quinta-feira, 25 de julho de 2024

No Brasil, nem todas as vidas têm o mesmo valor

 

A apresentação do Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2023, realizada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), na segunda-feira 22 de julho, em Brasília, mostra que no Brasil, nem todas as vidas têm o mesmo valor. Os números relatam o aumento dos assassinatos, que em 2023, chegaram em 208, da morte de crianças menores de 04 anos, que chegou em 1040, com 670 que poderiam ter se evitados, dos suicídios, que foram 180.

Os povos indígenas no Brasil têm sido historicamente massacrados, quase sempre com a cumplicidade do Estado, que não faz respeitar os direitos garantidos na Lei Suprema do país. Os ataques contra os povos indígenas se tornaram uma constante, e essa violência não pode ser tolerada, ainda menos naturalizada. O poder público não reage, a sociedade permanece indiferente, e poderíamos dizer que os indígenas se tornaram para grande parte do povo brasileiro cidadãos de segunda categoria.

A Igreja católica, mesmo sabendo que tem católicos com essas atitudes que acabamos de dizer, tem se empenhado, especialmente através do Conselho Indigenista Missionário, no acompanhamento e defesa dos povos indígenas. Uma defesa que não pode ser ignorada, pois são os povos originários aqueles que melhor cuidam da obra criadora de Deus. Se nós dizemos acreditar no Deus Criador, não podemos ignorar àqueles que melhor cuidam daquilo que Deus colocou ao dispor da humanidade, de toda a humanidade.



Defender a vida tem que ser uma obrigação sempre para quem se diz cristão, e o empenho nessa defesa tem que ser durante toda a vida e em favor de todos. Somos desafiados a nos posicionarmos contra qualquer tentativa de desrespeito para com a vida, especialmente para com a vida dos pequenos, daqueles que são descartados, atacados porque são considerados um empecilho pelo poder político e econômico, que tem no lucro seu objetivo fundamental.

O Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2023, vai relatando com detalhe os diversos tipos de violência: Contra o Patrimônio; Contra a Pessoa; por Omissão do Poder Público; Contra os Povos Indígenas Livres e de Pouco Contato. Os números não podem ser ignorados, mesmo que muitos se empenhem em disfarçá-los, em dizer que não é bem assim. Mas são números que recolhem dados objetivos, colocando em evidência a crueldade com que os povos indígenas são tratados no Brasil.

A febre da ganância não pode falar mais alto do que a defesa da vida, a vida dos povos indígenas não pode ficar subjugada aos interesses económicos de pequenos grupos de poder, amparados pelo poder político. Somos desafiados a escolher o lado, a assumir a causa indígena como sociedade, como Igreja católica. Se a gente não tem claro isso, se ignoramos essa defesa, estamos nos afastando do conceito de humanidade, mas também estamos nos afastando de Deus.

Devemos lutar para que todas as vidas tenham o mesmo valor, para que as injustiças e preconceitos, secularmente presentes na sociedade brasileira fiquem para trás, para nunca duvidar do valor da vida, de cada vida, de todas as vidas, especialmente da vida dos pequenos, daqueles que muitos querem descartar, mas que sempre foram e serão os prediletos de Deus.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 - Editorial Rádio Rio Mar

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