domingo, 18 de fevereiro de 2024

Dom Leonardo: "Superar o barulho da ideologia tomada pela brutalidade que busca destruir”


Lembrando que “Convertei-vos e crede no Evangelho!”, é o apelo que Jesus nos faz neste primeiro domingo da Quaresma, iniciou o cardeal Leonado Steiner sua homilia. Ele lembrou que “ao voltar do deserto, ao ser transformado pelo Espírito do deserto, Jesus pede: crede no Evangelho. Crede na Boa Nova!


O arcebispo de Manaus afirrmou que “deserto o lugar da intimidade, do silêncio, da surpresa, que leva, conduz! O conduz, para a solidão, para o silêncio, para o inóspito, para o confronto da aridez, para o caminho da secura e do desverdor, e, assim estar a sós com o Mistério. Lugar para medir-se, deixar-se medir e tomar pela presença de Deus. O deserto não só é o lugar da solidão (éremon) e da desolação, da experiência de ser posto à prova, da tentação, no confronto com o mal, do nada negativo e do destrutivo, mas, também o lugar do encontro solitário, limpo, único com Deus. É o lugar da solidão, o estar a sós com Deus. Onde Deus é tudo, por isso, o lugar do aprendizado de “sofrer Deus”. O deserto o lugar privilegiado do encontro com Deus. O Espírito leva Jesus ao deserto para manifestar-se e revelar o tempo novo”, lembrando as palavras do então cardeal Joseph Ratzinger sobre o deserto.


Em caminhando no deserto o povo de Israel experimentou o amor e a solicitude de Deus. Também foi o lugar da prova, da tentação, da murmuração, da traição. Por ser lugar da tentação foi o lugar da purificação, transformação, da consolidação rumo à terra da promessa. Foi no deserto que Israel foi gerado para as forças identitárias de ser povo”, disse o cardeal.


Jesus viveu no deserto por 40 dias e começa a anunciar: ‘O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!’. Para dar início a sua missão, o Espírito conduz Jesus para o deserto para estar a sós com o Pai e receber a nova Lei do amor e anunciar a nova terra. No meio da harmonia originária dos animais selvagens, na solidão e silêncio, onde tudo permanece na sua mais lídima graça fontal, Ele recebe a visita de satanás e é tentado. Satanás, o adversário, o inimigo por excelência, o tenta, deseja arrancá-lo da missão que o Pai confiara. O inimigo do homem, tenta a Jesus para levá-lo para longe dos planos do Pai, desviá-lo da harmonia originária da vida, o Reino de Deus”, disse Dom Leonardo.


Lembrando que No deserto Jesus “Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam”, o cardeal destacou que “quando Adão escolheu o caminho da auto-suficiência e se revoltou contra Deus, rompeu-se a harmonia original, os animais tornaram-se inimigos do homem e até os anjos deixaram de o servir”.





“O Espírito que levara Jesus ao deserto, guia, ilumina, fala ao coração, e o devolve cheio de força e vigor para anunciar o novo Reino”, destacou Dom Leonardo. Ele lembrou que “o Espírito lhe concede o vigor, a essencialidade do plano do Pai. O Espírito lhe concedeu discernimento, lucidez, purificação; está envolto pela harmonia originária. Chegou o tempo do Espírito: superar a inimizada, a violência, o conflito, a escravidão e gerar o novo Reino da paz, do amor”.


Analisando a primeira leitura, o presidente do Regional Norte1 disse que “ao fazer ressoar o texto do dilúvio nos alenta: Deus não mais destruirá este mundo. Ele estabelece uma aliança não apenas com os homens, mas com todas as criaturas: “Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra”. Uma aliança, um cuidado permanente com a vida de todo o universo. Um novo marco, uma nova aliança, um novo cuidado. O arco do amor entre o céu e a terra não há de ser rompido”.


Inspirado no comentário de Fernandes e Fassini, o cardeal disse que “em Jesus essa aliança chega à sua plenitude. Tudo resgatado, tudo salvo, tudo libertado, tudo banhado pelo sangue do Salvador. O novo Reino está instaurado. A morte não terá mais oportunidade de vitória.  Em lugar da arca de madeira, o madeiro da cruz será o lenho sagrado através do qual Jesus Cristo vai salvar os homens das águas da morte e resgatá-los do abismo aniquilador. As águas da morte vão se transformar em águas de vida (cf. Batismo). Novo nascimento do homem e de toda a criação virá deste novo Noé: Cristo Crucificado e Ressuscitado”.


Sobre a Campanha da Fraternidade que estamos a celebrar no tempo da quaresma, o arcebispo de Manaus destacou que “vem, de modo insistente, despertar em todos nós o desejo da fraternidade”. Ele insistiu em que “somos convidados a permanecer no caminho de conversão quaresmal e nesse tempo propício de transformação, refazer os laços familiares e sociais”.


Ele lembrou da mensagem que Papa Francisco enviou para a Campanha da Fraternidade, onde nos ensina que “Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas. Infelizmente, ainda vemos no mundo muitas sombras, sinais do fechamento em si mesmo. Por isso, lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos àqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses (cf. FT 97), de estender o nosso amor a ‘todo ser vivo’ (FT 59), vencendo fronteiras e superando ‘as barreiras da geografia e do espaço’ (FT 1)”.




“Ao nos propor a conversão, Jesus nos indica a escuta como caminho. No deserto a prende a escuta e anuncia a conversão. ‘Converter-se’ significa transformar a existência, assumir um novo estilo de vida: escuta-diálogo. Converter o próprio escutar: desarmar, libertar, ‘desideologizar’; afinar a escuta para que possam ser percebidas as notas mais tênues e dissonantes que estão a implorar atenção entre nós. É uma escuta amorosa, que nos compromete. Superar o barulho ensurdecedor da violência verbal e física, o barulho da ideologia tomada pela brutalidade que busca destruir os ouvidos da convivência, o barulho da religiosidade que trai a essência e o vigor do Evangelho, nos afastando de Deus e dos irmãos. A quaresma nos desperte para o diálogo, a escuta, e por isso, para a fraternidade”, ressaltou Dom Leonardo.


Seguindo as palavras da primeira Carta de Pedro, onde “nos ensina que Cristo ‘morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito’ (1Pe 3,18-22)”, ele disse que “o Reino de Deus anunciado por Jesus é o cumprimento da promessa salvífica. Não mais destruição, como nos dizia o texto do dilúvio, mas Jesus nos salva pela força do Espírito, nos liberta a todos; não mais haverá prisão”.


Segundo o cardeal, “a vida nova, a conversão, nos conduz por caminhos novos: o da Fraternidade, pois alimenta a esperança de um tempo e mundo novo. Tempo da paz, da justiça, da abundância, da felicidade, da fraternidade, o tempo do ‘reinado de Deus’. Somos no primeiro domingo da quaresma levados pelo Espírito ao deserto e ali aprendermos a graça da pertença ao Evangelho, da verdade e do amor e da graça”.


Finalmente, ele disse que “no recolhimento e oração silenciosa do deserto, a esperança nos é dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa cotidianidade quaresmal; por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar (cf. Mt 6, 6) e encontrar, no segredo, o Pai da ternura.”, inspirado nas palavras de Papa Francisco. O cardeal Steiner pediu que “continuemos o nosso peregrinar de conversão, guiados pelo Espírito. Deixemo-nos levar para o deserto para revisitarmos a harmonia originária que Jesus nos propõe no Evangelho”.




Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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