No 21º Domingo do Tempo Comum, o
cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia dizendo que “depois de
proclamar que Ele era o verdadeiro alimento, o pão descido do céu, Jesus
oferece aos discípulos a oportunidade de segui-lo na liberdade e na
liberalidade. Depois
de não atinarem para a presença do Filho de Deus no Filho de José, de terem
pensado que era demais aceitar o filho do carpinteiro, o filho de Maria, Jesus
provoca os discípulos a uma decisão que possa despertar para a graça de seguimento.”
Lembrando o texto evangélico: “a
partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com
ele”, o arcebispo de Manaus disse que “ao se apresentar como Pão do céu, como
alimento de eternidade, vários discípulos voltam atras. Diante do anúncio
inesperado de Jesus, o Evangelho mostra a murmuração ‘de muitos discípulos’. Diziam:
‘Essa palavra é dura demais!’ Que o filho de Maria e José pudesse ser alimento
de eternidade era incompreensível. Deus tornara-se próximo demais, Deus era
palpável de mais, Deus era visível demais, Deus em nossa humanidade e
fragilidade a dizer que Ele poderia conduzir para a vida eterna. Deus Humanado,
era demais para aqueles homens e aquelas mulheres, e abandonam o caminho. Jesus
deixou de ser o caminho, a verdade e a vida para aquelas mulheres e aqueles
homens. Preferiam continuar errantes, desenraizados, sem fonte, sem água, sem
comida que alimentasse as aflições, os assaltados, as desilusões.”
“Jesus busca amasiar o coração
endurecido, não os ofende, não agride, apenas mostra que para além da oferta do
alimento verdadeiro, a vida do Reino, é ‘o Espírito é que dá vida, a carne não
adianta nada’. Deseja indicar o caminho de nova vida, um novo Espírito, capaz
de transformar a vida na carne, a finitude humana, a deshumanidade. O que
impede os discípulos de ver Jesus Cristo como o Filho de Deus, o verdadeiro
redentor, salvador, é o fechamento, estarem presos às próprias categorias, ao
modo de pensar, interesseiro, fechado, mundano”, disse o cardeal.
“É isso que os leva à murmuração e
os impede à adesão. O esforço de abrir a mente dos discípulos para perceberem
na humanidade, no despojamento, que em Jesus havia uma proximidade, uma
presença de Deus inusitada, admirável, sublime, encantadora: Deus comida e
bebida. A nossa fome, a nossa sede pode ser saciada. É, sim palavra dura para
os duros de corações. E abandonam o caminho. Não conseguem permanecem e
caminhar com Jesus. Jesus não se tornou o caminho, a verdade e a vida para
aquelas mulheres e aqueles homens. Preferiam continuar errantes, desenraizados,
em fonte, sem água, sem comida que alimentasse as aflições, os assaltados, as
desilusões”, destacou.
“E diante da dispersão, Jesus a
questionar os doze: Também vós quereis ir embora? Simão Pedro respondeu: A quem
iremos senhor? Não diz ‘para onde iremos?’, mas ‘para quem iremos?’. O
ensinamento colocado pelo Evangelho na boca de Pedro não é ir e abandonar uma
obra começada, seguir uma ideia, mas é ‘para quem ir’. A quem seguir, em
quem crer?”, analisou o arcebispo de Manaus.
Segundo o presidente do Regional
Norte1 da CNBB, “para Pedro e os que permaneceram são palavras que despertam,
conduzem à vida verdadeira, à plena vida, à vida sem confim. São ‘palavras de
vida eterna’. Seguir a Jesus, ser seu discípulo, ser sua discípula, permanecer
na sua cercania, justamente quando não se percebe a clareza, não se tem a
iluminação a respeito dos aconteceres. Pedro na sua pergunta-confissão a
demonstrar estima, afeição, bem-querer, confiança. É que no amor, mais que
conhecer, importa amar! No amar que se vem ao conhecimento, ao co-nascimento.
No amar abrem-se dimensões e perspectivas que não conseguimos a partir de nós
mesmos, mas somente a partir do Amor que é o amor.”
“A partir desta interrogação de
Pedro, compreendemos que a fidelidade a Deus é questão de fidelidade a uma
pessoa, com o qual nos unimos para caminhar juntos pela mesma estrada. E esta
pessoa é Jesus. Tudo o que temos no mundo não sacia a nossa fome de infinito.
Precisamos de Jesus, de estar com Ele, de alimentarmo-nos à sua mesa, com as
suas palavras de vida eterna! Acreditar em Jesus significa torná-lo centro, o
sentido da nossa vida. Ele é o 'pão vivo', o alimento indispensável. Unir-se a
Ele, numa verdadeira relação de fé e de amor, significa estar profundamente
livre, sempre a caminho. Cada um de nós pode questionar-se: quem é Jesus para
mim?”, disse, citando Papa Francisco.
