A luta
contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes deveria ser uma
luta de todos, pois quando esse crime é enfrentado de mãos dadas os direitos são
garantidos. Mas para isso, o atendimento às vítimas tem que funcionar, algo que
nem sempre acontece, segundo foi denunciado no Seminário Estadual de
Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes em Alusão ao 18
de Maio, que está sendo realizado em Manaus os dias 20 e 21 de maio de 2024.
Se faz
necessário que as crianças sejam tratadas como seres humanos, que precisam seus
direitos garantidos, segundo denunciou Amanda Cristina Ferreira, presidenta do
Instituto de Assistência à Criança e ao Adolescente Santo Antônio (IACAS), um
organismo inspirado em princípios cristãos. Ela reclamou a necessidade de uma
infância e uma adolescência sadia, demando que os adultos têm o papel de
proteger.
No
seminário se fez presente o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, que
iniciou sua fala agradecendo o trabalho daqueles que, na pessoa da presidenta
do IACAS, definiu como grandes batalhadores por esta causa, enfrentada com
liberdade e um amor muito grande. O cardeal insistiu em que “nós estamos abordando
uma essência da pessoa humana, a sexualidade, nós não estamos falando de um
aparelho genital, nós estamos falando de uma intimidade própria de cada pessoa”.
Isso porque
“a sexualidade é que existe de mais íntimo, de mais único, a sexualidade que
nos leva a buscar relações, assexualidade que nos leva a entregar no amor, a
sexualidade que nos inspira até na poesia. Essa sexualidade que nos leva a
gerar, dar vida, dar descendência”. Uma sexualidade, que tem a ver com Deus,
pois ele a definiu como “essa energia extraordinária que Deus nos deu, e é essa
energia extraordinária que é agredida, essa intimidade que é agredida”.
Dom
Leonardo Steiner disse que “é por isso que machuca tanto, que às vezes não se
consegue fechar a ferida durante toda uma existência, dada a grandeza, a
intimidade, a unicidade da sexualidade”. O arcebispo de Manaus ressaltou a importância
do encontro, “mas especialmente a importância de tentarmos buscar a superação
do abuso, da exploração das crianças e adolescentes”. Falando da Igreja
católica, destacou o esforço extraordinário do Papa Francisco, insistindo em
que “tem exigido de nós bispos, ações muito concretas”, afirmando a atenção da
Arquidiocese de Manaus, há muito tempo, a essa questão, ajudando na reflexão e
nos embates.
O cardeal destacou
dois questões que considera muito importantes na superação do abuso e exploração
de crianças e adolescentes, e que não tem dado passos. Em primeiro lugar, a
vara da justiça, que assume diversas funções, além do combate ao abuso e
exploração de crianças e adolescentes, dizendo que “é a sociedade civil que
deve propor, é a sociedade civil que deve exigir proteção, nós devemos exigir”.
O segundo
elemento que recordou foi o centro integrado, que mesmo com várias reuniões não
chega a uma conclusão, denunciando que “orçamento tem, o dinheiro está aí, mas
não sai”, pedindo que isso seja abordado ao longo do Seminário. “Nós como
sociedade temos obrigação, se realmente quisermos superar, quisermos proteger,
nós teríamos uma boa base se tivéssemos o centro integrado”, insistiu,
agradecendo o trabalho, o esforço, que as pessoas fazem, e pedindo que “de mãos
dadas ajudemos a superar essa violência contra crianças e adolescentes”, em
vista de que as crianças possam “crescer com saúde psíquica, com saúde
religiosa, com saúde cultural, com saúde educacional”.
A coordenadora
do Comitê Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes,
Ir. Michele da Silva, denunciou o desmanche das instituições que possibilitam o
enfrentamento. Uma luta que é muito mais do que uma campanha ou um dia, pois “o
cuidado da vida é um compromisso de todos e todas, e nós temos que assumir isso
como algo inerente a nossa vida. A criança e o adolescente precisam se cuidado
e ter os seus direitos respeitados e garantidos todos os dias”.
A Procuradora-Chefe
do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e Roraima, Alzira Melo Costa, fez
um chamado a refletir sobre o papel de cada um, de cada instituição, da
sociedade, da família, do Estado, no enfrentamento desse crime. Indo além do
enfrentamento, disse que “temos que começar a falar em erradicação da violência
sexual contra crianças e adolescentes”, ter a convicção que é possível erradicar.
Para isso se faz preciso efetivar, fazer um esforço árduo para atender as
vítimas, com mais pessoas dedicadas a isso, angariando mais forças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário