A Câmara
Municipal de Manaus, mediante proposta do vereador Daniel Amaral de Vasconcelos,
outorgou o título de Cidadão Manauara ao arcebispo metropolitano da
arquidiocese de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, já Cidadão Amazonense
desde 2023, em sessão solene realizada no Legislativo municipal, que contou com
a presença dos bispos auxiliares, dom Edmilson Tadeu Canavarros dos Santos, dom
Zenildo Lima e dom Hudson Ribeiro, de representantes do clero, da Vida Religiosa
e das pastorais e movimentos da Igreja local.
O vereador Daniel
Vasconcelos, que se declarou católico, participante da Pastoral Familiar e do
Encontro de Casais com Cristo, destacou em dom Leonardo Steiner, que “ele
trabalha por todos nós, independente de religião, esse é o verdadeiro cristão”.
Ele insistiu na simplicidade do cardeal, em sua presença na periferia, e no
fato da Igreja católica ser a maior instituição de caridade do mundo, também em
Manaus, citando diversos exemplos disso, e da parceria do poder público nesse
trabalho. O vereador pediu que Deus possa conduzir o mais novo Cidadão Manauara
e ele tenha a força para conduzir o povo da arquidiocese de Manaus.
Osvaldo
Lopes Filho, diretor presidente do Sistema Encontro das Águas, em representação
do Governo do Estado do Amazonas, mostrou sua admiração e reconheceu a grandeza
de sua pregação, cada domingo, na missa celebrada na Catedral, transmitida pela
TV Encontro das Águas. Ele destacou “o quanto e em tão pouco tempo, ele
cultivou a simpatia de todos”, ressaltando a admiração das demais religiões pelo
cardeal. Igualmente, refletiu sobre o papel fundamental da Igreja, num momento
em que a tecnologia está levando o homem a esquecer o homem, como aquela que
mostra a existência de Deus.
Dom Zenildo
Lima, em nome dos bispos auxiliares e da Igreja de Manaus, falou sobre o
significado do momento desde três perspectivas. Em primeiro lugar, o reconhecimento,
afirmando que “dom Leonardo ganho a confiança de nós manauaras”, vendo ele como
“alguém que consegue caminhar conosco, que temos nosso jeito de andar”. O bispo
auxiliar ressaltou a presença de dom Leonardo com nossas situações de vida, no
meio ao povo de rua, no cemitério ou num caminhão descarregando cilindros de
oxigênio durante a pandemia da Covid19. Em segundo lugar, outorga, “a gente oferece
a dom Leonardo tudo o que a gente tem nesta cidade, mas também tudo o que tem
como drama, desafio”. Em terceiro lugar, destacou o comprometimento de quem
está de mãos dadas, e ressaltando a presença de construtores de cidadania ocupando
os lugares dos vereadores na bancada, enfatizou que “dom Leonardo está conosco
nesta construção de cidadania, juntos continuamos esse processo de construção
de cidadania”.
Em sua
intervenção, o homenageado iniciou sua fala dizendo que “se não estivesse eu na
Amazônia, não seria cardeal”. Depois de agradecer aos presentes, o cardeal
Steiner, reconhecendo sua alegria ao receber o título, afirmou que “o Município
gira em torno da cidade de Manaus, a cidade dos manaos que se tornou cidade de
culturas e povos”. O arcebispo de Manaus lembrou que “a cidade, pólis, é mais
que uma forma de organização do convívio humano, é o lugar, a dimensão, a
abertura, em que se dá a experiência do acontecer e do destinar histórico das
pessoas que vão construindo o povo”.
Comparando
a cidade com diversos conceitos, o cardeal definiu a cidade como “sonho do
Reino de Deus que se manifestava entre os pequeninos e despossuído”s. Inspirado
no poete Hölderlin, que dialogou com o mundo grego, ele disse que “o povo grego
tinha como seu dom inato o fogo do céu e como própria a ternura. Para proteger
este fogo do céu e a ternura é que desenvolveram a sobriedade e o rigor”. Para
proteger o espírito, os gregos potenciavam a força atlética dos corpos e a força
aclaradora da reflexão, identificando esse espírito com “a força de vida e de iluminação,
concedida pelo fogo do céu e pela ternura”.
A força da
ternura emerge, enfatizou o arcebispo de Manaus, “na hospitalidade, na
proximidade, na solidariedade”. Ele destacou que “mesmo com dificuldade
continuamos na poesia, na arte, na persistência, na perseverança dos pobres e intelectuais
a proteger o espírito que nos deixa ser como cidade”. Nessa perspectiva, ele
disse que “a polis intuída pelos gregos como possibilidade de convivência
humana no mundo comum, no espaço público, não era tanto um quê, mas muito mais
um como. Não era tanto um fato, quanto uma tarefa, um quefazer”.
Igualmente,
dom Leonardo destacou a cidade como local em que “a totalidade dos cidadãos, exercia
a liberdade e a responsabilidade histórica pelo todo de seu mundo comum, de seu
espaço público”, e junto com isso, a polis como “lugar em que o povo
experimenta sua força, seu vigor, como
livre e soberano, guardados pela ternura e pelo fogo do céu”. Reconhecendo
as dificuldades, violências, mortes, ele disse que “a fé nos obriga a deixar
vir o vislumbre do fogo do céu e da ternura”, refletindo sobre a Cidade de Deus
de Santo Agostinho e seu movimento do reino de Deus.
O fato de
pertencer à polis, a politeia, a cidadania, “com seus direitos e deveres, o
modo de viver na responsabilização pelo cuidado da polis”, levou o cardeal a refletir
sobre o fato de que “o título oferece direitos e deveres. Mais deveres que
direito”. El disse se sentir, ao receber o título, “mais pertencente a esse
movimento de ser cidade”, e “convocado a essa vitalidade politéica”. Isso,
porque “pertencemos quando moramos e moramos quando construímos”, na medida em que
obramos.
O cardeal
refletiu sobre o conceito de lugar, que “nos diz, nos constrói e nos oferece um
pensamento distinto”. Ele recordou as palavras de Heidegger: “construir já é em
si mesmo morar, viver”. Dom Leonardo ressaltou que “morar, pertencer é ser! Ser
que não advém de um Título, mas que o Título pode despertar para melhor morar e
obrar, isto é participar, transformar”. É por isso que “receber o título responsabiliza
o morar e, por isso, o pertencer, pois morar é construir, obrar”, sublinhou o
presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB). Um modo de obrar que ele descobre, como relatou, na obra poética de Thiago
de Mello.
Segundo o
arcebispo de Manaus, “a cidade, a politeia, acontece no obrar de muitas mãos. Colocando ao alcance da mão o pão da cultura, da educação, da saúde, da justiça,
do lazer, da paz, da partilha, do pão-pão”. Ele, refletindo sobre a estrelas
como aqueles que nos orientam, advertiu sobre as luzes artificiais que “podem
ofuscar o olhar ascendente levando a esquecer nosso morar e construir, até
podem nos desterrar”, fazendo um chamado a iluminar com a Estrela de Belém. Finalmente,
o cardeal Steiner mostrou sua gratidão “por oficialmente pertencer, ser
Manauara, aqui morar e ser; ser e morar”.
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