“Jesus confronta a vida
verdadeira, com a vida de vaivém; da vida do alimento que perece com a vida
alimentada que conduz à eternidade; da vida que cuida de si com a vida que sai
ao encontro dos outros; da vida que é vivida a partir de si com a vida que
parte de Deus e nele encontra segurança, refúgio e liberdade”, sublinhou o
cardeal Steiner.
Ele disse, seguindo as palavras de
Fernandes e Fassini, que “o Evangelho a nos ensinar o encontro que a fé
possibilita, ou o encontro que possibilita a fé, e que desperta para uma
afeição e benquerença própria. Na pergunta-confissão de Pedro entrevemos o caminho
da fé, do amor: primeiro vem a graça do encontro ou o encontro da graça, o
nascer do encontro, que desperta a alma, o espírito do bem-querer único e
insubstituível. Nessa relação nova e única tem início o seguimento. A partir da
fé, abre-se uma fenda que leva à compreensão. A declaração de amor de Pedro: ‘Nos
cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus’, é uma
nova visão, uma nova relação. ‘A fé traz consigo seu próprio saber. É um saber
feito de experiência, de uma evidência que nasce e cresce do próprio encontro e
da afeição que é graça desse mesmo encontro. Nessa fé e nesse saber, na mente
de Pedro, dos Doze e de todos os que acolhem Jesus no Espírito, brilha esta
evidência e alegria: ‘Tu és o Santo de Deus!’ Isso é: tu és a Vida Eterna
mesma; o que tu és, comunicas em tua carne e em teu sangue.”
Segundo o cardeal Steiner, “seguir
a Jesus, unir-se a Jesus, manter uma relação de fé com Ele, é percorrer o
caminho da liberdade. Estar a caminho no deserto, mas com Jesus que nos conduz,
alimenta, dessedenta, nos mantém rumo à casa do Pai. Jesus não nos obriga a
segui-lo. Ele não se impõe, não oprime, apenas convida, atrai, insiste
suavemente.”
Na primeira leitura, ele destacou
que “a nos recordar na pergunta de Josué: a quem quereis servir? E com o povo
também nós respondemos: O Senhor, nosso Deus é quem nos tirou do Egito da casa
da escravidão; Ele realizou grandes prodígios, nos guardou em todo os caminhos
por onde peregrinamos. Serviremos ao Senhor, porque ele é nosso Deus (Js
24,15.17-18). Deus realiza maravilhas e nos guarda nos caminhos desérticos e
nos vales verdejantes. A quem iremos? A quem serviremos. E nós respondemos: Sempre
contigo, para servir!”
Falando sobre o mês das vocações,
ele lembrou o tema: “A igreja como uma sinfonia vocacional”, destacando que “as vocações harmoniosamente constituem
a Igreja e fazem com que a Igreja evangelize, anuncie Jesus e o seu Evangelho.
Hoje rezamos pelos leigos e leigas para que temperem a sociedade, a terra e
iluminem os caminhos da fraternidade, da irmandade. Testemunhem o Evangelho nos
diversos âmbitos da sociedade, assumam a missão que Jesus confiou: ‘Ide pelo todo o mundo inteiro e
proclamai Evangelho a toda criatura!’ Todo o batizado, toda a batizada,
enviada em missão: anunciar o Reino de Deus e sua justiça.”
Comentando a segunda leitura, o
cardeal disse que “como pedia São Paulo aos Efésios: ‘Irmãos: Vós que temeis a
Cristo, sede solícitos uns para com os outros’ (Ef 5,21). Na graça do
seguimento de Cristo, somos sempre convidados ao cuidado uns pelos outros. Um
amor único e verdadeiro que se expande e não domina. A solicitude, o cuidado,
faz com saiamos ao encontro dos outros. É no amor de Cristo que o amor entre os
membros da comunidade se torna expansivo, jovial, maduro, generoso. Uma relação
graciosa e gratuita como o de Cristo para conosco a sua Igreja.”
“Todos chamados à santidade, ao
seguimento de Jesus. Chamados a participar ativamente do Reino, da Igreja,
contribuindo para a caminhada e o crescimento das comunidades rumo a Pátria
Celeste”, disse. Segundo ele, “a vocação laical é doar-se pelo Evangelho e
participar da missão salvadora e redentora de Jesus. Hoje celebramos todos os
leigos que, entre família, trabalhos e serviços, dedicam-se à pastoral e à
missionariedade. Os leigos servem na catequese, na liturgia, nas obras de
caridade e nas diversas pastorais existentes. Agradecemos hoje a todos os
nossos catequistas que oferecem a graça de introduzir na vida de Cristo em
nossa Arquidiocese.”
“A quem iremos, com quem
viveremos, de quem receberemos a vida, quem nos alimenta para antegostar a
eternidade? Só tu Jesus tens palavras de eternidade. Nos cremos firmemente e
reconhecemos que tu és o Santo de Deus!”, concluiu.
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