A arquidiocese de
Manaus celebrou na manhã da Quinta Feira Santa a Missa Crismal, com a
presença de grande parte do clero que trabalha nessa Igreja local, da Vida
Religiosa e de numerosos fiéis que se uniram para participar de um momento
importante na vida da Igreja.
Enviado para animar,
resgatar
Uma celebração
presidida pelo arcebispo local, cardeal Leonardo Steiner, que iniciou sua
homilia lembrando as palavras do texto de Lucas lido no evangelho: “Jesus foi à
cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na
sinagoga no sábado e levantou-se para fazer a leitura.” Segundo o arcebispo, “voltou
à espacialidade onde fora concebido, gerado, crescido, criado, e na Palavra de
hoje, onde leu a sua missão: ‘hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que
acabastes de ouvir’. Sente-se enviado pelo Espírito para animar, resgatar,
reanimar no corpo e no espírito: o Reino da verdade, da justiça e da graça!”
O cardeal Steiner
lembrou aos presentes que “aqui estamos como igreja particular, como
Arquidiocese: nossas comunidades, nosso presbitério, ministros e ministras não
ordenados, vida consagrada, seminaristas; expressões do Povo de Deus em
nossa igreja particular, para celebra o Santo Crisma.”
Nazaré, lugar de criação
de Jesus
Analisando o texto, ele
sublinhou que “Nazaré, pode significar ‘consagrar-se a Deus’, mas também ‘ramo’
ou ‘rebento’. Nazaré onde brotou o ramo do tronco de Jessé, pois o lugar
do anúncio, da presencialização do Filho de Deus no ventre da Virgem. O lugar
do sim da Virgem que abre a finitude humana para a presença humanada de Deus. Lugar
da criação de Jesus, da maturação, do trabalho corpo a corpo com o pai operário.
Nazaré onde cresceu em ‘sabedoria, idade, e graça diante de Deus e dos homens’
(Lc 2,52). Conforme o Evangelho proclamado, o lugar da escuta dos profetas, do
encontro do Povo do Deus com a sua história. Nazaré a iluminação do Espírito
que repousa unge e envia em missão: ‘hoje se cumpriu esta passagem da Escritura
que acabastes de ouvir’!”
Diante desse significado, o presidente do Regional Norte 1 da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), disse que “somos
convidados a voltar a Nazaré, o lugar do nascer da vida em Cristo Jesus.
Voltarmos a Nazaré estarmos em casa com Jesus, Maria e José e participarmos do
mistério amoroso, gracioso e salvífico que renova a face da terra, pois o Espírito
a repousar, ungir e enviar. Voltamos a Nazaré e na escuta, deixar ressoar a
vocação e a missão de discípulos missionários, discípulas missionárias. E de
Nazaré somos enviados para anunciar o Reino da verdade, do amor e da salvação.”
Voltar a Nazaré
Nazaré, disse o cardeal, se dirigindo aos irmãos presbíteros e
diáconos, “o ressoar da Palavra e da prece que ilumina a nossa vida e missão de
ordenados. Voltamos a Nazaré e escutamos que o
Espírito repousa sobre nós, pois O invocaram sobre nós, impuseram as mãos, fomos
ungidos e enviados em Missão. Voltamos à Nazaré com o desejo de sermos continuamente
gerados e crescermos, plenificarmos a nossa vida, missão, o nosso ministério.
As nossas mãos, queridos padres, foram ungidas depois do Espírito repousar
sobre nós, para abençoar, bendizer, ungir, jamais amaldiçoar! A ungir com o
Espírito que concede rebento novo onde a vida parece ter secado, a esperança
onde o sofrimento, a morte, parece destruir a nossa humanidade, a participação
na redenção onde há sangue derramado e não recolhido; ungir a cegueira que não quer
ver o cuidado amoroso de Deus, ungir os prisioneiros para que possam inspirar o
desejo de liberdade, pois tantos encarcerados pelo mercado que sufoca, destrói
as relações, o desejo de eternidade. O Espírito que unge para desestruturar a religião
que não liberta, não oferece a verdade, a transparência da fé.”
