A Igreja de
Roraima, onde ele foi missionário desde 2016, enviou neste sábado, 22 de junho,
dom Lucio Nicoletto para sua nova missão como bispo da Prelazia de São Felix do
Araguaia. Ordenado bispo na catedral de Padova no dia 1º de junho, catedral de
Cristo Redentor acolheu uma celebração com a participação de mais quatro
bispos, o clero local, a Vida Religiosa, e de representantes das paróquias e
comunidades da diocese, dentre eles os migrantes e os povos indígenas.
Na homilia,
após agradecer aos presentes, ao povo da prelazia de São Félix do Araguaia e aquele
que foi seu bispo até agora, dom Adriano Ciocca, e aos bispos que participaram
de sua ordenação episcopal em Padova, dom Lucio Nicoletto iniciou reconhecendo
seu sentimento de gratidão, que nasce das “inúmeras memorias dessa caminhada
que Deus me deu de viver aqui com vocês desde 2016”, um tempo marcado pelo
conhecimento “dos mais pobres e de todos aqueles que sofrem”. Uma Igreja que
ele define, seguindo Gaudium et Spes, como “uma Igreja que desde os seus
primórdios guardou em seu coração o eco de toda realidade verdadeiramente
humana”. Uma Igreja que tem feito uma “reiterada
opção pelos pobres e marginalizados, pelos povos indígenas e o povo dos
migrantes e refugiados”.
O bispo
eleito de São Félix do Araguaia questionou “como poderíamos justificar essa pressão
de que fala São Paulo na segunda leitura que o amor de Cristo nos faz, esse
coração ardente que a Palavra de Deus acende em nós a partir do momento em que
como Maria e com Maria queremos dizer o nosso Sim a Cristo na missão
evangelizadora?”, respondendo que “os pés das discípulas e dos discípulos de Jesus
Cristo se colocam a caminho por causa de uma urgência!”, insistindo na necessidade
de uma resposta de amor.
“Assim como eu vos amei!”, ressaltou dom Nicoletto, uma resposta necessária “quando o nosso coração se depara com tanta violência e injustiça, com tantas divisões e polarizações, até mesmo dentro da nossa mesma igreja; quando sentimos o cansaço de tanta dor e a tentação de dar o fora. Numa hora como essa sentimo-nos representados pelos discípulos de Jesus na hora mais crítica dessa travessia no meio do mar da vida: Mestre, não te importas que estamos perecendo, que estamos sofrendo demais? Deus parece dormir”, disse o bispo.
“Será que
Deus se esqueceu de nós?”, questionou dom Lucio Nicoletto, refletindo sobre o
significado da barca e o mar, mostrando que “o mar simboliza o perigo, a ameaça
na vida” uma realidade presente na comunidade de Marcos. Mesmo diante do
perigo, Jesus chama seus discípulos a continuar sua missão, “a ir ao encontro
das pessoas nas diferentes situações e lugares onde estão”, onde ele vê
representada a Igreja missionária, que “atravessa diferentes mares para ir ao
encontro dos homens e mulheres para lhes comunicar a boa notícia do reino de
Deus”.
Nas ondas do
mar, dom Lúcio vê o “aburguesamento e cumplicidade: já fizemos bastante, pobres
sempre existiram e existirão; o fundamentalismo e superioridade: é importante
cuidar a pureza de nossos ritos, liturgias; as injustiças e discriminação para
com a vida dos povos originários e migrantes; a rejeição para com as nossas
crianças e jovens que ficam cada vez menos no topo de nossas preocupações e políticas
públicas”.
No texto, destacou
o bispo, Marcos quer transmitir aos seus, que “quando a comunidade segue os passos
de seu Mestre, vai sofrer perseguições, vai ter dificuldades, vai vivenciar
noites de tormentas, mas Deus é maior que tudo isso”. Para cresce na fé, “somos
convidados e convidadas a passar para o outro lado. Para isso é preciso
atravessar o mar com a confiança que demonstra Jesus no texto: ele dorme sereno
porque confia no Pai”, salientou dom Lucio Nicoletto, mostrando que “os
discípulos ainda têm uma fé que se desespera e devem aprender de Jesus a ter
uma fé que confia”.
Jesus
grita, e em seu grito, se posiciona “diante de todo o mal que provocamos quando
nos afastamos da lógica do amor e transformamos a fé numa ideologia; diante de
nossa incapacidade de deixar-nos transformar pela sua Palavras em autênticos
promotores de Justiça e de Paz para a realização da civilização do amor; diante
da nossa obcecação pelo poder, pelo sucesso, pela ganância que desconsideram
cada vez mais a vida dos outros e só se importa com a própria!”
No convite
de Jesus para irmos para outra margem, dom Lúcio vê “um convite a uma conversão
radical e permanente”, que exige “um contínuo e permanente processo de
conversão, principalmente de uma vida mais pautada pelo egoísmo árido e mortífero
para uma vida que seja fruto de um contínuo deixar-se plasmar por Deus como
Jesus fazia, sempre em intima e profunda comunhão com o Pai, para aprendermos
assim a guardar em nós os mesmos sentimentos que foram de Cristo Jesus”.
No Jesus
apresentado pelo evangelista Marcos, o bispo vê “Aquele que veio para nos
acompanhar no êxodo da vida e fazer-nos sentir que não estamos só, mas Ele nos
guia e está conosco, como lâmpada resplandecente, como força profética para
anunciar seu amor e sua justiça sem calar diante das ‘ondas’ do egoísmo e dos
interesses particulares que não pertencem a Deus nem tampouco ao seu Reino”. Ele
insistiu em que “essa é a tua vocação Igreja na Amazônia: ser sinal de Cristo Bom
Pastor que ama e guia o seu povo com amor e ternura de Pai e Mãe, que abre para
nós o caminho da vida plena para todos, que mostra para nós que não há salvação
sem comunhão, não há misericórdia sem compaixão, não há evangelização sem
missão, não há esperança sem conversão ao amor para com todas as criaturas”.
No final da
celebração, dom Lucio Nicoletto recebeu as homenagens dos missionários
italianos, do laicato, a Vida Religiosa, o clero, a Pastoral do Migrante, lembrando
e agradecendo pelos momentos vividos juntos ao longo de oito anos, destacando
aquilo que foi marcante nesse tempo em sua missão na diocese de Roraima. Foi
lida a mensagem enviada pelo cardeal Leonardo Steiner, em nome do Regional
Norte1 da CNBB, agradecendo seu trabalho no Regional.
Dom Lucio é
enviado a “uma Prelazia com uma história belíssima”, disse dom Evaristo
Spengler, bispo da diocese de Roraima, que lembrou dom Pedro Casaldáliga,
primeiro bispo de São Félix do Araguaia. Igualmente, foi anunciado na
celebração pela chanceler da diocese de Roraima, Ir. Sofia Quintans Bouzada, a
incardinação na diocese do padre Jorge Dalben, que chegou em Roraima em 1968
como missionário da Consolata, se destacando pelo seu compromisso na defesa e promoção
dos povos indígenas, sobretudo o povo Macuxi. Depois de quase vinte anos na
diocese de Dourados, também trabalhando com os povos indígenas, quatro anos
atrás voltou a Roraima, sendo agora incardinado e acolhido na diocese, onde seu
testemunho é motivo de admiração numa Igreja sempre comprometida com a causa
indígena.
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