sábado, 11 de maio de 2024

Papa Francisco no Dia Mundial das Comunicações Sociais: “Risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade”


A Solenidade da Ascensão do Senhor é o dia em que a Igreja católica celebra o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que em 2024 completa 58 anos. Cada ano, o Papa envia uma mensagem (pode ler aqui) que leve à reflexão. Neste ano o tema é: “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”.

A Inteligência Artificial, que “está a modificar de forma radical também a informação e a comunicação” no desafia a nos questionarmos como “permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso”, diz o Papa Francisco na mensagem. Inspirado em Romano Guardini, ele faz um chamado a não fazer leituras catastróficas, insistindo em que os problemas “só podem ser resolvidos passando pelo homem”, desafiado a ter uma espiritualidade mais profunda.

O Santo Padre adverte do “risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, o que demanda um olhar espiritual, e descobrir o coração como “o lugar interior do encontro com Deus”. Por isso, ele insiste na sabedoria do coração, “que permite ver as coisas com os olhos de Deus”, e faz com que a existência humana não se torne insípida. O Papa reflete sobre as oportunidades e perigos da Inteligência Artificial, nos advertindo contra a tentação de se crer “sujeito totalmente autónomo e autorreferencial, separado de toda a ligação social e esquecido da sua condição de criatura”, de “querer conquistar com as próprias forças aquilo que deveria, pelo contrário, acolher como dom de Deus”. A Inteligência artificial permite “contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações”, mas também pode ser instrumento de “poluição cognitiva”, gerando fake news, criando e divulgando “imagens que parecem perfeitamente plausíveis, mas são falsas”, fazendo com que se distorçam as relações.



Essa realidade demanda, segundo a mensagem, “modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial”, que levam a uma redução do pluralismo, a polarização da opinião pública e a construção do pensamento único. O desafio é “crescer juntos, em humanidade e como humanidade”, não se deixar levar no mundo da comunicação pelos interesses do mercado ou do poder, insistindo em que “a informação não pode ser separada da relação existencial”, o que demanda valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador”, e junto com isso ter capacidade crítica.

A mensagem coloca alguns questionamentos que levam a refletir sobre o exercício da comunicação, advertindo sobre o perigo da inteligência artificial acabar por “construir novas castas baseadas no domínio informativo”. Frente a isso faz a proposta de favorecer “a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista”, evitando que “uns poucos condicionem o pensamento de todos”, e destacando que “somente juntos é que cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo”. Tudo isso em vista de “orientar os sistemas da inteligência artificial para uma comunicação plenamente humana”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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