Ao longo de
mais de 60 anos, a Quaresma no Brasil está marcada pela Campanha da
Fraternidade, promovendo um tema de reflexão em torno a uma temática que leve a
Igreja e a sociedade brasileira a entrar no caminho da conversão. Em 2024, a
partir do dia 14 de fevereiro, em que se celebra a Quarta-feira de Cinzas, o
convite é refletir sobre “Fraternidade e Amizade Social”, um tema inspirado na Fratelli
tutti, tendo como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”.
Em Manaus,
a apresentação da Campanha da Fraternidade 2024 contou com a presença do cardeal
Leonardo Steiner, arcebispo da Arquidiocese de Manaus e presidente do Regional
Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que lembrou que a Campanha
iniciou na Arquidiocese de Natal em 1962, sendo hoje uma temática refletida em espaços
diversos dentro e fora da Igreja, escolas, universidades, inclusive em espaços
do Legislativo, com muitos subsídios que ajudam nessa dinâmica de reflexão.
O cardeal
lembrou o objetivo da Campanha da Fraternidade 2024: “Despertar para o valor e
a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da
amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as
pessoas e povos”. Analisando a realidade, ele disse que nós temos hoje em
nossas famílias uma divisão por uma ideologia política, uma divisão presente
também nas comunidades, o que faz com que “o tema da Campanha da fraternidade
possa nos ajudar a refletir e aprofundar a necessidade de acolher o diferente”,
insistido na necessidade de permanecer na diferença, algo que fazemos a partir
da diferença.
Uma
temática que é motivo de alegria e tristeza, segundo o padre Geraldo Bendaham,
da Coordenação de Pastoral da Arquidiocese de Manaus. “Uma alegria porque a
Igreja tem coragem de tocar um assunto tão importante, da fraternidade”,
destacou, vendo como uma tristeza que a Campanha da Fraternidade ajuda a “constatar
esse processo de ‘cainização’ ainda é uma realidade muito negativa", relatando
a existência de “sentimentos de ódio que podem levar a desafetos e podem levar
também até a morte”, o que dá sentido à Igreja propor essa campanha para que seja
vivenciada durante a Quaresma, e assim possa acontecer a conversão, superando
sentimentos de autoafirmação.
Reconhecendo
a continua existência de conflitos, o padre Bendaham fez um chamado à
verdadeira amizade, a incentivar o perdão e vivência da paz, fomentando o ser irmãos
e irmãs, algo que também tem que nos levar a nos sentirmos irmãos da Criação,
de uma Natureza que sofre e geme pelo fato de termos machucado essa Natureza, a
gerar uma capacidade amorosa com essa Natureza, destacou.
Em 2024, “o
tema não é um problema social, mas uma solução”, segundo a Ir. Rosana
Marchetti, que também faz parte da Coordenação de Pastoral da Arquidiocese. Em
um mundo onde existe muita violência, nos meios de comunicação, nas nossas
cidades, nas nossas comunidades, com um jeito de se relacionar que não é um
jeito de paz, esta Campanha propõe a solução, a amizade social, afirmou a
religiosa. Ela destacou igualmente como são desenvolvidas as questões bíblicas
na Campanha, com exemplos de pessoas que viveram a amizade na Bíblia e ao
longo da história, colocando a amizade como caminho para construir a paz em um
mundo onde tem guerra, onde tem violência, o que demanda sermos construtores da
paz nesses caminhos da amizade.
Na
Quarta-feira de Cinzas será realizado o lançamento, com um momento de oração, no
Largo de Sebastião, algo que está motivado pelo fato da praça dever ser um
espaço da amizade, da fraternidade, da conversa, segundo o padre Geraldo
Bendaham, que denunciou que algumas praças têm se tornado perigosas, muitas
vezes pelo abandono do poder público. O momento do lançamento quer ser uma
oportunidade para descobrir a necessidade de superar qualquer preconceito,
ajudando a concretizar a amizade social.
“A amizade
social tem como pano de fundo a fraternidade, esse respeito, essa convivência harmônica
na diferença, essa confiança que nós temos nas pessoas, esse espaço onde
podemos dialogar, onde podemos dizer o que sentimos, podemos partilhar as nossas
aflições, que a amizade, ela acolhe, a amizade, ela reconcilia, a amizade
sempre de novo fortalece, encaminha a vida”, enfatizou Dom Leonardo Steiner, que
lembrou que o Papa Francisco aborda essa questão na Fratelli tutti. O arcebispo
lembrou a importância dos subsídios, incentivando seu uso em diversos âmbitos,
nas comunidades, famílias, escolas.
Uma
temática que é refletida em diversos momentos durante o ano na Arquidiocese de
Manaus, ainda mais diante da tensão, da violência que hoje acontece e que faz
com que a pessoa do outro não seja levada em consideração, faltando perceber a dignidade
de toda pessoa. Uma Campanha da Fraternidade que é uma tradição esperada em
muitas comunidades, que segundo o cardeal “tem nos ajudado nesse exercício de
conversão, mas especialmente olharmos a partir de Jesus Crucificado,
Ressuscitado a nossa vida e a vida das comunidades”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário