Tantas desgraças, doenças, tráfico de pessoas, guerras, destruições, mutilações, vinganças, ódio? Onde está o Senhor? Vemos alastrar-se o deserto da guerra, da morte. Quantos desertos tem o ser humano de atravessar ainda hoje! Ao celebrarmos o Ressuscitado, cremos que Ele pode ‘fazer florir mesmo a terra mais árida, pode devolver a vida aos ossos ressequidos’ (cf. Ez 37, 1-14).”


O amor de Deus é mais forte


Em palavras do cardeal Steiner, “Jesus ressuscitou, significa que o amor de Deus é mais forte que o mal e a própria morte; significa que o amor de Deus pode transformar a nossa vida, fazer florir o deserto. O deserto dos corações, o deserto que se alastra na destruição da terra. Sim, o universo recebeu a graça da vida nova, pois o amor é transformativo, purificador. O amor de Deus que se fez nossa humanidade e percorreu o caminho da humildade, da dor, do sofrer, do dom de si mesmo, até a morada dos mortos, ao abismo da separação de Deus. O amor misericordioso inundou de luz e vida o corpo morto de Jesus e transfigurou-o, ressuscitando-o de entre os mortos. Jesus agora ilumina a nossa humanidade, abrindo-nos um futuro de esperança”, disse inspirado na primeira homilia do dia da Páscoa de Papa Francisco.


Seguindo com a homilia do Papa na Vigília da Páscoa de 2020, o arcebispo de Manaus disse que “com a sua morte e Ressurreição “conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo (...). É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. Tudo correrá bem: repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida.”


Deus é vida, somente vida


Talvez, por isso Santo Irineu a nos dizer: “Eis o que é a Páscoa: é o êxodo, a passagem do homem da escravidão do pecado, do mal, à liberdade do amor, do bem. Porque Deus é vida, somente vida, e a sua glória somos nós: o homem vivo”, recordou o cardeal.

Ele lembrou que “São Pedro memorava nos Atos dos Apóstolos (At 10,40-43) como Jesus se manifestou a ele e aos outros discípulos que conviveram com ele. Depois de ter ressuscitado dos mortos, comemos e bebemos com Jesus, fomos seus convivas, fomos seguidores, estivermos na sua proximidade, na sua intimidade, na sua familiaridade. Tudo para nos dizer que a ressurreição não é um ouvir dizer, eles me disseram, eles contaram, eu li a respeito. Nós comemos e bebemos com ele! Mais, Pedro a nos dizer que Jesus lhes deu o mandato, o mandamento do anúncio, de serem testemunhas da vida que supera a morte. Anunciadores de que ele é o sinalizador, o iluminador, dos vivos e dos mortos. Os mortos que nele agora vivos.”

“O Senhor ressurgiu, aleluia!”, enfatizou o arcebispo de Manaus, repetindo as palavras de São Paulo: “aspirai às coisas celestes e não às coisas da terra. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus” (Cl 3,2-3). O Senhor da Luz, o vencedor da morte nos convida a uma vida nova. Profundamente encarnada, transformada, transfigurada em Cristo: “vós fostes revestidos de Cristo” (Cl 3,4).

Vida para todo o universo

“Desejamos ter sempre diante de nossos olhos, Aquele que na morte fez-se vida para todo o universo. Ele a guiar nossos passos nas intempéries e dificuldades. Como nos lembrava Paulo: ‘Irmãos: se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde Cristo, sentado está à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. (...) Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória’ (Cl 3,1-4), afirmou o cardeal.

Citando o texto do evangelho: “Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo”, o arcebispo de Manaus disse que “nós podemos cantar com Maria Madalena: ‘Vi Cristo ressuscitado, o túmulo abandonado. O Cristo que leva aos céus, caminha à frente dos seus. Ressuscitou de verdade!’”

Finalmente, o cardeal Steiner sublinhou que “recebemos a graça de crer no Ressuscitado, vivamos com pessoas da vida nova, como mulheres e homens de esperança. Vivamos como seguidores e seguidoras de Jesus. Sigamos seus passos, mesmo no vazio. No vazio poderemos encontrá-lo na sua benevolência, a graça da vida nova, a plenitude de vida. Amém.”

