A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e a
Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) estão reunidas em Puerto Maldonado, a
cidade amazônica peruana visitada pelo Papa Francisco em janeiro de 2018, onde
podemos dizer que foi dado o pontapé inicial do Sínodo para a Amazônia.
Reuniões de órgãos individuais, mas também reuniões conjuntas, marcam a intensa
programação. Na reunião participa Dom Zenildo Lima, bispo auxiliar da
Arquidiocese de Manaus e vice-presidente da CEAMA.
Direitos humanos e justiça socioambiental
Por parte da REPAM, a reunião pretendia ser
um momento para que cada um dos países compartilhasse o trabalho que está sendo
realizado com base na articulação em cada REPAM Nacional e, a partir daí, ver
como avançar na dimensão pan-amazônica da Rede. As urgências destacadas pela
REPAM são, em primeiro lugar, a defesa dos direitos humanos dos povos
amazônicos, uma necessidade cada vez mais urgente e que causa maior preocupação
diante das ameaças que sofrem, e, junto com isso, a promoção da justiça socioambiental
e do bem viver. Também algumas articulações pan-amazônicas como o FOSPA 2024, a
COP 16 sobre Biodiversidade e a COP 30, como avançar na comunicação e a
comemoração dos 10 anos da REPAM.
Na reunião conjunta entre a REPAM e o
CEAMA, foram apresentados os caminhos, estruturas e funcionamento de ambas as
organizações, bem como os da Rede Amazônica de Educação Intercultural Bilíngue
(REIBA) e do Programa Universitário Amazônico (PUAM), o que deu lugar a
diálogos e reflexões abertas e à busca de espaços comuns de articulação entre a
REPAM e a CEAMA. A comemoração dos 10 anos da REPAM, a comunicação articulada
entre ambas as organizações, a visita das presidências a Roma, a COP 30 e os
espaços de incidência, a Assembleia da CEAMA, que será realizada em Manaus no
próximo mês de agosto, e as propostas e horizontes comuns, foram temas
abordados na reunião conjunta da REPAM e da CEAMA.
10 anos de REPAM
De acordo com o secretário executivo da REPAM, Ir. João Gutemberg Sampaio, a reunião teve como objetivo ajudar a colocar em prática as decisões do Comitê Ampliado realizado em 2023, em Florência (Colômbia), destacando também a importância do encontro como expressão de sinodalidade, de caminhar juntos. Depois de 10 anos de experiência, elas precisam ser estruturadas, enfatizou o religioso, em busca de um futuro mais organizado de uma estrutura que não é jurídica, mas pastoral. Ao longo desse tempo, a consciência pan-amazônica da Rede foi sedimentada, insistiu seu secretário executivo, pensando na Amazônia como um todo.
Doris Vasconcellos, coordenadora do Eixo
Justiça Socioambiental e Bem Viver, que está participando do encontro, afirmou
que se quer pensar em um plano estratégico para fortalecer as experiências de
agroecologia, economia solidária e experiências do Bem Viver dentro da
Amazônia, fortalecendo assim os territórios a partir das REPAMs Nacionais, em
busca de um plano pedagógico que seja trabalhado nas escolas e possibilite o
aprendizado sobre o cuidado da casa comum, o Bem Viver, o fortalecimento da
economia agroflorestal no território amazônico para que todos os povos tenham a
possibilidade de empoderamento econômico a partir do equilíbrio da natureza e
de um processo amazônico do Bem Viver, para que não tenham que se expor a
projetos que impactam a vida dos povos.
Articulação em nível social e eclesial
No que diz respeito à articulação, Doris
Vasconcellos destacou que desde 2020 a REPAM acompanha um processo de
articulação e mobilização junto aos povos e movimentos sociais e populares da
Pan-Amazônia com o objetivo de reunir essas organizações, movimentos,
organizações indígenas e comunidades tradicionais para pensar em como ajudar os
povos a articular sua resistência e existência em uma discussão de pautas e
incidência amazônica, para que a garantia dos direitos territoriais e dos povos
possa ser garantida pelos governos. Para isso, as Assembleias pela Amazônia têm
abordado os impactos sofridos pelos povos amazônicos, em um encontro de saberes
entre os povos e os cientistas e analistas políticos diante da situação
ambiental da região.
Isso deu lugar a uma discussão sobre vários
assuntos, à elaboração de documentos e propostas a serem levados adiante pelos
governos da região, insistindo na participação social nas discussões e diálogos
amazônicos e na criação de mecanismos para esse fim. O objetivo é poder
influenciar a COP30 a ser realizada em Belém, na Amazônia brasileira. Isso
porque a REPAM acredita que, a serviço da vida, articulando e mobilizando esses
povos, é possível garantir que seus direitos sejam oficializados, legalizados,
dentro das ações governamentais com vistas a respeitar os direitos dos povos
nos nove países da Pan-Amazônia.
Uma resposta dos territórios à crise
Diante da grave crise socioambiental e
climática que estamos vivendo, o padre Dario Bossi destaca que "a REPAM
acredita que a resposta e a alternativa vêm dos territórios, embora precise ser
fortalecida por meio da organização popular e também da incidência política
nacional e internacional", o que levou a REPAM a participar de vários
eventos em nível pan-amazônico, Algo que quer continuar fazendo para
"fortalecer as demandas e a voz dos povos para mudar a história do
clima", como o 11º FOSPA, que será realizado na Bolívia em junho próximo,
e a COP30, querendo "amplificar a Amazônia e mostrar ao mundo que as
experiências concretas dos povos que são livres para estabelecer seus planos de
vida nos territórios são a melhor proposta para um clima equilibrado".
Para isso, ele insiste no direito à terra e
à autodeterminação das comunidades, na liberdade de dizer não aos grandes
projetos e na possibilidade de estabelecer novos modelos econômicos, como a
economia de Francisco e Clara. Ele também defende o reconhecimento dos povos
indígenas, dos afrodescendentes e das comunidades tradicionais, com novas
relações entre a cidade e o campo para evitar o êxodo urbano. O padre Bossi
considera soluções que já estão em andamento e que precisam ser fortalecidas
por uma política com visão de longo prazo, e que ele vê como uma resposta mais
concreta à crise ambiental.
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