Na Solenidade
da Santíssima Trindade, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner,
iniciou sua homilia destacando “o Evangelho com quatro frases
a nos provocar”. Algo que ele definiu como “uma provocação
admirável, pois Jesus pede que todos fossem mergulhados na dinâmica: Pai,
Filho, Espírito Santo. Todos batizados, purificados, acolhidos, inseridos no
Pai e no Filho e no Espírito Santo. Pai e Filho e Espírito Santo! Não são três
nomes apenas, são três pessoas. Em nome das três, nos leva à percepção de que
no mover de três, somos movidos. Somos atraídos para dentro do mistério de
três, da Trindade”.
“A
primeira leitura a nos despertar para a presença de Deus na história do povo da
Aliança”, disse o cardeal. Segundo ele, “depois de
memorar a sua presença Moisés irrompa com as palavras: Reconhece e grava-o em
teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá em baixo na terra, e
que não há outro além dele (cf. Dt4,39). Deus, presença amorosa que tudo cria,
salva, santifica”.
Dom Leonardo Steiner disse que a “Solenidade de Pentecostes nos leva a contemplar a Deus como Santíssima
Trindade, revelada por Jesus. Ele a nos mostrar que Deus é amor ‘não na unidade de uma só pessoa, mas
na Trindade de uma só substância’, no Amor”, lembrando as palavras do Prefácio
da Santíssima Trindade. “É Criador e Pai misericordioso; é Filho unigênito,
eterna Sabedoria encarnada, morto e ressuscitado por nós; é Espírito Santo que
move tudo, o cosmos e a história, até chegar à plenitude do Reino definitivo. O
Pai é amor, o Filho é amor, o Espírito é amor. Deus é todo amor e só amor, amor
puríssimo, infinito e eterno. Não vive em solidão, mas na dinamicidade doadora
de três pessoas”, destacou o arcebispo de Manaus.
“É o Pai que ama o Filho e o Espírito, o Espírito que ama o Pai e o Filho, o Filho a amar o Pai e o Espírito. Tudo na liberdade de apenas estar a amar, em sendo amor, sem aperceber-se que ama. O amor gerativo, vai continuamente gerando o Pai, o Filho e o Espírito. E na dinâmica para fora e para dentro ao mesmo tempo, vai criando e recriando todo o universo. Tudo como expansão do amor na Trindade Santa. Como é extraordinária a nossa fé que nasce do amor trinitário. Não somos para nós mesmos e não somos somente para ti, somos uma dinamicidade amorosa-expansiva”, expplicou o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “é nessa dinâmica amorosa que fomos recebidos no batismo: eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Nesse amor nos movemos e somos. Desse amor vivemos, nos restauramos, nos santificamos. Para essa montanha sagrada somos elevados e temos a certeza de que nunca estamos sós”.
“Batizando-os
em nome da Trindade: mergulhados na Trindade,
inseridos na Trindade, enxertados na Trindade; ‘estantes’ no Pai e no Filho e
no Espírito Santo. ‘Em nome’, das três pessoas, poderia ser no vigor, na força,
na confiança, no amor, na receptividade doadora do Pai e do Filho e do Espírito
Santo. Em um único Deus! Recebidos na Comunidade do Amor: o Pai que ama e doa a
deidade, o Filho que a recebe do Pai e que a Ele corresponde no amar, e o
Espírito Santo que é o Dom do Amor, a força da Vida divina em que vivem o Pai e
o Filho, o Sopro que eles respiram. E neles e deles recebemos o Sopro indelével
e sagrado do amor. E no sopro recebemos um nome que nos insere na nova
comunhão, na nova vida, no mistério de um amor uno e trino: filho, filha no
Filho! Amor que é fonte de vida inesgotável,
ininterrupta, generosa, refrescante que se entrega e comunica. Amor que é
essencialmente comunicação. Sim, na Trindade somos
gerados como filhos e filhas, pois filhos, filhas no Filho”, ressaltou o
arcebispo de Manaus.
Segundo o cardeal Steiner, “no batismo
fomos recebidos na dinâmica trinitária para nascer, crescer e florescer a
partir da raiz do mistério trinitário: a Comunhão das Três Pessoas divinas. Comunhão,
pois nas nossas rogações e louvações, nossas intempéries e cruzes, nos
desalentos e caminhos somos movimentados pelo Pai e pelo Filho e pelo Espírito
Santo. Na comunhão da Trindade, participantes da Trindade, somos sempre mais irmãos
e irmãs! Na comunhão da Trindade é que reconhecemos melhor as palavras
de envio, o ensinar de Jesus: ‘Eis que estarei convosco todos os dias’, nos
afirmava Jesus”.