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Via Sacra com a população em situação de rua: A Igreja de Manaus caminha com os crucificados de hoje


Estar com os crucificados de hoje, ajudar carregar sua cruz, é o melhor modo de celebrar a Sexta-feira Santa. Em Manaus, um dos coletivos mais vulneráveis é a população em situação de rua. Foi com eles que a Igreja de Manaus, realizou a Via Sacra na manhã deste 18 de abril, uma celebração, organizada pela Comunidade Nova e Eterna Aliança e a Pastoral do Povo de Rua, que contou com a participação do arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner.

“Acompanhar Jesus que deu a vida por nós”

Uma presença que é um bálsamo para aqueles que deambulam cada dia nas ruas da capital do Amazonas. Os últimos, como se fez visível mais uma vez na visita do Papa Francisco aos presos da prisão romana Regina Coeli, reconhecem que Deus se faz próximo naqueles que chegam perto sem preconceito, sem vontade condenar. Uma Via Sacra que quis ser um modo de nesta Sexta-feira Santa, “acompanhar Jesus que deu a vida por nós”, segundo salientou o cardeal Steiner no início da caminhada.

Uma caminhada que, segundo acontece na vida cotidiana, não carrega multidões, igual outras celebrações, procissões, caminhadas, vias sacras, durante a Semana Santa. Mas é aí, no meio dos últimos, que Jesus aparece hoje de forma clara e evidente. Ele sempre fez escolhas e nunca duvidou em ficar no meio dos últimos. Somos presença dele quando acompanhamos a vida dos encarcerados, a vida da população em situação de rua, a vida dos doentes. Em definitiva, a vida dos vulneráveis, a vida dos descartados, a vida dos crucificados.

Acompanhamos Jesus em suas dores, em seu sofrimento caminho do Calvário, quando acompanhamos àqueles que hoje continuam sendo crucificados. Um sofrimento que também padece nossa casa comum, segundo tem sido lembrado neste ano pela Igreja do Brasil na Campanha da Fraternidade, que tem nos levando a refletir sobre a Ecologia Integral, sobre a necessidade da conversão ecológica.



Adesão ao cuidado de toda vida

É por isso, que somos chamados, afirmava o arcebispo de Manaus, para que “neste Ano Jubilar, como peregrinos da esperança, renovemos a nossa fé, esperança e nossa adesão ao cuidado de toda vida, em especial em defesa da vida da população em situação de rua”. Com eles, que ao longo do percurso foram encenando diversas cenas do caminho de Jesus até o Calvário, foram percorridas as ruas do centro da cidade. É nessas ruas que eles vivem seu dia a dia, que sofrem o desprezo e a indiferença das pessoas, que muitas vezes fazem de conta que eles não existem ou inclusive perseguem.

Esses rostos carregam muitas histórias de vida, de sofrimento. Lhes acompanhando continuamos fazendo vida o evangelho, mostrando que não são os ritos e sim estar ao lado do crucificado-ressuscitado, que nos torna testemunhas no meio da sociedade. Ser discípulos e discípulas representa um constante desafio a percorrer os caminhos da vida do lado daqueles que vivem pela metade, daqueles que sua dignidade é negada pela maioria das pessoas, pela maioria de nós.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Missa Crismal em Manaus: “Somos ordenados para fazermos memória de Deus”


A arquidiocese de Manaus celebrou na manhã da Quinta Feira Santa a Missa Crismal, com a presença de grande parte do clero que trabalha nessa Igreja local, da Vida Religiosa e de numerosos fiéis que se uniram para participar de um momento importante na vida da Igreja.


Enviado para animar, resgatar


Uma celebração presidida pelo arcebispo local, cardeal Leonardo Steiner, que iniciou sua homilia lembrando as palavras do texto de Lucas lido no evangelho: “Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado e levantou-se para fazer a leitura.” Segundo o arcebispo, “voltou à espacialidade onde fora concebido, gerado, crescido, criado, e na Palavra de hoje, onde leu a sua missão: ‘hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir’. Sente-se enviado pelo Espírito para animar, resgatar, reanimar no corpo e no espírito: o Reino da verdade, da justiça e da graça!”


O cardeal Steiner lembrou aos presentes que “aqui estamos como igreja particular, como Arquidiocese: nossas comunidades, nosso presbitério, ministros e ministras não ordenados, vida consagrada, seminaristas; expressões do Povo de Deus em nossa igreja particular, para celebra o Santo Crisma.”


Nazaré, lugar de criação de Jesus


Analisando o texto, ele sublinhou que “Nazaré, pode significar ‘consagrar-se a Deus’, mas também ‘ramo’ ou ‘rebento’. Nazaré onde brotou o ramo do tronco de Jessé, pois o lugar do anúncio, da presencialização do Filho de Deus no ventre da Virgem. O lugar do sim da Virgem que abre a finitude humana para a presença humanada de Deus. Lugar da criação de Jesus, da maturação, do trabalho corpo a corpo com o pai operário. Nazaré onde cresceu em ‘sabedoria, idade, e graça diante de Deus e dos homens’ (Lc 2,52). Conforme o Evangelho proclamado, o lugar da escuta dos profetas, do encontro do Povo do Deus com a sua história. Nazaré a iluminação do Espírito que repousa unge e envia em missão: ‘hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir’!”


Diante desse significado, o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), disse que “somos convidados a voltar a Nazaré, o lugar do nascer da vida em Cristo Jesus. Voltarmos a Nazaré estarmos em casa com Jesus, Maria e José e participarmos do mistério amoroso, gracioso e salvífico que renova a face da terra, pois o Espírito a repousar, ungir e enviar. Voltamos a Nazaré e na escuta, deixar ressoar a vocação e a missão de discípulos missionários, discípulas missionárias. E de Nazaré somos enviados para anunciar o Reino da verdade, do amor e da salvação.”


Voltar a Nazaré


Nazaré, disse o cardeal, se dirigindo aos irmãos presbíteros e diáconos, “o ressoar da Palavra e da prece que ilumina a nossa vida e missão de ordenados. Voltamos a Nazaré e escutamos que o Espírito repousa sobre nós, pois O invocaram sobre nós, impuseram as mãos, fomos ungidos e enviados em Missão. Voltamos à Nazaré com o desejo de sermos continuamente gerados e crescermos, plenificarmos a nossa vida, missão, o nosso ministério. As nossas mãos, queridos padres, foram ungidas depois do Espírito repousar sobre nós, para abençoar, bendizer, ungir, jamais amaldiçoar! A ungir com o Espírito que concede rebento novo onde a vida parece ter secado, a esperança onde o sofrimento, a morte, parece destruir a nossa humanidade, a participação na redenção onde há sangue derramado e não recolhido; ungir a cegueira que não quer ver o cuidado amoroso de Deus, ungir os prisioneiros para que possam inspirar o desejo de liberdade, pois tantos encarcerados pelo mercado que sufoca, destrói as relações, o desejo de eternidade. O Espírito que unge para desestruturar a religião que não liberta, não oferece a verdade, a transparência da fé.”


Em palavras do cardeal Steiner, “voltar a Nazaré, à espacialidade de nossa vida, missão e ministério, para escutarmos mais uma vez que o Espírito do Senhor está sobre nós, porque nos consagrou com a unção para sermos anunciadores, proclamadores da Boa-Nova transformante e redentora que traz esperança para os pobres; proclamar a boa-Nova que liberta os encarcerados, ensimesmados, presos no eu. Voltar a Nazaré e escutar a Boa-nova que abre horizonte e deixa ver, contemplar, admirar. Aquela boa-Nova que tomou conta do nosso ser presbítero e que liberta os oprimidos, os destruídos, os presos por espíritos mudos e desencaminhados. Voltar e escutar a palavra que o Espírito nos faz presença de graça, pois um verdadeiro jubileu de esperança.”


Fazer memória


Em Nazaré nos encontramos para renovar as nossas promessas sacerdotais, pois celebramos o memorial de uma pertença”, afirmou o arcebispo, citando as palavras da celebração da Eucaristia: “Fazei isto em memória de mim”! Segundo ele, “o memorial que antecede à cruz salvadora: ‘fazei memória de mim’. Na participação do memorial, somos ordenados para memorar, para fazermos memória de Deus.”


“O memorial que fazemos com as comunidades, é ao mesmo tempo memória da história da salvação, história do Povo de Deus, mas também pessoal, pois benevolência de Deus para conosco. A memória do encontro com Deus que toma a iniciativa, que cria e salva, que nos transforma; a memória da Palavra que inflama o coração, salva, dá vida, purifica, cuida e alimenta. Na nossa vida e ministério fazemos memória no serviço, proclamando Deus no seu amor, na sua fidelidade, na sua compaixão. A nossa vida e missão e ministério como expressão do memorial na conformidade do Reino plenificado na Cruz”, refletiu o arcebispo de Manaus.


O cardeal Steiner ressaltou: “irmãs e irmãos, somos os seguidores e seguidoras de Jesus que fazem memória, deixando-nos guiar pelo Memorial em a nossa vida, e buscamos despertar para esse memorial do amor o coração dos irmãos e irmãs”. Diante disso, ele questionou: “Somos nós memória de Deus? Procedemos verdadeiramente como animadores esperançados que despertam nos outros a memória de Deus, que inflama o coração? Ou está Ele esquecido porque preocupados demais com uma religião de normas e preceitos?”, respondendo que “Jesus, memória da Trindade é caminho, verdade e vida!”


Isso porque, “todo discípulo missionário, toda discípula missionária, faz e é memória de Deus. Memória de Deus se há uma relação cotidiana, fontal, graciosa com Ele e com o próximo; se somos mulheres e homens de fé, que confiam filialmente em Deus e colocamos n’Ele a nossa segurança e esperança; se somos pessoas de amor, de consolo, que vemos a todos como irmãos e irmãs, também as criaturas; se enfrentamos as dificuldades com paciência e perseverança, as provas e os insucessos com serenidade e esperança como o Crucificado-ressuscitado. Todos nós fazemos memória, vivemos da memória e, por isso, somos memória de Deus! Se perdermos a memória de Deus, também nós mesmos perdemos consistência, o vigor, o tempero, nos esvaziamos, perdemos os traços de Deus”, disse inspirado nas palavras de Papa Francisco.


Renovar as promessas


Se dirigindo ao clero da arquidiocese de Manaus, seu arcebispo destacou que “hoje, queridos irmãos presbíteros, padres, ao revisitarmos Nazaré, renovamos as promessas sacerdotais, presbiterais. Faremos com o encanto e o entusiasmo do dia de nossa ordenação. Sem o temor da primeira vez, pois o renovamos depois de labutas, confrontos, alegrias, realizações, sustentados pelo Povo de Deus. Diante da Igreja aqui reunida desejamos, na força da missão e do ministério que recebemos e na graça do Espírito Santo que repousa sobre nós, reafirmar que nos nossos dias continua se cumprindo a Palavra que recebemos: anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação os cativos, aos cegos a recuperação da vista, a libertação dos oprimidos, o esparramar da graça do Reino do Crucificado-ressuscitado! (cf. Lc 4,18-20).”


“Ao recordarmos e reafirmarmos a alma do primeiro amor de nossa vida presbiteral, desejamos ser memorial do amor que deixa o Povo de Deus estar a caminho. A memória do amor e da esperança que nos faz memória de Deus, nas palavras, nos gestos, a nossa presença. O memorial do ‘tomai e come’, ‘tomai e bebei’, como entrega benévola e doação gratuita da presença memorial de Deus nas comunidades”, explicitou o cardeal Steiner.


Ele pediu, inspirado no Ritual dos Santos óleos, que “ao voltarmos a Nazaré, ‘consagração a Deus’, invocaremos a benção sobre o óleo para os enfermos e para os catecúmenos; consagraremos o óleo do Santo Crisma. No dia do Santo Crisma admiramos o cuidado da Igreja em oferecer o óleo para a proteção e alívio do corpo, da alma e do espírito, para alívio da dor, da fraqueza, da enfermidade, enquanto peregrinos neste mundo. Admiramos o cuidado da Igreja em presentear o óleo para revestir as filhas e os filhos com as vestes da dignidade, da sabedoria do Ressuscitado. Na unção do óleo possam os batizados em Cristo, alegrar-se por terem renascido e viverem na Igreja, o Reino de Deus. Admiramos o cuidado da Igreja em consagrar o Crisma, sacramento de perfeita salvação e vida, para que os ungidos sejam templos da glória e manifestação da integridade da santidade. O óleo que cristifica o Povo de Deus, fazendo os ungidos participantes e herdeiros da Reino celeste.”


Óleos da esperança


Fazendo uma relação com o Ano Jubilar, o cardeal disse: “Os óleos, memoriais do nosso peregrinar na esperança! Óleos da esperança! ‘Somos, por graça do Evangelho e a unção, a esperança que não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado’ (Rm 5,5). Pela Crisma fomos ungidos, isto é, ‘cristificados’, unidos a Cristo e participantes da sua missão: ‘como o Pai me enviou, eu também vos envio’ (Jo20,21).”

“Todos louvamos e bendizemos a Deus por termos sido ungidos com o Espírito Santo que nos faz testemunhas e peregrinos ungidos de esperança. Irmãos presbíteros e diáconos, nós bispos e as comunidades agradecemos a vida e o ministério que cada um recebeu, e por servirem às comunidades. Louvamos e agradecemos, a disponibilidade, a fidelidade, a prontidão, a presbiteralidade que nos faz memória de Deus como Igreja em Manaus. Como não louvar e bendizer a Deus pelo cuidado e acolhimento junto às comunidades, famílias, doentes, jovens, idosos e crianças. Agradeço, como o fiz no ano passado, a vida de oração, de estudo, as horas que estão diante de Jesus: é nossa Igreja que silencia, se torna receptiva e reza. Agradecemos a Deus por serem homens que vivem simples, sabem codividir as dores, a alegrias, uma presença de esperança e santidade, de cuidado para com os outros presbíteros e os diáconos entre si. Deus abençoe a você caro irmão que aceitou servir as nossas comunidades do interior e as nossas comunidades das periferias, na quase pobreza. Estamos todos unidos no serviço, no ministério, no Espírito que nos ungiu e enviou”, afirmou o cardeal Steiner.

Rezem por nós, ungidos e enviados

Finalmente, o arcebispo de Manaus fez um pedido ao povo da arquidiocese: “Queridos irmãos e irmãs, rezem por nós que recebemos o Espírito Santo, fomos ungidos e enviados, para sermos fiéis à missão e ao ministério que recebemos como dom. Especialmente sejamos uma presença que encanta pela simplicidade, pela santidade, pela memória de Deus.”

E junto com isso, ele reforçou: “Queridos irmãos e irmãs, neste dia do Santo Crisma, deixemos vibrar em nós a palavra: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova’! Sejamos todos anunciadores, anunciadoras do Reino novo. Rendamos graças, louvemos, exaltemos, pois fomos cristificados no Espírito Santo: a ele a glória e o poder, em eternidade. Amém!”

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Viver sem Photoshop


Na semana passada viralizou uma imagem do Papa Francisco chegando na Basílica de São Pedro sem sua batina branca. O motivo de algo que escandalizou algumas pessoas, mas também teve muitas reações de aprovação, foi o pedido do Santo Padre para ser conduzido a rezar no túmulo de São Pio X enquanto passeava nos jardins vaticanos.

Cuidar a imagem até o extremo

Em uma sociedade onde a aparência é considerada superior à essência, onde a imagem é cuidada até o extremo, onde o photoshop se tornou instrumento para adaptar nossa imagem aos nossos desejos, a foto do Papa Francisco nos mostra que ele vai em outra direção. Francisco nos mostra que rezar é mais importante que as vestes que são usadas para nossa oração.

Igualmente, ele não tem problema em mostrar sua fragilidade, não pretende esconder que ele está doente, que ele é gente. Santo Inácio de Loiola, o fundador da Companhia de Jesus, a congregação da qual o Papa fazia parte, insiste em que o padre, antes de ser ministro ordenado, ele é batizado, e antes de tudo isso, ele é pessoa.



