O Rio Negro
tem novo bispo, Dom Raimundo Vanthuy Neto chegou em São Gabriel da Cachoeira,
onde foi acolhido pelos 23 povos originários da diocese mais indígena e mais
extensa do Brasil. Uma diocese onde se concretiza o desejo de Papa Francisco de
fazer realidade uma Igreja com rosto amazônico e rosto indígena, sendo mostrados
alguns elementos próprios desse modo de viver a fé na Eucaristia de início de
ministério do bispo ordenado no dia 04 de fevereiro em Roraima, a diocese onde
ele vivenciou seu ministério presbiteral.
Os ritmos
próprios das culturas e espiritualidades do Alto Rio Negro se fizeram presentes
no ginásio da cidade, rostos expectantes, felizes, cheios de esperança com a
chegada do sucessor de Dom Edson Damian, que pastoreou esses povos nos últimos
15 anos, que foi quem acolheu Dom Vanthuy, também acolhido pelos representantes
do clero, da vida religiosa e do laicato da diocese, que lhe deram as
boas-vindas na familiaridade de Jesus e lhe mostraram seu desejo de caminhar
juntos na evangelização dos povos do Rio Negro.
Uma missa
que o novo bispo, depois de receber o báculo de seu predecessor, fez questão de
rezar descalço, tirando as sandálias, igual Moises no Êxodo, em sinal de
respeito por uma terra sagrada. Uma região, uma diocese, que, segundo o cardeal
Leonardo Steiner, foi evangelizada por missionários e missionárias que deram
sua vida, lembrando Dom Walter Ivan Azevedo, bispo dessa diocese, falecido no
dia 28 de janeiro, agradecendo pelo trabalho que está sendo realizado nas
comunidades da diocese, mas também pela família de Dom Vanthuy, os pais e
irmãos, presentes na celebração, que lhe transmitiram a fé. Um agradecimento também
à diocese de Roraima e a Dom Edson Damian, sempre preocupado com a causa
indígena.
O novo
bispo disse chegar para “em companhia de vocês poder continuar todo o Mistério,
com minha pequena vida de discípulo que quer cada vez mais seguir Jesus mais de
perto”, e fazê-lo na Igreja do Rio Negro, onde quer aprender de todo o caminho
percorrido, mostrando sua gratidão pela acolhida, mas também para com a Igreja
de Roraima, para com todos os que rezam por ele, para com os bispos do Regional
Norte1, representados na celebração por Dom Edson Damian, seu predecessor em
São Gabriel, o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, e seu bispo
auxiliar, Dom Zenildo Lima, Dom Evaristo Spengler, bispo de Roraima, Dom José
Albuquerque, bispo de Parintins, e Dom Adolfo Zon, bispo de Alto Solimões. Um sentimento
de gratidão para com o Papa Francisco que lhe escolheu, “esse grande servo do
Senhor que está ajudando o mundo inteiro a cada vez mais redescobrir o
Evangelho”.
Dom Vanthuy
disse chegar com sua pequena lamparina “para que a gente possa enxergar bem
melhor o que Deus pede neste tempo, nesta hora, aqui no Alto Rio Negro”. Ele
insistiu em que “todos somos primeiramente ovelhas do rebanho do Senhor” e
junto com isso pequenos pastores e pastorinhas que cuidam e zelam, do mesmo
modo que “o Senhor toma conta de nós”, segundo relatado nas leituras que foram
proferidas na celebração, pois “nós somos o rebanho do Senhor”, insistiu o
bispo.
O bispo da
diocese de São Gabriel da Cachoeira usou imagens para definir Jesus Bom Pastor,
aquele que dá a vida por suas ovelhas, pois “só aquele que dá a vida pelos
outros sabe o que é viver”, igual um pai e uma mãe que dão a vida pelos seus
filhos, lembrando as palavras do Papa Paulo VI, quando ele dizia que “a Igreja
está para ajudar os povos a passar de condições menos humanas para mais humanas”,
uma missão recebida por todo batizado. Ele denunciou a bebida alcoólica como o grande
veneno que destrói a vida das pessoas, das famílias, das comunidades da região,
fazendo um chamado a enfrentá-lo.
Uma segunda
imagem que Dom Vanthuy usou foi a de Jesus que nos conhece a todos pelo nome,
chamando a se sentir rebanho e entender que sozinho ninguém consegue, destacando
como um dom a vida comunitária dos povos indígenas do Rio Negro, um terreno que
ajudou no trabalho evangelizador dos missionários e missionárias que chegaram. Daí
a importância de caminhar juntos, de formar comunidade, enfatizou. De fazê-lo
nas comunidades indígenas, que acolheram e continuam a acolher a Boa Notícia do
Evangelho de Jesus, dizendo entrar como um semeador na escola dos grandes semeadores
na diocese de São Gabriel da Cachoeira, os bispos que lhe precederam por mais
de 100 anos, em uma terra sempre fértil, onde homens e mulheres anunciaram o
jeito novo de viver o Evangelho.
Dom Vanthuy
pediu ajuda aos missionários e missionárias que trabalham na diocese,
agradecendo às congregações religiosas presentes, mas também ao clero diocesano
local e de outros lugares. A eles lhes pediu que não tenham medo de corrigi-lo
quando errar, quando quiser fazer o que ele fazia em outros lugares. Igual os
missionários e missionárias chegados no Alto Rio Negro quer se tornar amigo e
irmão dos povos da região, com uma vida sóbria e simples, concretizando seu
lema episcopal “Servir na caridade e na esperança”, uma esperança que,
lembrando as palavras do cardeal Steiner uma semana atrás em sua ordenação
episcopal, tem duas filhas: a indignação e a coragem.
O novo
bispo encerrou suas palavras apresentando seus pais e irmãos, agradecendo tudo o
que fizeram por ele no caminho da fé e a coragem em busca de uma vida melhor
para a família. Também apresentou o bispo, os padres, as religiosas e o povo
que o acompanhou desde Roraima até sua nova missão. Palavras que foram
encerradas com a profissão de fé, momento em que seus pais seguraram a veste e
a vela com que Dom Vanthuy foi batizado.
No final da
celebração, Dom Edson Damian, agora bispo emérito da diocese de São Gabriel da
Cachoeira, dirigiu suas palavras de agradecimento pelos15 anos de missão
episcopal na Igreja do Alto Rio Negro, com um coração agradecido, pois em seu
coração tem lugar para aqueles com quem ele caminhou nesse tempo. Ele disse que
chegou para continuar a missão de seus predecessores, agradecendo o trabalho de
tantos missionários e missionárias que cuidaram e cuidam da evangelização e da
vida dos povos indígenas desde a alegria do Evangelho.
Ele também
agradeceu ao Papa Francisco por tudo o que ele faz pela Igreja, especialmente
pela Igreja da Amazônia, lembrando do Sínodo para a Amazônia; ao novo bispo, com
quem ele conviveu em seu tempo como padre missionário em Roraima e de quem
disse estar preparado para assumir sua missão como bispo da diocese, convidando
o povo a acolhê-lo; à família de Dom Vanthuy; à Igreja de Roraima, por enviar
Dom Vanthuy para ser bispo corajoso de São Gabriel da Cachoeira; aos bispos e
ao cardeal Steiner por estar na celebração e por todo o bem que ele faz à
Igreja e aos povos da Amazônia.
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