Em palavras do cardeal
Steiner, “voltar a Nazaré, à espacialidade de nossa vida, missão e ministério,
para escutarmos mais uma vez que o Espírito do Senhor está sobre nós, porque
nos consagrou com a unção para sermos anunciadores, proclamadores da Boa-Nova transformante
e redentora que traz esperança para os pobres; proclamar a boa-Nova que liberta
os encarcerados, ensimesmados, presos no eu. Voltar a Nazaré e escutar a Boa-nova
que abre horizonte e deixa ver, contemplar, admirar. Aquela boa-Nova que
tomou conta do nosso ser presbítero e que liberta os oprimidos, os destruídos,
os presos por espíritos mudos e desencaminhados. Voltar e escutar a palavra que
o Espírito nos faz presença de graça, pois um verdadeiro jubileu de esperança.”
Fazer memória
“Em Nazaré nos
encontramos para renovar as nossas promessas sacerdotais, pois celebramos o
memorial de uma pertença”, afirmou o arcebispo, citando as palavras da
celebração da Eucaristia: “Fazei isto em memória de mim”! Segundo ele, “o
memorial que antecede à cruz salvadora: ‘fazei memória de mim’. Na participação
do memorial, somos ordenados para memorar, para fazermos memória de Deus.”
“O memorial que fazemos
com as comunidades, é ao mesmo tempo memória da história da salvação, história
do Povo de Deus, mas também pessoal, pois benevolência de Deus para conosco. A
memória do encontro com Deus que toma a iniciativa, que cria e salva, que nos
transforma; a memória da Palavra que inflama o coração, salva, dá vida,
purifica, cuida e alimenta. Na nossa vida e ministério fazemos memória no
serviço, proclamando Deus no seu amor, na sua fidelidade, na sua compaixão. A
nossa vida e missão e ministério como expressão do memorial na conformidade do
Reino plenificado na Cruz”, refletiu o arcebispo de Manaus.
O cardeal Steiner
ressaltou: “irmãs e irmãos, somos os seguidores e seguidoras de Jesus que fazem
memória, deixando-nos guiar pelo Memorial em a nossa vida, e buscamos despertar
para esse memorial do amor o coração dos irmãos e irmãs”. Diante disso, ele
questionou: “Somos nós memória de Deus? Procedemos verdadeiramente como animadores
esperançados que despertam nos outros a memória de Deus, que inflama o coração?
Ou está Ele esquecido porque preocupados demais com uma religião de normas e preceitos?”,
respondendo que “Jesus, memória da Trindade é caminho, verdade e vida!”
Isso porque, “todo
discípulo missionário, toda discípula missionária, faz e é memória de Deus.
Memória de Deus se há uma relação cotidiana, fontal, graciosa com Ele e com o
próximo; se somos mulheres e homens de fé, que confiam filialmente em Deus e colocamos
n’Ele a nossa segurança e esperança; se somos pessoas de amor, de consolo, que
vemos a todos como irmãos e irmãs, também as criaturas; se enfrentamos as
dificuldades com paciência e perseverança, as provas e os insucessos com
serenidade e esperança como o Crucificado-ressuscitado. Todos nós fazemos
memória, vivemos da memória e, por isso, somos memória de Deus! Se perdermos a
memória de Deus, também nós mesmos perdemos consistência, o vigor, o tempero, nos
esvaziamos, perdemos os traços de Deus”, disse inspirado nas palavras de Papa
Francisco.
Renovar as promessas
Se dirigindo ao clero
da arquidiocese de Manaus, seu arcebispo destacou que “hoje, queridos irmãos
presbíteros, padres, ao revisitarmos Nazaré, renovamos as promessas
sacerdotais, presbiterais. Faremos com o encanto e o entusiasmo do dia de
nossa ordenação. Sem o temor da primeira vez, pois o renovamos depois de
labutas, confrontos, alegrias, realizações, sustentados pelo Povo de Deus.
Diante da Igreja aqui reunida desejamos, na força da missão e do ministério que
recebemos e na graça do Espírito Santo que repousa sobre nós, reafirmar que nos
nossos dias continua se cumprindo a Palavra que recebemos: anunciar a Boa-Nova
aos pobres, proclamar a libertação os cativos, aos cegos a recuperação da
vista, a libertação dos oprimidos, o esparramar da graça do Reino do Crucificado-ressuscitado!
(cf. Lc 4,18-20).”
