segunda-feira, 20 de maio de 2024

Dom Leonardo: O abuso contra crianças, “às vezes não se consegue fechar a ferida durante toda uma existência”


A luta contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes deveria ser uma luta de todos, pois quando esse crime é enfrentado de mãos dadas os direitos são garantidos. Mas para isso, o atendimento às vítimas tem que funcionar, algo que nem sempre acontece, segundo foi denunciado no Seminário Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes em Alusão ao 18 de Maio, que está sendo realizado em Manaus os dias 20 e 21 de maio de 2024.

Se faz necessário que as crianças sejam tratadas como seres humanos, que precisam seus direitos garantidos, segundo denunciou Amanda Cristina Ferreira, presidenta do Instituto de Assistência à Criança e ao Adolescente Santo Antônio (IACAS), um organismo inspirado em princípios cristãos. Ela reclamou a necessidade de uma infância e uma adolescência sadia, demando que os adultos têm o papel de proteger.

No seminário se fez presente o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, que iniciou sua fala agradecendo o trabalho daqueles que, na pessoa da presidenta do IACAS, definiu como grandes batalhadores por esta causa, enfrentada com liberdade e um amor muito grande. O cardeal insistiu em que “nós estamos abordando uma essência da pessoa humana, a sexualidade, nós não estamos falando de um aparelho genital, nós estamos falando de uma intimidade própria de cada pessoa”.



Isso porque “a sexualidade é que existe de mais íntimo, de mais único, a sexualidade que nos leva a buscar relações, assexualidade que nos leva a entregar no amor, a sexualidade que nos inspira até na poesia. Essa sexualidade que nos leva a gerar, dar vida, dar descendência”. Uma sexualidade, que tem a ver com Deus, pois ele a definiu como “essa energia extraordinária que Deus nos deu, e é essa energia extraordinária que é agredida, essa intimidade que é agredida”.

Dom Leonardo Steiner disse que “é por isso que machuca tanto, que às vezes não se consegue fechar a ferida durante toda uma existência, dada a grandeza, a intimidade, a unicidade da sexualidade”. O arcebispo de Manaus ressaltou a importância do encontro, “mas especialmente a importância de tentarmos buscar a superação do abuso, da exploração das crianças e adolescentes”. Falando da Igreja católica, destacou o esforço extraordinário do Papa Francisco, insistindo em que “tem exigido de nós bispos, ações muito concretas”, afirmando a atenção da Arquidiocese de Manaus, há muito tempo, a essa questão, ajudando na reflexão e nos embates.

O cardeal destacou dois questões que considera muito importantes na superação do abuso e exploração de crianças e adolescentes, e que não tem dado passos. Em primeiro lugar, a vara da justiça, que assume diversas funções, além do combate ao abuso e exploração de crianças e adolescentes, dizendo que “é a sociedade civil que deve propor, é a sociedade civil que deve exigir proteção, nós devemos exigir”.



O segundo elemento que recordou foi o centro integrado, que mesmo com várias reuniões não chega a uma conclusão, denunciando que “orçamento tem, o dinheiro está aí, mas não sai”, pedindo que isso seja abordado ao longo do Seminário. “Nós como sociedade temos obrigação, se realmente quisermos superar, quisermos proteger, nós teríamos uma boa base se tivéssemos o centro integrado”, insistiu, agradecendo o trabalho, o esforço, que as pessoas fazem, e pedindo que “de mãos dadas ajudemos a superar essa violência contra crianças e adolescentes”, em vista de que as crianças possam “crescer com saúde psíquica, com saúde religiosa, com saúde cultural, com saúde educacional”.

A coordenadora do Comitê Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, Ir. Michele da Silva, denunciou o desmanche das instituições que possibilitam o enfrentamento. Uma luta que é muito mais do que uma campanha ou um dia, pois “o cuidado da vida é um compromisso de todos e todas, e nós temos que assumir isso como algo inerente a nossa vida. A criança e o adolescente precisam se cuidado e ter os seus direitos respeitados e garantidos todos os dias”.

A Procuradora-Chefe do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e Roraima, Alzira Melo Costa, fez um chamado a refletir sobre o papel de cada um, de cada instituição, da sociedade, da família, do Estado, no enfrentamento desse crime. Indo além do enfrentamento, disse que “temos que começar a falar em erradicação da violência sexual contra crianças e adolescentes”, ter a convicção que é possível erradicar. Para isso se faz preciso efetivar, fazer um esforço árduo para atender as vítimas, com mais pessoas dedicadas a isso, angariando mais forças.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Nenhum comentário:

Postar um comentário