quarta-feira, 1 de maio de 2024

Hugo Barbosa Alves ordenado diácono na Arquidiocese de Manaus: “Não pode ser chamado de mestre e guia quem não possui a eloquência do serviço"


No dia em que a Igreja faz memória de São José Operário, a paróquia Nossa Senhora Aparecida e SSantos Mártires de Presidente Figueiredo acolheu a ordenação diaconal do seminarista Hugo Barbosa Alves. Uma celebração que contou com a presença de seus amigos e familiares, dentre eles seu pai, diácono permanente na Arquidiocese de Manaus, seminaristas, diáconos, presbíteros, Vida Religiosa, do arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, e dos bispos auxiliares, dom Tadeu Canavarros e dom Zenildo Lima, que foi o bispo ordenante.

Dom Zenildo iniciou sua homilia citando o texto do Evangelho de Mateus: “O maior dentre vós, deve ser aquele que vos serve!”, escolhido como lema da ordenação por Hugo Barbosa. Ele destacou que “esta afirmação constitui um desfecho, ao menos nesta perícope, do discurso áspero que Jesus profere diante do empobrecimento da dinâmica do serviço, desgastada por um discurso revestido de legalidade, mais que isso, de legalismos, porém, sem a força de envolver qualquer que seja o interlocutor em uma adesão que sinalize o reencontro com a Aliança”.

Segundo o bispo auxiliar, “o fracasso dos fariseus, aos quais Jesus se refere neste contexto, consiste na incapacidade de infundir no povo a esperança na fidelidade de Deus. Fora da dinâmica do serviço o agir humano parece um fardo injusto proposto por pessoas descomprometidas que se escondem atrás de discursos, imagens, estereótipos, formalismos legais e religiosos, mas sem a capacidade de se apresentarem como referências, como guias ou mestres. Não pode ser chamado de mestre e guia quem não possui a eloquência do serviço”.



Lembrando àquele que ia ser ordenado a frase do evangelho, dom Zenildo Lima disse ver nela um elemento “para construir tua compreensão e comprometimento com este ministério que a Igreja te confia”, destacando o papel da Igreja de Manaus como Igreja servidora, afirmando que “teu ministério será tanto mais perpassado por esta dinâmica do serviço quanto mais for inserido na identidade desta Igreja Local, Igreja servidora. Podemos chamar isto de incardinação, que não é só um processo canônico, ritual, jurídico, mas encarnatório”.

Nas palavras de Jesus, o bispo auxiliar destacou a crítica aos “líderes religiosos que foram como que se constituindo em uma casta que arroga para si a autoridade de ensino”, mas também as palavras “aos seus discípulos que saboreiam a alegria do serviço, testemunhada na vida amorosa de Jesus”. Igualmente, ele ressaltou que “são recomendações aos cristãos de todos os tempos”, fazendo um apelo a se deixar “deleitar com a alegria do serviço” a imagem de Jesus, “servo por excelência”.

O bispo ordenante ressaltou alguns elementos da primeira leitura, que apresenta “o serviço da morada de Deus”, destacando o papel dos levitas como aqueles que “em tempos de cativeiro ajudaram o povo a não esquecer suas histórias”, como aqueles que fizeram que “o serviço ao templo, o serviço à morada de Deus, se fez sobretudo um serviço à memória”. Ele fez um chamado ao novo diácono a ao “zelo pela memória do agir de Deus que nunca abandona o seu povo”.



Por isso lhe pediu ser “um diácono atencioso para com todo sinal que remete ao povo a fidelidade de Deus”, evitando “os estereótipos das faixas largas e longas franjas como tem sido a tentação de visibilidade nestes tempos de força de imagens”, e sendo “muito atento com o espaço sagrado”, e ajudar nosso povo a “não perder de vista a experiência da morada de Deus, ou ainda, que Deus mora no meio de nós”. Uma morada de Deus que se concretiza nos pobres, que faz com que “toda vez que este serviço se dirige a um dos pequeninos é o próprio Deus que é servido”.

“O diaconato não é um ministério de gavetas desconexas, mas um agir dimensionado perpassado pelo serviço”, destacou o bispo auxiliar, que lembrou a vida do novo diácono, oferecida por seus pais, seu Francisco e dona Antonieta. Falando do celibato, dom Zenildo o definiu como algo que “sinaliza a totalidade de uma entrega; trata-se da escolha de um modo mais intenso de vivência dos afetos que transcendem a necessidade das correspondências interpessoais e se manifesta numa experiência que quanto mais aponta para a totalidade da entrega, mas se revela realizadora de nossa humanidade. Vida celibatária e serviço estão fecundamente interligados”, insistindo na necessidade de ser realizado no amor.