“Ao recordarmos e
reafirmarmos a alma do primeiro amor de nossa vida presbiteral, desejamos ser
memorial do amor que deixa o Povo de Deus estar a caminho. A memória do amor
e da esperança que nos faz memória de Deus, nas palavras, nos gestos, a
nossa presença. O memorial do ‘tomai e come’, ‘tomai e bebei’, como entrega benévola
e doação gratuita da presença memorial de Deus nas comunidades”, explicitou o
cardeal Steiner.
Ele pediu, inspirado no Ritual dos Santos óleos,
que “ao voltarmos a Nazaré, ‘consagração a Deus’, invocaremos a benção sobre o
óleo para os enfermos e para os catecúmenos; consagraremos o óleo do Santo
Crisma. No dia do Santo Crisma admiramos o cuidado da Igreja em oferecer o
óleo para a proteção e alívio do corpo, da alma e do espírito, para alívio
da dor, da fraqueza, da enfermidade, enquanto peregrinos neste mundo. Admiramos
o cuidado da Igreja em presentear o óleo para revestir as filhas e os filhos
com as vestes da dignidade, da sabedoria do Ressuscitado. Na unção do óleo
possam os batizados em Cristo, alegrar-se por terem renascido e viverem na
Igreja, o Reino de Deus. Admiramos o cuidado da Igreja em consagrar o Crisma, sacramento
de perfeita salvação e vida, para que os ungidos sejam templos da glória e
manifestação da integridade da santidade. O óleo que cristifica o Povo de Deus,
fazendo os ungidos participantes e herdeiros da Reino celeste.”
Óleos da esperança
Fazendo uma relação com o Ano Jubilar, o cardeal
disse: “Os óleos, memoriais do nosso peregrinar na esperança! Óleos da
esperança! ‘Somos, por graça do Evangelho e a unção, a esperança que não decepciona,
porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que
nos foi dado’ (Rm 5,5). Pela Crisma fomos ungidos, isto é, ‘cristificados’,
unidos a Cristo e participantes da sua missão: ‘como o Pai me enviou, eu também
vos envio’ (Jo20,21).”
“Todos louvamos e bendizemos a Deus por termos sido ungidos com o
Espírito Santo que nos faz testemunhas e peregrinos ungidos de esperança. Irmãos
presbíteros e diáconos, nós bispos e as comunidades agradecemos a vida e o
ministério que cada um recebeu, e por servirem às comunidades. Louvamos e
agradecemos, a disponibilidade, a fidelidade, a prontidão, a presbiteralidade que
nos faz memória de Deus como Igreja em Manaus. Como não louvar e bendizer a
Deus pelo cuidado e acolhimento junto às comunidades, famílias, doentes, jovens,
idosos e crianças. Agradeço, como o fiz no ano passado, a vida de oração,
de estudo, as horas que estão diante de Jesus: é nossa Igreja que silencia, se
torna receptiva e reza. Agradecemos a Deus por serem homens que vivem simples,
sabem codividir as dores, a alegrias, uma presença de esperança e santidade, de
cuidado para com os outros presbíteros e os diáconos entre si. Deus abençoe a
você caro irmão que aceitou servir as nossas comunidades do interior e as
nossas comunidades das periferias, na quase pobreza. Estamos todos unidos no
serviço, no ministério, no Espírito que nos ungiu e enviou”, afirmou o cardeal
Steiner.
Rezem por nós, ungidos e enviados
Finalmente, o arcebispo de Manaus fez um pedido ao povo da arquidiocese:
“Queridos irmãos e irmãs, rezem por nós que recebemos o Espírito Santo,
fomos ungidos e enviados, para sermos fiéis à missão e ao ministério que
recebemos como dom. Especialmente sejamos uma presença que encanta pela
simplicidade, pela santidade, pela memória de Deus.”
E junto com isso, ele reforçou: “Queridos irmãos e irmãs, neste dia do
Santo Crisma, deixemos vibrar em nós a palavra: ‘O Espírito do Senhor está
sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova’! Sejamos
todos anunciadores, anunciadoras do Reino novo. Rendamos graças, louvemos,
exaltemos, pois fomos cristificados no Espírito Santo: a ele a glória e o
poder, em eternidade. Amém!”
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1
Nenhum comentário:
Postar um comentário