Analisando a vida litúrgica, dom Leonardo
lembrou que “Em nome da Trindade Santa, do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
iniciamos nossos encontros, nossas preces, nossos sacramentais, as nossas
celebrações, os nossos sacramentos. Nos colocamos diante da Trindade; mais que diante da Trindade, recordamos
a nós mesmos que tudo está a mover-se na Trindade, na possibilidade e na graça
da Trindade. Nela celebramos, rogamos, imploramos, agradecemos, cantamos, bendizemos,
silenciamos. As nossas orações estão envoltas pela ação da Trindade, ao nos
dirigirmos ao Pai, concluímos: “Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que
é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os
séculos dos séculos. Amém!”
Ele recordou as palavras de Santo Agostinho, “o enamorado da Trindade, admirado da amorosidade gerativa na relação das pessoas da Trindade Santa, nos ensina”, que em “A Trindade 7.12”, diz: “Creia o homem no Pai, no Filho e no Espírito Santo, como um só Deus, grande, onipotente, bom, justo, misericordioso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, e tudo o mais que dele se possa dizer digna e verdadeiramente, conforme a capacidade da inteligência humana. E quando ouvir dizer que o Pai é um só Deus, não separe o Filho e o Espírito Santo, porque com ele são um só Deus. Quando ouvir dizer que o Filho é um só Deus é mister entender assim, mas sem separá-lo do Pai e do Espírito Santo. E de tal modo diga que existe uma só essência, e não considere a essência de um ser maior ou melhor do que a do outro e diferente em algum aspecto. Contudo, não pense que o Pai é o Filho ou Espírito Santo ou qualquer coisa que uma pessoa em separado diga relação às outras, como por exemplo, o termo ‘Verbo’ aplica-se somente ao Filho, e Dom afirma-se somente a respeito do Espírito Santo”.
Falando do Santo de Hipona, lembrou que “diante de
uma pessoa que afirmava não ver a Trindade, Santo Agostinho, respondeu: ‘Tu vês a Trindade quando vês a caridade’ (De Trinitate
VIII, 8,2)”. Diante disso,
ressaltou que “participamos da vida da Trindade ao nos movermos em caridade, no
amor. É que o amor é sempre em saída, é encontro, é outro. O amor sempre busca
o outro, como o Pai busca o Filho e o Espírito Santo, O Espírito Santo busca, o
Pai e o Filho, e o Filho busca o Pai e o Espírito Santo. No amor nos
encontramos no coração do mistério de Amor trinitário que eclodiu a Criação,
centrou-se na Encarnação e alcança sua plenitude na cruz e na ressurreição,
o amor que inflama os apóstolos e os envia pelo mundo inteiro”.
A expressão “Tu
vês a Trindade quando vês a caridade”, segundo
o cardeal Steiner, “nos desperta para uma grandeza toda própria como
participantes da vida da Trindade: viver o amor a partir da Trindade,
é amar a quem não pode corresponder, doar sem esperar recompensa, compadecer-se
dos mais pobres e excluídos gratuitamente. No
servir samaritanamente, despretensiosamente, a Trindade se torna papável,
visível, presença. Entregar a vida para construir um mundo mais justo,
fraterno, amável e digno deixamos entrever a harmonia dinâmica da Trindade. Ao
vermos o amor em movimento, em acolhimento, servindo, vemos a Trindade!”.
Citando São
Boaventura, dom Leonardo lembrou que “vemos a Trindade na obra criada. Ensina que o ser humano, antes do pecado, descobria como cada criatura ‘testemunha
que Deus é trino’. Os sinais da Trindade podem ser reconhecidos na natureza, ‘quando
esse livro não era obscuro para o homem, nem a vista do homem se tinha turvado’.
Toda a criatura traz em si uma estrutura propriamente trinitária, tão real
que poderia ser contemplada espontaneamente, se o olhar do ser humano não
estivesse limitado, obscurecido, fragilizado, se não estivéssemos usando lentes
opacas. Nossas lentes tornaram-se opacada pela ganância, pelo lucro, pela
dominação. A obra criada tornou-se uma coisa a ser lucrada. Com a destruição do
meio ambiente é um desafio tentar ler a realidade como presença trinitária”, disse inspirado em Laudato Si´ 239.
Analisando a passagem lida
da Carta aos Romanos, ele disse que “nos lembrava que podemos clamar: Abá, ó
Pai. É que o próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que
somos filhos, filhas de Deus (Rm 8,15-16). Sim, na graciosidade da Trindade, é
que clamamos, ó Pai. Nascidos do amor trinitário somos todos irmãos e irmãs. Somos como discípulos
missionários, discípulas missionárias, enviados a visibilizar em todas as
realidades, cintilações da relação-comunhão das pessoas da Trindade, no
amor-doação. Onde o amor, ali Deus está! Onde relação-comunhão, há uma unidade,
que não é uniformidade, mas florir de diferenças. A relação-comunhão é superação de nivelamento, pois, o
Sopro do Amor une “o que está disperso”.
Finalmente,
encerrou suas palavras dizendo que “ao celebramos a Solenidade da Trindade
Santa, louvamos e bendizemos a Trindade, em quem nos movemos e somos, pois,
batizados no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Gloria seja dada ao Pai, ao
Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre! Amém”.
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