Um serviço à humanidade

Francisco tem clareza de que seu ministério pontifício é um serviço à Igreja católica, mas também a toda a humanidade. Ele tem mostrado isso muitas vezes, mas sobretudo na Quinta-Feira Santa. Seu costume de lavar os pés aos vulneráveis, aos descartados da sociedade, inclusive a homens e mulheres não cristãos, nos mostra o modo dele entender seu pontificado.

Ele sempre se coloca a servir, na simplicidade, sem muito interesse pela aparência. Francisco é alguém que não se preocupa em retocar sua imagem, ele testemunha o Evangelho com suas atitudes de vida, com sua disponibilidade para se colocar ao serviço, para escutar os clamores da humanidade e da casa comum, para ser voz daqueles que a sociedade faz questão de não escutar, de não deixar falar.

Não responder a estereótipos

A vida se torna exemplo para os outros, se faz testemunha, quando ela é verdadeira, quando a gente não esconde, não disfarça aquilo que nós somos. Muitas vezes nos deparamos com pessoas que se empenham em responder a estereótipos sociais, inclusive a estereótipos eclesiásticos. No atual pontífice, se faz visível a autenticidade de alguém que não se empenha em responder a esses estereótipos.

Diante disso, ainda mais no dia em que fazemos memória da entrega de Jesus, somos desafiados a nos questionarmos sobre aquilo que determina nossa vida como pessoas. Mas também como cristãos, na medida em que dizemos ter fé no Deus que se fez carne em Jesus Cristo. Somos presença dele quando vivemos do jeito dele, quando não temos problema em mostrar nossa humanidade, quando queremos viver sem retoques, sem photoshop.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 - Editorial Rádio Rio Mar

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Missa Crismal na diocese de Roraima: “Deus unge os seus para servir e para transformar a realidade”


A diocese de Roraima celebrou no dia 15 de abril a Missa dos Santos Óleos, “um dia de alegria e de festa!”, segundo o bispo diocesano, dom Evaristo Spengler. Ele disse que “a missa crismal deste ano é especial”, dado que a diocese celebra 300 anos de evangelização e o Papa convocou o Ano Jubilar, fazendo um chamado a caminhar como peregrinos e peregrinas da esperança.

Ungidos para servir

O bispo lembrou a presença de mais de 20 novos missionários na diocese, que foram apresentados. Em sua reflexão falou sobre o óleo da Aliança. Ele enfatizou que “Deus unge os seus para servir e para transformar a realidade onde estamos inseridos.” Dom Evaristo refletiu sobre os três vasos sagrados presentes na celebração: o Óleo dos Catecúmenos, o Óleo dos Enfermos e o óleo do Santo Crisma.

Segundo o bispo, o óleo “é um sinal sagrado.” Analisando o texto de Isaias 61, sublinhou que “pelo batismo, Deus nos escolheu para sermos ‘sacerdotes do seu povo’ para levar a alegria do Evangelho aos que sofrem, para sermos instrumentos de misericórdia.” Junto com isso, ele vê que “o óleo é para romper correntes e esquemas.” No Salmo 88, o bispo destacou que “esta unção não é para nosso prestígio”, ressaltando que “essa é a nossa missão: vida a serviço.”

Já em Apocalipse 1,5-8, dom Evaristo enfatizou que “esta unção nos compromete: somos chamados a ser profetas que denunciam as injustiças, sacerdotes que santificam o mundo no amor, pastores que governam com humildade e serviço. Somos povo de Deus, todos ungidos e chamados para ungir.” Por sua vez, no Evangelho (Lc 4,16-21), sublinhou que ‘o óleo do Crisma nos recorda que, como presbíteros, religiosos/as e leigos, não somos meros funcionários do sagrado. Somos outros ‘cristos’ – ungidos - para estar no mundo a serviço do Evangelho. Como presbíteros, nosso ministério não é um status, mas um chamado ao serviço, especialmente aos mais pobres. Como religiosos e religiosas somos convocados para servir e testemunhar a profecia do Reino de Deus. Os leigos e as leigas são chamados, a partir do seu Batismo e Confirmação, a serem ‘sal da terra, luz do mundo’ (cf. Mt 5,13-16), e fermento na massa (Lc 13,20-21).”

