domingo, 26 de maio de 2024

Dom Leonardo: “Participamos da vida da Trindade ao nos movermos em caridade, no amor”


Na Solenidade da Santíssima Trindade, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia destacando “o Evangelho com quatro frases a nos provocar”. Algo que ele definiu como “uma provocação admirável, pois Jesus pede que todos fossem mergulhados na dinâmica: Pai, Filho, Espírito Santo. Todos batizados, purificados, acolhidos, inseridos no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Pai e Filho e Espírito Santo! Não são três nomes apenas, são três pessoas. Em nome das três, nos leva à percepção de que no mover de três, somos movidos. Somos atraídos para dentro do mistério de três, da Trindade”.


A primeira leitura a nos despertar para a presença de Deus na história do povo da Aliança”, disse o cardeal. Segundo ele, “depois de memorar a sua presença Moisés irrompa com as palavras: Reconhece e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá em baixo na terra, e que não há outro além dele (cf. Dt4,39). Deus, presença amorosa que tudo cria, salva, santifica”.


Dom Leonardo Steiner disse que a “Solenidade de Pentecostes nos leva a contemplar a Deus como Santíssima Trindade, revelada por Jesus. Ele a nos mostrar que Deus é amor ‘não na unidade de uma só pessoa, mas na Trindade de uma só substância’, no Amor”, lembrando as palavras do Prefácio da Santíssima Trindade. “É Criador e Pai misericordioso; é Filho unigênito, eterna Sabedoria encarnada, morto e ressuscitado por nós; é Espírito Santo que move tudo, o cosmos e a história, até chegar à plenitude do Reino definitivo. O Pai é amor, o Filho é amor, o Espírito é amor. Deus é todo amor e só amor, amor puríssimo, infinito e eterno. Não vive em solidão, mas na dinamicidade doadora de três pessoas”, destacou o arcebispo de Manaus.


É o Pai que ama o Filho e o Espírito, o Espírito que ama o Pai e o Filho, o Filho a amar o Pai e o Espírito. Tudo na liberdade de apenas estar a amar, em sendo amor, sem aperceber-se que ama. O amor gerativo, vai continuamente gerando o Pai, o Filho e o Espírito. E na dinâmica para fora e para dentro ao mesmo tempo, vai criando e recriando todo o universo. Tudo como expansão do amor na Trindade Santa. Como é extraordinária a nossa fé que nasce do amor trinitário. Não somos para nós mesmos e não somos somente para ti, somos uma dinamicidade amorosa-expansiva”, expplicou o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “é nessa dinâmica amorosa que fomos recebidos no batismo: eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Nesse amor nos movemos e somos. Desse amor vivemos, nos restauramos, nos santificamos. Para essa montanha sagrada somos elevados e temos a certeza de que nunca estamos sós”.





“Batizando-os em nome da Trindade: mergulhados na Trindade, inseridos na Trindade, enxertados na Trindade; ‘estantes’ no Pai e no Filho e no Espírito Santo. ‘Em nome’, das três pessoas, poderia ser no vigor, na força, na confiança, no amor, na receptividade doadora do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Em um único Deus! Recebidos na Comunidade do Amor: o Pai que ama e doa a deidade, o Filho que a recebe do Pai e que a Ele corresponde no amar, e o Espírito Santo que é o Dom do Amor, a força da Vida divina em que vivem o Pai e o Filho, o Sopro que eles respiram. E neles e deles recebemos o Sopro indelével e sagrado do amor. E no sopro recebemos um nome que nos insere na nova comunhão, na nova vida, no mistério de um amor uno e trino: filho, filha no Filho! Amor que é fonte de vida inesgotável, ininterrupta, generosa, refrescante que se entrega e comunica. Amor que é essencialmente comunicação. Sim, na Trindade somos gerados como filhos e filhas, pois filhos, filhas no Filho”, ressaltou o arcebispo de Manaus.


Segundo o cardeal Steiner, “no batismo fomos recebidos na dinâmica trinitária para nascer, crescer e florescer a partir da raiz do mistério trinitário: a Comunhão das Três Pessoas divinas. Comunhão, pois nas nossas rogações e louvações, nossas intempéries e cruzes, nos desalentos e caminhos somos movimentados pelo Pai e pelo Filho e pelo Espírito Santo. Na comunhão da Trindade, participantes da Trindade, somos sempre mais irmãos e irmãs! Na comunhão da Trindade é que reconhecemos melhor as palavras de envio, o ensinar de Jesus: ‘Eis que estarei convosco todos os dias’, nos afirmava Jesus”.


Analisando a vida litúrgica, dom Leonardo lembrou que “Em nome da Trindade Santa, do Pai e do Filho e do Espírito Santo, iniciamos nossos encontros, nossas preces, nossos sacramentais, as nossas celebrações, os nossos sacramentos. Nos colocamos diante da Trindade; mais que diante da Trindade, recordamos a nós mesmos que tudo está a mover-se na Trindade, na possibilidade e na graça da Trindade. Nela celebramos, rogamos, imploramos, agradecemos, cantamos, bendizemos, silenciamos. As nossas orações estão envoltas pela ação da Trindade, ao nos dirigirmos ao Pai, concluímos: “Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém!”


Ele recordou as palavras de Santo Agostinho, “o enamorado da Trindade, admirado da amorosidade gerativa na relação das pessoas da Trindade Santa, nos ensina”, que em “A Trindade 7.12”, diz: “Creia o homem no Pai, no Filho e no Espírito Santo, como um só Deus, grande, onipotente, bom, justo, misericordioso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, e tudo o mais que dele se possa dizer digna e verdadeiramente, conforme a capacidade da inteligência humana. E quando ouvir dizer que o Pai é um só Deus, não separe o Filho e o Espírito Santo, porque com ele são um só Deus. Quando ouvir dizer que o Filho é um só Deus é mister entender assim, mas sem separá-lo do Pai e do Espírito Santo. E de tal modo diga que existe uma só essência, e não considere a essência de um ser maior ou melhor do que a do outro e diferente em algum aspecto. Contudo, não pense que o Pai é o Filho ou Espírito Santo ou qualquer coisa que uma pessoa em separado diga relação às outras, como por exemplo, o termo ‘Verbo’ aplica-se somente ao Filho, e Dom afirma-se somente a respeito do Espírito Santo”.


Falando do Santo de Hipona, lembrou que “diante de uma pessoa que afirmava não ver a Trindade, Santo Agostinho, respondeu: Tu vês a Trindade quando vês a caridade (De Trinitate VIII, 8,2)”. Diante disso, ressaltou que “participamos da vida da Trindade ao nos movermos em caridade, no amor. É que o amor é sempre em saída, é encontro, é outro. O amor sempre busca o outro, como o Pai busca o Filho e o Espírito Santo, O Espírito Santo busca, o Pai e o Filho, e o Filho busca o Pai e o Espírito Santo. No amor nos encontramos no coração do mistério de Amor trinitário que eclodiu a Criação, centrou-se na Encarnação e alcança sua plenitude na cruz e na ressurreição, o amor que inflama os apóstolos e os envia pelo mundo inteiro”.


A expressão “Tu vês a Trindade quando vês a caridade”, segundo o cardeal Steiner, “nos desperta para uma grandeza toda própria como participantes da vida da Trindade: viver o amor a partir da Trindade, é amar a quem não pode corresponder, doar sem esperar recompensa, compadecer-se dos mais pobres e excluídos gratuitamente. No servir samaritanamente, despretensiosamente, a Trindade se torna papável, visível, presença. Entregar a vida para construir um mundo mais justo, fraterno, amável e digno deixamos entrever a harmonia dinâmica da Trindade. Ao vermos o amor em movimento, em acolhimento, servindo, vemos a Trindade!”.


Citando São Boaventura, dom Leonardo lembrou que “vemos a Trindade na obra criada. Ensina que o ser humano, antes do pecado, descobria como cada criatura ‘testemunha que Deus é trino’. Os sinais da Trindade podem ser reconhecidos na natureza, ‘quando esse livro não era obscuro para o homem, nem a vista do homem se tinha turvado’. Toda a criatura traz em si uma estrutura propriamente trinitária, tão real que poderia ser contemplada espontaneamente, se o olhar do ser humano não estivesse limitado, obscurecido, fragilizado, se não estivéssemos usando lentes opacas. Nossas lentes tornaram-se opacada pela ganância, pelo lucro, pela dominação. A obra criada tornou-se uma coisa a ser lucrada. Com a destruição do meio ambiente é um desafio tentar ler a realidade como presença trinitária”, disse inspirado em Laudato Si´ 239.


Analisando a passagem lida da Carta aos Romanos, ele disse que “nos lembrava que podemos clamar: Abá, ó Pai. É que o próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos, filhas de Deus (Rm 8,15-16). Sim, na graciosidade da Trindade, é que clamamos, ó Pai. Nascidos do amor trinitário somos todos irmãos e irmãs. Somos como discípulos missionários, discípulas missionárias, enviados a visibilizar em todas as realidades, cintilações da relação-comunhão das pessoas da Trindade, no amor-doação. Onde o amor, ali Deus está! Onde relação-comunhão, há uma unidade, que não é uniformidade, mas florir de diferenças. A relação-comunhão é superação de nivelamento, pois, o Sopro do Amor une “o que está disperso”.

Assim, ressaltou o cardeal, inspirado em Fernandes e Fassini, “O Espírito Santo, Amor desprendido, puro, de Deus, é contentamento, alegria, festa da plenitude de ser como desprendimento-doação, pura gratuidade”. Citando Dante Alighieri, disse: “Ó luz eterna, que, só, repousas em ti mesma; Só, te entendes, e por ti mesma entendida; E ‘entendente’, te amas e sorris!”. O Filho, ele o definiu como “acolhida da jovialidade que, qual lactente, na cordialidade jovial da sucção do leite materno, toma o corpo da sua existência, como fruto prenhe e perfeito da obra”. Finamente, o Pai, como “transbordância fontal da Vida: generosidade sem medida, sem fundo; gratuidade difusiva de si mesmo: Ser em sua própria jovialidade, princípio gerador do universo e de cada criatura”.

Finalmente, encerrou suas palavras dizendo que “ao celebramos a Solenidade da Trindade Santa, louvamos e bendizemos a Trindade, em quem nos movemos e somos, pois, batizados no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Gloria seja dada ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre! Amém”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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