O novo diácono foi advertido sobre o perigo do descompasso entre o discurso e a práxis, que “esvazia a força da Palavra”, um elemento importante, pois “o ministério diaconal se realiza como ministério de Palavra, da Palavra, da Palavra encarnada, da Palavra feita vida, e vida doada até o fim. Da palavra que se fez carne e fazendo-se carne, fez-se também serviço”. Lembrando que “a palavra em Jesus contrasta absurdamente com a palavra dos mestres da Lei”, que “Jesus fala como quem tem autoridade!”, citou as palavras de Papa Francisco com relação à autoridade como ajuda.



Daí a importância de servir como quem tem autoridade, algo que tem a ver com o testemunho. “Os discursos parecem estar em constantes batalhas; há uma disputa de narrativas; carecemos de seguranças e corremos o risco de nos atracar no porto do que poderia parecer a segurança da palavra apresentada em forma de ideias, conceitos, doutrinas. Mas estas por sua vez tem sofrido o confronto e a exigência de uma humanidade distanciada da Aliança”, disse dom Zenildo Lima, comentando o texto de Romanos 10,14-16, destacando que “a pregação é acompanhada de um peregrinar! Na raiz de todo serviço da Palavra está um testemunho missionário”.

“Seja convincente em seu testemunho”, ressaltou o bispo ordenante àquele que ía ser ordenado diácono. Lembrando a exortação de Paulo a Timóteo, dom Zenildo destacou alguns elementos: cuida do teu exemplo na palavra, na conduta, na caridade, na fé, na pureza. Dedica-te à leitura, ao estudo, ao aprofundamento, ao discernimento, à exortação, ao ensino. Lembra-te que este ministério que te é dado pela imposição das mãos o é também por indicação da profecia. Cuida de ti mesmo e daquilo que ensinas. Mostra-te perseverante!”. Igualmente lembrou que “o rito da Ordenação Diaconal te pede de acreditar no que lês, ensinar o que acreditas e viver o que ensinas – a eloquência do serviço”.

Dom Zenildo Lima descreveu o serviço diaconal como um serviço que reconstrói laços. Frente à atitude dos fariseus, ele destacou que “o resgate da fraternidade apresenta-se como a mais urgente tarefa diaconal para os nossos tempos. Poderíamos falar de uma diaconia da fraternidade”. Frente aos pesados fardos da lei e da religião chamou a oferecer a leveza de seu convívio para apresentar a pessoa de Jesus. “A leveza tão necessária para quem suporta o peso da dor, da pobreza, do descarte, do abandono, da discriminação, da guerra, da solidão, do medo, da depressão”, disse dom Zenildo.



“Aqui está o que se pede de ti Hugo”, enfatizou o bispo auxiliar, “o que é pedido a cada um de nós também: o diaconato da sagrada morada de Deus e as realidades nela implicadas, o diaconato da Palavra cuja eloquência se manifesta no alegre testemunho, no diaconato da fraternidade que socorre os pobres à medida em que reconstrói fraternidade”. Ele lhe convidou a deixar ressoar o convite vocacional, lhe lembrando que como parte do clero da Arquidiocese de Manaus, “teu ministério estará ligado ao teu bispo que preside um corpo ministerial que por sua vez só tem razão de existir para o serviço do povo de Deus”.

O novo diácono foi convidado a assumir seu ministério “sem medo e sem preguiça”, lembrando que “o serviço é laborioso”, e que o dia da “memória do carpinteiro de Nazaré e na memória da resistência das lutas de tantos homens e mulheres pela dignidade do trabalho nos recorda que o serviço não é um hobby, um passatempo, uma filantropia..., mas um envolvimento amoroso, laborioso, empenhado, comprometido com o Reino de Deus”.

Finalmente o convite “para que nos abaixemos junto dos que estão caídos, para ajudá-los a levantar”, recordando que “o rito da Ordenação te pede de prostrar-se por terra, até o humus. Deixa-te humilhar e prostra-te até o humano desfigurado. Não tenha medo Hugo, pois quem se exalta será humilhado, mas aquele que se humilha será exaltado”.

Uma celebração que foi oportunidade para o novo diácono, que reconheceu que “tudo em minha vida é providência divina”, agradecer a todos aqueles que lhe acompanharam em sua vida e em sua caminhada vocacional.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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