Significado dos Óleos

Na benção dos óleos descobrimos, segundo o bispo, que “Deus, no seu amor, caminha conosco em todas as etapas marcantes da vida. E nos unge, nos consagra, nos cura e nos envia em missão. É o amor do próprio Deus que se faz presença, fidelidade e ternura.” Isso porque “cada óleo é expressão do amor e do cuidado de Deus, de um carisma, de um serviço e de um ministério específico.”

Dom Evaristo Spengler refletiu sobre o sentido de cada um deles: o óleo da consagração, o óleo da cura e o óleo da missão. No Óleo da Consagração, destacou que “somos chamados a viver o amor até o extremo.” Algo que acontece no Batismo, pois “não somos reis para dominar, mas para servir”; na Crisma, que “nos envia para a missão de viver e testemunhar a fé recebida no batismo”; e na Ordenação, em que “o candidato se entrega totalmente a serviço da Igreja, povo de Deus, neste caminho sinodal.”



Bálsamo das Feridas da Humanidade

O Óleo da Cura, ele e visto pelo bispo como “o Bálsamo das Feridas da Humanidade”. Ele falou de diversas doenças, pedindo pessoas ungidas para o cuidado da casa comum, pessoas ungidas para ajudar na superação de extremismos e de exclusões, pessoas ungidas para ajudar a superar as gritantes desigualdades em uma sociedade que acumula riqueza à custa dos pobres. Uma cura que também precisa o ser humano, segundo o bispo de Roraima.

Do óleo da Missão, o bispo destacou que ele é “a fidelidade ao evangelho no percurso da missão, que nos prepara para o encontro com o Esposo, o Cristo.” Dom Evaristo advertiu que “não podemos nos conformar com uma fé superficial ou apenas herdada da família ou da tradição. Somos chamados a fazer um encontro pessoal e comunitário com o Cristo Morto-Ressuscitado.” Para isso, “nós, os cristãos, somos chamados a viver em estado de vigilância ativa, cultivando uma vida de fé, de oração e de boas obras, sem nos deixar levar pela negligência ou pelo comodismo espiritual. A missão do cristão não é apenas crer, mas testemunhar com ações concretas o amor de Deus no mundo. Isso significa colocar em prática o que assumimos no nosso Batismo e confirmamos na Crisma.”

 

Sentido do óleo em cada ministério

O bispo fez um chamado aos presbíteros, para que eles “não deixem secar o óleo da unção, do primeiro amor, da entrega total em seus corações, em suas mãos, em seus pés. Vão às periferias sociais e às fronteiras existenciais, e contemplem a consolação de Deus, a presença de Deus, o amor de Deus.” Um óleo que não é “guardar para si”, é para “gastar nos caminhos enlameados e esburacados.”

Aos religiosos e religiosas, ele pediu ser o “bom perfume” de Deus para evangelizar as mais variadas realidades. Para ser “uma presença terna e fraterna, especialmente em meio aos mais vulneráveis.” Aos leigos e leigas, o bispo lembrou que eles são “ungidos para santificar o mundo a partir de dentro de cada realidade.” Por isso lhes pediu que “sejam protagonistas da evangelização, assumindo cada vez mais a missão de animar e fortalecer as comunidades, sendo uma presença cristã autêntica na sua família, no seu trabalho, na roda de amigos, em todas as realidades da vida.”

Finalmente, aos enfermos e idosos, lhes disse que “a vida de vocês é um óleo precioso que unge a Igreja com o perfume da paciência e da fé. Em um mundo que idolatra a juventude, a produtividade e a velocidade, a paciência dos idosos e dos enfermos é um antídoto contra a cultura do descarte. Através da aceitação serena das dores e dos limites impostos pela idade, vocês são testemunhas de que a vida tem valor em todas as suas fases e em todas as situações!” Para isso, dom Evaristo pediu a intercessão de Maria, que chamo de “Arca da Aliança”, para que “nos ensine a ser, como Ela, vasos transbordantes de graça.”


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 - Fotos: João Felipe Cláudio Amaral (Rádio Monte Roraima)