O cuidado
da casa comum é algo que vai além das religiões, que deve buscar a sinergia de
valores e propósitos que todos nós temos. O Seminário de Ecoteologia,
organizado pela Faculdade Católica do Amazonas, a REPAM-Brasil, a Comissão
Episcopal para a Amazônia da CNBB, a Arquidiocese de Manaus e o Regional Norte1
da CNBB, de 13 a 15 de setembro refletiu em sua última jornada sobre questões ecológicas
desde o diálogo interreligioso, ecumênico e as cosmovisões ecológicas.
Um
Seminário que foi espaço de apresentação de pesquisas de académicos abordando a
questão da fome e da insegurança alimentar, uma realidade presente na Amazônia,
agravada com a pandemia da COVID-19. Junto com isso, questões relacionadas com a
crise ambiental e a ética da responsabilidade, apresentada como a ética do
futuro, colocando como um dos caminhos o bem viver dos povos indígenas e a
necessidade de aprender com eles na relação respeitosa e ética com a natureza em
vista de respeitar a vida.
Desde a filosofia
budista, inspiradora do Instituto Soka, os participantes do Seminário foram
chamados a refletir sobre as relações harmônicas entre homem e natureza,
mostrando a importância da Carta da Terra. Foram apresentados os valores éticos
e princípios que lhes norteiam, destacando o que denominam origem dependente, que
leva a entender que tudo está interligado, relacionado com o ambiente em que
estamos inseridos, e a unicidade da pessoa e meio ambiente. A filosofia budista
fala de três venenos: avareza, ira e estupidez, que chama a transformar em remédio.
Igualmente, entender que humanismo é diferente do antropocentrismo, reconhecer o
valor do ser humano e seu potencial de transformação em sabedoria, coragem e
compaixão.
As Religiões
de Matriz Africana afirmam que “destruímos quando nos afastamos da nossa
ancestralidade”. Nessa tradição religiosa, tudo tem alma, e por isso o cuidado
com a terra, o cuidado com as plantas lhes remete a sua ancestralidade maior.
Uma tradição religiosa muitas vezes perseguida em Manaus, sendo destacado
alguns episódios em que a Igreja católica mostrou seu respeito e apoio. Ao
mesmo tempo, foi denunciado os ataques do poder público, de políticos e da polícia
em diferentes momentos contra os seguidores dessa tradição religiosa, que
insiste em viver em harmonia para deixar um mundo melhor.
Desde o
Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental, inspirado na
tradição jesuítica, mostrou dentro das preferências apostólicas universais da
Companhia de Jesus, o colaborar no cuidado da casa comum, descrevendo a justiça
socioambiental como caminho da companhia de Jesus para propagar a mensagem da
Ecologia integral, sendo a Amazônia uma das áreas mais decisivas para manter o equilíbrio
da natureza em função da vida. Daí seu chamado a ouvir o grito da mãe-natureza
que é clamar pelos mais vulnerabilizados.
Desde a
tradição evangélica, que contam com a Rede Amazonizar, foi destacado que o
ecumenismo é um caminho recente, mesmo que nas famílias existe essa convivência
entre diferentes confissões religiosas. No Amazonas é um caminho iniciado em
2018, sendo relatado os passos dados nesse tempo, se somando diferentes igrejas
e grupos presentes na Amazônia, destacando que as diferenças das tradições religiosas
acabaram se tornando algo que lhes enriquece e engrandece a rede. Ideias
complementadas por outras tradições evangélicas e seus diferentes modos relação
com o meio ambiente.
Não podemos
esquecer que a Ecoteologia “é uma discussão que já tem um tempo, mas em termos
de aprofundamento ainda é uma coisa muito nova, principalmente no meio da
Amazônia, e a realização do IV Encontro de Ecoteologia aqui em Manaus faz toda
a diferença”, segundo a professora Elisângela Maciel, coordenadora de extensão,
pesquisa e pós-graduação da Faculdade Católica do Amazonas. Um encontro que
ajude a “construir uma caminhada que faça pensar a Amazônia no futuro”, no qual
“partimos de questões internas”, insistindo nas alternativas “e como nós que
moramos e vivemos e lutamos pela Amazônia podemos fazer algo a mais”.
A
professora disse que o propósito da Faculdade Católica do Amazonas “é implantar
em nossos alunos essa semente para ser continuadores de esse processo”, tendo
sido vivenciado no último dia que essa “não é uma luta da Igreja católica, como
pede o Papa Francisco, uma luta pela casa comum, que diz respeito a cada um de
nós, todos nós que cuidamos este Planeta e especialmente neste lugar especial
que é a Amazônia”.
Em nome da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana - ARATRAMA, da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé e do Axɔ́súxwé Acɛ́ Mina Gɛgi Fɔngbe Vòdún Xɛ́byosɔ Tɔ̀ Gbàdɛ́ agradeço a acolhida, o espaço de fala, o respeito, o carinho e a Fraternidade que recebemos no evento.
ResponderExcluirVòdún Xɛ́byosɔ Tɔ̀ Gbàdɛ́ xó dɛ̀ nú mɛ!
Ótima síntese deste rico seminário.
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